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Re: [ABE-L]: Enem, TRI e Serra



Eu já tinha prometido encerrar meus comentários sobre ENEM-TRI-SISU nessa lista, mas eis que o assunto volta pela via de um artigo escrito por um ?político profissional?, comentado por ?políticos amadores?, que somos quase todos nós. Pincei trechos das críticas mais agudas, procurando não cometer a célebre extração de contexto.

Em diversos eventos do SINAPE, CONBRATRI eu já ouvi especialistas em TRI, presidentes e coordenadores de INEP, ENEM, IBGE, et al, considerando a importância da "alfabetização em TRI" para a comunidade em geral.
Com todo o respeito que merece o ex governador, ex prefeito e ex ministro Sr. José Serra, ele poderia ter consultado algum expert em TRI para esclarecer as possíveis dúvidas....

Um político interpreta o sentimento da comunidade aonde atua, não se trata de esclarecer a ele, mas à sociedade em geral. E há um enorme hiato a esse respeito, agravado pelas diferentes fórmulas de justiçamento social (a denominação técnica é outra) utilizadas no SISU. A resposta tipo ? abra um livro a respeito e leia ? além de ofensiva é irrelevante sem a divulgação da memória de cálculo das notas.

A ideia de usar o ENEM com mecanismo de seleção de alunos para a universidade não é original do MEC e nem obrigatória para nenhuma escola. Tanto que as escolas estaduias de SP e do RJ não utilizam o ENEM (pelo menos por enquanto), e nem todas as federais o fazem. Além disso muitas escolas usam de formas distintas, como parte do processo de seleção.
Por outro lado, escolas privadas, bem conceituadas, já utilizam o resultado do ENEM como seleção há bastante tempo. Minha filha entrou na PUC-RIO sem fazer o vestibular tradicional, utilizando o ENEM, em 2002!
A frase mais enigmática do artigo, para mim, é " A TRI pode ser mais apropriada como forma de avaliar o nível da educação, mas como critério de seleção vira um enigma para os candidatos."(?). Afinal, o que se quer são alunos com bom nível educacional, não? Quanto a TRI ser boa para ordenar os alunos sugundo sua proficiência, que digam nosos especialistas.

O ex-ministro da educação nunca escondeu a sua intenção de tornar o ENEM o único instrumento de seleção para todas as instituições de ensino superior do Brasil (públicas ou privadas). Há muitas maneiras indiretas que o governo pode utilizar para pressionar, sem a necessidade de um decreto ou lei. Até agora a estratégia de resistência tem sido a salomônica, como é o caso da PUC, que reserva 50% das vagas para o ENEM e 50% para o vestibular tradicional. Uma coisa é enigma, outra é não entendimento do que o artigo expressa. Uma medida estatística pode ser utilizada para avaliar conjuntos de alunos, verificando disparidades nos seus níveis de proficiência para orientar o trabalho interno em um órgão de governo. Outra, é utilizar essa medida para decidir a admissão de um jovem em uma IES, sem as condições técnicas adequadas (tamanho do Banco de Itens, por exemplo) e sem divulgar as fórmulas utilizadas.

 Creio que o uso da TRI em sistemas classificatórios, que não é tão recente assim, pode ser absorvido com o tempo. Com todo o respeito, creio que a palavra "mistério" tenha sido empregada de modo inapropriado pois, dentre outros motivos, os valores dos traços latentes guardam correlação positiva com os escores (brutos/padronizados).

Mais ou menos como o SUS foi absorvido. Às vezes funciona, às vezes não, gigantesco, pouca transparência, consumindo uma montanha de dinheiro com gráficas, segurança, consultorias, etc. Realmente, uma correlação positiva entre os valores dos traços latentes e os escores é o mínimo que se pode esperar de um ENEM! Podiam publicar esses e outros resultados sobre o exame em meio digital, sem custos adicionais(solicite-se um aditivo no contrato de prestação de serviços, sugestão para o diretor do INEP). Ou há algo que deva ser escondido? A sociedade merece saber, e é melhor que isso se faça espontaneamente do que por medida judicial, que é o que vai acabar acontencendo.






On Thu, 26 Jan 2012 13:50:20 -0200, cpereira wrote
> Vejam abaixo colegas o artigo de nosso ex gov/pref Zé Serra. Saiu no
>  estadão de hoje.
>
> >>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>
> José Serra, ex-prefeito e ex-governador de São Paulo - O Estado de S.Paulo
>
> O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado pelo ex-ministro
> da  Educação Paulo Renato de Souza, em 1998, como parte de um
> esforço para  melhorar a qualidade das escolas desse ciclo
> educacional. Para isso  precisava de um instrumento de avaliação do
> aproveitamento dos alunos  ao fim do terceiro ano para subsidiar
> reformas no sistema. Iniciativas  desse tipo também foram adotadas
> para o ensino fundamental e o  universitário. Nada mais adequado que
> conhecer melhor o seu produto  para adotar as terapias adequadas. O
> principal benefício para o  estudante era avaliar o próprio conhecimento.
>
> O Enem é uma prova voluntária e de caráter nacional. As questões são
>  as mesmas em todo o Brasil. Sua expansão foi rápida: até 2002,
>  cerca  de 3,5 milhões de alunos já tinham sido avaliados. Note-se
> que Paulo  Renato chegou a incentivar as universidades a levarem em
> conta o  resultado do Enem em seus respectivos processos seletivos.
> Em 2002,  340 instituições já faziam isso.
>
> Ainda que o PT e seus sindicatos tivessem combatido o Enem, o
> governo  Lula manteve-o sem nenhuma modificação até 2008, quando o
> Ministério  da Educação (MEC) anunciou, pomposamente, que ele seria
> usado como  exame de seleção para as universidades federais, o que
> "acabaria com a  angústia" de milhões de estudantes ao pôr fim aos
> vestibulares  tradicionais. A partir dessa data, dados os erros
> metodológicos, a  inépcia da gestão e o estilo publicitário (e só!)
>  de governar,  armou-se uma grande confusão: enganos, desperdício de
> recursos,  injustiças e, finalmente, a desmoralização de um exame nacional.
>
> O Enem, criado para avaliar o desempenho dos alunos e instruir a  
> intervenção dos governos em favor da qualidade, transformou-se em  
> porta de acesso - ou peneira - para selecionar estudantes  
> universitários. Uma estupenda contradição! Lançaram-se numa
> empreitada  para "extinguir os vestibulares" e acabaram criando o
> maior vestibular  da Terra, dificílimo de administrar. A angústia de
> milhões de  candidatos, ao contrário do que anunciou o então
> ministro Fernando  Haddad, cresceu, em vez de diminuir. E por quê?
> Porque a um engano  grave se juntou à inépcia.
>
> Vamos ao engano. Em 2009 o Enem passou a usar a chamada Teoria da  
> Resposta ao Item (TRI) para definir a pontuação dos alunos, tornados
>  "vestibulandos". Mas se recorreu à boa ciência para fazer política  
> pública ruim. A TRI mede a proficiência dos alunos e é empregada no  
> Sistema de Avaliação da Educação Básica (Sabe) desde 1995, prova que
>  não seleciona candidatos - pretende mostrar o nível em que se
> encontra  a educação, comparar as escolas e acompanhar sua evolução,
> para  orientar as políticas educacionais.
>
> Como o Enem virou prova classificatória, o uso da TRI, que não
> confere  pontos aos alunos segundo o número de acertos (Teoria
> Clássica dos  Testes), renovou a "angústia". O "candidato" não tem
> ideia de que  pontuação lhe vão atribuir porque desconhece os
> critérios do  examinador. Uma coisa é empregar a TRI para avaliar o
> nível dos  jovens; outra, diferente, é fazer dela um mistério que
> decide seu  destino. Na verdade, o "novo" Enem passou a usar a TRI
> para,  simultaneamente, selecionar alunos, avaliar o desempenho das
> escolas,  criar rankings, certificar jovens e adultos que não
> completaram o  ensino médio e orientar o currículo desse ciclo. Não
> há exame no mundo  com tantas finalidade discrepantes.
>
> A Teoria Clássica dos Testes não distingue o acerto derivado do  
> "chute" do decorrente da sabedoria. A TRI pode ser mais apropriada  
> como forma de avaliar o nível da educação, mas como critério de  
> seleção vira um enigma para os candidatos. Os vestibulares  
> "tradicionais", como a Fuvest, costumam fazer sua seleção em duas  
> etapas: uma primeira rodada com testes e uma segunda com respostas  
> dissertativas - que não comportam o chute.
>
> O Enem-vestibular do PT concentrou, ainda, na prova de redação a  
> demonstração da capacidade argumentativa do aluno. Além de as  
> propostas virarem, muitas vezes, uma peneira ideológica, assistimos
> a  um espetáculo de falta de método, incompetência e arbítrio. O
> País  inteiro soube de um aluno, em São Paulo, que recorreu à
> Justiça e sua  nota, de "anulada", passou para 880 pontos - o máximo
> é mil. Outro, ao  receber uma explicação de seus pontos, constatou
> um erro de soma que  lhe roubava 20 pontos. Outros 127 estudantes
> conseguiram ter suas  notas corrigidas. Atentem para a barbeiragem
> técnica: nos testes,  recorre-se à TRI para que o "chute" não tenha
> o mesmo peso do acerto  consciente, mas o candidato fica à mercê de
> uma correção marcada pelo  subjetivismo e pelo arbítrio.
>
> É conhecida também a sucessão de outros problemas e trapalhadas:  
> quebra do sigilo em 2009, provas defeituosas em 2010 e nova quebra
> de  sigilo em 2011. Além disso, os estudantes que, via Justiça,
>  cobram os  critérios de correção das redações costumam receber
> mensagens com  erros grotescos de português. Todos nós podemos
> escorregar aqui e ali  no emprego da norma culta. Quando, porém, um
> candidato questiona a sua  nota de redação e recebe do próprio
> examinador um texto cheio de  erros, algo de muito errado está em curso.
>
> Se o MEC queria acabar com os vestibulares, não poderia ter criado
> "o"  vestibular. Se o Enem deve ser também uma prova de acesso à
>  universidade, não pode ser realizado apenas uma vez por ano -
>  prometem-se duas jornadas só a partir de 2013. A verdade é que o  
> governo não criou as condições técnicas necessárias para que a prova
>  tivesse esse caráter. A quebra de sigilo em 2011 se deu porque  
> questões usadas como pré-testes foram parar na prova oficial. O
> banco  de questões do Enem não suporta a demanda. O PT esqueceu-se
> de cuidar  desse particular no afã de "mostrar serviço" - um péssimo
> serviço!
>
> O ex-ministro Haddad, antes de deixar o cargo, fingiu confundir a  
> crítica que fizeram a seu desempenho com críticas ao próprio Enem, o
>  que é falso. Talvez seu papel fosse mesmo investir na confusão para
>  tentar apagar as pegadas que deixou. O nosso papel é investir no
esclarecimento.
>
> Carlos Alberto de Braganca Pereira <cpereira@ime.usp.br>


Prof. Luis Paulo
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20010-974 Rio de Janeiro, RJ

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