O menino que andou nas nuvens

Maria Angela Weiss


July 6, 2007

O dia era muito quente, muito aborrecido, muito comprido e muito sem absolutamente nada para fazer excepto olhar os morros cheios de casas e imaginar o que seria se o mar viesse morar perto de casa e, num repente humano, cheio de vontade, subisse a Serra e viesse construir uma praia no fundo do quintal.

Tédio! Nem chamando e mandando e pedindo e fazendo birra o Mar viria morar na cidade! Restava balançar alto e esperar subir mais alto do que o desejo que o menino tinha de ver o Mar.

O menino Gabvriel balançou e balançou e balançou! Mais alto! Muito alto! Estava ficando divertido! Mais alto, mais alto, mais e mais!

As nuvens no ceu estavam lindas e valia a pena ve-las correndo! Um esforço mais e ooooopaaaa!!!! Um salto do balanço.

-``Legal, mano! Onde fui parar? Eu não levei um tombaço feio ou, se levei, onde fui cair? Legal!!!!''

O chão era macio e branco. Parecia algodão, espuma de sabão da máquina de lavar. Algodão doce saindo da máquina de algodão. Um mundo muito pequeno podia ser visto. Menor, muito menor mesmo do que visto do último andar de um prédio bem alto! Gabriel não podia acreditar naquilo! O balanço foi tão forte que ele foi parar numa nuvem que passava pelo parque.

A situação de Gabriel era terrível e exigia medidas compatíveis a sua total e absoluta absurdidade. Gabriel pensou, pensou e fez o mais lógico a ser feito. Gabriel experimentou um pedaço da nuvem.

-``Limão. A mais branca tem gosto de limão.'' Conforme o Sol mudava no céu, as cores das nuvens mudavam e seu sabor também. Limão, laranja, tangerina! Muito bom! As nuvens mais vermelhas tinham gosto de morango, uva e groselha e, mais escuras ainda, chocolate e um leve toque de café.

Gabriel olhou o chão lá em baixo. Viu seu primo pegando minhocas e formigas do chão. Viu os meninos que batiam figurinhas e as mães que ficavam em casa varrendo o quintal, cuidando das roupas nos varais - Gabriel pensou na Terra como um grande navio, movido pelas velas das roupas nos varais. Gabriel viu sua escola e casas parecidas com as casas de seus brinquedos de montar.

Havia muitas coisas a serem vistas, experimentadas e sentidas. Uma pipa passou por perto e Gabriel tentou tocar nela, mas não deu. Ele tinha certo medo dos moleques que faziam pipas e só tinham olhos para suas pipas e nada mais. Os moleques grandes e suas pipas eram tão poderosos quanto os cossacos e seus amados cavalos. Pelo menos Gabriel achava que esses meninos eram os mais próximos dos cossacos que moravam nas estórias de sua avó do que qualquer um que ele conhecia. A diferença é que os cavalos eram feitos de seda, bambu e linha bem forte.

-``Epa, que é isso!''. Então era assim que a menina loira da esquina estava sempre magrinha. Ela dava seu lanche para o cachorrão do vizinho. Guloso esse cachorro! Come sem nem mastigar!

As pessssoas caminhavam nas ruas e as nuvens já não tinham muito gosto de limão. estava mais para laranja e uva e algumas lembravam o gosto de leite com chocolate. Gabriel viu seus pais indo para o parque. Era hora de banho, jantar, ler um livro e dormir. Mas, como voltar?

Os pássaros passavam por perto. Eles deviam estar exautos pelo dia de trabalho de pássaro, ciscando o chão e cantando nas beiras dos muros e nos quintais. Gabriel sentiu saudades do cheiro de suas coisas e do abraço apertado de seu pai. Sua mãe poderia fazer batata frita e, com sorte, ela faria um bolo fofo e muito bom. As nuvens eram frias e nem de longe lembravam o gosto do bolo de sua mãe. Deu saudades, seus pais estavam procurando por ele e, se chovesse, ele ficaria sem lugar para pisar porque a nuvem sempre se derrete ao chover.

Devagar o seu balanço chegou bem perto. Nao era tão perto nem parecia fácil de fazer, mas era o caminho de volta e.... ``Ai, ai, não quero pensar''. Gabriel se agarrou, meio escorregando, meio com medo, meio com cabeça de herói de gibi, meio criança e meio sujeito grandão.

O balanço desceu forte e passou rápido derrubando pipas, meninos, brinquedos e brincadores que já estavam na direção de casa.

-``Paie, mamãe! Onde vocês vão? Me paga um sorvete depois da janta?''

FIM



Maria Angela Weiss 2007-07-06