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artigo importante e bem pensado



Caros colegas,


Segue um artigo, publicado na última segunda-feira no jornal Valor, que me
parece muito oportuno e que converge para os mesmos pontos de vista do
projeto Knowware-telementor.

Destaco a percepção da relação entre "a nova natureza do trabalho" e os
modos de percepção do tempo no capitalismo atual.

saudações a todos
Gilson Schwartz
Professor Visitante
Instituto de Estudos Avançados
USP
Grupo de Informação e Comunicação

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Nº 173, Segunda-feira, 8|1|2001
Comércio exterior Quatro empresas estrearam no cobiçado grupo dos grandes
exportadores do Brasil

São quatro os novos sócios do clube

Denise Neumann e Denise Chrispim Marin | De São Paulo e Brasília




Estratégia alemã
O DrKW, banco de investimentos
do Dresdner, veio para ficar. Segundo o presidente do Conselho, Berndt
Fahseholz, todas as áreas
de atuação do banco serão concentradas no Brasil.



Foto: Rosane Marinho | Valor
Brasil ganha fábrica de placas da LG

Corte de juros nos EUA não reduz temor

Empresas de olho no carro a hidrogênio

Seguros crescem com serviços públicos
Mercado Investidores têm ganhos extraordinários nos primeiros dias de 2001
Gestão

Abrir caminho para a inteligência coletiva

Maria Lúcia Goulart Dourado

Trabalhar é aprender e produzir conhecimento

Até há pouco tempo, as empresas estavam organizadas para ser eficientes em
um ambiente empresarial estável. No atual cenário de mudança, as
organizações vivem, em todo o mundo, um profundo processo de reavaliação de
suas idéias.

Elas estão questionando a lógica de suas estruturas tradicionais, criando
novas estruturas que lhes permita lidar com a turbulência causada pelas
flutuações do mercado, avanços tecnológicos e condições sociais
inconstantes.

Impõe-se, cada vez mais, a criação de um modelo mental flexível, com uma
nova visão da importância da aprendizagem. Vivemos na "Sociedade da
Informação e do Conhecimento" e a capacidade coletiva de aprender é fator
decisivo para a sobrevivência das organizações.

A nova natureza do trabalho acaba com a dicotomia de aprender e trabalhar em
tempos diferentes. Cada vez mais, trabalhar significa aprender e produzir
conhecimento. O conceito de ensino "assincrônico" provoca uma revolução nas
estruturas tradicionalmente imóveis de espaço, hierarquia e tempo.

Para uma parcela crescente da população, o trabalho não é mais a execução
repetitiva de uma tarefa prescrita, mas sim uma atividade complexa, na qual
a solução inventiva de problemas, a busca de novos dados, a coordenação de
equipes e a gestão de recursos humanos ocupam lugar de destaque.

E, finalmente, temos de considerar a revolução provocada pela informática e
pelo uso da Web, incorporando tecnologias intelectuais que ampliam,
exteriorizam e alteram muitas funções cognitivas humanas, como a memória
(banco de dados, hipertextos, fichários digitais), a imaginação
(simulações), a percepção (realidades virtuais) e os raciocínios
(inteligência artificial, e modelos de fenômenos complexos).

Tais tecnologias intelectuais favorecem novas formas de acesso à informação:
navegação hipertextual, busca da informação através de novos estilos de
raciocínio e conhecimento. Como essas tecnologias intelectuais, sobretudo de
memórias dinâmicas, são disponibilizadas em documentos digitais ou em
softwares disponíveis em rede, elas podem ser compartilhadas por um grande
número de indivíduos, incrementando assim, o potencial de inteligência
coletiva.


Aprendizado Cooperativo

A transmissão do conhecimento implica outro tipo de relação, através dos
mundos virtuais pelos quais as comunidades descobrem e constróem seus
objetos e se conhecem como "coletivos inteligentes". O ideal mobilizador da
informática é a inteligência coletiva, a valorização, a utilização otimizada
e a sinergia das competências, a imaginação e as energias intelectuais,
independente de suas diversidades qualitativas e de sua localização.

Este ideal de inteligência coletiva passa pela colocação em comum da
memória, imaginação e experiência, por uma prática banalizada do intercâmbio
de conhecimentos e novas formas de organização e coordenação flexíveis e em
tempo real.

À medida que aumenta a demanda por educação, torna-se impossível aumentar
proporcionalmente o número de professores. Audiovisual, multimídia
interativa, TV educativa, ensino assistido por computador e por cabo, e até
técnicas clássicas de ensino a distância, fundamentadas essencialmente na
escrita e monitoradas por telefone, fax, ou internet.

Todas estas possibilidades, de maior ou menor pertinência técnica, conforme
seu conteúdo, situação e necessidades do aprendiz, podem ser utilizadas e já
têm sido amplamente testadas.

Além disso, os indivíduos suportam cada vez menos acompanhar cursos rígidos
e uniformes, que não correspondam às suas reais necessidades e às
especificidades de seu trajeto de vida. Existe um novo paradigma de
navegação, caracterizado por uma busca do conhecimento ao mesmo tempo maciço
e personalizado, por novas vias de acesso.

Os especialistas reconhecem que a distinção entre ensino "presencial" e "a
distância" será cada vez menos pertinente, pois o uso das redes de
telecomunicações e dos suportes multimídias interativos está se integrando
às formas de ensino mais clássicos.

Mais importante é implementar os novos paradigmas de aquisição dos
conhecimentos e da constituição do saber. A direção mais promissora, que
traduz a perspectiva da inteligência coletiva no campo educativo, é a do
aprendizado cooperativo já praticada com o computador..

Nos novos campos virtuais, professores e estudantes compartilham recursos
materiais e informacionais. As últimas informações atualizadas tornam-se
facilmente acessíveis por intermédio de bancos de dados em linha e da Web.

Os estudantes podem participar de conferências eletrônicas com os melhores
pesquisadores, de qualquer ponto do planeta. Os professores aprendem ao
mesmo tempo que os estudantes e atualizam continuamente, tanto seu saber
teórico, quanto suas competências pedagógicas.

A função principal do docente não é mais apenas a difundir conhecimento -
sua competência desloca-se para incentivar a busca do aprender e do pensar
com autonomia. O docente torna-se o animador da inteligência coletiva e sua
atividade é centrada no acompanhamento e gerenciamento do aprendizado e,
principalmente, na provocação pela busca do novo.

Essa perspectiva traz uma profunda mudança na relação com o saber. O que
está em jogo, tanto no plano da redução de custos como no acesso de todos à
educação, não é tanto a passagem do presencial para a distância, e tampouco
da escrita e oral tradicionais para multimídia.

É a transição de uma educação e uma formação estritamente
institucionalizadas, com o domínio intelectual do professor, para uma
situação de intercâmbio generalizado e democratizado do saber, com a
ampliação dos níveis de liberdade de cada aprendiz .


Maria Lúcia Goulart Dourado é Professora da Fundação Dom Cabral, psicóloga,
com Mestrado em Educação no IESAE/Fundação Getulio Vargas


E-mail fdcimprensa@domcabral.org.br