A MISSÃO DA TECNOLOGIA

Valdemar W. Setzer
Depto. de Ciência da Computação, Universidade de São Paulo
www.ime.usp.br/~vwsetzer

Original: 24/11/07; ampliação em: 2/10/14; esta versão: 17/7/20

1. Introdução

Este artigo foi escrito para aqueles que se preocupam com o rumo que a tecnologia, como definida no item 3, há muito tempo está tomando, em sua grande parte: dominando e destruindo os seres humanos e a natureza. Essa dominação provém de um verdadeiro endeusamento da ciência e de sua filha, a tecnologia; um verdadeiro fanatismo por elas. Sou totalmente contra qualquer fanatismo, em particular o de se achar que tudo que é científico e tecnológico é ótimo. Obviamente, também sou contra o fanatismo oposto, o fundamentalismo religioso. Sou totalmente a favor da busca da compreensão dos fenômenos, e de ações nela baseadas, enriquecida pela intuição dos sentimentos (já que não podemos ter um conhecimento total de nada, a não ser na Matemática, mesmo assim com algumas restrições), e levando em conta as ações e experiências passadas. Nesse sentido, não tenho crença ou fé. Ou, levando em conta que muitas de minhas ações são ditadas pelo meu inconsciente – como o impulso de reescrever este artigo –, procuro não as ter. Note-se que falei de ações baseadas não só em compreensão, de modo que não me considero um puro racionalista.

Apesar de quase todos os cientistas serem contra o fanatismo religioso, é preciso reconhecer que o fanatismo pela ciência e pela tecnologia é que está destruindo o ser humano e a natureza. O fanatismo religioso só destrói alguns indivíduos, sendo portanto razoavelmente limitado. A poluição atmosférica e talvez uma de suas consequências, o aquecimento global, a poluição dos alimentos, a medicação descontrolada, o desastre ecológico e humano que se avizinha devido à modificação genética de plantas e animais (criando seres vivos que jamais existiram), o condicionamento pela TV e pelos video games, e muitos outros fenômenos, são amostras da mencionada destruição.

Preciso colocar logo de início que não sou contra a tecnologia; não sou, portanto, um neoluddita. (Luddites eram pessoas que, entre 1811 e 1816, eram contra a mecanização das indústrias na Inglaterra e formavam bandos para quebrar máquinas; eles diziam que seguiam uma figura simbólica, o "rei" Ned Lud.) De fato, formei-me em engenharia eletrônica (ITA, 1963) e minha vida profissional foi baseada na tecnologia (Ciência da Computação). Estou usando um computador para compor este texto – mas isso é uma necessidade, já que pretendo colocar este artigo em meu site. Sou radioamador classe A (PY2EH – infelizmente inativo, pois a Internet quase acabou com o radioamadorismo), mas para isso não havia necessidade nenhuma.

Certamente parecerá a muitos estranho que a tecnologia possa ter uma missão, pois aparentemente ela é neutra. Em geral crê-se que os benefícios ou malefícios que ela produz dependem do seu uso. No item 3 mostro que, ao contrário, a tecnologia não é neutra. Posso falar de uma missão da tecnologia, tratada no item 4, devido à minha concepção de mundo, que exponho no item 2. No item 5 caracterizo como se podem compreender os aspectos do Mal e do Bem, para poder compreender o papel da tecnologia em relação à liberdade humana. No item 6 mostro como a tecnologia está sendo mal usada, para no item 7 abordar o que compreendo como sua missão para a humanidade. No item 8 dou algumas diretrizes no sentido de cada pessoa tomar uma atitude que considero positiva em relação à tecnologia, para no item 9 colocar uma breve conclusão. Finalmente, o item 10 contém as referências bibliográficas.

No texto, não serão inseridos vínculos para páginas da Internet, para que o leitor não tenha o impulso de interromper a leitura e desviar para outra página, perdendo assim o fio da meada. Esses vínculos estão nas referências, com o nome citado no texto.

2. Minha concepção de mundo

Há duas visões de mundo mutuamente exclusivas: o materialismo e o que vou denominar de espiritualismo. Materialismo é a concepção de que só existem matéria e processos físicos no universo (processos químicos são hoje em dia reduzidos a processos físicos). Muitos materialistas chamam esses processos de “naturais”, não admitindo a existência de nenhum processo “sobrenatural”, isto é, que não possa ser totalmente reduzido a processos naturais. A grande maioria dos cientistas hoje em dia são materialistas. Denomino de espiritualismo uma concepção de mundo que admite que existem “substâncias” e processos não físicos no universo, eventualmente influenciando processos físicos. Denomino de espiritualismo científico o espiritualismo que admite a existência de “substâncias” e processos não físicos apenas como uma hipótese de trabalho. Uso a expressão “não físico” para indicar algo que existe fora do mundo físico, e que não pode ser reduzido a fenômenos físicos. Estou ciente do problema de definir algo por negação, mas é a maneira mais simples que encontrei para expressar o que estou caracterizando.

Note-se a ênfase que dei à expressão “hipótese de trabalho”. Se alguém acredita piamente que há processos não físicos não o considero um espiritualista científico. Hipóteses devem sempre ser temporárias, sujeitas a revisão. Além disso, deve-se sempre buscar a sua comprovação, devem ser formuladas para se compreender algo e servir para se construir uma teoria coerente. Já crenças em geral são permanentes, fixas, e não estão sujeitas nem a compreensão e nem a comprovação, e não servem para se construir, a partir delas, uma teoria coerente. Para mais detalhes sobre materialismo e espiritualismo, vejam-se meus artigos “Ciência, religião e espiritualidade” e “Consequências do materialismo”; no primeiro denominei de espiritualismo-crença aquele que se baseia, pelo menos em parte, em crenças ou fé.

Um materialista e um espiritualista caracterizam-se por sua maneira de pensar. Tipicamente, um materialista procura e usa somente alguma explicação física para qualquer fenômeno. Já um espiritualista deve admitir a existência de fatores não físicos que possam influenciar alguns fenômenos físicos, principalmente os que envolvem os seres vivos.

Não é por uma pessoa ficar colocando a causa de alguns fenômenos em uma entidade não física como a que se costuma chamar de Deus, que a considero um espiritualista científico no sentido que acabei de dar. A razão disso é que essa entidade e sua maneira de agir não podem ser observadas e compreendidas, pois ela se tornou uma mera abstração. Assim, tipicamente, esse tipo de pessoa, que em geral denomina a si própria de “religiosa”, não procura compreender esses fenômenos, atribuindo como sua causa a atuação do que chama de Deus. Uma das características dessa falta de compreensão é a falta de uma explicação de como essa entidade, claramente não física, poderia influenciar, por exemplo, as ações dos seres vivos. No sentido que dei, todo espiritualista tem religiosidade, mas nem toda pessoa religiosa é espiritualista científica. Pelo contrário, pela maneira de pensar, nota-se que muitos dos que se dizem “religiosos” são, no fundo, materialistas.

Há muitas evidências que sugerem que a concepção de mundo espiritualista é razoável. Não vou me alongar nesse aspecto e em muitos outros, pois escrevi um artigo que aborda isso extensamente, “Por que sou espiritualista”. Nele, exponho também minha teoria de como processos não físicos podem agir sobre o mundo físico. Como se verá no item 4, é justamente pelo fato de adotar a hipótese espiritualista que posso falar de uma “missão” da tecnologia.

3. A tecnologia e sua não neutralidade

A palavra “tecnologia” deveria referir-se a “conhecimento da técnica”. O Dicionário Eletrônico Aurélio Séc. XXI traz a definição “Conjunto de conhecimentos, esp[ecialmente] princípios científicos, que se aplicam a um determinado ramo de atividade.” Neste artigo, usarei o termo “tecnologia” no sentido que se dá popularmente a ele em inglês, isto é, referindo-se a qualquer artefato, especialmente instrumentos e máquinas.

Nenhuma tecnologia é neutra. De fato, tome-se na mão um martelo, e veja-se qual a atitude interior que ele inspira: certamente, a de bater, às vezes com violência, em alguma coisa, provavelmente um prego. Agora, tome-se um travesseiro; a atitude que ele inspira certamente é de calma, de aconchego, de descanso – a menos de crianças que gostam de fazer uma divertida guerra de travesseiros, mas mesmo nesse caso a atitude induzida por ele não é de machucar outra pessoa com violência. Portanto, esses dois artefatos induzem uma determinada atitude interior e certos sentimentos. O filósofo Martin Heidegger escreveu “Assim, jamais vivenciaremos nossa relação para com a essência da tecnologia, na medida em que nós meramente concebermos e promovermos o tecnológico, aturarmo-lo ou fugirmos dele. Mas somos entregues à tecnologia da pior maneira possível, quando nós a encaramos como algo neutro; pois essa concepção, a qual hoje em dia gostamos especialmente de prestar homenagem, torna-nos totalmente cegos à essência da tecnologia.” [Heidegger 1954, minha tradução]. Na verdade, é preciso reconhecer que nada no mundo é neutro em relação ao ser humano, pois este incorpora todas as suas vivências. De fato, o leitor não será exatamente o mesmo depois de ter lido este artigo, comparando com o que era antes de tê-lo lido: terá entrado em contato com algumas ideias novas, terá tido algumas reflexões, e tudo isso ficará “gravado” para sempre, pelo menos em seu subconsciente. Certamente ele não lembrará de tudo o que leu, mas se for hipnotizado, poderá repetir muito do que terá esquecido.

Vou dar mais quatro exemplos da não-neutralidade da tecnologia, usando meus alvos preferidos. Em primeiro lugar, examinemos a TV. Imagine-se o que significa ter guardado no inconsciente ou no subconsciente todo o lixo mental televisivo que foi assistido. Certamente isso deve ter alguma influência na maneira de pensar, nos sentimentos e nas ações dos telespectadores (um jovem, ao entrar na universidade, já assistiu em média pelo menos 20.000 horas de TV). É por isso que houve um casamento perfeito entre a TV e a propaganda. Nunca se gastou tanto em propaganda quanto depois do advento da TV, e esse é o veículo para o qual é canalizada a maior parte dos recursos em publicidade. No Brasil, em 2010 66,2%, isto é, 2/3 de todos os gastos com publicidade foram canalizados para a TV [Mídia 2011, p. 51]. Poder-se-ia achar que esses gastos são canalizados para ela pois é o veículo de comunicação mais difundido; de fato, está presente em praticamente todos os lares brasileiros (a estimativa é de 98% [idem, p. 60]), a tal ponto que não é possível fazer uma pesquisa usando algum grupo de controle que não vê TV, pois ele quase não existe. Mas o fato é que, se a propaganda pela TV não funcionasse, condicionando os telespectadores a comprarem os produtos anunciados ou transmitidos, as grandes empresas não gastariam as fábulas que gastam com propaganda pela TV – afinal, não são idiotas para jogarem dinheiro fora. Para se ter uma ideia da dimensão desses gastos, cito Susan Linn, que em seu excelente livro Crianças do Consumo: a Infância Roubada, traz o dado de que em 2002 a rede McDonald’s gastou 510,5 milhões de dólares em propaganda somente na TV americana [Linn 2006, p. 132]. A luta dos partidos políticos por um minuto extra de propaganda política na TV também é uma demonstração do poder de condicionamento que ela tem, conforme exponho em meu artigo “Um minuto a mais na TV”. Um outro caso interessante é o relatado por Hancox [2004] e colaboradores, que fizeram uma pesquisa longitudinal seguindo os sujeitos da pesquisa desde a idade infantil até 21 anos. Eles verificaram que, na Nova Zelândia, apesar de a propaganda de cigarros pela TV ter sido proibida em 1963, adultos de 21 anos que, quando crianças, viram muita TV, tinham 17% mais chance de serem fumantes na idade jovem adulta, devido simplesmente a terem assistido programas em que pessoas apareciam fumando, como em entrevistas ou filmes [Hancox 2004]. (Ver detalhes desse e outros estudos aqui citados, em meu artigo “Os efeitos negativos dos meios eletrônicos em crianças, adolescentes e adultos”.) Esses dois casos demonstram que a TV condiciona e, portanto, não é de modo algum um veículo de comunicação neutro.

Se a TV não é neutra, imagine-se então um video game. Nesse caso, o condicionamento não é só pela imagem, mas também pela ação. Por exemplo, já está mais do que provado que jogos eletrônicos violentos induzem atitudes agressivas a curto, médio e longo prazo, e dessensibilização social, isto é, diminuição da empatia (ver, por exemplo, [Anderson 2000, Bushman 2009]). Um outro caso de não-neutralidade de uma máquina é o caso do computador. Há várias pesquisas mostrando que, quanto mais uma criança ou adolescente usa um computador, seja em casa como na escola, pior seu rendimento escolar (ver citações dessas pesquisas em meu artigo “Considerações sobre o projeto um laptop por criança”). Popularmente, justifica-se esse fato considerando-se que a criança ou jovem acabam perdendo muito tempo usando o computador, em lugar de estudar ou mesmo fazer seus deveres escolares. Obviamente isso é um fato, mas eu também dou importância essencial à influência do computador na maneira de pensar, prejudicando o pensamento criativo amplo, pois ele força um raciocínio matemático, lógico simbólico. Crianças não devem exercer esse tipo de pensamento, que vai contra o seu pensamento não formal, flexível, intuitivo e diretamente ligado com a realidade ou a fantasia.

O impacto negativo dos computadores atingiu níveis extraordinários com o uso da Internet, especialmente com o advento dos smartphones e tablets. Com eles, pode-se fazer acesso à Internet a qualquer momento em qualquer lugar, o que acaba provocando sérios distúrbios, desde físicos até psicológicos, inclusive dependência [Young 2011]. Adultos não estão se controlando, usando a Internet exageradamente e para finalidades idiotas, imagine-se o que acontece então com crianças e adolescentes, que estão ainda desenvolvendo seu autocontrole!

Finalmente, um último exemplo de não-neutralidade da tecnologia: os transgênicos, que também considerarei aqui como artefatos, pois não existem originalmente na natureza. Já está provado que vários deles provocam problemas, por exemplo o fato de que bactérias são usadas na transposição de genes e com isso quebra-se a barreira genética entre espécies diferentes, como documentado por Jeffrey Smith em seu excelente livro [Smith 2007, pp. 123 ff.]. Em uma palestra sua que assisti em outubro de 2007, ele afirmou que considerava os alimentos geneticamente modificados como um desastre ecológico muito maior do que o aquecimento global e o lixo nuclear.

4. A questão da “missão” – determinismo e acaso

Como coloquei no item 2, não tenho (ou, como já disse, procuro não ter) crenças. Uma das primeiras crenças que não tenho é no acaso. Uma de minhas hipóteses fundamentais é de que existe uma causa para qualquer fenômeno. Consigo fazer essa hipótese devido à minha concepção espiritualista de mundo: algumas causas podem não ser físicas. Por exemplo, tome-se a simetria das orelhas de uma pessoa. Se a forma das orelhas de uma pessoa for comparada com as de outra, a diferença em geral é muito grande; relativamente a essa diferença, em geral a que existe entre as duas orelhas de uma mesma pessoa é insignificante. Acontece que as orelhas crescem continuamente. Como é que elas preservam a sua grande simetria? Não é possível imaginar que uma célula de uma orelha, ao se subdividir para promover o crescimento do tecido onde ela se encontra, “comunique” fisicamente à célula correspondente na outra orelha que ela vai subdividir-se, e em que direção, de modo que esta também se subdivida e posicione as suas duas células resultantes na posição simétrica das produzidas pela primeira. Sem admitir-se essa comunicação, resta a explicação física de que o crescimento é aleatório, regulado por uma misteriosa “programação”, quem sabe existente no código genético: o ambiente de uma célula faz com que o “programa” seja executado de uma maneira diferente dependendo da localização da mesma. Mas nesse caso é necessário supor que o ambiente é o mesmo na vizinhança das duas células simétricas antes da subdivisão. Se o código genético é o mesmo, como é produzida uma simetria? Além disso, haverá necessariamente uma certa aleatoriedade, pois o momento da subdivisão pode variar entre as duas células correspondentes e o ambiente delas obviamente não é exatamente o mesmo; provavelmente nem mesmo existe a simetria perfeita no nível celular. No entanto, observando-se as orelhas de uma pessoa, a simetria parece ser grande demais para que haja um acaso no crescimento dos tecidos; qualquer aleatoriedade quebraria pelo menos um pouco da simetria (o que seria facilmente perceptível) e isso se propagaria posteriormente, causando mais quebras da simetria, o que obviamente não ocorre. Uma outra hipótese é que existe um modelo regulando o crescimento das orelhas. Só que esse modelo obviamente não pode ser físico, senão teríamos que andar com moldes encaixados nas orelhas; pior, esses moldes deveriam ser dinâmicos, frequentemente modificados, à medida que as orelhas fossem crescendo. Portanto, os modelos simétricos das orelhas, que controlam seu crescimento até o nível das células, talvez das moléculas e átomos, são modelos mentais, ideias.

Não se deve estranhar a existência de modelos que são ideias: por exemplo, ao projetar uma casa um arquiteto tem a ideia da mesma em sua mente, antes de representá-la fisicamente num papel e de concretizá-la na construção. Todos os entes matemáticos são ideias, como por exemplo a de uma circunferência perfeita (que nunca ninguém viu, o que se vê em objetos com forma de círculo são representações aproximadas dessa ideia). Justamente por eu admitir a concepção espiritualista de mundo posso fazer a hipótese da existência de modelos mentais para as nossas orelhas: as ideias, os modelos mentais, existem em um mundo platônico, não físico, das ideias. Para muito mais detalhes, inclusive com fotos de plantas e borboletas, mostrando formas e simetrias, veja-se o meu artigo “Por que sou espiritualista” onde, como já citei, exponho uma teoria de como esses modelos mentais podem atuar no mundo físico, por exemplo determinando o momento e a direção de uma subdivisão celular. Note-se que não há problema algum em se supor que um modelo mental seja dinâmico, isto é, no caso das orelhas, ele vai modificando-se conforme o crescimento delas. Por exemplo, em um bebê as orelhas ainda não têm precisamente a forma, em miniatura, que adquirirão na idade adulta. Aliás, todo bebê tem formas quase universais, em geral tendendo para a esfericidade – por isso cada pessoa da família próxima pode dizer que o bebê é parecido com ela... O que citei para as orelhas vale obviamente para todos os órgãos simétricos, como as mãos, pés, sobrancelhas etc.

O conhecido biólogo Richard Lewontin, em seu livro The Triple Helix, mostra com grande ênfase que os genes e o ambiente não são suficientes para prever o crescimento de seres vivos e a sua forma. Ele considera que deve existir um terceiro fator (daí a “tripla hélice”), que ele denomina “noisy development”, desenvolvimento com ruído, ou aleatório [Lewontin 2000, p. 36]. Na minha concepção, não se trata de um processo aleatório de desenvolvimento, e sim a conformação de um organismo vivo a um modelo não físico.

Observe-se a ênfase que dou para a simetria nos seres vivos como uma forte indicação da existência, neles, de processos não físicos. Note-se que não se deve confundir acaso com imprecisão em medidas, pois estas são resultado da própria imprecisão dos aparelhos ou a influência destes sobre os fenômenos que medem, o que é claro nos níveis molecular e atômico (daí, em parte, a Mecânica Quântica, sobre a qual discorro no artigo “Por que sou espiritualista”). Um materialista deve necessariamente fazer a hipótese de existência do acaso, pois não pode admitir a existência de um mundo platônico das ideias influenciando o mundo físico. De fato, o acaso é extensamente usado nos raciocínios científicos, desde a teoria da evolução neodarwinista (mutações e encontros casuais, estes últimos levando à seleção natural) até as teorias atômicas e cosmogônicas. Assim, o que aparentemente é uma aleatoriedade no mundo físico, pode deixar de sê-lo ao se admitir a influência de um mundo não físico. A atuação de modelos não físicos não torna o aparente não determinismo físico em um determinismo, pois esse conceito não existe no mundo não físico, onde tudo é dinâmico, eventualmente dentro de certos limites. Essa é uma dificuldade de Jacques Monod em seu livro [Monod 1972], pois ele, sendo materialista, não consegue admitir a hipótese do mundo não físico: “Puro acaso, totalmente livre e cego, na própria raiz do estupendo edifício da evolução: este conceito central da biologia moderna não é mais uma dentre hipóteses possíveis ou mesmo imagináveis. Hoje em dia é a única hipótese concebível, a única que se ajusta a fatos observados e testados” (pp. 112-113 da edição em inglês, minha tradução). Curiosamente, apesar de seu pensamento ser materialista, pois quer reduzir todo o fenômeno biológico a uma “filosofia natural”, em seu livro ele fala de Deus, afirmando que a admissão dessa entidade deve ter finalidades puramente morais. Em meus artigos e livros, eu não apelo para essa entidade que, como visto no item 2, tornou-se uma mera abstração.

Pois bem, como fui radical e escrevi no início deste item que não admito a hipótese da existência do acaso, a existência da tecnologia também não deve ser um acaso. (Eu poderia ter sido um pouco mais politicamente correto e ter admitido a existência do acaso em casos particulares, como já fiz alhures em relação à evolução neodarwinista, mas em minha velhice já não me importo tanto em ser politicamente correto...) Vejamos qual poderia ser sua razão de ser, isto é, sua missão para a humanidade, também de um ponto de vista espiritualista. Mas antes disso é necessário discorrer sobre a livre arbítrio e o que é necessário para que ele exista.

5. Livre arbítrio – mal e bem

Um materialista não pode falar em livre arbítrio, pois para ele só existem matéria e energia físicas no universo. Estas só podem estar sujeitas às assim denominadas “leis físicas”. Não vou entrar aqui na discussão se existem ou não leis físicas; se houver dúvida quanto a isso, poder-se-ia considerar “condições e forças físicas” em lugar das “leis”. Essas “leis” são inexoráveis: sempre se aplicam, caso contrário não haveria as engenharias civil, mecânica, elétrica etc. Para mim, um materialista que fala em livre arbítrio do ser humano – e suas consequências, como a responsabilidade, a moral e o altruísmo consciente – não é uma pessoa coerente. Um antigo raciocínio é o seguinte: se existem apenas forças físicas, certamente um átomo não pode ser livre. Portanto, um grupo de átomos, formando uma molécula, não pode ser livre. Idem para um grupo de moléculas, formando uma célula. O mesmo para um grupo de células formado um tecido, o mesmo para um grupo de tecidos formando um órgão, e portanto um grupo de órgãos formando um ser humano também não pode ser livre.

De onde, então, adviria o livre arbítrio do ser humano? Impossível que ele venha da matéria. Para um espiritualista, não há absolutamente nenhum problema em admitir a hipótese de que o ser humano pode ter livre arbítrio, pois ele parte da hipótese da existência de fenômenos não físicos, e estes obviamente não estão sujeitos às “leis” físicas. No meu artigo já citado, “Por que sou espiritualista”, mostro como, sem infringir as “leis” físicas, o ser humano pode ter livre arbítrio, e dou até exercícios (mentais) para que cada um observe que pode ter liberdade em seu pensamento. Isso dá confiança na admissão da hipótese de haver livre arbítrio e, portanto, da existência de uma parte não física ligada a qualquer ser humano, isto é, interagindo com seu corpo físico. Do ponto de vista humano, só pode haver livre arbítrio se houver possibilidade de se escolher conscientemente, em cada momento, uma dentre pelo menos duas possíveis ações, inclusive mentais, como o controle do pensamento.

Digamos que, em uma dada situação, há duas ações que podem ser executadas, uma “boa”, e outra “má”. Por exemplo, uma que seja benéfica ao meio ambiente e à própria pessoa, como ir à pé até o supermercado próximo, em lugar de uma ação maléfica como ir de automóvel (supondo, por absurdo neste Brasil miserável, que se indo a pé tenha-se menos perigo de assalto do que ir de automóvel), já que isso iria produzir poluição, iria isolar a pessoa de seu meio ambiente, iria significar uma quase total ausência de exercíco físico, iria forçar a absorção de uma avalanche de imagens, produzir nervosismo no trânsito etc. Estou ignorando aqui o caso particular de a pessoa ter muita pressa e ter que cortar o tempo gasto usando um automóvel. Podemos dizer que a pessoa, escolhendo ir a pé, faz assim um “bem”, em lugar de fazer um “mal”.

É justamente a possibilidade de fazer algo “bom” ou algo “mau” que dá ao ser humano o livre arbítrio. Se só pudéssemos fazer o bem, não teríamos a possibilidade de decidir. Estaríamos em um estado correspondendo à magnífica imagem bíblica do Paraíso: não teríamos autoconsciência e nem liberdade. A “expulsão do Paraíso” pode ser interpretada como uma imagem para a “queda” do ser humano na matéria. Note-se a fantástica imagem: Adão e Eva, representando a humanidade, comem do fruto da “árvore do conhecimento do bem e do mal” [Gen 2:17, 3:6], e logo depois disso adquirem autoconsciência, “Então foram abertos os olhos de ambos e conheceram que estavam nus” [3:7]. Note-se que uma criança pequena não tem ainda a autoconsciência desenvolvida, e não percebe que está nua. A propósito, se antes desse ato Adão e Eva não tinham autoconsciência, não tinham “conhecimento”, não poderiam ter cedido a uma “tentação” e cometido um “pecado”, pois não tinham possibilidade de escolher e de errar. Assim, parece-me que a expressão Pecado Original, introduzida por Santo Agostinho, está totalmente mal colocada. Note-se que em alemão a expressão é Erbsünde, isto é, “Pecado Herdado”, o que tem um pouco mais de cabimento, pois pelo menos a “herança” faz sentido: uma vez “caída” na matéria, a humanidade permanece nela por hereditariedade. É precisamente essa “queda” na matéria, e a consequente aquisição de autoconsciência, de individualidade, que faz o ser humano, que antes estava apenas no mundo não físico, poder cometer erros e portanto poder ter livre arbítrio.

Portanto, a existência de forças não físicas do bem e do mal (uma parte destas últimas representada pelo interessante símbolo bíblico da serpente no Paraíso), algo que para o materialismo não faz nenhum sentido, é que permite ao ser humano poder ter livre arbítrio. Porém, é importante notar que a influência do mal acaba gerando vários bens essenciais: além da possibilidade de liberdade, também a autoconsciência e a individualidade. Isso lembra a famosa frase de Mefistófeles na cena do escritório (Studierzimmer) na Parte I do Fausto de Goethe, respondendo à pergunta de Fausto, sobre quem ele era: “Ein Teil von jener Kraft, die stets das Böse will und stets das Gute Schafft” [Goethe, p. 172], isto é, “Uma parte daquela força, que sempre quer o mal e sempre cria o bem” (minha tradução literal). Os Maniqueus tinham um dito que mostra qual deveria ser nossa atitude frente ao mal: “Ame bem o mal”, isto é, o mal deve ser redimido, transformado em bem, e não eliminado [Haub 1996, p. 31]. Nesse sentido, uma maneira interessante de encarar o mal é como se fosse um bem deslocado, no tempo ou no espaço. Por exemplo, uma volta ao passado (como querem quaisquer fundamentalistas religiosos) é um mal, mas também o é um adiantamento indevido do futuro (como, por exemplo, dar-se liberdade exagerada antes de a humanidade estar preparada para isso; parece-me que a Internet é um desses casos). De qualquer modo, devemos ser gratos ao mal, pois se ele não existisse, ainda estaríamos no estado do “Paraíso”, ou como dizia o Dr. Rudolf Lanz, “Estaríamos no Céu, vestidos de bata cor-de-rosa tocando lira, que monotonia!”.

Note-se que os animais e as plantas obviamente não têm uma individualidade que transcende sua hereditariedade e as influências do meio ambiente, pois não têm nem autoconsciência nem aquilo que cada ser humano tem e que chamarei, sem discorrer sobre isso, pois fugiria ao escopo deste artigo, uma “individualidade superior”. Esta é uma individualidade que transcende a corpórea, a de sentimentos, da memória etc. É devido a ela, por exemplo, que gêmeos univitelinos criados no mesmo ambiente em geral têm ideais diferentes e tomam rumos totalmente diferentes em sua vida. É interessante notar que a ciência materialista reduz a individualidade do ser humano à hereditariedade e à influência do meio ambiente, isto é, não é capaz de considerar que o ser humano tem algo essencialmente diferente dos animais. Considerando-se o ser humano como um animal, não se deveria falar, em relação a ele, de livre arbítrio, responsabilidade e moral, que os animais obviamente não têm. A propósito, note-se a ênfase que está se dando, principalmente nos meios científicos, à influência genética, muitas vezes desprezando o meio ambiente, desde o de uma célula até o externo ao ser vivo. A respeito disso, veja-se meu artigo “Desmistificação da onda do DNA”.

O leitor deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com a tecnologia. Vamos chegando lá.

6. O uso da tecnologia

Como mostrei no item 3, a tecnologia não é neutra. Portanto, seu uso deveria ser feito com extremo cuidado, o que implica um uso consciente. Mas, em geral, esse não é absolutamente o caso. Estamos em uma era em que, como citei logo no início deste artigo, está havendo um verdadeiro endeusamento da tecnologia. Em geral, pensa-se que tudo o que é tecnológico é bom. Isso é devido ao fato de a tecnologia ser uma aplicação direta da ciência, e ambas terem tido desde o século passado resultados fenomenais em termos de conhecimento e domínio sobre a natureza. Acontece que, quanto maior o conhecimento e o domínio sobre a natureza, mais mal pode ser feito com eles.

A ciência nasceu com a separação do ser humano em relação à natureza. Sem uma grande capacidade de abstração em relação à realidade, não há curiosidade em compreendê-la. Por exemplo, a perspectiva linear consciente apareceu somente no início do século XV [Zajonc 1993, p. 58], época que marca não só o surgimento da Renascença, mas dos descobrimentos e do desenvolvimento científico – uma verdadeira descontinuidade no desenvolvimento da capacidade mental e no sentimento de individualidade do ser humano. Antes disso, uma estrada reta era representada por linhas paralelas, pois na realidade as suas margens não se encontram. É preciso fazer uma grande abstração em relação à realidade para representar o que é percebido com a visão, isto é, as duas margens da estrada convergindo para o ponto de fuga. Antes dessa época, não ocorria uma individualidade como por exemplo a de Hamlet, com seus destino e problemas únicos; em geral, não se sabia quem era o particular pintor de uma obra produzida em uma oficina e muitos outros casos. Aquela curiosidade é a fonte primordial do impulso de se fazer ciência. E a tecnologia visava trazer um bem. Hoje em dia, isso mudou completamente. Obviamente, alguns idealistas ainda fazem ciência movidos pela sede de conhecer algo ou para transmitirem seu conhecimento a seus alunos e para o público. Mas a maioria dos cientistas faz ciência em busca de prestígio ou de uma atividade em que não se sintam tolhidos pelas imposições de uma empresa. Ultimamente, vários cientistas almejam desenvolver algo que possa ser produzido e vendido no mercado e, assim, abrir uma empresa própria. Por outro lado, muita ciência é feita por encomenda de empresas, ou por equipes delas próprias, visando unicamente o lucro. Por exemplo, o aparecimento de plantas transgênicas deu-se precisamente nesse paradigma. Um outro caso é citado no livro de Susan Linn mencionado no item 3: ela conta que nos EUA empresas de propaganda fazem mais pesquisa em psicologia aplicada do que universidades e institutos de pesquisa, visando desenvolver técnicas para convencer crianças, adolescentes e adultos a comprarem o que é anunciado [Linn, p. 46]. A propósito, caracterizo a propaganda como a arte, a ciência e a técnica de influenciar pessoas a fazerem aquilo que não fariam sem essa influência. É isso, por exemplo, que leva as pessoas a comprarem o que não necessitam, o que é mais caro ou de qualidade inferior; isso é feito por meio de condicionamentos, isto é, de diminuição da liberdade individual.

Portanto, boa parte da ciência e quase a totalidade da tecnologia visam hoje em dia satisfazer ambições e egoísmos. Acontece que ambos são antissociais. O que estamos vendo como resultado desses impulsos é a destruição do ser humano e da natureza. A destruição desta é visível, mas em muitos casos a destruição do ser humano é subreptícia, por exemplo quando a constituição psicológica é atacada, como discorri para o caso dos meios eletrônicos no item 3. Infelizmente, parece-me que a quase totalidade da humanidade não está consciente dos problemas da tecnologia ou, se está, sente-se impotente diante dela, acabando assim por usá-la ou, ainda, usa-a por inércia ou comodismo, não querendo pensar sobre os malefícios que ela traz. Uma das consciências fundamentais que, parece-me, a humanidade deveria ter em relação à tecnologia é a sua missão.

7. A missão da tecnologia

Como coloquei no item 4, a tecnologia não deve existir por acaso, e deve ter uma finalidade, uma missão para a humanidade. Como vimos no item 5, uma de minhas hipóteses fundamentais, com fortes indícios de ser verdadeira, é a de que o ser humano pode ter livre arbítrio. Para mim, a missão da tecnologia é de dar liberdade ao ser humano, livrando-o de forças e capacidades restritivas internas ou externas a ele.

Por exemplo, o avião é uma tecnologia que dá liberdade a uma pessoa de se deslocar rapidamente a grandes distâncias, suplantando assim as limitações de sua velocidade de andar ou correr, mesmo fazendo-o a cavalo. O telefone permite a comunicação verbal entre pessoas distantes entre si. Um edifício dá a pessoas a liberdade de se abrigarem e de se reunirem, mesmo se lá fora estiver chovendo ou fazendo muito frio. No entanto, em geral a tecnologia está funcionando justamente às avessas dessa missão: em lugar de libertar o ser humano de forças internas ou externas a ele, ela o está aprisionando. Muitas vezes algumas vantagens que ela fornece é acompanhada de muito mais desvantagens. Assim, o automóvel deu uma tremenda liberdade de locomoção a médias e mesmo longa distâncias. No entanto, permitiu que pessoas morassem longe de seu local de trabalho ou de estudo, perdendo muito tempo no trajeto, com consequências psicológicas nefastas; permitiu o inchaço das cidades, transformadas mais em vias de trânsito do que em moradias e vielas agradáveis para se ir a pé de um lugar para outro; permitiu que não houvesse transporte coletivo suficiente, com menos desvantagens do que os automóveis. O resultado pode ser visto em São Paulo: uma cidade sufocada pelo trânsito, tanto do ponto de vista da qualidade do ar quanto do aspecto psicológico dos motoristas e passageiros, obrigados a enfrentar diariamente o nervosismo advindo de um trânsito literalmente infernal (estatística no site do DETRAN diz que em 12/2013 foram lacrados 33.494 veículos na cidade de São Paulo).

Quantas pessoas tornaram-se prisioneiras da Internet, essa rede eletrônica que envolveu uma boa parte da humanidade? Por exemplo, eu próprio sou obrigado a consultar minha caixa postal de e-mails a cada dia, pois senão ocorrem duas coisas: acumulam-se correspondências em demasia, e pessoas que me escreveram começam a achar que eu as desprezei pois não lhes respondi imediatamente. Sugiro ao leitor, que certamente usa a Internet, examinar-se a si próprio e verificar quantos dias é capaz de ficar sem usá-la. Se não for mais do que um ou dois dias, isso já caracteriza uma dependência; o número de dependentes da Internet, desses que ficam horas seguidas usando-a todos os dias, é enorme, principalmente entre adolescentes. Uma pesquisa de 2006 mostrou que 12,5% dos americanos são dependentes da Internet; estudos com estudantes universitários resultaram em uma estimativa de 10 a 14% desses dependentes [Young, p. 20]. A rede eletrônica realmente capturou uma boa parte da humanidade!

8. O que fazer?

8.1 Em primeiro lugar, deve haver uma conscientização do que é cada tecnologia. Isso significa compreender o funcionamento, pelo menos básico, de cada instrumento e máquina, e os efeitos que eles produzem nos seus usuários. Infelizmente, como as máquinas estão cada vez mais complexas, por exemplo com a incorporação de pastilhas com circuitos eletrônicos (chips), seu funcionamento está tornando-se cada vez mais incompreensível. Um exemplo disso é o automóvel: antes da injeção eletrônica, um mecânico eletricista e mesmo um usuário comum podia compreender perfeitamente todo o funcionamento do motor e das outras partes de um carro. Com a incorporação de pastilhas eletrônicas, algumas verdadeiros computadores, o funcionamento ficou incompreensível. Além disso, um defeito em uma dessas pastilhas obriga a troca da mesma; antes, muitas peças, mesmo as elétricas, podiam ser feitas numa oficina para substituir uma quebrada. A velha imagem de um marciano vindo à Terra e desmontando uma máquina para compreendê-la já não vale mais: é impossível desmontar uma pastilha eletrônica para verificar como é seu circuito e descobrir seu funcionamento, pois isso a destruiria. A “caixa preta” tornou-se inviolável. Parece-me também impossível tentar descobrir como ela funciona simplesmente introduzindo nela impulsos elétricos em alguns contatos e medindo o que sai em outros, devido à complexidade do seu funcionamento lógico.

No entanto, muitas máquinas, pelo menos em seu funcionamento básico, podem ser compreendidas; essa compreensão deveria ser uma das tarefas mais importantes do ensino secundário, por meio de disciplinas de “laboratório de tecnologia”. Foi com essa intenção que elaborei um currículo de introdução de computadores nesse ensino (ver meu artigo “Computadores na Educação: por que, quando e como” [Setzer 2005, p. 85, ou na Internet]. Infelizmente, não há em geral consciência dessa necessidade, a menos dos ensinos médios Waldorf, pois o fundador dessa pedagogia, Rudolf Steiner, já para a primeira escola Waldorf, fundada em Stuttgart em 1919, recomendou a introdução dessa disciplina, que desde então faz parte do currículo Waldorf no mundo todo [Stockmeyer 1965, Vol. II, p. 278, Bideau 1951, p. 149].

A constatação da falta, em geral, de conhecimento básico sobre as máquinas é muito simples. Por exemplo, será que o leitor destas linhas sabe por que um avião voa e não cai? Os dois efeitos que levam à sustentação (inclinação da asa e diferença de velocidade do ar acima e abaixo dela; esse último efeito pode ser demonstrado facilmente, soprando-se abaixo e acima de uma folha de papel leve) são fáceis de serem compreendidos. Isso me leva a uma consideração que considero importante. Quantas pessoas veem um avião voando, não sabem por que ele se sustenta no ar, e não têm a curiosidade de investigar ou aprender por que isso acontece? Provavelmente, devem achar que a explicação deve ser difícil demais, ou então nem chegam a formular a pergunta a si próprios. Para mim, isso é uma indicação de uma verdadeira paralisia mental. O normal de um ser humano, quando tem alguma representação mental devida a uma percepção sensorial e não consegue associar a ela um conceito, é ficar irrequieto, em busca dessa associação, dando-lhe a compreensão de causa e efeito de um fenômeno. Por exemplo, suponhamos que, em um jardim sem nenhum vento, uma pessoa vê um galho de uma moita mover-se. Ela imediatamente deve achar o caso muito estranho, e aproxima-se da moita para verificar a causa do fenômeno. Ao dar alguns passos, um passarinho que estava pousado no galho, mas escondido pelas folhas, alça voo. A pessoa compreende então por que o galho havia se mexido, e fica intelectualmente satisfeita. O aumento da complexidade das máquinas, e a ausência de ensino no sentido de explicar o funcionamento básico das mesmas, produzem aquela paralisia mental: as pessoas deixam de ser curiosas, de investigar, e de fazer um esforço para compreender. Tornam-se, assim, menos humanas.

Voltando à conscientização da tecnologia, citei como a segunda parte da mesma a compreensão do efeito que ela produz em seus usuários. Retornando aos meus alvos preferidos, isso significaria, no caso da TV, compreender que ela coloca normalmente o telespectador em um estado de sonolência, semi-hipnótico; daí a maioria de suas consequências funestas, especialmente o condicionamento. No caso dos video games, especialmente os de ação/reação, compreender que o usuário tem que desligar totalmente seu pensamento consciente, e passar a agir automaticamente. Isso leva a um profundo condicionamento das ações, principalmente em casos de inconsciência, como stress, medo extremo, raiva, falta de sono etc. No caso dos computadores, compreender o fato de eles forçarem o uso de uma linguagem formal e um raciocínio lógico simbólico, algorítmico. No seu uso, é necessário exercer um pensamento que pode ser transmitido à máquina e corretamente interpretado por esta, o que denomino de “Pensamento Maquinal”. Para mais detalhes sobre esses e outros aspectos desses três aparelhos, vejam-se meus artigos “Os meios eletrônicos e a educação: televisão, jogo eletrônico e computador” (Setzer 2005, p. 15, e na Internet), e outros nesse livro e em meu site, especialmente “Os efeitos negativos dos meios eletrônicos em crianças, adolescentes e adultos”.

Uma das consequências da paralisia mental citada acima é fazer com que o usuário não se preocupe ou não se interesse pelo estado em que ele é colocado pelas máquinas que usa.

8.2 Em segundo lugar, baseado no conhecimento do princípio básico de funcionamento e do efeito que a tecnologia produz nos seus usuários, dever-se-ia ter permanente consciência no seu uso, em particular com relação ao que caracterizei como “missão da tecnologia” no item 7 acima. Nesse último aspecto, isso significaria usar alguma máquina e constantemente se fazer o questionamento se ela está cerceando a liberdade pessoal ou está ajudando a se obter alguma liberdade. Um outro aspecto fundamental é pesarem-se constantemente os benefícios e os malefícios pessoais que advêm do uso de uma tecnologia.

8.3 Em terceiro lugar, é preciso usar as tecnologias não só com consciência pessoal, mas também com consciência social e global. Isso significa avaliar se o uso de alguma tecnologia beneficia ou prejudica outras pessoas e o mundo em geral. Aqui cabe a consideração de uma tecnologia cercear ou não a liberdade dos outros. Porém, não é só a liberdade que deve ser levada em conta, mas também a igualdade (direitos humanos) e a fraternidade, a solidariedade. Sobre esses três aspectos, ver meu artigo “Liberdade, igualdade e fraternidade: presente, passado e futuro”. Além disso, muito importante é considerar-se se o uso de alguma tecnologia diminui ou não a consciência das pessoas.

Em termos de consciência do impacto no mundo em geral, isso pode significar mudanças de hábitos, por exemplo tomarem-se banhos os mais curtos possíveis, para não se gastar a cada vez mais preciosa água em um prazer dispensável. Chamo a atenção para o grau de consciência que se deve ter no uso da tecnologia: nesse exemplo, quem sabe, de vez em quando, em casos de uma grande necessidade de relaxamento, talvez valha a pena prolongar um bom banho quente... O importante é que a escolha seja consciente.

8.4 Em quarto lugar, deve-se conscientizar as pessoas para os malefícios e benefícios da tecnologia. É o que tenho feito em grande parte com meus artigos, livros, palestras e cursos. É o que fez maravilhosamente Susan Linn em seu livro já citado, em relação ao consumismo induzido pela TV [Linn 2006]. No entanto, é impressionante ler nesse livro que a autora, apesar de sua posição crítica em relação à TV, e como em geral é o caso de pessoas que criticam esse meio, não tem a coragem de afirmar que não se deve ver TV, a menos de casos excepcionais. Em minha experiência, esses casos quase nunca ocorrem: tenho uma TV, mas ao escrever estas linhas não lembro a última vez que assisti algum programa; a propósito, não tive TV em casa até minha filha menor tornar-se adulta. Por exemplo, Susan Linn queixa-se de que a filha adolescente ficava sendo influenciada pela propaganda televisiva; ora bolas, por que não tira a TV da sua casa ou tranca-a para só destrancá-la quando, conscientemente, a família decidir que vale a pena assistir um programa especial? Já Manfred Sptizer, em seu extraordinário livro Vorsicht, Bildschirm! (“Cuidado, Tela!”) declarou que tinha 5 filhos mas não tinha TV em casa, justamente devido às suas crianças [Spitzer 2005, p. 250]. Já que citei esse autor, vale a pena citar seu segundo livro, com uma quantidade imensa de citações de artigos científicos citando os malefícios dos meios eletrônicos [Spitzer 2012]; o título (Demência Digital) pode parecer bombástico, mas deve-se lembrar que o autor é o diretor da clínica de psiquiatria da Universidade de Ulm, na Alemanha.

8.5 A questão da coragem leva-me ao quinto ponto. Uma das consequências que deduzo de meus conceitos em relação aos aparelhos eletrônicos e a minha concepção do ser humano é o fato de aqueles prejudicarem a força de vontade. De fato, não é preciso fazer nenhum esforço para ver TV ou jogar um jogo eletrônico, talvez mesmo navegar pela Internet ou ler e-mails e mensagens recebidas por ela. O grande esforço que deve ser feito é para desligar os aparelhos. Assim, recomendo que se exercite interromper periodicamente o uso dessas e de quaisquer outras tecnologias, na medida em que isso for possível (espero que algum leitor entusiasta pelas minhas ideias – coisa rara, pois são em geral incômodas – não desligue o seu carro no meio do trânsito!). A esse respeito, vejam-se as recomendações que dou em meu artigo “O que a Internet está fazendo com nossas mentes”. Parece-me também que se deveria exercitar consistente e conscientemente a vontade, para contrabalançar o prejuízo que ela tem sofrido com a tecnologia moderna, por exemplo no comodismo que ela muitas vezes proporciona. Para isso, posso recomendar o exercício de se treinar mudança de hábitos. Por exemplo, se a pessoa adora tomar um café quente de manhã, deixar de fazê-lo de vez em quando; se adora tomar suco (espero que seja pelo menos natural!) nas refeições, tomar água de vez em quando. Se está acostumado a usar um relógio, deixar às vezes de fazê-lo. De vez em quando, tentar escrever com a mão que não costuma usar para isso. Esses exercícios têm um efeito muito grande de fortalecimento da vontade, quando feitos com regularidade, e vão produzindo maior flexibilidade mental. Isso é especialmente importante nas ações que se tornam praticamente uma dependência, como o caso já citado de ficar alguns dias sem usar a Internet (garanto por experiência própria, é o Paraíso!).

Uma das manifestações do prejuízo para a vontade é a impotência que certamente muitas pessoas sentem face à tecnologia. A frase típica que mostra isso é “O que adianta eu tomar uma atitude? Que influência posso ter sobre isso ou aquilo?” Isso me leva ao próximo ponto.

8.6 Em sexto lugar, recomendo ações afirmativas. Na palestra de Jeffrey Smith, mencionada no fim do item 3, ele afirmou que, se 15% das pessoas deixam de consumir algo, isso muda a produção das empresas envolvidas. No caso, ele se referia aos alimentos transgênicos, mas certamente deve ser o caso em relação a outros produtos, como por exemplo programas de TV, McDonald’s etc. Infelizmente, o brasileiro não é em geral muito afeito a protestos, confundindo tolerância com permissividade.

Há certas pessoas que dizem o seguinte: estamos realmente numa situação crítica para a humanidade, mas esta vai evoluir naturalmente e acabará suplantando os problemas atuais. Acontece que o ser humano não é um ser puramente natural. Quando ele pintou as primeiras pinturas rupestres, já não era totalmente natural, e se pode conjeturar que jamais tenha sido, o que não apresenta problema algum para uma concepção de mundo espiritualista. Se cada ser humano não é um ser puramente natural (como o são, em grande parte, os animais e as plantas), a sociedade e a humanidade também não o são. Assim, não se deve confiar que as coisas vão melhorar naturalmente, por si só. Pelo contrário, tenho uma concepção de que a tendência é sempre de piorar, pois se a humanidade melhorasse automaticamente, bastaria cruzarmos os braços e esperar que ela melhore. Ao contrário, se a tendência é piorar, somos chamados cada vez mais à consciência e à ação; precisamos nos desenvolver continuamente para enfrentarmos um mundo cada vez mais miserável e lutarmos cada vez com mais energia para melhorá-lo. Note-se que isso deve ser entendido de um ponto de vista global. É óbvio que, em alguns aspectos, tem havido melhoria. Mas o que adianta, por exemplo, melhorar o saneamento básico se as pessoas estão se sentindo psicologicamente muito piores, aumentam os casos de usos de drogas psicotrópicas e de álcool, aumentam os suicídios, aumenta a separação de casais – uma amostra de que as pessoas têm cada vez mais dificuldades de conviver e se relacionar socialmente? (A propósito, quando eu era criança e adolescente, jamais havia ouvido falar em psicólogos e terapeutas...)

Se o ser humano não é um ser puramente natural, não se deveria confiar que ele naturalmente aprenderá a conviver com os males da tecnologia, eventualmente aprendendo a colocá-la em seu devido lugar. Isso só será conseguido por um grande esforço educacional e, na fase adulta, por auto-educação. Para não passar uma imagem totalmente pessimista da humanidade, vou colocar aqui que reconheço nela avanços fantásticos, como os movimentos ecológico, da paz universal, dos direitos humanos e do respeito aos deficientes.

8.7 Em sétimo lugar, recomendo o desenvolvimento de um espírito crítico em relação à ciência como, aliás, exige a sua prática. Quantas vezes uma pesquisa é justificada por meio de seus pretensos resultados futuros, muitas vezes bombásticos? Lembro-me muito bem da justificativa oficial de Neil Armstrong ter pisado na Lua em 1969, algo como “Agora conheceremos a origem do sistema solar”, o que obviamente não se confirmou. Ou da justificativa do sequenciamento genético da Xilella Fastidiosa, publicado em 2000, o primeiro feito no Brasil: agora íamos descobrir como combater a doença correspondente dos laranjais. Passados tantos anos, onde está esse resultado? O livro citado de Jeffrey Smith documenta muito bem como pesquisas científicas podem ser usadas parcialmente, de modo a mascarar efeitos negativos de alguma tecnologia. Ele chama a atenção para o fato de que, em geral, as pesquisas científicas necessárias para a aprovação de um produto, tais como medicamentos e alimentos transgênicos, são feitas pelos próprios produtores [pp. 193 ff.] e são relativamente curtas e parciais. O que se pode esperar disso, levando-se em conta que, do ponto de vista empresarial, o único motivo para a introdução de um novo produto é ganhar dinheiro?

É muito importante considerar-se que a ciência jamais proporciona um conhecimento total sobre algo, principalmente devido à extrema especialização e reducionismo que a caracterizam. Nessas condições, é impossível preverem-se todos os efeitos colaterais de qualquer produto. Isso nos leva ao próximo ponto.

8.8 Em oitavo lugar, uma palavra sobre a liberdade de pesquisa. Sou totalmente a favor de se dar total liberdade ao cientista de pesquisar o que bem entender. Mas uma coisa é a pesquisa, e outra é a produção de um produto. Já que é impossível ter-se um conhecimento total sobre os efeitos de algum produto, sempre haverá um fator de subjetividade no julgamento de quanto ele é ou pode ser benéfico ou maléfico. Devido a essa subjetividade, sou absolutamente contra a liberdade de se produzir seja lá o que for. A sociedade é que deveria ter a última palavra sobre o interesse ou não de um novo produto ser lançado. Isto é, esse lançamento deveria ir de encontro a uma verdadeira necessidade, e não a necessidades criada pela propaganda ou um modismo, como é comumente o caso. Note-se que me referi ao controle pela sociedade, e não pelos governos. Essa necessidade é absolutamente clara no Brasil, devido à corrupção que temos entre nós, mas que não é nossa marca registrada: Jeffrey Smith cita que na Indonésia a Monsanto corrompeu ou pagou ilegalmente 140 pessoas do governo para aprovação do algodão transgênico [Smith 2007, p. 176]. No julgamento final do interesse sobre um produto, os cientistas devem entrar exclusivamente com seus dados objetivos sobre as vantagens e desvantagens do mesmo. Devido aos fatores imponderáveis, numa decisão dessas um cientista só deveria participar como cidadão comum, e não como o cientista que é.

Já que não se deve coibir ou direcionar a pesquisa científica, o importante é conscientizar os cientistas da responsabilidade moral que têm em suas pesquisas, de modo que cada um escolha, em liberdade, o que poderia pesquisar para um real bem da humanidade. Lembro-me muito bem uma notícia que li nos EUA, provavelmente em 1970, em plena guerra do Vietnã, do cientista que tinha descoberto, na universidade de Harvard, a bomba Napalm usada extensivamente naquela guerra. Essa bomba, espirra material incandescente (de 800 a 1.200 ºC) grudando na pele das pessoas atingidas, infligindo dores lancinantes (em 1980 ela foi proibida pela ONU contra populações civis). Ele afirmou que, se pudesse, inventava-a novamente! Aqui esbarramos em um problema muito profundo: a educação universitária científica ou técnica exclusivamente profissional, como é por exemplo feita em nosso país, não proporciona a formação humanística, artística e social necessárias para que o cientista ou o técnico desenvolvam uma sensibilidade e preocupação para com a natureza e com os seres humanos. Nesse sentido, há ainda um terrível fator: os meios acadêmicos e de pesquisa são em geral materialistas e, portanto, sendo coerentes, não deveriam admitir a responsabilidade humana e a moral, pois elas não podem decorrer da matéria ou da energia físicas (ver o item 5 acima). Se não deveriam admiti-las, como vão ensinar seus alunos, futuros cientistas e técnicos, a serem socialmente responsáveis ou agirem moralmente?

9. Conclusão

A humanidade está em uma encruzilhada. A aceleração do desenvolvimento tecnológico é brutal hoje em dia, produzida por certas forças que caracterizei no item 5 como o mal. Em lugar de a tecnologia estar cumprindo sua missão, que é a de libertar o ser humano das restrições impostas por suas forças e capacidades internas e das forças externas, ela o está aprisionando e influenciando cada vez mais, chegando a ameaçar a sua existência. A única maneira de se mudar esse estado de coisas, redimindo aquele mal, é adquirir uma consciência do que a tecnologia significa, e de seu impacto em cada ser humano e na natureza, passando-se a tomar atitudes para colocá-la em seu devido lugar. A alternativa é o desastre total, tanto físico como psicológico.

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Agradecimento

Sou grato a Vitor Morgensztern por valiosas sugestões quanto à redação, até o item 6 inclusive. A Nilson Modro por correções a alguns errinhos ortográficos.