CapXIV-pg7
CapXIV-pg8
CapXIV-pg9

 

 

Há um modo fácil de ver que toda superfície admite um modelo poligonal. A "receita" é a seguinte:

  • Definir uma triangulação sobre a superfície e numerar todos os vértices (ou etiquetar todas as arestas);
  • Recortar todos os triângulos
  • Colar os triângulos (com regras que descreveremos);
  • Se apenas os vértices estão enumerados, etiquetar os lados com letras, respeitando orientações.

 

Ilustremos a receita com um exemplo simples: o anel.

 

Etapa 1. Triangulação com numeração dos vértices.

 

 

Etapa 2. Recorte dos triângulos (com retificação de formato).

 

 

Etapa 3. Colagem. Nesta etapa, começa-se com um triângulo qualquer, por exemplo:

 

 

Os outros triângulos são agregados um a um, sempre mantendo-se um pedaço coeso. Além disso, impõe-se a regra de que cada triângulo novo só seja colado por um lado.

 

 

Dessa forma, a figura toda é sempre isotópica a um disco e o resultado final é um polígono, cujo bordo é demarcado pelos vértices numerados.

 

O próximo passo é arrumar o polígono, mantendo-se a numeração dos vértices de bordo.

 

 

Etapa 4. A cada aresta associa-se uma letra. Lados a serem identificados (ou seja, que têm os mesmos números nas pontas) recebem letras iguais, respeitando-se a orientação, definida por esses mesmos números. Por exemplo, escolhemos a letra a para o segmento que liga os vértices 10 e 11, e o sentido vai de 11 para 10. Já os lados solitários não recebem orientação e são etiquetados com a letra "B".

 

 

Pronto! Obtivemos um modelo poligonal para o Anel! Em letras, ele é dado por: abBBeff-1e-1BBb-1a-1BBkk-1BBBBB. E não é difícil ver que o mesmo pode ser feito com qualquer superfície, desde que consigamos obter uma triangulação.

 

É evidente, no entanto, que esse não é o modelo mais simples para o Anel. Lembremos que o Anel é isotópico ao Cilindro, e portanto o modelo do Cilindro é o mais apropriado, como mostra a figura abaixo.

 

 

O que podemos fazer, entretanto, é simplificar o modelo que obtivemos, com alguns pequenos truques. Essa simplificação não vai alterar a superfície, mas sim o modelo. Por exemplo, podemos começar juntando todos os segmentos de bordo adjacentes: o modelo fica, em letras, dado por abBeff-1e-1Bb-1a-1Bkk-1B, que corresponde à seguinte figura:

 

 

Além disso, os segmentos a e b podem ser colados simultaneamente, o que permite juntar os dois segmentos sob uma mesma letra: c. O mesmo ocorre com e e f, que juntaremos na letra d. O modelo fica mais simplificado ainda: cBdd-1Bc-1Bkk-1B, como na ilustração abaixo.

 

 

Outra simplificação: quando um par de segmentos com a mesma letra é adjacente, e os sentidos das setas são opostos, podemos colá-los, como indica a figura abaixo com respeito às letras d e k. Esses segmentos desaparecem do contorno do polígono.

 

 

Agora há mais segmentos de bordos adjacentes, que podem ser juntados, resultando em:

 

 

Ora, esse é exatamente o modelo do Cilindro e do Anel! (Só que nesta figura desenhamos um "retângulo redondo"!)

 

Por outro lado, podemos considerar outro tipo de modelo para a mesma superfície: ele leva em conta que o Cilindro é uma Esfera sem duas tampas, e poderia ser representado assim:

 

 

Isso não é exatamente um modelo poligonal, pois há buracos no meio (lembre-se que polígonos são isotópicos a discos, de acordo com nossa definição). No entanto esse modelo é bem mais conveniente para superfícies com bordo, pois revela de qual superfície sem bordo elas derivam e quantas componentes de bordo elas têm.

 

Chamaremos esse tipo de modelo de modelo poligonal com buracos.

 

 
CapXIV-pg7
CapXIV-pg8
CapXIV-pg9