Esperança condicional dada uma -álgebra
Na Seção 11.1, mencionamos que partições mais finas que outras codificam uma situação em que se tem acesso a mais informação.
Pensamos em “informação” como a coleção de eventos cuja ocorrência é acessível a um determinado observador.
A forma mais geral de representar informação, quando tem-se acesso a infinitos eventos, é através de uma -álgebra.
Sejam um espaço de probabilidade, uma variável aleatória e uma -álgebra mais grosseira que , isto é, .
Não há motivo algum para que seja também mensurável com respeito à -álgebra .
Em outras palavras, não há motivo para que a informação codificada por , que é mais grosseira que , seja suficiente para determinar o valor de .
Uma pergunta natural surge: qual seria a melhor variável aleatória -mensurável que poderia aproximar em algum sentido?
Reformulando a pergunta: qual a melhor aproximação para quando temos acesso à informação codificada por ?
Nesta seção, daremos esta resposta.
Trata-se de um conceito bastante abstrato, porém dos mais úteis e importantes em Probabilidade.
(Esperança condicional dada uma -álgebra).
Sejam um espaço de probabilidade, uma variável aleatória estendida integrável ou não-negativa,
e uma -álgebra.
Então existe uma variável aleatória estendida que é -mensurável e satisfaz
(11.40)
Dizemos que uma variável aleatória estendida com essas duas propriedades é uma esperança condicional de dado , e a denotamos por .
A prova será dada na próxima seção.
Tomando em (11.40), obtemos a propriedade da esperança iterada:
Outra propriedade da esperança condicional é que, se é -mensurável, então q.c.
Uma vantagem da definição de esperança condicional de uma variável aleatória estendida dada uma -álgebra é a sua generalidade, pois, como dissemos acima, -álgebras são a ferramenta ideal para codificar informação.
Com efeito, os objetos definidos nas duas seções anteriores são casos particulares da definição abaixo, como será justificado na Seção 11.6.
A esperança condicional dada uma partição também é um caso particular, o que segue de (11.10).
No restante desta seção, assumimos que é um espaço de probabilidade fixado.
.
Dadas duas variáveis aleatórias estendidas e tais que é integrável ou não-negativa, definimos a esperança condicional de dada por
ou seja, é a esperança condicional dada a -álgebra gerada por .
(Propriedades da esperança condicional).
Sejam e variáveis aleatórias integráveis, uma -álgebra e .
Então:
-
(1)
-
(2)
-
(3)
Essas propriedades também valem para variáveis aleatórias estendidas não-negativas e com constantes .
Demonstração.
Para o item (1), observe que a variável constante é -mensurável e para todo .
Para o item (3), observe que
para todo , ou seja, q.c.
Para provar o item (2), suponha que q.c.
Neste caso, podemos escrever q.c., onde é não-negativa.
Pelo Exercício 5.64, é não-negativa q.c., e, pelo item (3), q.c., concluindo a prova.
∎
O teorema seguinte nos diz que, se o valor de uma variável aleatória estendida é determinado pela informação codificada pela -álgebra em questão, então ela sai da esperança condicional como se fosse uma constante.
O Teorema 11.8 é um caso particular.
.
Se é -mensurável, e , então
O mesmo vale se e são não-negativas.
Demonstração.
Consideramos primeiro o caso em que e são não-negativas.
Seja .
Tomando para algum ,
Por linearidade, se é uma variável aleatória simples -mensurável, vale
Tomando , pelo Teorema da Convergência Monótona obtemos
o que conclui a prova já que é -mensurável.
Consideramos agora o caso em que e são integráveis.
Queremos mostrar que vale a identidade acima para todo .
Escrevendo e e observando que ,
é suficiente mostrar que
mas isso segue diretamente do caso anterior.
∎
O teorema seguinte generaliza o Teorema 11.11.
(Esperança condicional iterada).
Seja uma -álgebra tal que , e uma variável aleatória estendida integrável ou não-negativa.
Então valem as seguintes identidades:
-
(1)
-
(2)
Uma interpretação visual do teorema acima no caso de -álgebras geradas por finitos eventos é dada na Figura 11.2.
Demonstração.
Para clarificar, escrevemos e .
Para a primeira igualdade, basta observar que é -mensurável, donde q.c.
Provemos agora a segunda igualdade.
Seja .
Pela definição de , temos
Por outro lado, como , pela definição de temos
Como é -mensurável e para todo , concluímos que q.c.
∎
.
Dizemos que uma variável aleatória estendida é independente da -álgebra se e são independentes para todos e .
.
Se é é uma variável aleatória estendida integrável ou não-negativa, e é independente de , então q.c.
Demonstração.
Pela independência de e , temos, para todo ,
e, sendo constante, é -mensurável,
o que conclui a prova.
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Os teoremas de convergência da integral, vistos na Seção 5.5, também têm seus análogos no contexto de esperança condicional.
Nos três teoremas abaixo, , e denotam variáveis aleatórias definidas num mesmo espaço de probabilidade.
(Convergência Monótona).
Sejam e variáveis aleatórias estendidas não-negativas tais que q.c.
Seja uma -álgebra.
Então q.c.
Demonstração.
Tome , que é -mensurável.
Como q.c., segue que q.c.
Para ,
e, aplicando o Teorema da Convergência Monótona em ambos os lados,
donde q.c.
∎
(Lema de Fatou).
Sejam uma sequência de variáveis aleatórias estendidas não-negativas e uma -álgebra .
Então q.c.
A demonstração é análoga à do Teorema 5.69,
trocando-se por .
(Convergência Dominada).
Sejam , e variáveis aleatórias estendidas e uma -álgebra .
Se q.c. e q.c. para alguma integrável, então q.c.
A demonstração é análoga à do Teorema 5.70,
trocando-se por .
(Desigualdade de Jensen).
Sejam uma -álgebra,
um intervalo aberto,
uma função convexa,
e uma variável aleatória que assume valores em .
Suponha que e sejam integráveis.
Então
Demonstração.
A prova é análoga à demonstração do Teorema 6.23, porém há que se contornar algumas complicações técnicas.
Para cada fixo, existe tal que para todo .
Como a função que leva em é não-decrescente, também é mensurável.
Suponhamos inicialmente que essa função seja limitada.
Tomando , e observando que e são -mensuráveis, pelo Teorema 11.45
onde a primeira igualdade acima é devida ao Teorema 11.45.
Consideremos agora o caso geral.
Somando uma constante a , podemos supor que .
Subtraindo , podemos supor que para todo .
Tome com .
Para cada fixo, definimos para , para e para .
Observe que as funções são convexas, não-negativas, e satisfazem .
Ademais, suas respectivas são limitadas a , donde .
Como , pelo Teorema da Convergência Monótona, , concluímos que .
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Demonstração.
Primeiro, é integrável pois para todo .
Pela desigualdade de Jensen,
pois
é convexa.
Tomando esperança iterada, segue a desigualdade desejada.
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