SOBRE O ENSINO PÚBLICO NO BRASIL
Em 16/8/12 o jornal O Estado de São Paulo publicou a
seguinte frase minha no Fórum dos Leitores, p. A3, a respeito
da avaliação do IDEB publicada no dia anterior:
"O ensino público no Brasil está
tão ruim, mas tão ruim, que até computador ensina
melhor"
Enviei essa frase acompanhada de uma justificativa, que foi publicada
como carta no Estadão On-line, copiada a seguir de
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,forum-dos-leitores,917805,0.htm
com pequenas correções de redação e um
adendo:
SOBRE A AVALIAÇÃO
DO IDEB
Tive várias experiências com o ensino fundamental e médio
de escolas públicas, em São Paulo e em Campos do Jordão.
Em 2011 dei sete palestras sobre o vestibular da USP, como "embaixador
docente" desta, para todas as classes da 2ª e 3ª séries
do ensino médio de três escolas públicas em São
Paulo e em Campos do Jordão. Nenhum aluno soube dizer quanto
era 2% das 90 questões da 1ª fase da Fuvest, a que tinham
direito como bônus mínimo se tivessem cursado todo o ensino
médio em escola pública. Em minha experiência, esses
alunos não sabem tabuada de multiplicar - fiquei estarrecido
em verificar que não sabiam nem mesmo a de somar (somavam com
os dedos). Sugiro que seus jornalistas façam um teste imensamente
simples: vão a qualquer escola pública e perguntem as
tabuadas para os alunos na saída do período escolar. Obviamente,
pode haver exceções, mas seria interessante verificar
qual é, em geral, esse conhecimento. Outro teste: peçam
aos alunos para pronunciarem Mary e little em inglês, verificando
há quantos anos eles estudam essa língua. (Essas sugestões
devem-se ao fato de eu ter tentado ensinar a canção "Mary
had a little lamb" para uma aluna do 6º ano do ensino fundamental,
a quem eu estava tentando ensinar flauta doce.) Perguntem também
como é "casa" e "pão" em inglês.
Em minha triste conclusão, o aluno de escola pública,
em todos os níveis, em geral não está aprendendo
nada, praticamente nada. E o mais triste é que seus pais estão
fazendo muito sacrifício para eles "estudarem", achando
que os filhos terão as oportunidades que eles, pais, em geral
não tiveram. Pela minha experiência, conversando com os
professores do ensino médio e diretores, os primeiros em geral
não conseguem ensinar, tal a balbúrdia que grassa nas
classes (entrevistem professores e comprovem isso). Além disso,
o absenteísmo é generalizado: o diretor da escola de Campos
do Jordão contou-me que, dos 900 alunos que ele tinha no período
matutino, sempre 200 estavam sem aula. O diretor de uma escola aqui
em São Paulo contou-me que há um professor de matemática
em sua escola, concursado, que falta sistematicamente a todas as aulas
no período matutino, aparecendo apenas uma vez por mês
para, com isso, não ser demitido. Esse professor também
dá aulas no período noturno, às quais comparece
regularmente. E esse diretor não tem quem substitua aquele professor
em suas faltas. Enfim, a catástrofe é, em geral, pior
do que o maior pessimismo poderia imaginar. E, em lugar de atacar o
problema pela raiz, os governos estão investindo em tecnologia,
o que só vai piorar a situação (vejam artigos em
meu site). Para melhorar o ensino público, há quatro medidas
que devem ser tomadas conjuntamente: 1) Aumento brutal nos salários
dos professores (não adianta multiplicar um infinitésimo
por algum fator). 2) Mudança radical na administração
das escolas, com um rigoroso controle de faltas dos professores (para
isso é necessário mudar as leis do funcionalismo público).
3) Avaliação do rendimento dos professores por meio do
conhecimento de seus alunos, com prêmios para quem conseguir melhorar
o nível destes últimos. 4) Imposição de
disciplina rigorosa nos alunos, desde o ensino fundamental. Sobre o
último item e a mentalidade dos professores, vejam a citação
da Raíssa Oliveira, no pé esquerdo da página A18
da edição de 15/8.
O trecho publicado na p. A18 da edição de 15/8/12 mencionado
no fim da carta foi o seguinte: "Para Raíssa de Oliveira,
de 15 anos, do 1º ano do Colégio Tiradentes, falta empenho
e paciência dos professores. 'Se um grupo de alunos está
conversando, o professor vem e joga na cara de todo mundo que eles não
estão nem aí para a gente, que dão aula por obrigação.'
... Ontem, porém, ela não foi à aula. 'É
porque tinha só dois horários', justifica."
Ainda há mais um ponto que gostaria de acrescentar aos 4 citados:
5) É absolutamente essencial que os professores dominem sua matéria
e a apresentem de modo a entusiasmar os alunos.
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