EINSTEIN E A RELIGIÃO:
exemplo de um conflito e como se pode superá-lo

Valdemar W. Setzer
www.ime.usp.br/~vwsetzer

O livro de Max Jammer Einstein e a Religião: física e teologia (Rio de Janeiro: Contraponto, 2000), descreve os princípios filosófico-religiosos de Einstein, que admitia a "existência" de um Deus criador do universo físico, isto é, da energia/matéria e de suas leis, mas que não mais atua. Seguindo Spinoza, ele era absolutamente contra a idéia de um "Deus pessoal", e era totalmente determinista, o que levava-o à negação do livre arbítrio. Jammer cita vários casos de conflitos que Einstein teve com teólogos de várias confissões, devido a essas posições, mas também com ateus, pois Eintein considerava-se religioso.

Os profundos princípios morais e éticos de Einstein são bem conhecidos, expressos por exemplo em Como vejo o Mundo . Isso leva a um conflito interior, adicional aos descritos por Jammer: como se pode ser ético e moral sem admitir a liberdade humana? Jammer descreve como a física atômica e a mecânica quântica abriram novos caminhos para se admitir a atuação do não-físico sobre o físico, mas que não foram aceitos por Einstein.

Nesta palestra, mostramos como uma das origens desse conflito interior de Einstein foi, por um lado, sua concepção de Deus, baseada em tradições religiosas ocidentais; por outro, uma concepção de ciência demasiadamente restrita. Esse conflito pode ser superado por meio de duas extensões, uma aplicada à religião, outra à ciência. Isso pode levar a uma nova visão de mundo, resgatando a dignidade e a responsabilidade humanas, eliminadas tanto pela ciência, que tende a considerar o universo e o ser humano como máquinas, como pelas confissões religiosas que se atêm a uma mera abstração da divindade. Essa nova visão de mundo, para estar de acordo com a constituição e anseios humanos atuais, deve necessariamente preservar a individualidade, a auto-consciência e a liberdade humanas, apelando para a compreensão, como buscada pela ciência, e não para um misticismo que em grande parte ignora a razão, e que pode levar às enganações ou aos fundamentalismos que presenciamos hoje, tão contraditórios ao que se espera dos mais básicos princípios religiosos. Por outro lado, a razão baseada exclusivamente no enfoque científico corrente está levando a outros fundamentalismos, como o de se modificar irrestritamente a natureza física e biológica, pois nessa concepção não há lugar para o respeito e a veneração.


Palestras dadas:
1. 27/11/01 no Instituto de Matemática e Estatística da USP, a convite do Prof. Paulo Cordaro.
2. 2/12/01 a convite do Prof. Isac Kruglianskas, da Faculdade de Economia e Administração da USP.
3. 24/5/02 na XXXIII Sexta Filosófica da Igreja Presbiteriana do Butantã, a convite do Prof. Luiz C. Salomão.