Capítulo 2 Semana 2

2.1 Aula 6

Exemplo 2.1 Dado o conjunto \(A = \{1,2,3,4,5\}\), quantos subconjuntos de 2 elementos \(A\) possui?
Solução. Vamos listar: \[ \left.\begin{matrix} A_1 = \{1,2\}, & A_2 = \{1,3\},\\ A_3 = \{1,4\}, & A_4 = \{1,5\},\\ A_5 = \{2,3\}, & A_6 = \{2,4\},\\ A_7 = \{2,5\}, & A_9 = \{3,4\},\\ A_9 = \{3,5\}, & A_{10} = \{4,5\}. \end{matrix}\right. \] Ao todo são 10 subconjuntos de 2 elementos formados com os 5 elementos de \(A\).

Atenção! No Exemplo 1.26, obtivemos 20 números de 2 algarismos diferentes e no Exemplo 2.1 obtivemos 10 subconjuntos de 2 elementos. Observe que \(12 \neq 21\), mas \(\{1,2\}=\{2,1\}\). Pelo princípio multiplicativo, obtivemos \(5\times 4=20\), considerando a ordem de colocação dos dígitos. Na formação de subconjuntos a ordem não importa, devemos dividir o resultado anterior por \(2 = 2\times 1 = 2!\), isto é, pela permutação de 2 que é o número de elementos em cada subconjunto.

Exemplo 2.2 Quantos subconjuntos possui o conjunto \(A = \{a,b,c\}\)?
Solução. Vamos listar: \(\emptyset, \{a\}, \{b\}, \{c\}, \{a,b\}, \{a,c\}, \{b,c\}, \{a,b,c\}\). Ao todo há 8 subconjuntos. Em relação aos elementos, podemos dizer que cada um deles aparece ou não aparece nos subconjuntos. Então, para o elemento \(a\) temos 2 possibilidades quanto à sua presença no subconjunto (aparecer ou não). O mesmo para \(b\) e \(c\). Pelo princípio multiplicativo, temos \(2 \times 2 \times 2 = 8\) subconjuntos de \(A\).
Exemplo 2.3 Quantos subconjuntos possui um conjunto \(A\) com \(n\) elementos?
Solução. Pelo exemplo anterior, cada elemento de \(A\) pode ou não estar presente num determinado subconjunto e, pelo fato de \(A\) ter \(n\) elementos, então \(A\) possui \(2\times 2 \times \cdots \times 2 = 2^{n}\) subconjuntos.
Exemplo 2.4 De quantos modos podemos formar uma roda com 5 crianças?
Solução. Parece que para formar a roda com as crianças basta escolher uma ordem para elas, o que pode ser feito de \(5!=120\) modos. Mas veja, na Figura 2.1, que as rodas \(ABCDE\) e \(EABCD\) são iguais, pois em uma roda o que importa é a posição relativa das crianças entre si. A roda \(ABCDE\) pode ser girada para se tornar \(EABCD\). Como cada roda pode ser girada de 5 formas, a nossa contagem de 120 rodas contou cada uma delas 5 vezes, assim, a resposta é \(120/5=24\).
Roda com cinco crianças.

Figura 2.1: Roda com cinco crianças.

Exemplo 2.5 De quantos modos podemos dividir 8 pessoas em dois grupos de 4 pessoas cada?
Solução. Vamos colocar as 8 pessoas em fila e dividi-las de modo que um grupo seja formado pelas 4 primeiras e o outro pelas 4 últimas. Como há \(8!\) modos de colocá-las na fila, a resposta parece ser \(8!\). Considere a divisão \(abcd|efgh\). Note que ela é idêntica à \(efgh|abcd\). Na nossa contagem de \(8!\), essas divisões foram contadas como se fossem distintas. Também, divisões como \(abcd|efgh\) e \(cabd|efgh\), que diferem-se pela ordem dos elementos em cada grupo, foram contadas como se fossem distintas. Cada divisão foi contada \(2\times 4!\times 4!\) vezes (\(2\) por causa da ordem dos grupos, \(4!\) por causa da ordem dos elementos no primeiro grupo e \(4!\) por causa da ordem dos elementos no segundo grupo). Assim, o número de divisões é \[\frac{8!}{2\cdot 4!4!}=35.\]
Exemplo 2.6 Quantos são os divisores do número 126.000?

Solução. Ao fatorá-lo, obtemos \(N=126000=2^4\cdot 3^2\cdot 5^3\cdot 7\). Note que nos divisores de \(N\)

  • o expoente do fator \(2\) pode variar de 0 a 4 (\(2^0, 2^1, 2^2, 2^3, 2^4\));
  • o expoente do fator \(3\) pode variar de 0 a 2 (\(3^0, 3^1, 3^2\));
  • o expoente do fator \(5\) pode variar de 0 a 3 (\(5^0, 5^1, 5^2, 5^3\));
  • o expoente do fator \(7\) pode variar de 0 a 1 (\(7^0, 7^1\)).

Então, representando os divisores de \(N\) como números da forma

\[D = 2^x\cdot 3^y\cdot 5^z\cdot 7^w,\]

podemos dizer que

  • \(x\) toma valores em \(\{0,1,2,3,4\}\), i.e. \(5\) possibilidades para \(x\);
  • \(y\) toma valores em \(\{0,1,2\}\), i.e. \(3\) possibilidades para \(y\);
  • \(z\) toma valores em \(\{0,1,2,3\}\), i.e. \(4\) possibilidades para \(z\);
  • \(w\) toma valores em \(\{0,1\}\), i.e. \(2\) possibilidades para \(w\).
Assim, pelo princípio multiplicativo, \(5\cdot 3\cdot 4\cdot 2 = 120\) divisores de \(N\).

Arranjo simples (\(r\)-permutação)

Definição 2.1 (Arranjo simples) Um arranjo simples de \(n\) elementos tomandos \(r\) a \(r\), em que \(n \geq 1\) e \(r \leq n\), \(r \in \mathbf{N}\) são todos os grupos de \(r\) elementos distintos que diferem entre si pela ordem e pela natureza dos \(r\) elementos que compõem cada grupo. Notação: \(A^{r}_{n}\).

Vamos encontrar uma expressão matemática que caracterize \(A^{r}_{n}\). Temos \(n\) elementos dos quais queremos tomar \(r\). Isto equivale a preencher \(r\) lugares com \(n\) objetos.

\[ \underbrace{\_\_}_{L_1}\underbrace{\_\_}_{L_2}\underbrace{\_\_}_{L_3}\cdots\underbrace{\_\_}_{L_r} \]

No primeiro lugar há \(n\) objetos diferentes que podem ser escolhidos. No segundo lugar há \(n-1\) objetos diferentes (lembre-se que um já foi escolhido). No terceiro lugar há \(n-2\) objetos diferentes, e assim sucessivamente, de forma que \(L_r\) terá \(n-(r-1)\) maneiras diferentes de ser preenchido. Pelo Princípio Multiplicativo, podemos dizer que as \(r\) posições podem ser preenchidas sucessivamente de \(n(n-1)(n-2)\cdots(n-(r-1))\) maneiras distintas. Portanto \[\begin{equation} A^{r}_{n} = n(n-1)(n-2)\cdots(n-(r-1)). \tag{2.1} \end{equation}\]

Multiplicando e dividindo por 1, temos que

\[ A^{r}_{n} = n(n-1)(n-2)\cdots(n-(r-1))\frac{(n-r)(n-r-1)\cdots2\cdot 1}{(n-r)(n-r-1)\cdots2\cdot 1} = \frac{n!}{(n-r)!}. \]

Exemplo 2.7 Quantos inteiros entre 1000 e 9999 tem dígitos distintos e (a) são números pares? (b) constituem-se inteiramente de dígitos ímpares?

Solução. Os números que buscamos tem 4 dígitos, ou 4 posições a serem preenchidas

\[ \underbrace{\_\_}_{p_1}\underbrace{\_\_}_{p_2}\underbrace{\_\_}_{p_3}\underbrace{\_\_}_{p_4}. \]

Para resolver o item (a), note que números pares tem na última posição 0, 2, 4, 6 ou 8.

  • números terminados em 0: \(\underbrace{\_\_}_{p_1}\underbrace{\_\_}_{p_2}\underbrace{\_\_}_{p_3}\underbrace{0}_{p_4}\). Com excessão do zero, dígitos disponíveis: \(1,2,\ldots,9\). Preenchemos as três primeiras posiçõeos de \(A^{3}_{9}=\frac{9!}{6!}=504\) maneiras.

  • números terminados em 2, 4, 6 ou 8: Preenchimento da última posição: 4 maneiras. Preenchimento da primeira posição: 8 maneiras (exclui-se 0 e o dígito em \(p_4\)). Preenchemos as posições \(p_2\) e \(p_3\) de \(A^{2}_{8}=\frac{8!}{6!}=56\) maneiras. Pelo Princípio Multiplicativo, há \(4\cdot 8\cdot A^{2}_{8} = 1792\) números pares com dígitos distintos que não terminam em zero.

Finalmente, pelo Princípio Aditivo, há \(A^{3}_{9} + 4\cdot 8 \cdot A^{3}_{9} = 2296\) números pares entre 1000 e 9999 com dígitos distintos.

No item (b), se os números são constituidos de dígitos ímpares, então são formados pelos dígitos 1, 3, 5, 7 e 9. Portanto há \(A^4_5=5!=120\) números entre 1000 e 9999 formados de dígitos ímpares.

2.2 Aula 7

Combinações

Definição 2.2 (Combinação simples) Combinações simples de \(n\) elementos tomados \(r\) a \(r\) (\(r\)-combinação), em que \(n \geq 1\), \(r \in \mathbb{N}\) tal que \(r \leq n\), são todas as escolhas não ordenadas de \(r\) desses elementos. Notação \(C^r_n = {n\choose r}\).
Exemplo 2.8 Seja \(\mathcal{S} = \{1,2,3,4\}\). O subconjunto \(\{1,3,4\}\) é uma \(3\)-combinação do conjunto \(\mathcal{S}\). Note que \(\{4,1,3\}\) é a mesma \(3\)-combinação, pois a ordem em que os elementos são listados não importa.
Exemplo 2.9 Considere o conjunto \(\mathcal{X}_1 = \{1,2,3\}\), um conjunto de cardinalidade \(3\). Quais são todos os subconjuntos de \(\mathcal{X}_1\)?
Solução. O conjunto vazio é o único subconjunto de \(\mathcal{X_1}\) com tamanho zero. Existem \(3\) subconjuntos de tamanho \(1\), \[ \{1\}, \qquad \{2\}, \qquad \{3\}. \] Também existem \(3\) subconjuntos de tamanho \(2\), \[ \{1,2\}, \qquad \{1,3\}, \qquad \{2,3\}. \] E existe \(1\) subconjunto de tamanho 3, o próprio \(\mathcal{X}_1\).
Exemplo 2.10 Considere agora \(\mathcal{X}_2 = \{1,2,3,4\}\). Quais são todos os subconjuntos de \(\mathcal{X}_2\)?
Solução. Novamente, o conjunto vazio é o único subconjunto de \(\mathcal{X}_2\) com tamanho zero e \(\mathcal{X}_2\) é o único subconjunto de tamanho \(4\). Existem \(4\) subconjuntos de tamanho \(1\), \[ \{1\}, \qquad \{2\}, \qquad \{3\}, \qquad \{4\}. \] Também existem \(6\) subconjuntos de tamanho \(2\), \[ \{1,2\}, \qquad \{1,3\}, \qquad \{1,4\}, \] \[ \{2,3\}, \qquad \{2,4\}, \qquad \{3,4\}. \] E existem \(4\) subconjuntos de tamanho 3, \[ \{1,2,3\}, \qquad \{1,2,4\}, \qquad \{1,3,4\}, \qquad \{2,3,4\}.\]

Note que, no Exemplo 2.10, os conjuntos de tamanho \(3\) são uma bijeção entre os conjuntos de tamanho \(1\), já que todo conjunto de tamanho \(3\) é o complemento de conjunto de tamanho \(1\). Em geral, é verdade que o número de subconjuntos com \(k\) elementos é igual ao número de subconjuntos com \(n-k\) elementos.

Proposição 2.1 Para todo \(n \in \mathbb{N}\) e todo \(k \in \mathbb{Z}\), se \({n \choose k}\) denota o número de subconjuntos de cardinalidade \(k\) de um conjunto de cardinalidade \(n\), então \[\begin{align} {0 \choose 0} &= 1, \\ {n \choose k} &= 0, \qquad \text{se } k \notin \{0, 1, \cdots, n\},\\ {n \choose k} &= {n-1 \choose k} + {n-1 \choose k-1}. \end{align}\]

Prova. Claramente, quando \(k \notin \{0, 1, \cdots, n\}\), temos que \({n \choose k} = 0\). Temos também que \({0 \choose 0} = 1\), pois o conjunto vazio é o único subconjunto de tamanho zero. Se \(n\geq 1\), temos que considerar os casos em que \(k=0\) e \(k=n\) separadamente.

  • Se \(k=0\), então o único subconjunto de \(\{0, 1, \ldots, n\}\) com zero elementos é o conjunto vazio, assim \[ {n \choose 0} = 1 = {n-1 \choose 0} + {n-1 \choose -1} = 1+0.\]

  • Se \(k=n\), então o único subconjunto de \(\{0, 1, \ldots, n\}\) com \(n\) elementos é o próprio \(\{0, 1, \ldots, n\}\), assim, \[ {n \choose n} = 1 = {n-1 \choose n} + {n-1 \choose n-1} = 0+1.\]

  • Se \(1 \leq k \leq n-1\), então existem dois tipos de subconjuntos de \(\{0, 1, \ldots, n\}\) com \(k\) elementos: aqueles que contém \(n\) e aqueles que não contém \(n\). O número de subconjuntos de \(k\) elementos de \(\{0, 1, \ldots, n\}\) contendo \(n\) é igual ao número de subconjuntos de \(\{0, 1, \ldots, n-1\}\) contendo \(k-1\) elementos, que é denotado por \({n-1 \choose k-1}\). O número de subconjuntos de \(k\) elementos de \(\{0, 1, \ldots, n\}\) que não contém \(n\) é igual ao número de subconjuntos de \(\{0, 1, \ldots, n-1\}\) contendo \(k\) elementos, que é denotado por \({n-1 \choose k}\). Então, o número de subconjuntos de \(\{0, 1, \ldots, n\}\) com \(k\) elementos é \[ {n \choose k} = {n-1 \choose k} + {n-1 \choose k-1}.\]

A equação acima é conhecida também com relação de Stifel, ou regra de Pascal.

Através da relação de Stifel, pode-se criar um triângulo numérico infinito formado por coeficientes binomiais, como mostrado na Firgura 2.2. Este é conhecido como Triângulo combinatório.

Triângulo combinatório.

Figura 2.2: Triângulo combinatório.

Exemplo 2.11 \[{4 \choose 1} = {3 \choose 0} + {3 \choose 1},\] \[{4 \choose 2} = {3 \choose 2} + {3 \choose 1}.\]
Proposição 2.2 Para todo \(n \in \mathbb{N}\) e todo \(k \in \mathbb{Z}\), \(0 \leq k \leq n\), temos \[{n \choose k} = \frac{n!}{k!(n-k)!}.\]

Prova. Vamos usar indução sobre n para fazer a prova.

  1. Para \(n=0\). Como \(0 \leq k \leq n\), temos que \(k=0\), logo \({0 \choose 0} =1\), \[\frac{0!}{0!(0)!}=1.\]

  2. Hipótese de indução: supor que se cumpre para n-1.

  3. Verificar que vale para \(n\).

Pela fórmula de Pascal \[\begin{align} {n \choose k} &= {n-1 \choose k} + {n-1 \choose k-1} \\ &= \frac{(n-1)!}{k!(n-1-k)!} + \frac{(n-1)!}{(k-1)!(n-1-(k-1))!} \\ &= \frac{(n-1)!}{k!(n-1-k)!} + \frac{(n-1)!}{(k-1)!(n-k)!} \\ &= \frac{(n-k)}{(n-k)}\frac{(n-1)!}{k!(n-1-k)!} + \frac{k}{k}\frac{(n-1)!}{(k-1)!(n-k)!} \\ &= \bigg(\frac{n-k}{k!(n-k)(n-k-1)!} + \frac{k}{k(k-1)!(n-k)!} \bigg)(n-1)! \\ &= \bigg(\frac{n-k}{k!(n-k)!} + \frac{k}{k!(n-k)!} \bigg)(n-1)! \\ &= \frac{n}{k!(n-k)!}(n-1)! \\ &= \frac{n!}{k!(n-k)!}. \end{align}\]

2.3 Aula 8

Exemplo 2.12 Quantos são os anagramas formados por \(2\) vogais e \(3\) consoantes escolhidas dentre \(18\) consoantes e \(5\) vogais?
Solução. A escolha das duas vogais pode se dar de \(C^2_5\) maneiras diferentes. A escolha das consoantes pode se dar de \(C^3_{18}\) maneiras diferentes. Portanto, pelo Princípio Multiplicativo, o número de anagramas possíveis formados por \(2\) vogais e \(3\) consoantes é \[C^2_5 \cdot C^3_{18} = \frac{5!}{2!3!}\frac{18!}{3!15!}=8160.\]
Observação. Por simetria, \(C^{k}_{n} = C^{n-k}_n\). O número \(C^{n-k}_n\) é chamado de combinação complementar. Isto é, se consideramos um conjunto com \(n\) elementos, o número de maneiras de escolher \(k\) objetos é identico ao número de maneiras de escolher \(n-k\) objetos dentre os \(n\), pois do total \(n\) tiramos \(k\) e sobram \(n-k\) e, consequentemente, se de \(n\) objetos tiramos \(n-k\), sobram-se \(k\) objetos.
Exemplo 2.13 De quantas maneiras podemos arrumar em fila \(5\) sinais negativos \((-)\) e \(7\) sinais positivos \((+)\)?
Solução. Este problema é equivalente à ter \(12\) lugares para se preencher com sinais \(-\) e \(+\). Neste caso, tanto faz se escolhermos \(5\) lugares dentre os \(12\) para colocar os \(-\) e nos que sobrarem colocarmos os \(7\) \(+\), ou o contrário, visto que \(C^{5}_{12} = C^{7}_{12} = \frac{12!}{7!5!}=792.\)
Exemplo 2.14 Quantas diagonais possui um polígono regular de \(n\) lados?
Solução. Sejam \(P_1, P_2, \cdots, P_n\) os vértices. Ao observar a Figura 2.3, vemos que não pode-se ligar \(P_1\) a \(P_2\) e nem \(P_1\) a \(P_8 (=P_n)\), pois teríamos lados e não diagonais. Entretanto, \(P_1\) pode ser ligado a qualquer um dos \(5 = n-3\) vértices restantes. O número de maneiras de traçarmos estas diagonais é escolher 1 dentre os \(n-3\) vértices restantes, isto é \(C^{1}_{n-3}\). Como há \(n\) vértices e para cada um deles há \(C^{1}_{n-3}\) diagonais possíveis, então \(n \cdot C^{1}_{n-3}\) deveria ser o número de diagonais do polígono. Mas estaríamos contando a diagonal entre os vértices \(P_1\) e \(P_3\), por exemplo, duas vezes. Devemos então dividir este resultado por \(2\). Portanto, um polígono regular de \(n\) lados possui \[ \frac{n \cdot C^{1}_{n-3}}{2} = \frac{n}{2}\frac{(n-3)!}{1!(n-4)!} = \frac{n(n-3)}{2} \] diagonais.
Polígono regular de 8 lados.

Figura 2.3: Polígono regular de 8 lados.

Exemplo 2.15 De quantas maneiras pode-se escolher \(3\) números distintos do conjunto \(\mathcal{A}=\{1, 2, 3, \ldots, 50\}\) de modo que sua soma seja um múltiplo de \(3\)?

Solução. Sejam os conjuntos

\[\begin{align} \mathcal{A}_1 &= \{x \in \mathcal{A} | x=3k, k=1,2,\ldots \} = \{3, 6, 9, \ldots, 48\},\\ \mathcal{A}_2 &= \{x \in \mathcal{A} | x=3k+1, k=1,2,\ldots \} = \{1, 4, 7, 10, \ldots, 49\},\\ \mathcal{A}_3 &= \{x \in \mathcal{A} | x=3k+2, k=1,2,\ldots \} = \{2, 5, 8, 11, \ldots, 50\}.\\ \end{align}\]

Vamos denominar \(n(\mathcal{A}_i)\) a cardinalidade de \(\mathcal{A}_i\). Então, \[n(\mathcal{A}_1) = 16, \qquad n(\mathcal{A}_2)=17, \qquad n(\mathcal{A}_3)=17.\]

Se somarmos \(3\) números quaisquer de \(\mathcal{A}_1\), teremos como soma um múltiplo de \(3\), pois se \(x,y,z \in \mathcal{A}_1\), então \(x+y+z = 3(k + k^{\prime} + k^{\prime\prime})\), em que \(k, k^\prime, k^{\prime\prime} \in \mathbb{N}\). Essa soma pode ser feita de \(C^{3}_{16} = \frac{16!}{3!13!}=560\) maneiras.

Se somarmos 3 números quaisquer de \(\mathcal{A}_2\), teremos como soma um múltiplo de \(3\), pois se \(x,y,z \in \mathcal{A}_2\), então \(x+y+z =(3k+1)+(3k^{\prime}+1)+(3k^{\prime\prime}+1)=3(k + k^{\prime} + k^{\prime\prime})+3\), em que \(k, k^\prime, k^{\prime\prime} \in \mathbb{N}\). Essa soma pode ser feita de \(C^{3}_{17} = \frac{17!}{3!14!}=680\) maneiras.

Se somarmos 3 números quaisquer de \(\mathcal{A}_3\), teremos como soma um múltiplo de \(3\), pois se \(x,y,z \in \mathcal{A}_3\), então \(x+y+z =(3k+2)+(3k^{\prime}+2)+(3k^{\prime\prime}+2)=3(k + k^{\prime} + k^{\prime\prime})+6\), em que \(k, k^\prime, k^{\prime\prime} \in \mathbb{N}\). Essa soma pode ser feita de \(C^{3}_{17} = \frac{17!}{3!14!}=680\) maneiras.

Se somarmos \(1\) elemento de \(\mathcal{A}_1\) com \(1\) elemento de \(\mathcal{A}_2\) e com \(1\) elemento de \(\mathcal{A}_3\), obteremos como soma um múltiplo de \(3\), pois se \(x \in \mathcal{A}_1\), \(y \in \mathcal{A}_2\) e \(z \in \mathcal{A}_3\), então \(x+y+z =\) \(3k+(3k^{\prime}+1)+(3k^{\prime\prime}+2)=\) \(3(k + k^{\prime} + k^{\prime\prime})+3\), em que \(k, k^\prime, k^{\prime\prime} \in \mathbb{N}\). Essa soma pode ser feita de \(C^{1}_{16}C^{1}_{17}C^{1}_{17} = 16 \cdot 17 \cdot 17 = 4624\) maneiras.

Portanto, podemos escolher \(3\) números distintos de \(\mathcal{A}\), de modo a obter um múltiplo de \(3\), de \(C^{3}_{16}+C^{3}_{17}+C^{3}_{17}+C^{1}_{16}C^{1}_{17}C^{1}_{17} = 6544\) maneiras.
Exemplo 2.16 Dado \(A = \{1,2,3,4,5\}\), de quantos modos é possível formar subconjuntos de \(2\) elementos nos quais não haja números consecutivos?
Solução. Vamos enumerar estes conjuntos: \(\{1,3\}\), \(\{1,4\}\), \(\{1,5\}\), \(\{2,4\}\), \(\{2,5\}\), \(\{3,5\}\). Há, portanto, \(6\) subconjuntos nas condições impostas pelo enunciado do problema.

Neste caso explorado pelo Exemplo 2.16 foi fácil enumerar. Entretanto, para um conjunto com \(10\) elementos, a solução não seria tão fácil de ser determinada. Vamos encontrar uma maneira de contar o número de subconjuntos sem que haja a necessidade de enumerá-los. Vamos marcar com o sinal “\(+\)” os elementos que farão parte do subconjunto e com o sinal “\(-\)” os elementos que não farão parte do subconjunto. Dessa forma, \(\{1,3\}\) pode ser representado por \(+-+--\), \(\{2,5\}\) pode ser representado por \(-+--+\), e \(\{1,2\}\) pode ser representado por \(++---\), que não é um conjunto válido, de acordo com as condições do enunciado. Veja que para formar o subconjunto desejado, devemos colocar 3 sinais “\(-\)” e 2 sinais “\(+\)” em fila, sem que haja dois sinais “\(+\)” consecutivos. Isto pode ser feito se colocarmos os \(3\) sinais “\(-\)” e deixarmos espaços entre eles, onde eventualmente colocaremos os sinais “\(+\)”. \[\_\_ - \_\_ - \_\_ - \_\_ .\]\(4\) posições vazias, e, para colocarmos os dois sinais “\(+\)”, basta escolhermos \(2\) dentre estas \(4\) posições. Consequentemente, há \(C^2_4=6\) maneiras disso ser feito e, portanto, há \(6\) subconjuntos de \(2\) elementos não consecutivos de \(A\).

2.4 Aula 9

2.4.1 Aplicações

2.4.1.1 Equações lineares com coeficientes unitários

O objetivo aqui é contar o número de soluções inteiras de uma equação da forma

\[\begin{equation} x_1 + x_2 + x_3 + \cdots + x_n = m, \tag{2.2} \end{equation}\]

em que \(x_i\), para \(i=1,2,\ldots, n\), e \(m\) são inteiros.

Teorema 2.1 O número de soluções em inteiros positivos da Equação (2.2), para \(m>0\) é dado por \(C^{n-1}_{m-1}\).

Prova. Como estamos interessados em expressar o inteiro positivo \(m\) como soma de \(n\) inteiros positivos, basta colocarmoms \(n-1\) barras divisoras entre os \(m\) \(1\)´s:

\[1 + 1 \vert + 1 + \cdots +1 \vert +1 \cdots + 1 \vert + 1 + \cdots + 1 =m.\]

O valor de \(x_1\) será o número de \(1\)´s que antecedem a primeira barra, o valor de \(x_2\) será o número de \(1\)´s entre a primeira e a segunda barra, e assim por diante, até obtermos o valor de \(x_n\) como sendo o número de \(1\)´s à direita da barra de número \(n-1\). Como a cada possível distribuição das barras corresponde uma única solução para a equação acima, basta contarmos de quantas formas isso pode ser feito. Devemos selecionar \(n-1\) dos \(m-1\) possíveis locais (os sinais de “\(+\)” que separam os \(1\)´s) para a colocação das barras divisórias, o que pode ser feito de \(C^{n-1}_{m-1}\) maneiras diferentes.
Teorema 2.2 O número de soluções não negativas inteiras da Equação (2.2), para \(m>0\) e \(x_i\geq 0\) é dado por \(C^{n-1}_{m+n-1} = C^{m}_{m+n-1}\).
Prova. Somando \(1\) a cada \(x_i\), temos \[(x_1+1) + (x_2+1) + (x_3+1) + \cdots + (x_n+1) = m+n.\] Seja \(y_i = x_i+1\), para \(i=1,2,\ldots,n\), então \[\begin{equation} y_1 + y_2 + y_3 + \cdots + y_n = m+n, \tag{2.3} \end{equation}\] para \(y_i \geq 1\), inteiro. Este problema é equivalente a determinar o número de soluções inteiras positivas da Equação (2.3), que, pelo Teorema 2.1, é \[C^{n-1}_{m+n-1} = C^{m}_{m+n-1}.\]
Exemplo 2.17 Encontrar (a) o número de soluções em inteiros não-negativos e (b) soluções em inteiros positivos da equação \(x_1 + x_2 + x_3 + x_4 + x_5 = 12\).
Solução. (a) \(C^{5-1}_{12+5-1} = C^{4}_{16} = 1820,\) (b) \(C^{4}_{11} = 330.\)
Exemplo 2.18 Encontrar o número de soluções em inteiros positivos maiores do que \(3\) na equação \(x_1 + x_2 + x_3 = 17\), isto é, determinar o número de soluções inteiras de \(x_1 + x_2 + x_3 = 17\), em que \(x_i>3\), \(i=1,2,3\).

Solução. Algumas soluções procuradas são \((4,5,8)\), \((5,7,5)\) e \((9,4,4)\). Subtraindo \(3\) unidades de cada componente destas ternas ordenadas, obtemos \((1,2,5)\), \((2,4,2)\) e \((6,1,1)\), respectivamente, que são soluções em inteiros positivos da equação \[\begin{equation} y_1 + y_2 + y_3 = 8, \qquad y_i\geq 1, \tag{2.4} \end{equation}\]

em que \(y_i=x_i-3\), \(i=1,2,3\). Como o número de soluções da Equação (2.4) é \(C^2_7=21\), este é o número procurado, uma vez que esta mudança de variável descrita acima estabelece uma relação biunívoca entre os conjuntos de soluções das duas equações.

2.4.1.2 Combinações com repetições

Exemplo 2.19 Num parque de diversões existem quatro tipos de brinquedos, \(a\), \(b\), \(c\) e \(d\). Uma pessoa quer comprar dois bilhetes. De quantas maneiras ela pode comprar?

Solução. É claro que ela pode comprar dois bilhetes do mesmo tipo. A lista de possibilidades é

\[\begin{align} aa, &\quad ab, \quad ac, \quad ad, \quad bb, \\ bc, &\quad bd, \quad cc, \quad cd, \quad dd. \tag{2.5} \end{align}\] $$$$

Veja que este número de possibilidades é maior que \(C^2_4=6\).

As combinações listadas na Expressão (2.5) são chamadas combinações com repetição.

Retomando o contexto apresentado no Exemplo 2.19, se uma pessoa tem dinheiro para comprar \(5\) bilhetes, algumas possibilidades seriam

\[aaaaa, \quad abbbc, \quad bbccd.\] Estamos interessados em contar o total de elementos do tipo acima. Para saber os bilhetes comprados, basta que a pessoa nos diga quantos bilhetes de cada tipo ela comprou. Sejam \(x_1, x_2, x_3, x_4\) o número de bilhetes comprados para os brinquedos \(a,b,c,d\), respectivamente. O que estamos procurando é o número de soluções inteiras não-negativas para a equação \[x_1+x_2+x_3+x_4=5,\] que, como sabemos, através do Teorema 2.2, é \(C^3_8=56\), e vamos denotar por \(CR^4_5\).

Podemos generalizar o resultado anterior. Assim, \(CR^p_n\) é o número total de maneiras de selecionarmos \(p\) objetos dentre \(n\) objetos distintos, em que cada objeto pode ser escolhido até \(p\) vezes, que, como vimos, é igual ao número de soluções não negativas da equação \[x_1+x_2+\cdots x_p=n,\] que é \[C^{n-1}_{n+p-1}=C^{p}_{n+p-1}.\] Logo temos que \[CR^{p}_{n}=CR^{p}_{n+p-1}.\]

2.5 Aula 10

2.5.0.1 Arranjo com repetições

Lembre que, pela Expressão (2.1), \[A^{r}_{n} = n(n-1)(n-2)\cdots(n-(r-1)).\] Este número conta todas as possíveis maneiras de se retirar, de um conjuntos de \(m\) elementos distintos, \(p\) elementos, levando-se em conta a ordem dos elementos.

Caso sejam permitidas repetições, o princípio multiplicativo nos diz que o número total de maneiras de se retirar, levando-se em conta a ordem, \(p\) dos \(m\) objetos, distintos ou não, é igual a \[AR_m^p = m^p,\] uma vez que o primeiro elemento pode ser retirado de \(m\) maneiras distintas, o segunto também de \(m\) maneiras, e assim sucessivamente, até que o \(p\)-ésimo seja escolhido.

Exemplo 2.20 Qual o total de placas de carro que podem ser construídas constando de 7 símbolos, sendo os 3 primeiros constituídos por letras e os 4 últimos por dígitos? Considere um alfabeto com 26 letras.
Solução. Podemos escolher as 3 letras de \(AR_{26}^{3}\) maneiras distintas e os 4 dígitos de \(AR_{10}^{4}\) formas diferentes. Logo, pelo princípio multiplicativo, temos um total de \[AR_{26}^{3}AR_{10}^{4} = 175.760.000\]

2.5.1 Princípio da inclusão e exclusão

Queremos obter uma fórmula que forneça o número total de elementos na união de um número finito de conjuntos. Considere o diagrama mostrado na Figura 2.4, com os conjuntos \(A\) e \(B\). O número total de elementos da união \(A \cup B\) é \[|A\cup B| = |A| + |B| - |A\cap B|.\]

Polígono regular de 8 lados.

Figura 2.4: Polígono regular de 8 lados.

Teorema 2.3 O número de elementos na união de \(n\) conjuntos finitos \(A_1, A_2, \ldots, A_n\) é dado por \[\begin{align} |A_1 \cup A_2 \cup \cdots \cup A_n| = &\sum_{i=1}^{n} |A_i| - \sum_{1\leq i\leq j} |A_i \cap A_j|\\ &+ \sum_{1\leq i\leq j\leq k} |A_i \cap A_j \cap A_k| + \cdots + (-1)^{n-1}|A_1 \cap A_2 \cap \cdots \cap A_n|. \tag{2.6} \end{align}\]

Prova. Devemos mostrar que um elemento que pertença a \(p\) dos conjuntos \(A_i\), para \(p=1,2,\ldots, n\), é contado pela Expressão (2.6) exatamente uma vez. Pertencendo a \(p\) dos conjuntos \(A_i\)`s, ele será contato \(p\) vezes em \[\sum_{i=1}^{n} |A_i|,\] em \[\sum_{1\leq i\leq j} |A_i \cap A_j|\] será contado \(C^2_p\) vezes (há \(C^2_n\) interseções dois a dois e o elemento está em \(C^2_p\) delas), em \[\sum_{1\leq i\leq j\leq k} |A_i \cap A_j \cap A_k|\] será contado \(C^3_p\) vezes, e assim sucessivamente até o termo \(|A_1 \cap A_2 \cap \cdots A_n|\), em que o elemento será contado uma vez. A interseção de mais do que \(p\) conjuntos não fornecerá nenhuma contribuição, pois o elemento em questão pertence a exatamente \(p\) dos conjuntos \(A_1, A_2, \ldots, A_n\).

Somando todas essas contribuições, teremos

\[\begin{equation} C^{1}_{p}-C^{2}_{p}+C^{3}_{p}-C^{4}_{p}+\cdots +(-1)^{p-1}C^{p}_{p}. \tag{2.7} \end{equation}\]

Os termos que aparecem na soma da Expressão (2.7) são os elementos da \(p\)-ésima linha do triângulo combinatório. Sabemos que termos equidistantes dos extremos em uma linha do triângulo combinatório são iguais \((C^{k}_{p}=C^{p-k}_{p})\), assim

\[C^{0}_{p}-C^{1}_{p}+C^{2}_{p}-C^{3}_{p}+C^{4}_{p}+\cdots +(-1)^{p}C^{p}_{p} = 0.\] Isso implica que a soma na Expressão (2.7) é igual a 1, pois \(C^{0}_{p}=1\).

A seguir, veremos alguns exemplos de aplicação do Princípio da Inclusão e Exclusão.

Exemplo 2.21 Dentre os números de 1 até 3600 inclusive, quantos são divisíveis por 3 ou por 7?
Observação. A notação \(\big\lfloor{x}\big\rfloor\) representa o maior inteiro menor ou igual a \(x\) e \(\big\lceil{x}\big\rceil\) representa o menor inteiro maior ou igual a \(x\).
Solução. Sabemos que \(\big\lfloor{\frac{3600}{3}}\big\rfloor=1200\) são divisíveis por \(3\) e que \(\big\lfloor{\frac{3600}{7}}\big\rfloor=514\) são divisíveis por 7. Ao somar estes números estaremos contando duas vezes todos os números que são divisíveis por \(3\) e por \(7\), ou seja, os divisíveis por \(21\), que são \(\big\lfloor{\frac{3600}{21}}\big\rfloor=171\). Logo, dentre os números de 1 até 3600 inclusive, \[1200 + 514 - 171 = 1543\] são divisíveis por 3 ou por 7.
Exemplo 2.22 Quantos são os inteiros entre 1 até 42000 inclusive que não são divisíveis por 2, por 3 e nem por 7?

Solução. Sejam \[\begin{align} A &= \{1, 2, 3, \ldots, 42000\}, \\ A_1 &= \{x \in A | x = 2k, k \in \mathbb{N}\}, \\ A_2 &= \{x \in A | x = 3k, k \in \mathbb{N}\}, \\ A_3 &= \{x \in A | x = 7k, k \in \mathbb{N}\}. \end{align}\]

Pelo Princípo da Inclusão e Exclusão, o número procurado será dado por \[\begin{align} |A| - |A_1\cup A_2 \cup A_3| = |A| &- |A_1| - |A_2| - |A_3| \\ &+ |A_1 \cap A_2| + |A_1 \cap A_3|+ |A_2 \cap A_3| \\ &- |A_1 \cap A_2 \cap A_3|. \end{align}\]

Como \[\begin{align} |A_1| &= \bigg\lfloor{\frac{4200}{2}}\bigg\rfloor=21000, &\quad |A_2| &= \bigg\lfloor{\frac{4200}{3}}\bigg\rfloor=14000, &\quad \\ |A_3| &= \bigg\lfloor{\frac{4200}{7}}\bigg\rfloor=6000, &\quad |A_1 \cap A_2| &= \bigg\lfloor{\frac{4200}{6}}\bigg\rfloor=7000, &\quad \\ |A_1 \cap A_3| &= \bigg\lfloor{\frac{4200}{14}}\bigg\rfloor=3000, &\quad |A_2 \cap A_3| &= \bigg\lfloor{\frac{4200}{21}}\bigg\rfloor=2000, &\quad\\ |A_1 \cap A_2 \cap A_3| &= \bigg\lfloor{\frac{4200}{42}}\bigg\rfloor=1000, &\quad |A| &= 42000, \end{align}\] temos que o número procurado é \(12000\).

O Exemplo 2.23 abaixo é uma generalização do Exemplo 2.22.

Exemplo 2.23 Dado um inteiro positivo \(m\) e sendo \(p_1, p_2, \ldots, p_r\) números menores que ou iguais a \(m\) e primos entre si, encontrar uma fórmula para o cálculo do número de inteiros positivos menores que ou iguais a \(m\) que não são divisíveis por nenhum dos números \(p_1, p_2, \ldots, p_r\).

Solução. Sejam \[\begin{align} A &= \{1, 2, 3, \ldots, m\}, \\ A_1 &= \{x \in A | x \text{ é divisível por } p_1\}, \\ A_2 &= \{x \in A | x \text{ é divisível por } p_2\}, \\ A_3 &= \{x \in A | x \text{ é divisível por } p_3\}, \\ &\vdots\\ A_r &= \{x \in A | x \text{ é divisível por } p_r\}. \\ \end{align}\]

Pelo Princípo da Inclusão e Exclusão, o número procurado será dado por \[\begin{align} |A| - |A_1\cup A_2 \cup \cdots \cup A_r| = |A| &- \sum_{i=1}^{r}|A_i| + \sum_{1\leq i<j}|A_i \cap A_j|\\ & + \sum_{1\leq i<j<k}|A_i \cap A_j \cap A_k|\\ & - \cdots + (-1)^r|A_1 \cap A_2 \cap\cdots\cap A_r|. \end{align}\]

Como \[\begin{align} |A| &= m, &\quad |A_i| &= \bigg\lfloor{\frac{m}{p_i}}\bigg\rfloor, &\quad \\ |A_i \cap A_j| &= \bigg\lfloor{\frac{m}{p_i p_j}}\bigg\rfloor, &\quad |A_i \cap A_j \cap A_k| &= \bigg\lfloor{\frac{m}{p_i p_j p_k}}\bigg\rfloor, \end{align}\] \[\begin{align} &\vdots \\ |A_1 \cap A_2 \cap\cdots\cap A_r| &= \bigg\lfloor{\frac{m}{p_1 p_2 \cdots p_r}}\bigg\rfloor \end{align}\]

Portanto, pelo Princípo da Inclusão e Exclusão, temos

\[\begin{align} |A| - |A_1\cup A_2 \cup \cdots \cup A_r| = m &- \sum_{i}\bigg\lfloor{\frac{m}{p_i}}\bigg\rfloor + \sum_{1\leq i < j}\bigg\lfloor{\frac{m}{p_i p_j}}\bigg\rfloor \\ &+ \cdots + (-1)^r\bigg\lfloor{\frac{m}{p_1 p_2 \cdots p_r}}\bigg\rfloor. \end{align}\]
Exemplo 2.24 De quantos modos \(n\) casais podem sentar-se ao redor de uma mesa circular de tal formar que os membros do casal não fiquem juntos?
Observação. Antes de resolver este problema para o caso geral (\(n\) casais), suponha que existam \(3\) pessoas em uma mesa circular. Neste caso, existem \(3!\) permutações dessas pessoas, mas algumas permutações são equivalentes, pois elas estão organizadas em círculo (\(abc\), \(bca\) e \(cab\), por exemplo), veja a Figura 2.5. Note que aqui existem \(2\) permutações circulares dessas \(3\) pessoas, ou seja \(\frac{3!}{3}=(3-1)!=2!\).
Permutação circular de três elementos.

Figura 2.5: Permutação circular de três elementos.

Solução. Consideramos os casais \(C_i\), para \(i=1,\ldots, n\) e definimos os \(n\) conjuntos a seguir \(A_i =\) “conjunto das permutações circulares das \(2n\) pessoas nas quais os membros do \(i\)-ésimo casal estejam juntos”, para \(i=1,\ldots, n\). Estamos procurando o complementar da união destes \(n\) conjuntos. Veja que \(|A_i| = 2(2n-1-1)!\), pois o casal \(P_1,P_2\) pode se sentar de duas maneiras, a saber, \(P_1 P_2\) e \(P_2 P_1\), e, como estarão juntos na mesa circular, podem ser considerados como sendo uma única pessoa, sendo então \(2n-1\) elementos no círculo. Seguindo este mesmo raciocínio, \[\begin{align} |A_i \cap A_j| &= 2 \cdot 2 (2n - 2 -1)!, \\ |A_i \cap A_j \cap A_k| &= 2 \cdot 2 \cdot 2 (2n - 3 -1)!, \\ &\vdots \\ |A_i \cap A_j \cap \cdots \cap A_n| &= 2^n (2n - n -1)!. \end{align}\]

Então, \[\overline{A_i \cup A_j \cup \cdots \cup A_n} = (2n-1)! + \sum_{i=1}^{n}{n\choose i}(-1)^i2^i(2n-1-i)!.\]