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[Fwd: Re: Palestra do Castells (longo!)]



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Oi.

Ta bem, ta certo, eu nao vi nenhuma das duas palestras...
mas nao consigo deixar uma oportunidade de dar alguma opiniao :)

Infelizmente, esse email vai rapidinho, so pra acrescentar
alguma coisa em relacao ao que o professor Setzer disse.

> "A revolução tecnológica não determina a sociedade, ela _é_ a
> sociedade." Não estou totalmente de acordo, pois não se pergunta à
> sociedade se ela está interessada em uma nova tecnologia, e muito menos
> se apresentam a ela os efeitos positivos e negativos da novidade, para
> que ela possa decidir se a quer ou não. O que acontece hoje em dia é de
> um lado o impingir de produtos, convencendo-se o consumidor através de
> propaganda que ele deve comprar o que não precisa por um preço mais
> caro. Em segundo lugar, existe uma obsolescência forçada. Produtos que
> poderiam durar mais são substituídos por novos devido a custos de
> manutenção ou obsolescência forçada (não fazem tudo o que os novos
> produtos fazem). Na informática, provavelmente há um acordo entre Intel
> e Microsoft, de modo que esta esbanja mais recursos em cada nova versão
> do soft para que a primeira possa vender processadores essenciais para
> processar o excesso de recursos requeridos.

O desenvolvimento tecnologico, principalmente em relacao ao
desenvolvimento de "produtos tecnologicos" eh so mais uma
maneira de aprofundar ainda mais o fosso entre um grupinho
de pessoas que vivem bem do GRUPAO que vive muito mal. O
desenvolvimento e lancamento das novas tecnologias (e.g.
micros cada vez mais rapidos) so serve aas poucas pessoas que
podem compra-las. Um numero cada vez menor de pessoas consegue
ter acesso a isso, o que faz com que as pessoas mais favorecidas
tenham mais chance do que as menos (mais ou menos como o
nosso sistema de ensino primario e secundario em relacao
ao acesso elitista a universidade). Um exemplo ingenuo mas
emblematico eh dado pelo Freeman Dyson em "Mundos Imaginados"
(Cia das Letras, 98 ou 99, nao tenho certeza): se voce anuncia
um emprego na INTERNET, quem nao tem acesso aa rede (menos favorecidos,
donc!) nao pode ter a oportunidade de concorrer por ele.

Mas nem toda tecnologia eh ruim assim: existem tecnologias baratas
que poderiam servir a um numero muito maior de pessoas. Infelizmente,
essas normalmente nao dao tanto lucro, sao mais democraticas e
diminuiriam o fosso social. Bref: nao serviriam ao proposito de
aumentar a distancia entre ricos e pobres. Pior: talvez elas nem
causassem desemprego! Isso seria um escandalo para as elites
economicas mundiais!

> "Os meios de comunicação não determinam a política." Um querido amigo
> americano, de mais de 80 anos, ex-professor de matemática, escreveu-me
> que os meios de comunicação americanos estão dominados pela direita
> radical (Murdoch, Moon, - sic - etc.). Ele diz que há lá tão pouca
> liberdade de imprensa quanto na antiga União Soviética. Papagaio, não
> pensei que chegasse a tanto. Mas procurem algum artigo na Veja, cujos
> repórteres são independentes da diretoria financeira, que seja contra a
> opinião do Civitta (que, aliás, é americano). Ou no Estadão algo que
> seja contrário à visão dos Mesquita. (Bom, até que eles se dão ao luxo
> de deixar aparecer algumas opiniões esquerdistas de articulistas - não
> de repórteres - para dar a impressão de liberdade de opinião.)

Os detentores dos grandes meios de comunicacao, hoje em dia, fazem
parte de grupos que tem interesse nao so em comunicacao (e.g. o grupo
Folha andou fazendo parte dos consorcios para privatizacao das 
telecomunicacoes). Precisa dizer mais?

> Durante as perguntas, ele disse algo interessante: "A competitividade
> sem integração humana é auto-destrutiva." O que será que ele quis dizer
> com isso? Deve haver competitividade entre grupos integrados? Ou
> integrar os competidores? Para mim, o que precisa é acabar com a
> competitividade, pois ela é anti-social.

Concordo em genero, numero e grau. Deveriamos estar buscando sociedades
baseadas em solidariedade, justica, igualdade de direitos e respeito aa
liberdade individual. Eh exatamente o contrario de tudo isso o que 
esta acontecendo. E, como eu andei escrevendo em um outro email 
(mas em outro contexto), esse tipo de raciocinio torto baseado em 
competitividade extremada, darwinismo social, ao vencedor as batatas 
(e o perdedor, aos leoes) tem invadido selvagemente cada vez 
mais as universidades (que deveriam estar alertando outros setores 
sobre essas coisas). 

As vezes eu tenho a impressao que exige-se que eu ensine aos meus alunos
como vencerem a competicao social existente por ai (algo que faz parte
da
"natureza humana", segundo alguns mal-intencionados e/ou
ignorantes proclamam desde a proposicao da teoria darwinista).

Acredito que seja minha obrigacao alertar que essa competicao social a
todo
custo so pode levar onde estamos testemunhando: guerra, miseria,
criminalidade,
tristeza, feiura, inseguranca, alienacao e assim por diante (pra nao
comentar 
a proposito de insensibilidade, pobreza de espirito, preconceitos, 
feiura e jacuzisse).

Atesto e dou fe.

Roberto

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    Roberto Marcondes Cesar Junior 

    Department of Computer Science 
    Institute of Mathematics and Statistics - IME 
    University of Sao Paulo - USP 
    Rua do Matao, 1010, Sao Paulo, SP 
    CEP 05508-900 - Brazil 
    Fone: (011) 818 61 35 
    FAX: (011) 818 61 34 
    e-mail: cesar@ime.usp.br 
    http://www.ime.usp.br/~cesar 
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