Tema 4.2 Pautando a transição: Manuel Castells

Por: Anderson Carlos D. Sanches e Adriano Saturno Muniz

 

Manuel Castells é um sociólogo espanhol que foi um dos precursores do estudo sobre o impacto da tecnologia na sociedade.

A revolução dos estudantes franceses de 1968 (Campus de Nanterre da Universidade de Paris) começou na sala dele, sendo que foi expulso e estabeleceu-se na Universidade de Berkeley.  Ele tem um boa compreensão sobre a área de tecnologia. Dá uma disciplina sobre o assunto, na área sociológica.

Seu livro "Sociedade em Rede" é o primeiro trabalho a englobar a nossa cultura frente à tecnologia. A obra caracteriza a versão dele, versão baseada numa grande quantidade de dados científicos. É um estudo sobre a interface da tecnologia com as pessoas.

"Sociedade em Rede", examina muitos aspectos da sociedade e coloca no contexto de uma organização de rede. Quanto a organização em rede, o autor quer dizer SCA (Sistemas Complexos Adaptativos). Um exemplo é a própria Internet ou os grupos que se formam dentro dela nela. Uma da novidade na abordagem de Castells é o conceito de Rede no centro da avaliação. Ele é contrastado com a idéia de indivíduo. Há uma ênfase na agilidade e organização por causa da rede. Ele explora a transformação pela rede, por exemplo, fazendo um paralelo com o que aconteceu aos PC em 1970, computadores interconectando-se pela Internet, e a sociedade organizando-se em rede. O computador funciona como mediador da comunicação entre humanos através da rede.

O estudo de Castells deu origem a uma trilogia:

1.) A Sociedade em Rede (1.996)
2.) O Poder da Identidade (1.997)
3.) O Fim do Milênio (1.998)

Pontos de partida

"O Poder da Identidade" examina de que forma a identidade do indivíduo, dos grupos, dos movimentos sociais e dos estados se refletem na transição para a organização em rede. Primeira obra de compreensão, tenta analisar diferentes aspectos em função do impacto da tecnologia. Representa a visão do próprio autor.A trilogia levou cerca de 20 anos para ser concluída. Um ponto interessante é, a medida que o tempo passa, ver como estavam refletidas as coisas que temos agora, pois temos um processo em evolução constante.

"O Fim do Milênio" é mais concreto, tenta pegar os acontecimentos políticos dos últimos 30 anos para argumentar que a rede está indo para o centro da sociedade. A mulher de Castells é uma socióloga russa, estuda o colapso da ex-URSS e as dificuldades de adaptação para organizar todas as funções em rede. Castells analisa a situação no livro, sendo contrário às antigas visões de estado russas. Ele observa como atores políticos são afetados. Ásia e o crime organizado, também são estudados nesta obra, tentando demonstrar que estão organizados em rede. Ex.: UE (União Européia) rede de países que preservam uma identidade particular, refletindo compromissos históricos, e querem uma rede sem abdicar dessas identidades. Querem formar uma unidade econômica e política.

Vamos iluminar o conceito de rede:

A Lei de Metcalfe (engenheiro da Xerox, fundador da 3Com):

"O valor de uma rede é proporcional ao quadrado do número de seus membros"

A importância da rede aumenta proporcionalmente ao número de participantes. Ex.: rede de telefonia. Para cada participante, há uma somatória dos valores. O valor v da rede cresce muito mais rapidamente que o número n de participantes, cresce exponencialmente:
v = n( n - 1) / 2 (número de arestas num grafo).

O valor global da rede cresce mais rapidamente que o número de participantes O(n^2) >> O(n). Isso contrasta com a idéia de Castell.


"A Sociedade em Rede" está dividido em 9 partes:

Introdução: A Rede e o Ser
Capítulo 1: Revolução da TI
Capítulo 2: A Economia Informacional e o Processo de Globalização
Uma das motivações da economia informacional para os fornecedores é a troca de informação.
Capítulo 3: A Empresa em Rede
Empresas não são um todo coeso, mas unidades menores interconectadas pela rede, como as franquias, que utilizam-se das vantagens da rede.
A organização monolítica está sendo substituída pela rede. Os grupos locais ganham em autonomia, mas perdem em influência global.
Capítulo 4: A Transformação do Trabalho
Ênfase na transformação, a natureza da ligação do indivíduo com a sociedade é que muda.
Capítulo 5: A Cultura da Virtualidade Real
A integração da comunicação eletrônica e o fim da audiência de massa, como sintetizou Pierre Lévy: "a pós modernidade proclama o fim das grandes narrativas totalizantes". Há uma ênfase na comunicação ponto a ponto em contraponto com a comunicação em massa.
Capítulo 6: O Espaço de Fluxos
Capítulo 7: O Limiar do Eterno, o Tempo Intemporal
Nestes dois últimos capítulos há uma análise da nossa percepção do espaço e do tempo, com o advento da rede.
Conclusão: A Sociedade em rede



Notas de Rodapé:

Em fins de 1998 foi criado no Instituto de Estudos Avançados (IEA). da Universidade de São (USP), um Grupo Interdisciplinar, denominado Estudos de Informação e Comunicação (EdIC). Sob a Coordenação de Imre Simon do Instituto de Matemática de Estatística, atualmente participam do grupo os Professores Arnaldo Mandel (IME), Jorge deLyra (IF), Martin Grossman (ECA e MAC), Nicolau Reinhard (FEA) e Siang Wun Song (IME). Espera-se que o grupo venha a se expandir em futuro próximo, visando principalmente uma composição significativamente interdisciplinar, característica considerada essencial das suas atividades.

Constituem os objetivos básicos deste grupo a reflexão interdisciplinar sobre os impactos sociais, econômicos, políticos e culturiais da Internet. Visa-se imprimir também uma atenção especial ao impacto das novas tecnologias de Informação e Comunicação nas atividades e na inserção social das Universidades.




Texto extraído do livro "A Sociedade em Rede" de Manuel Castells, páginas 485-486.

"Com certeza, até nas sociedades dominantes, o fim da guerra não significa o fim da violência e da intensa confrontação com aparatos políticos de vários tipos. A transformação da guerra introduz novas formas de conflito violento, sendo o terrorismo a pior de todas. O terrorismo potencial nuclear, químico e bacteriológico, bem como massacres indiscriminados e tomadas de reféns, tendo a mídia como foco de atenção, provavelmente se tornarão as expressões dos conflitos armados nas sociedades desenvolvidas. No entanto, até esses atos violentos, susceptíveis de afetar a psique de todos, são vivenciados como instantes descontínuos no curso da normalidade pacífica. Com isso, há um contraste surpreendente com a generalização da violência provocada pelo Estado em boa parte do planeta.

As guerras instantâneas e sua temporalidade tecnologicamente induzida são atributos das sociedades informacionais, mas, a exemplo de outras dimensões da nova temporalidade, caracterizam as formas de dominação do novo sistema, a ponto de excluir os países e acontecimentos não centrais para a lógica dominante emergente."

Trecho de "The Power of Identity" página 302.

"Furthermore, while the nation-state keeps the capacity for violence, it is losing its monopoly because its main challengers are taking the form of, either, transnational networks of terrorism, or, communal groups resorting to suicidal violence. In the first case, the global character of terrorism (political, criminal, or both), and of their supplier networks in information, weapons, and finance, requires a systemic cooperation between nation-states' police, so that the operating unit is an increasingly transnational police force. In the second case, when communal groups, or local gangs, renounce their membership of the nation-state, the state becomes increasingly vulnerable to violence rooted in the social structure of its society, as if states were to be permanently engaged in fighting a guerrilla war. Thus the contradiction the state faces: if it does not use violence, it fades away as a state; if it uses it, on a quasi-permanent basis, there will go a substantial part of its resources and legitimacy, because it would imply an endless state of emregency. So, the state can only proceed with such a durable violence when and if the survival of the nation, or of the nation-state, is at stake. Because of the increasing reluctance of societies to support a lasting use of violence, except in extreme situations, the dificulty of the state to actually resort to violence on a scale large enough to be effective leads to its diminishing ability to do so frequently, and thus to the gradual loss of its privilege as holding the means of violence.

Thus, the capacity of surveillance is diffused in society, the monopoly of violence is challenged by transnational, non-state networks, and the ability to repress rebelion is eroded by endemic communalism and tribalism. While the nation-state still looks imposing in its shiny uniform, and people's bodies and souls still are routinely tortured around the world, information flows bypass, and sometimes overwhelm, the state; terrorist wars criss-cross national boundaries; and communal turfs exhaust the law and order patrol. The state still relies on violence and surveillance, but it does not hold their monopoly any longer, nor can it exercise them from its national enclosure."

Colaboração dos textos de: Nelson Guedes Paulo Júnior


MAC 5800 - Informação Comunicação e a Sociedade do Conhecimento/ 2.001
Prof.: Imre Simon