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aulas no IEA



Caros colegas,

Em nossa terceira sessão, na última segunda-feira, iniciamos a discussão da
contribuição de Luc Boltanski e Eve Chiapello em "Le Nouvel Esprit du
Capitalisme". Fazendo referências a Karl Marx (capitalismo como processo de
acumulação) e Max Weber (tipos ideais e regimes de justificação), esses
autores usaram um software de processamento de textos para reconstruir os
discursos da administração de empresas nos anos 60 e nos anos 90. O objetivo
da análise comparada é explicitar a novidade dos anos 90 e recolocar em
primeiro plano suas origens e possibilidades de crítica, inclusive
circunscrevendo o papel das novas tecnologias.

Trata-se portanto de uma abordagem que nos permite dar maior substância ou
concretude ao espaço de negociação social e institucional que, a partir de
Habermas e Garnham, surgia como a dimensão positiva, construtiva e ética da
mídia (em particular, à busca das características efetivamente inovadoras da
chamada sociedade da informação).

Garnham identificava três esferas como espaços pertinentes ao estudo da
mídia: os meios de comunicação propriamente ditos, o sistema educacional e
as organizações produtivas (todos inseridos em redes estruturadas por meio
de tecnologias de informação e comunicação). Os estudos de Boltanski fazem
referência também a esses três espaços de reprodução social, mas o foco
sobre os paradigmas de administração de empresas já nos remete ao mundo das
empresas e da economia em que examinaremos o fenômeno da "nova economia" e
da sociedade da informação.

Em nossa próxima sessão, vamos explorar mais detalhadamente o método e os
resultados da reconstrução do discurso da administração de empresas nos anos
90. Para Boltanski, trata-se de uma "cidade por projetos" que surge na
medida em que o paradigma das redes se impõe nas relações trabalhistas e em
novas formas de concorrência entre as empresas. Esse autor examina uma
dialética entre o funcionamento do capitalismo e as ações de seus críticos
(sindicatos, cidadãos, artistas), de tal sorte que, sem alterar seus
princípios mínimos, o sistema capitalista absorve muitas dessas críticas e
assume novas formas de organização que são animadas por culturas ou regimes
de justificação sem os quais as possibilidades de retorno não seriam
maximizadas. Os autores colocam em evidência como várias das críticas
fundamentais apresentadas pelos rebeldes de maio de 1968 foram rapidamente
incorporadas pelo "establishment" e formaram a base de um novo regime de
justificação (por projetos) numa economia estruturada a partir de redes.

Como o novo paradigma tem origem na própria crítica, a própria crítica do
paradigma obviamente não é trivial e exige uma compreensão mais sofisticada
da natureza da crítica e dos espaços onde ela se manifesta e abre campos de
negociação. Com o agravante de que, no novo paradigma, inspirado numa
perspectiva pós-moderna ou relativista, a própria instituição do espaço
público é deslocada do sistema de valores hegemônico, tornando novas
críticas e novas possibilidades de negociação muito mais difíceis de
formular e sobretudo de implementar.

Feita a leitura de Boltanski, avançaremos no estudo das novas teorias de
cultura organizacional, centrando nosso trabalho na leitura do seguinte
livro:

Organizations in Action - Competition between contexts
Peter Clark
Routledge, London, 2000

saudações a todos

Gilson Schwartz
Professor Visitante
Instituto de Estudos Avançados
USP