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Modelos poligonais de superfícies sem bordo

 

Se uma superfície não tem bordo, seu modelo poligonal não pode ter lados "solitários": todas as letras devem ocorrer aos pares. Daí decorre que o modelo poligonal só pode ter um número par de lados: 2, 4, 6, 8, etc.

 

Chamaremos de modelo poligonal pareado a qualquer modelo poligonal que não tenha arestas solitárias. É claro que também não permitiremos mais do que dois lados etiquetados com a mesma letra.

 

Uma pergunta natural: "todo modelo poligonal pareado define uma superfície?"

 

Para responder a essa pergunta, devemos recorrer à noção de vizinhança. É preciso saber se todo ponto do modelo tem uma vizinhança homeomorfa a um disco (após a identificação dos lados).

 

Tomemos, para ilustrar as idéias, o modelo poligonal de 8 lados aabcd-1b-1d-1c-1, mostrado na figura abaixo.

 

 

Vejamos as possibilidades. Se um ponto p está fora do contorno do polígono, é fácil achar um disco que rodeia p.

 

 

Se o ponto p está sobre o contorno, mas fora de qualquer vértice, também é fácil achar sua vizinhança.

 

 

Vejamos agora o caso mais delicado dos pontos sobre os vértices.

 

 

Neste exemplo, todos os vértices do polígono representam o mesmo ponto após a identificação, e além disso esse ponto tem uma vizinhança isotópica a um disco. Portanto o modelo poligonal apresentado define uma superfície.

 

Vejamos agora um caso onde há mais do que um ponto da superfície nos vértices do modelo poligonal. Por exemplo, o modelo retangular do Plano Projetivo tem dois pontos diferentes nos vértices.

 

 

Introduziremos uma nomenclatura, neste momento. Diremos que dois vértices do modelo poligonal são equivalentes se representam o mesmo ponto da superfície após a identificação. No modelo retangular do Plano Projetivo, por exemplo, vértices diagonalmente opostos são equivalentes. No modelo anterior, todos os vértices são equivalentes entre si.

 

Se v é um vértice, chamamos de classe de equivalência de v ao conjunto de vértices que são equivalentes a v. Se dois vértices são equivalentes é claro que suas classes de equivalência serão iguais.

 

Por exemplo, no modelo do Plano Projetivo que apresentamos acima temos duas classes de equivalência, e no modelo anterior apenas uma.

 

O número de classes de equivalência de vértices será chamado de ordem nos vértices.

 

No entanto não respondemos ainda se todo modelo poligonal pareado define uma superfície. Na verdade, pelo que vimos, o único problema que pode ocorrer é com os pontos de vértice. Mesmo assim, veremos que a resposta é afirmativa!

 

Para ver a razão, considere um modelo poligonal qualquer e escolha um dos vértices, digamos p. Há dois segmentos adjacentes a p, aos quais damos os nomes de a e b (poderia ser um outro lado com a letra a, deixamos ao leitor para pensar nessa possibilidade!).

 

 

Para continuar, devemos passar para o "outro lado" de b, usando a outra aresta com essa letra. Aí encontramos outro segmento, que indicamos por c.

 

 

Observe que em vez de encontrar outro segmento c, poderíamos ter encontrado a desta forma:

 

 

Nesse caso, seria completada uma volta inteira em torno de p. Note também que, se ao invés disso o segmento com letra a aparecesse invertido então o ciclo não se fecharia:

 

 

No entanto, como não há infinitos lados, em algum momento o ciclo deve se fechar, dando uma volta completa em torno de p.

 

A colagem das regiões sombreadas define então a vizinhança de p, isotópica a um disco.

 

 
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