3 - Abdicar da privacidade é a solução?

Numa pesquisa realizada pela Princeton Survey Research Associates em 13 e 14 de setembro, logo após o atentado, 72% dos norte-americanos afirmavam acreditar que leis anti-criptografia iriam ajudar a prevenir futuras tragédias.

A questão da proibição de métodos criptográficos que não tenham um "backdoor" para agências governamentais está sendo seriamente debatida nos Estados Unidos e na Europa, aonde se concentra a maior parte dos usuários da Internet. A população norte-americana, fragilizada pela tragédia, passou a aceitar a idéia de abrir mão de parte de sua liberdade em troca de uma maior segurança.

Mas grupos que defendem a privacidade acusam o Congresso norte-americano de oportunismo. Simon Davies, diretor do grupo de direitos humanos Privacy International, afirma que não se pode confiar em estatísticas colhidas logo após a tragédia, pois as pessoas estão confusas e emotivas. Davies afirma que é uma atitude irresponsável formar uma política de resposta ao atentado através dessa pesquisa.

Alguns afirmam que esse estado de alerta é temporário e que ficará em vigor apenas enquanto durar a guerra contra o terror mas, justamente por causa da natureza dessa guerra, esse estado pode se tornar permanente e insuportável.

3.1 - Pesquisas de opinião

Após o ataque de 11 de setembro, o senador Judd Gregg e outros membros do alto escalão do governo norte-americano propuseram limitar as tecnologias de encriptação e instaurar a obrigatoriedade de um mecanismo que possibilitasse ao governo acesso a mensagens encriptadas. Infelizmente, essa proposta recebeu apoio de grande parte da população norte-americana.

Abalada pelo atentado, parte do povo norte-americano se declarou disposto a abrir mão de liberdades civis em nome da segurança. Um tema muito discutido é se vale a pena abrir mão da privacidade em troca de segurança. O problema é que ninguém parou para pensar se essa ligação entre liberdade e segurança realmente existe. Essa associação é simplista e errônea, pois há meios de se aumentar a segurança sem ter de abrir mão da privacidade ou da liberdade.

As pesquisas de opinião encomendadas, além de se valerem dessa associação equivocada, se deram logo após o atentado, quando todo um país estava abalado e sensibilizado. Obviamente a elaboração das pesquisas não foi imparcial, nem o resultado.

3.2 - Por que buscar outro caminho?

A sugestão de se controlar a criptografia é mais prejudicial do que benéfica. Em primeiro lugar, criptografia é uma ciência, e não se pode controlar o avanço da ciência. O que se pode é controlar produtos que usem essa ciência. Porém, há mais de mil produtos que usam criptografia em centenas de países. Banir a criptografia em um só país seria o mesmo que nada, pois seria possível importar ilegalmente um produto de outro país, e os terroristas não são conhecidos por se preocuparem com a legalidade de seu software. Mesmo se fosse possível banir todos os produtos que usam criptografia no mundo todo, pois qualquer organização terrorista pode conseguir alguém que escreva seu próprio software de criptografia. Além disso, a criptografia é importante para proteger informações em bancos, hospitais e até computadores utilizados por controladores de tráfego aéreo. A criptografia deve ser reconhecida como parte da solução e não como parte do problema.

Outro ponto a se considerar é que ao abrir mão de nossa privacidade online, estamos permitindo não apenas ao governo vasculhar parte de nossas vidas, mas qualquer hacker com um mínimo de habilidade, e o preço disso depende das intenções do referido hacker. O problema é que organizações terroristas também podem aliciar hackers. Sendo assim, o mesmo poder que é dado ao governo também é dado aos terroristas.

Seção anterior | Próxima seção

[Introdução] | [O Ato Anti-Terrorismo Patriot] | Abdicar da privacidade é a solução?
[Anatomia de um atentado] | [Falhas que levaram ao atentado de 11 de setembro]
[Conjugando liberdade e segurança] | [O futuro] | [Bibliografia e links]