Capítulo 3 Semana 3
3.1 Aula 11
3.1.1 Mais exemplos com permutações
Solução. Seja \(A_1\) o conjunto das permutações em que \(a_1\) está em primeiro lugar e \(A_2\) o conjunto das permutações em que \(a_2\) está em segundo lugar. É claro que \(|A_1|=|A_2|=(n-1)!\) e \(|A_1 \cap A_2| = (n-2)!\). Logo, o número que procuramos é \(|A_1\cup A_2|\),
\[\begin{align} |A_1\cup A_2| &= |A_1| + |A_2| - |A_1 \cap A_2| \\ &= (n-1)! + (n-1)! - (n-2)!\\ &= 2(n-1)! - (n-2)!\\ &= 2(n-1)(n-2)! - (n-2)!\\ &= (2n - 2-1)(n-2)!\\ &= (2n-3)(n-2)!.\\ \end{align}\]Seja \(A_i=\) “o conjunto das permutações de \(a_1, a_2, \ldots, a_n\) tendo \(a_i\) no \(i\)-ésimo lugar”. Para calcular o número de permutações caóticas, denotado por \(D_n\) (desarranjo), devemos calcular o número de elementos que não pertencem a nenhum dos \(A_i\)´s:
\[D_n = \Bigg|\overline{\bigcup_{i=1}^{n} A_i} \Bigg| = \Bigg|{\bigcap_{i=1}^{n} \overline{A_i}}\Bigg|.\]
Veja que \[\begin{align} |A_i| &= (n-1)! &\qquad \text{existem $n$ termos iguais a este na soma}\\ |A_i\cap A_j| &= (n-2)! &\qquad \text{existem $C_n^1$ termos iguais a este na soma}\\ |A_i\cap A_j \cap A_k| &= (n-3)! &\qquad \text{existem $C_n^2$ termos iguais a este na soma}\\ &\vdots \\ |A_1\cap\cdots\cap A_n| &= 1 &\qquad \text{existem $C_n^n$ termos iguais a este na soma}.\\ \end{align}\] Então,
\[\begin{align} D_n = \Bigg|{\bigcap_{i=1}^{n} \overline{A_i}}\Bigg| &= n! - n(n-1)! + C_n^2(n-2)! - C_n^3(n-3)! + \cdots + (-1)^n\cdot 1 \\ &= n! - \frac{n!}{1} + \frac{n!}{2!(n-2)!}(n-2)! - \frac{n!}{3!(n-3)!}(n-3)! + \cdots + (-1)^n\frac{n!}{n!}\\ &= n! - \frac{n!}{1} + \frac{n!}{2!} - \frac{n!}{3!} + \cdots + (-1)^n\frac{n!}{n!}\\ &= n! \Bigg(1 - \frac{1}{1!} + \frac{1}{2!} - \frac{1}{3!} + \cdots +(-1)^n\frac{1}{n!}\Bigg). \end{align}\]
3.1.2 Contando o número de funções
Na contagem do número de aplicações sobrejetoras é que necessitamos do princípio de inclusão e exclusão.
Prova. Como sabemos, uma função sobrejetora é tal que, para todo \(b \in B\), existe pelo menos um \(a \in A\) tal que \(f(a)=b\). Como existem \(k^n\) funções de \(A\) em \(B\), vamos subtrair desse total o número de funções que não são sobrejetoras.
Considerando os elementos de \(B\), \(b_1, \ldots, b_k\), definimos \(C_i=\) “conjunto de todas as funções \(f:A\rightarrow B\) tais que \(f^{-1}(b_i)=\emptyset\)”, isto é, \(f(a)\neq b_i, \forall a \in A\). Como uma função deixa de ser sobrejetora quanto pertence a pelo menos um dos \(C_i\)´s, para \(i=1,2,\ldots, k\), o conjunto de todas as funções não-sobrejetoras é \[C_1 \cup C_2 \cup\cdots \cup C_k = \bigcup_{i=1}^{k}C_i.\] Logo, pelo Princípio da Inclusão e Exclusão, \[\Big|\bigcup_{i=1}^{k}C_i\Big| = \sum_{i=1}^{k}|C_i| - \sum_{1\leq i<j}^{}|C_i\cap C_j| + \sum_{1\leq i<j<l}^{}|C_i\cap C_j\cap C_l| + \cdots |C_1\cap\cdots\cap C_k|\]
Como \(|C_i|=(k-1)^n\), \(|C_i\cap C_j| = (k-2)^n, \ldots, |C_1\cap\ldots\cap C_k|=(k-k)^n\), temos \[\begin{align} \Big|\bigcup_{i=1}^{k}C_i\Big| &={k \choose 1}(k-1)^n - {k \choose 2}(k-2)^n + {k \choose 3}(k-3)^n + \cdots + {k \choose k}(k-k)^n \\ &=\sum_{i=1}^{k}(-1)^{i-1}{k \choose i}(k-i)^n. \end{align}\]
Subtraindo este número do total \(k^n\), temos
\[k^n-\sum_{i=1}^{k}(-1)^{i-1}{k \choose i}(k-i)^n = \sum_{i=0}^{k}(-1)^{i}{k \choose i}(k-i)^n.\]3.2 Aula 12
3.2.1 Probabilidade
Em outras palavras, um evento é um conjunto formado pelos possíveis resultados do experimento. Se o resultado do experimento estiver contido em \(E\), dizemos que \(E\) ocorreu.
No Exemplo 3.3, considere \(E=\{\text{todos os resultados em $\mathcal{S}$ começando com $3$}\}\), então \(E\) é o evento em que a pessoa identificada pelo número \(3\) vence a corrida. Já no Exemplo 3.4, se \(E=\{(H,H),(H,T)\}\), então \(E\) é o evento em que a primeira moeda lançada dá \(cara\).
Para quaisquer dois eventos \(E\) e \(F\) de um espaço amostral \(\mathcal{S}\), definimos o novo evento \(E\cup F\) como sendo formado por todos os resultados que pertecem a \(E\) ou a \(F\) ou a \(E\) e \(F\) simultaneamente. Isto é, o evento \(E\cup F\) ocorrerá se \(E\) ou \(F\) ocorrer.
Para quaisquer dois eventos \(E\) e \(F\) de um espaço amostral \(\mathcal{S}\), definimos o evento \(EF\) (ou \(E\cap F\)), chamado de interseção entre \(E\) e \(F\), como sendo formado por todos os resultados que estão tanto em \(E\) quanto em \(F\).
Se \(EF=\emptyset\), então dizemos que \(E\) e \(F\) são mutualmente exclusivos.
3.2.2 Axiomas de Probabilidade
Uma maneira de definir a probabilidade de um evento é em termos de sua frequência relativa: suponhamos que um experimento, cujo espaço amostral é \(\mathcal{S}\), seja realizado repetidamente em condições exatamente iguais. Para cada evento \(E \subseteq \mathcal{S}\), definimos \(n(E)\) como o número de vezes que \(E\) ocorre nas \(n\) primeiras repetições do experimento. Então \(P(E)\), a probabilidade do evento \(E\), é definida como \[P(E) = \lim_{n \rightarrow \infty} \frac{n(E)}{n}.\]
Utilizando o R
, vamos estimar a probabilidade de o lançamento de uma moeda dar cara
através da frequencia relativa.
A simulação abaixo representa o resultado do lançamento de \(10\) moedas:
## [1] 1 0 1 0 1 1 1 0 0 1
Vamos considerar que 1
representa cara
e 0
coroa.
Então, vamos realizar o experimento e calcular a probabilidade do evento \(E=\) “o lançamento dá cara
”.
## [1] 0.2
Veja que o resultado é P(E)=0.2.
Podemos repetir este experimento quantas vezes quisermos, por exemplo, para \(n=100,1000,10000,1000000\).
## [1] 0.59
## [1] 0.51
## [1] 0.4964
## [1] 0.49939
A Figura 3.1 mostra o resultado deste experimento para n=
1, 10, 100, 200, 300, 400, 500, 600, 700, 800, 900, 1000, 2000, 3000, 4000, 5000, 6000, 7000, 8000, 9000, 10000, 20000.

Figura 3.1: Simulação do lançamento de uma moeda para diferentes tamanhos amostrais
Há um inconveniente nesta definição: como saberemos que \(\frac{n(E)}{n}\) convergirá para algum valor limite constante que será o mesmo para cada possível sequência de repetições do experimento?
Vamos considerar a abordagem axiomática moderna da teoria da probabilidade. Então, vamos assumir que, para cada evento \(E \subseteq \mathcal{S}\), existe um valor \(P(E)\) chamado de probabilidade de ocorrência do evento \(E\). Vamos supor então que todas as probabilidade satisfazem certo conjunto de axiomas.
Considere um experimento cujo espaço amostral é \(\mathcal{S}\). Para cada evento \(E\) de \(\mathcal{S}\), assumimos que o número \(P(E)\) seja definido e satisfaça os três axiomas a seguir.
- Axioma 1: \(0 \leq P(E) \leq 1\);
- Axioma 2: \(P(S) = 1\);
- Axioma 3: para cada sequencia de eventos mutualmente exclusivos \(E_1, E_2, \ldots\) (ou seja, \(E_i E_j=\emptyset\) quando \(i\neq j\)), \(P\big(\cup_{i=1}^{\infty}E_i\big)=\sum_{i=1}^{\infty}E_i\).
Se considerarmos a sequência de eventos \(E_1, E_2, \ldots\), em que \(E_1=\mathcal{S}\) e \(E_i=\emptyset\) para \(i>1\), então, como os eventos são mutualmente exclusivos e \(\mathcal{S}=\cup_{i=1}^{\infty}E_i\), teremos, pelo Axioma 3, \[P(\mathcal{S})=\sum_{i=1}^{\infty}P(E_i) = P(\mathcal{S}) + \sum_{i=2}^{\infty}P(E_i),\] o que implica que \(P(\emptyset)=0\). Isto é, o evento vazio tem probabilidade nula. Daí seque que, para qualquer sequência de eventos mutualmente exclusivos \(E_1, E_2, \ldots, E_n\), \[P\Bigg(\bigcup_{i=1}^{\infty}E_i\Bigg) = \sum_{i=1}^{n}P(E_i).\]
3.3 Aula 13
Em palavras, a Proposição 3.2 afirma que a probabilidade de um evento não ocorrer é igual à 1 menos a probabilidade dele ocorrer.
Solução. Seja \(L_i\) o evento “a pessoa gosta do livro \(i\)”, \(i=1,2\). Então, a probabilidade dessa pessoa gostar de pelo menos um livro é \[P(L_1 \cap L_2) = P(L_1) + P(L_2) - P(L_1L_2) = 0{,}5+0{,}4-0{,}3=0{,}6.\]
Como o evento “a pessoa não gosta de nenhum dos livros” é o complementar do evento em que ela gosta de pelo menos um deles, obtemos como resultado \[P\big(L_1^c \cap L_2^c\big) = P\big((L_1^c \cup L_2)^c\big) = 1 - P\big(L_1^c \cup L_2\big) = 0{,}4.\]Espaços amostrais com resultados igualmente prováveis
Em muitos experimentos é natural supor que todos os resultados presentes no espaço amostral sejam igualmente prováveis. Por exemplo, considere um experimento cujo espaço amostral \(\mathcal{S}\) é um conjunto finito, digamos \(\mathcal{S}=\{1,2,\ldots, n\}\). Se supormos que \[P(\{1\})= P(\{2\})= \cdots = P(\{n\}),\] então, pelos Axiomas 2 e 3, temos que (por quê?) \[P(\{i\})=\frac{1}{n}, \qquad i=1,2,\ldots, n.\] A partir da expressão acima e do Axioma 3, temos que, para cada evento \(E\),
\[P(E)=\frac{\text{número de resultados em }E}{\text{número de resultados em } \mathcal{S}}.\]
3.4 Aula 14
Prova!