MAC 333 A Revolução Digital e a Sociedade do Conhecimento

Tema 5 - Linux: "l'enfant terrible" da RdI (versão 0.5 de 09abr99)


1 Introdução

Linux: um dos "vulcões em atividade" na RdI


2 Outros assuntos relacionados

Vírus Melissa

Vírus de macro do Microsoft Word que chega por e-mail como uma simples mensagem. Quando essa mensagem é aberta, o vírus se instala, apoderando-se do Microsoft Outlook; faz réplicas de si mesmo e envia suas réplicas como mensagens para 50 endereços do catálogo de endereços deste que acabou de ser infectado. Por isso, se propaga muito rápido.

O autor do vírus foi identificado e preso pelo FBI

Isso foi possível porque a Microsoft embute em todos os seus softwares uma identificação única que reflete o número do cartão Ethernet do computador e o número de série do software. O Melissa carrega esses números, provavelmente sem o conhecimento do autor, permitindo que o FBI conseguisse rastrear a origem do vírus através desses números.

Eric Raymond

Fortemente queimado e pressionado pela comunidade de nerds a ponto de colocar seu "job" à disposição. Semana passada no lwn.net.

Revista Computer do IEEE

Publica um dos primeiros artigos acadêmicos sobre o Linux e o considera um fenômeno possivelmente passageiro. O artigo tem um tom aparentemente pessimista, sugerindo uma repercussão negativa do sistema sobre o meio acadêmico.

Perfil de Steve Ballmer, CEO da Microsoft

Pouco lisonjeiro, mas muito sério e aparentemente refletido, aparece no The Economist desta semana, analisando a situação da Microsoft e o papel de Ballmer nela, e colocando o Linux como um dos concorrentes de maior sucesso do Windows.

As duas últimas notícias mostram que a revolução acontece em meio a contradições.

Primeira página da Gazeta Mercantil de 6 de abril de 1999

"Telecomunicações lideram fusões de US$643 bi."

De janeiro a março de 1999, 449 operações de fusão empresarial foram realizadas no mundo inteiro. 302 valores foram revelados.
 
 

Primeiro trimestre de 1999

  US$ bi Operações Bit ou Átomo?
Telecomunicações 171 37 Átomo transportando Bit
Mídia 131 23 Conteúdo (Bit)
Finanças 79 55 Bit ou Átomo?
Petróleo e Gás 48 24 Átomo
Internet 38 26 Bit

Essas grandes fusões revelam a turbulência da transição do mundo dos átomos para o mundo dos bits e átomos.
 

3 Dicionário

Estas são algumas palavras que estão em foco neste tema:


4 E o Linux com isso?

O fato: Um exército de nerds, sem poder econômico algum:

  1. Criou um sistema operacional de qualidade inigualada até hoje, em 8 anos, utilizando a Internet.
  2. Criou uma documentação "esplêndida" do sistema
  3. Sustentou a expansão do sistema e do seu uso, a ponto de ser considerado um concorrente do Microsoft Windows (que detém o monopólio do mercado, agora abalado pelo processo movido pelo DOJ contra a Microsoft).
  1. Como isto aconteceu?
  2. Como se faz isto?
  3. É replicável? Como?
  4. É estável?
  5. Quais as características que permitem o funcionamento?
  6. Quais os limites do método?
Referência básica deste tema: Eric Raymond, "The Cathedral and the Bazaar"
 

5 Perfil do Linux

O Linux é um sistema operacional clone do Unix (1969).

Existem hoje aproximadamente 300 milhões de computadores no mundo inteiro. Destes, os 10% que não são Windows estão divididos entre Linux, Unix (Sun, Solaris, ...) e outros (Mac, Amiga, VMS, ...), com aproximadamente 1/3 para cada um. Ou seja, o Linux tem de 8 a 10 milhões de cópias instaladas no mundo inteiro.

É um sistema de qualidade excepcional. O número de reboots do sistema é apenas um exemplo de medida de qualidade do sistema. O Linux é, de longe, o sistema que menos precisa de reboots. No outro extremo está o Windows, que trivializou o reboot do sistema operacional, exigindo a reinicialização após a instalação de qualquer software um pouco mais sofisticado.

O sistema operacional é o software mais sofisticado e complicado de todos. Antes do Linux, apenas as maiores empresas de informática (IBM, Microsoft, DEC, HP, Apple, AT&T, Unisys) tinham a esperança de possuir um.

O capital disponível para o Linux: US$0 (pelo menos no início do projeto).

No mundo Linux, uma característica predominante é a liberdade e a liberalidade de trocar software (executável) e trocar código (fonte).

Sugestão de leitura: Nathan Newman, "The Origins and Future of Open Source Software"

Em 1969, a rede e o Unix são idealizados, dentro do espírito acadêmico de troca de informação.

Na década de 1980, Richard Stallman funda, perto do MIT, a FSF (Free Software Foundation) e o Projeto GNU (Gnu is Not Unix), produzindo software livre de qualidade notável.

O Linux é extremamente baseado no Projeto GNU e nas idéias da FSF.

GPL - General Public License, ou Copyleft, em contrapartida a Copyright, é um documento legal que regulamenta a troca de código fonte, garantindo a liberdade de software.

O Linux colocou na mesa uma nova realidade, oferecendo uma nova alternativa para os usuários de sistemas operacionais e um modo de desenvolvimento de software completamente novo. A emergência do Linux abalou as estruturas do sistema dominante (Windows).
 

6 Open Source Project

O Open Source Project é uma modificação no conceito de Free Software (~1983). Este conceito está influenciando a indústria e a academia (de ciência da computação). Por exemplo:
 

A desistência de Eric Raymond traz à tona a discussão sobre liderança transparente (em oposição a liderança "opaca"), democracia participativa (em oposição à democracia representativa), e governabilidade.

Líderes importantes: Richard Stallman (fundador da FSF), Linus Torvalds, Eric Raymond.

O novo conceito de open-source traz uma vantagem do suporte ao software aberto em relação ao software fechado: sabendo usar os meios existentes na rede, pode-se obter respostas a perguntas (ou até mesmo correção de bugs) muito mais rapidamente.
 

7 The Cathedral vs. The Bazaar

O artigo "The Cathedral and the Bazaar" de Eric Raymond revela uma dicotomia dos modelos de desenvolvimento de software:
 

  1. Cathedral

  2. Este é o modelo antigo, tradicionalmente usado em empresas de software fechado, mas também foi utilizado por Richard Stallman na FSF. O controle é extremamente centralizado e dependente do líder: há casos em que o projeto morre com a saída do líder. O processo geralmente é muito demorado.
    No livro "The Mythical Man-Month", Frederick P. Brooks, Jr. conta as dificuldades que encontrou no desenvolvimento do Sistema Operacional do IBM /360 utilizando este modelo de desenvolvimento (~1966-1973).
  3. Bazaar

  4. Este é o novo modelo de desenvolvimento de software. Pode se comparar a uma feira, onde os comerciantes "vendem" as suas idéias. O modelo é totalmente descentralizado, desprovido de coordenação. O Bazaar deve ter um objetivo claro e praticável (mesmo que precariamente). Deve haver um líder, que funciona como um catalisador da comunidade de usuários/desenvolvedores, e não centralizador de poder. Portanto, o projeto é quase independente do líder, ou seja, uma troca de líder não deve abalar o sucesso do projeto. Deve haver um meio de comunicação que una a comunidade (e. g. Internet). O processo ocorre muito rapidamente. O resultado deste modelo de desenvolvimento é a qualidade incomparável do software produzido.
    O artigo de Eric Raymond, que tem o livro de Brooks como uma de suas referências, apresenta algumas soluções aos problemas que Brooks encontrou na década de 70.
     


Estas notas de aula foram preparadas por Shigueo Isotani e Wagner Dias.
 


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Last modified: Thu Apr 15 20:15:58 EST 1999