A medida que a velocidade de seu giro diminuia, tudo ficava mais claro, num tom bonito de verde e marrom.
O mundo ficou todo esverdeado, como se Gabriel estivesse usando óculos escuros. Eram lindo demais! Gabriel era parte do rio, junto de suas amigas e podia ver as pessoas pescando, brincar deslizando pelos peixes prateados e tocar os musgos que ondulavam em fios lisos perto das margens do rio.
Meninos escorregavam por barrancas lisas e barrentas, pulavam pelos galhos das arvores marginais e se espreguiçavam pintados pela luz da tarde enquanto Gabriel esgueirava-se intrigado por tantos fios de cabelo verde-prateado presos no fundo das barquinhas amarradas na beira do rio.
Tão devagar caminhavam que algumas gotinhas dormiam aquele tipo de sono leve que Gabriel se lembrava ter tido nos dias de calor, deitado à sombra de uma árvore, no quintal de sua casa.
As gotinhas que acordavam acordavam com outra cara. Estavam com seus cabelos brancos enroladinhos, já saiam pulando e brincado de rolarem umas sobre as outras. Também sua corzinha estava diferente. tinha gente-gota azul claro, verde azulado, até um verde fundo, brilhantes todas, com reflexos prateados.
Algumas gotinhas brincavam de rolarem umas sobre as outras, outras deslizavam e empurravam areia, formando desenhos ondulados, outras pulavam alto e se espalhavam rolando em si mesmas. Num desses pulos uma corrente de gotinhas levou o menino alto e deu pra ver o mar. Que emoção, o menino só via o mar nas férias quando ia visitar seu avó e, mesmo assim, não era tão de perto, tão ativamente participando da festa toda.
Algumas gotas resolveram ir deslizando pela superfície, formando um cordão sinuoso caminhando em direção as regiões mais escuras do mar.