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O que essas superfícies têm de especial, que as distinga dos outros exemplos que até então mostramos?

 

Comecemos tomando a Faixa de Moebius feita de papel e vejamos o que acontece se colocamos uma formiguinha sobre ela (a formiguinha pode ser imaginária, para os alérgicos!). A formiguinha começa a caminhar e dá uma volta completa, mas ao retornar está do "outro lado" do papel.

 

É fácil ver que o mesmo pode acontecer nas superfícies A, B e C: há sempre um caminho que a formiguinha pode escolher tal que quando voltar ao ponto de partida ela estará do outro lado do papel. Esse tipo de superfície é chamada de não-orientável, ao passo que as demais são orientáveis.

 

Numa superfície orientável como a esfera, por exemplo, se colocarmos duas formiguinhas, uma do "lado de dentro" e outra do "lado de fora", elas nunca se encontrarão.

 

Já comentamos, no entanto, que analogias com formigas são um pouco perigosas, pois elas não vivem no mundo bidimensional. Daremos a seguir uma definição de orientabilidade que Aderbal pode verificar, vivendo exclusivamente dentro da superfície. Ele será capaz de dizer se a superfície é ou não é orientável sem precisar conhecer o mundo tridimensional. Veja que não há nenhum sentido, para Aderbal, em se falar dos "lados" de uma superfície.

 

Primeiro vejamos o que acontece com Aderbal quando ele está num mundo orientável: o cilindro, por exemplo. Nesse mundo estão espalhados alguns relógios, que Aderbal gosta de examinar, entrando e vendo o ponteiro girar.

 

 

A primeira coisa que Aderbal observa é o sentido do ponteiro. Isso ele faz posicionando-se no centro do relógio e vendo se o ponteiro passa da antena preta para a antena branca ou da antena branca para a antena preta. Para Aderbal não faz sentido falar em "direita" ou "esquerda": no desenho acima, a antena preta está à esquerda para um observador como nós, "externo" ao cilindro, mas está à direita para quem olha "de dentro". Ou senão, podemos inverter o cilindro, e a antena preta passa da "esquerda para a direita".

 

 

Entretanto, uma vez que Aderbal está na superfície e o sentido do ponteiro de cada relógio está fixado, ele pode comparar se dois relógios têm ponteiros girando no mesmo sentido, usando as cores de suas antenas.

 

Aderbal pode então pedir às autoridades do Mundo Cilíndrico que coloquem todos os ponteiros girando no mesmo sentido. Se da antena branca para a antena preta ou da antena preta para a antena branca não importa, o que interessa é que girem todos no mesmo sentido. A solicitação de Aderbal é sempre prontamente atendida.

 

Aderbal às vezes visita a Faixa de Moebius, porém lá, ao contrário do Mundo Cilíndrico, seu pedido nunca é atendido. Felizmente hoje em dia Aderbal já compreende a razão disso. Imagine que ele examine um relógio cujo ponteiro gira, por exemplo, da antena preta para a antena branca, como mostra a figura abaixo. Ele sai para caminhar e dá uma volta completa na Faixa de Moebius. Ao voltar, o ponteiro do relógio está girando ao contrário: da antena branca para a antena preta!

 

 

De fato, não há como fazer com que todos os ponteiros girem no mesmo sentido porque não é possível definir um sentido para eles. Isso é o que caracteriza uma superfície não orientável. Já em uma superfície orientável é sempre possível escolher uma orientação para os ponteiros do relógio.

 

Esses caminhos que Aderbal percorre e que, ao final, o sentido dos ponteiros do relógio muda, de acordo com seu ponto de vista, são chamados de caminhos desorientadores. Observe que nem todo caminho de Aderbal é desorientador: se ele der duas voltas antes de entrar no relógio novamente não ficará com a impressão de que o sentido dos ponteiros do relógio mudou!

 

 
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