A encruzilhada do futuro


-Declínio da classe média

Enquanto a primeira onda da automação teve seu impacto maior sobre os operários, a nova revolução da reengenharia está começando os escalões médios da comunidade corporativa, ameaçando a estabilidade econômica e a segurança do grupo político mais importante na sociedade americana – a classe média.

O declínio da classe média se faz sentir mais acentuadamente entre pessoas com formação universitária. Entre 1987 e 1991, seus salários caíram 3,1% em termos reais. Os trabalhadores com formação universitária constituem a massa dos cargos de nível gerencial da economia americana e são esses cargos que estão sendo varridos pelos novos avanços tecnológicos e pelas práticas da reengenharia. Mais de 35% dos recém-formados foram forçados a aceitar empregos que não requerem formação superior, 15% a mais do que há apenas cinco anos.

Com o declínio da classe média e a super-eficiência da produção o que se verifica atualmente é uma maior polarização entre as classes econômicas. Mas em meio a esse cenário observamos o surgimento de uma nova classe de trabalhadores, a classe da informação.

-Surgimento de uma classe da informação

Análise baseada em dados dos Estados Unidos. Essa "classe" é formada por cientistas, engenheiros projetistas, engenheiros civis, analistas de software, advogados, consultores, artistas, jornalistas, etc. Ela representa 20% da força de trabalho e é responsável por uma renda anual de 1.7 bilhões mais do que os outros 4/5 combinados. A renda dessa classe continua a aumentar entre 2 e 3% ao ano mesmo com inflação.

O conhecimento passou a ter uma importância vital pois seu monopólio assegura a competitividade e posição no mercado. Um exemplo é o custo de um chip, 3% corresponde a material e energia gastos na fabricação, 5% para equipamentos e instalações, 6% para mão de obra e 85% para desenvolvimento, patente e copyrights.

-Estresse High-Tech

Antes da era industrial o ritmo do corpo era compatível com o ritmo econômico pois a produção era artesanal e dependia apenas do artesão mas com a introdução das máquinas e linhas de montagem o Homem teve que adaptar o seu ritmo para acompanhar as máquinas. Mas na terceira revolução a medida de tempo das novas "máquinas inteligentes" passou a ser de nanossegundos criando um stress mental ao contrário da stress físico.

O computador está se tornando uma fonte de estresse, à medida que o ritmo cada vez mais acelerado do trabalho aumenta a impaciência dos trabalhadores, que exigem respostas cada vez mais rápidas; resultando assim, em níveis sem precedentes de estresse. Um estudo concluiu que o tempo de resposta de um computador de mais de 1,5 segundos poderia provocar impaciência e estresse no seu usuário.

As novas tecnologias baseadas no computador aceleraram tanto o volume e o ritmo da informação que milhões de trabalhadores estão passando por sobrecarga e fundindo-se. O fator crítico da produtividade passou da resposta física à mental e da força muscular para a cerebral. Nos EUA, o estresse ocupacional custa às empresas mais de 200 bilhões p/ ano.

-Empregos Temporários

Embora as condições de trabalho em instalações reestruturadas e automatizadas estejam aumentando o estresse e comprometendo a saúde dos trabalhadores, a mudança na natureza do trabalho também está contribuindo para sua insegurança econômica. Muitos trabalhadores já não conseguem encontrar empregos de período integral e estabilidade a longo prazo.

Em fevereiro de 1993, o BankAmerica Corporation - o segundo maior banco do país – anunciou que estava passando 1200 cargos de período integral para cargos de meio período. O banco estima que menos de 19% de seus funcionários serão trabalhadores em período integral num futuro próximo. Aproximadamente seis de cada dez funcionários trabalharão menos de 20 horas semanais, e não receberão benefícios.

Trabalhadores temporários, por contratos e em meio período agora constituem mais de 25% da força de trabalho nos Estados Unidos. Esses números devem aumentar dramaticamente até o final desta década (ver gráfico).

O movimento pelo trabalho contingencial é parte de uma estratégia de longo prazo das empresas para reduzir salários e evitar os autos custos de benefícios tais como assistência médica, aposentadoria, licenças médicas pagas e férias. Ao todo, os encargos trabalhistas correspondem a quase 45% do total pago pelo trabalho por empregados fixos em período integral. E também, como cada vez mais as empresas estão enfrentando uma economia altamente competitiva e volátil, muitas empresas estão reduzindo seu núcleo de trabalhadores fixos e contratando temporários, para terem a agilidade de aumentar ou diminuir o número de trabalhadores rapidamente, em resposta às variações sazonais, até mesmo mensais ou semanais do mercado.

Um montador de tubos que trabalhava na US Steel ganhava 13 dólares/ hr com pacote de benefícios. Após ser demitido encontrou emprego por uma empreiteira por 5 dólares/hora fazendo peças para seu antigo empregador.

"A revolução dos anos 90", diz Hutchens, "é no sentido do emprego just-in-time – as empresas utilizaram as pessoas somente quando precisem delas." Hutchens alerta que o país ainda não compreendeu bem o impacto que o emprego just-in-time terá sobre o bem-estar econômico e a segurança emocional da força de trabalho.

-Aumento da criminalidade e perda da identidade do trabalhador

O profundo impacto psicológico das mudanças radicais nas condições e na natureza do trabalho sobre o trabalhador americano está sendo visto com preocupação pelos observadores do setor. Os americanos, talvez mais do que qualquer outro povo no mundo, definem-se a si próprios em termos de seu trabalho. O conceito de ser um cidadão "produtivo" está tão arraigado no caráter da nação, que quando subitamente se é recusado em um emprego, a auto-estima certamente afundará. O emprego é muito mais do que uma medida de renda: para muitos é a medida essencial de automerecimento. Estar desempregado é sentir-se improdutivo e cada vez mais imprestável.

A preocupação com o constante crescimento do deslocamento tecnológico de longo prazo despertou o interesse de psicólogos nos problemas de saúde mental dos desempregados. O Dr. Thomas T. Cottle, psicólogo clínico e sociológico, em um estudo sobre desempregados "inveterados" descobriu uma progressão comum de sintomas. No primeiro estágio do desemprego, os homens que foram entrevistados externavam sua raiva e sua frustração contra ex-colegas e empregadores. Em alguns lugares do país, o local de trabalho tornou-se uma virtual zona de guerra, com empregados demitidos atirando em seus colegas e em empregadores com freqüência crescente. O homicídio agora é a terceira maior causa de mortes no ambiente de trabalho.

Robert Earl Mack foi demitido de seu emprego na General Dynamics Convair, em San Diego, após 25 anos na empresa. Numa audiência de reintegração, ele sacou um arma calibre 38 e atirou em seu ex-supervisor e no negociador do sindicato.

Cottle diz que depois de estarem desempregados por um ano aproximadamente, os trabalhadores, em sua maioria, começam a direcionar sua raiva contra si próprios. Receosos de jamais trabalharem novamente, começam a culpar-se pela situação. Experimentam um enorme sentimento de vergonha e inutilidade, agravado pela perda de vitalidade. Em lugar de raiva, sentem-se deprimidos e resignados. Muitos até abandonam suas famílias. A morte psicológica muitas vezes é seguida de morte efetiva.

O desemprego e a perda de esperança num futuro melhor estão entre as razões pelas quais dezenas de milhares de adolescentes estão se voltando para uma vida de crime e de violência. A polícia estima que 270 mil estudantes portam armas nas escolas diariamente nos Estados Unidos. As escolas dos EU estão transformando-se rapidamente em fortalezas armadas, com corredores patrulhados por forcas de segurança e monitorados por equipamento de vigilância de alta tecnologia. Câmeras ocultas, máquinas de raio-X e detectores de metal estão tornando-se rotina em muitas escolas.

Ocasionalmente, a atividade criminal adolescente passa de atos individuais de terrorismo a tumultos em larga escala. Estima-se que mais de 130 mil adolescentes na grande Los Angeles são membros de gangues. Essas gangues estão começando a se proliferar nos subúrbios do país, junto com a incidência de crimes violentos.

Preocupados com a violência, muitas comunidades suburbanas estão aumentando a segurança residencial com a contratação de guardas de segurança particulares para a vigilância dos bairros. Um número crescente de bairros estão sendo murados, com uma única via de acesso com guarita. Em outros bairros, os residentes literalmente compraram suas ruas da prefeitura e bloquearam-nas com portões de ferro e guardas de segurança.

Alguns especialistas militares acreditam que estamos entrando num novo e perigoso período da história, caracterizado pelo que eles chamam de conflito de baixa intensidade: conflitos entre gangues de terroristas, bandidos guerrilhas, etc. O historiador militar Martin van Creveld diz que as distinções entre guerra e crime vão ficar mescladas e até mesmo desmoronar , à medida que bandos de proscritos, alguns com vagas meta políticas, ameaçarem a aldeia global com atentados, seqüestros e massacres. No novo ambiente de conflito de baixa intensidade, o exército e as forças policiais nacionais tornar-se-ão cada vez mais impotentes para dominar ou até mesmo coibir a violência e darão lugar às forças de segurança particulares que serão pagas para garantir zonas seguras para as classes de elite da aldeia global da alta tecnologia.

A inevitável transição

Através de uma propagação do crescimento da força de trabalho no mundo podemos observar claramente as dimensões do problema dos empregos. O problema da falta de emprego e suas consequências estão encurralando a sociedade moderna e em breve chegaremos a níveis insustentáveis forçando a transição da Terceira Revolução Industrial.    

Entre agora e 2010 espera-se que o mundo em desenvolvimento acrescente mais 700 milhões de indivíduos à sua força de trabalho, uma população maior que toda força de trabalho no mundo em 1990. Analisando regionalmente, temos que nos próximos 30 anos, a força de trabalho no México, América Central e Caribe deve aumentar em 52 milhões, o dobro de trabalhadores existentes só no México.

Novamente o México oferece outro bom exemplo. No México 50% da força de trabalho está desempregada ou sub-empregada. Apenas para manter esse patamar, o México terá de gerar 900 mil empregos anualmente até o final da década atual para absorver novos trabalhadores.

Estima-se que nos próximos 10 anos mais de 1 bilhão de empregos terão de ser criados para proporcionar renda a todos os novos trabalhadores.

Às vésperas do terceiro milênio, a civilização encontra-se vacilante entre dois mundos muito diferentes, um utópico e cheio de promessas, o outro real e repleto de perigo. Em debate está o próprio conceito de trabalho. Como pode a humanidade começar a se preparar para um futuro no qual a maior parte do trabalho formal terá sido transferido de seres humanos para máquinas?

Dois cursos específicos de ação terão de ser vigorosamente trilhados, se as nações industrializadas quiserem ser bem-sucedidas na transição para uma economia pós-mercado no século XXI.

Primeiro, ganhos de produtividade decorrentes da introdução de novas tecnologias de racionalização do tempo e do trabalho terão de ser repartidas com milhões de trabalhadores. Avanços dramáticos em produtividade precisarão ser compensados por reduções igualmente dramáticas no número de horas trabalhadas e aumentos constantes de salários para assegurar uma demanda eficaz pela produção e uma distribuição justa dos frutos do progresso tecnológico.

Segundo, a diminuição da massa de emprego na economia no mercado formal e a redução dos gastos do governo no setor público exigirão que se dê mais atenção ao terceiro setor: a economia de não-mercado. É ao terceiro setor – a economia social – que as pessoas irão voltar-se no próximo século, para ajudar a administrar necessidades pessoais e sociais que já não podem ser administradas nem pelo mercado nem por decretos legislativos. Esta é a arena em que homens e mulheres explorarão novos papéis e responsabilidades e encontrarão novos significados para suas vidas, agora que o valor de mercado de seu tempo está desaparecendo.

 


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