MAC 339 - Informação, Comunicação e a Sociedade do Conhecimento
Autor: Alessandro Wilner

Privacidade Online versus Combate ao Terrorismo

Uma análise do futuro da privacidade online após o atentado de 11 de setembro de 2001

5 - Falhas que levaram ao atentado de 11 de setembro

Após o atentado de 11 de setembro, a pergunta que mais se fazia era como a maior superpotência do planeta, com um orçamento milionário destinado a defesa e inteligência, sequer suspeitava que algo iria acontecer. Uma análise das falhas mostra em primeiro lugar a falta de preparo das agências governamentais norte-americanas e em segundo lugar a ineficiência de vigilância eletrônica quando não associada ao elemento humano.

Com isso, pode-se comprovar que ao invés de restringir a liberdade e a privacidade online, o governo norte-americano deveria se preocupar em reformular sistemas de segurança pública e inteligência deficientes e fragmentados, criados através de remendos em seus furos, o que gera uma colcha de retalhos no mínimo ineficiente.

5.1 - SIGINT x HUMINT

Logo após o atentado de 11 de setembro, a comunidade de inteligência internacional se fazia uma pergunta: como as agências de inteligências americanas, com orçamentos bilionários, nem sequer suspeitaram que algo estava prestes a ocorrer?

Algumas semanas depois, em uma de suas raras aparições em público, o chefe do Mossad (o serviço secreto israelense) Ephraim Halevy falou o que muitos já começavam a pensar: as agências de inteligência ocidentais neglienciaram o fator humano em prol de vigilâncias eletrônicas.

Recentemente, as agências de inteligência têm se focado em SIGINT (SIGnal INTelligence), que é a vigilância eletrônica, seja por satélites, escutas ou outros meios, para colher informações. Os recursos de HUMINT (HUMan INTelligence) têm servido apenas para corroborar as conclusões que já foram tiradas através de SIGINT. Obviamente as organizações terroristas perceberam esse ponto fraco e o exploraram.

Halevy afirma que a SIGINT se tornou a vedete da inteligência ocidental, e até mesmo o Mossad sofre dessa anomalia. O ponto é que muitas vezes um espião infiltrado pode colher muito mais informação do que um satélite espião superpotente. O fator humano pode ser decisivo na identificação de ameaças, pois qualquer dispositivo eletrônico apenas capta o que é transmitido, enquanto um agente humano pode ir atrás de informações, e convencer alguém a lhe dar informações.

Dois exemplos que comprovam essa afirmação de Halevy são o Echelon e o Carnivore, dois sofisticados projetos de espionagem de comunicações eletrônicas já existentes há algum tempo. Apesar de sua sofisticação, e de um dos argumentos para o orçamento de ambos ser o combate ao terrorismo, nenhum deles interceptou nenhum fax ou chamada telefônica referente ao atentado. Talvez isso tenha acontecido porque os terroristas se valeram da criptografia, ou talvez nem tenha havido um fax nem uma ligação telefônica. Pode ser que os terroristas tenham se comunicado de outra forma. Qualquer que seja o caso, porém, isso mostra que confiar somente e cegamente em SIGINT pode fazer com que não se detecte algo grande que está por vir.

5.2 - Canais de comunicação usados por terroristas

Os terroristas precisam se comunicar para obter informações suficientes para a elaboração de um atentado e para passar as ordens de execução do mesmo. Hoje em dia há vários canais de comunicação disponíveis. Terroristas podem usar o telefone, um fax, e-mail, ICQ, cartas, telegramas, entre outros, como qualquer outra pessoa.

Um canal que os terroristas costumam usar, no entanto, é praticamente imune a qualquer tipo de vigilância eletrônica: a esteganografia. Enquanto a criptografia se preocupa em embaralhar uma informação para que ela se torne ininteligível, a esteganografia se preocupa em esconder a informação dentro de outra aparentemente inofensiva. Um caso típico de esteganografia é codificar uma mensagem como mudanças sutis nos pixels de uma foto digital, ou ruídos imperceptíveis em um arquivo de áudio. Para um observador comum, é só uma foto ou um arquivo de som. Mas para quem envia e quem recebe, existe uma mensagem.

Um dos fatores que mais atraem os terroristas na esteganografia é que não é necessário que ambas as partes estejam ao mesmo tempo se comunicando, e assim é possível que um terrorista use esteganografia para colocar uma mensagem em uma foto pornográfica e a mande para algum site. Outro terrorista, ao vasculhar o site, encontra algum sinal combinado e sabe que aquela foto tem uma mensagem. Ele baixa a foto, decodifica a mensagem nela e quem mandou nem sequer estava conectado. Outras pessoas podem baixar a foto e nem suspeitarem que há uma mensagem ali.

Nesses casos, não há muito o que fazer para interceptar essa comunicação, a não ser valer mão de HUMINT.

5.3 - Segurança deficiente nos aeroportos

Um dos fatores que fez com que os terroristas tomassem o controle dos quatro aviões foi o fato de que eles tinham armas brancas. Teoricamente, os aeroportos são responsáveis por não permitir o embarque de armas a bordo dos aviões. No entanto, a segurança em vôos domésticos na maioria dos países é relaxada. Infelizmente os norte-americanos descobriram da pior forma que o único meio de se evitar um ataque é estar sempre alerta. À sombra do atentado de 11 de setembro, a segurança da maioria dos aeroportos no mundo foi reforçada, mas isso não vai durar muito. Em breve, as equipes de segurança irão ver que nada acontece, e achar que podem relaxar novamente.

O aspecto mais frustrante de se combater o terrorismo é que nunca se pode saber com certeza se nada acontece porque a segurança funciona ou porque os terroristas nem tentaram atacar. Da mesma maneira, um incidente pode ser um teste de ataque terrorista, mas também pode não ser nada. São poucos os que se mantêm alertas depois de muito tempo.

5.4 - Falta de preparo da equipe de comissários

A tragédia de 11 de setembro poderia ter sido evitada se a equipe de bordo dos aviões sequestrados, que é responsável pela vida dos passageiros, estivesse melhor preparada para situações assim. Como os terroristas estavam armados apenas de armas brancas, eram passíveis de serem dominados se os comissários de bordo coordenassem uma reação.

Uma proposta que surgiu depois do atentado é que cada vôo tenha pelo menos um oficial da força aérea armado a bordo. A proposta não parece ser prática pelo volume de vôos diários nos Estados Unidos, e pelos custos envolvidos.

Outra proposta levantada diz respeito ao treinamento de comissários de bordo para situações de combate, o que parece ser benéfico, além de não interferir em nada na vida dos passageiros. O problema seria saber quando agir e quando deixar o terrorista tomar o controle.


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