Enquanto as direções já apontadas podem ser consideradas ``previsões seguras'', por se referirem a processos já em andamento, outras previsões um pouco mais especulativas podem ser feitas. Isto nos traz à lembrança a frase, atribuída ao grande físico Niels Bohr, ``É muito difícil fazer previsões, principalmente sobre o futuro.'' Aliás, nesse campo as previsões se mostraram quase sempre muito falhas, em geral por excesso de conservadorismo. Tornaram-se folclóricas declarações de capitães da indústria de que ``I think there is a world market for maybe five computers.'' (Thomas Watson, Presidente da IBM, 1943, reportado por Time em 15 de julho de 1996) ou ``There is no reason for any individual to have a computer in their home.'' (Kenneth Olsen, presidente e fundador da DIGITAL, 1977, reportado por Newsweek em 27 de janeiro de 1997). Mesmo no campo altamente especulativo e imaginativo da Ficção Científica, entre autores que se destacavam por seu alto nível de informação sobre o estado corrente da ciência e tecnologia, encontramos erros hoje risíveis. Por exemplo, Robert Heinlein, em ``Starman Jones'' (1953), assume viagens a outros sistemas solares, mas a navegação é feita consultando-se tabelas impressas, cujos valores devem, à medida do necessário, ser digitados no painel. Ou Isaac Asimov, em ``The Last Question'' (1956), descreve um único grande computador que vai sendo aumentado até formar uma camada subterrânea sob todo o planeta.
Mesmo entre aqueles que participavam do processo era pouco visível uma idéia clara de onde se chegaria. Na revista Communications of the ACM (Association for Computing Machinery), órgão de divulgação de associação internacional envolvendo tanto a comunidade acadêmica quanto a industrial e empresarial, não se encontra nada, na década de 60, que pressinta a vertiginosa popularização dos computadores e a idéia de uma rede mundial. Uma notável exceção se encontra em trabalho de Licklider [32], do qual extraímos:
Economic criteria tend to be dominant in our society. The economic value of information and knowledge is increasing. By the year 2000, information and knowledge may be as important as mobility. We are assuming that the average man of that year may make a capital investment in an ``intermedium'' or ``console'' - his intellectual Ford or Cadillac - comparable to the investment he makes now in an automobile, or that he will rent one from a public utility that handles information processing as consolidated Edison handles electric power. In business, government, and education, the concept of ``desk'' may have changed from passive to active: A desk may be primarely a display-and-control station in a telecommunication-telecomputation system* - and its most vital part may be the cable (``umbilical cord'') that connected, via wall socket, into the procognitive utility net. Thus our economic assumption is that interaction with information and knowledge will constitute 10 or 20 per cent of the total effort of the society, and the rational economic (or social economic) criterion is that the society be more productive or more effective with procognitive systems than without.*If a man wishes to get away from it all and think in peace and quiet, he will have merely to turn off the power. However, it may not be economicaly feasible for his employer to pay him at full rate for the time he does spend in an unamplified cerebration.
Esse trecho, escrito em 1964, dá uma idéia da extraordinária visão daquele que foi escolhido para idealizar o projeto ARPANET.
Sem maiores pretensões, arriscamos mencionar aqui as seguintes possibilidades:
Todos os computadores construídos até hoje têm uma arquitetura baseada num modelo descrito na década de 1940 por John von Neumann. Até o momento, não houve sucesso em nenhum modelo alternativo. A construção de computadores von Neumann, primeiro em válvulas, e agora em semi-condutores, foi bem sucedida, mas esbarra em certas limitações físicas que podem vir a ser eventualmente atingidas, encerrando o processo de crescimento exponencial.
São objetos de pesquisa, no presente, modelos diferentes de computação, que deverão ser apoiados em tecnologias hoje inexistentes: computação biológica e computação quântica. Por enquanto, essas duas propostas estão em estado incipiente, tanto pelo lado teórico quanto pelo tecnológico, mas argumentos apriorísticos mostram que, se vingarem, devem aumentar em muito os limites da capacidade de computação.
Esse é o nome dado para as aplicações que conseguem evidenciar a vantagem de uma nova tecnologia, levando à sua adoção maciça. Talvez a convergência com os meios de entretenimento seja já suficiente. Talvez já seja a WWW; foi com os visores gráficos que a Internet se popularizou. Com a oferta crescente de banda e capacidade de computação, é muito provável que novas aplicações surjam com esse efeito catalizador. Já citamos algumas em vista; dessas, a implementação efetiva de dinheiro eletrônico é candidata a ter um impacto mais visível, afetando profundamente as bases do sistema econômico.
Já é recomendada pela IEEE a colocação de tomadas de rede à base de uma para cada 5m numa área de trabalho. Prédios modernos de escritórios já estão sendo construídos com uma tomada de rede ao lado de cada tomada elétrica comum. Com o tempo isso deve chegar aos lares, a rede de comunicação se tornando algo tão comum e essencial à vida moderna quanto a energia elétrica: possivelmente, num futuro não muito distante, cada eletrodoméstico será ligado a ambas as redes. Ou, talvez, bastará ligá-los apenas à rede de energia elétrica [60]. Com novas interfaces homem-computador ora em desenvolvimento, cada indivíduo carregará permanentemente seu próprio instrumento de acesso, seja diretamente acoplado ao corpo, seja como parte do vestuário.
Para outras previsões especulativas nos restringimos a encaminhar o leitor interessado para a conferência ACM97, realizada em San Jose, CA, entre 3 e 5 de março de 1997. A conferência foi o ponto culminante das comemorações dos 50 anos de existência da Associação e foi dedicada ao tema ``The Next 50 Years of Computing''. Alguns dos especialistas mais formidáveis da área deram os seus depoimentos que foram publicados em livro [12]. Alguns números recentes da Communications da ACM trazem entrevistas com alguns dos palestrantes. Maiores informações podem ser encontradas em [59].