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Aula no IEA



Aos participantes do Grupo Informação e Comunicação:

A próxima aula aberta do meu projeto de pesquisa ocorrerá no IEA, na próxima
segunda-feira, das 14 às 16 horas.

Na primeira aula introduzi o provocativo texto de Frank Webster que, em
suma, denuncia o caráter ideológico das visões da sociedade da informação
como uma nova etapa da história econômica ou mesmo uma transformação mais
essencial do próprio capitalismo.

Fiz então o contraponto com Garnham, estudioso da mídia que, como Webster,
nos recomenda cautela diante das grandes narrativas históricas mas também
diante do relativismo pós-moderno, que nega sentido à história ou mesmo a
considera apenas uma ficção.

Terminei apontando como desafio encontrar um caminho alternativo ao
determinismo marxista (e grandes narrativas do mesmo teor) e ao relativismo
pós-moderno. O próprio Garnham ajuda a identificar esse espaço, que é a
rigor um espaço político de negociação de projetos de emancipação social.

Dessa perspectiva, começa a ficar claro um primeiro contorno da questão mais
ampla do "espaço-tempo" como uma construção social e política, sujeita tanto
aos imperativos éticos quanto a uma série de condicionantes de ordem
econômica e institucional.

O próprio Garnham, aliás, examina com mais detalhe esses condicionantes na
busca de uma racionalidade condicionada ("bounded rationality") que
caracteriza as relações entre os agentes e a estrutura, apoiando-se
fortemente nas contribuições de Kant e Habermas. Nota: para quem não leu
ainda, recomendo o mais recente livro de Gilberto Dupas, que examina essas
questões de modo muito semelhante.

Na próxima aula pretendo apresentar com mais detalhe a análise que Garnham
faz dessa racionalidade condicionada, a partir da qual os fenômenos de mídia
e sobretudo a teoria da sociedade da informação ganham novo sentido. Ele
apresenta uma síntese muito clara das principais tendências na análise
econômica do fenômeno. Se houver tempo, entraremos também no exame da
contribuição de Boltanski, ainda no terreno dos macrodiagnósticos mas com
uma metodologia distinta da usada por Garnham.

O roteiro mais geral do projeto é, uma vez consideradas essas discussões no
campo da visão histórica, partir para a literatura mais específica nas áreas
de economia, administração de empresas, educação e filosofia moral. A
ambição, ao final do trajeto, é no mínimo identificar com mais clareza e
precisão as alternativas de interpretação da mudança contemporânea, sob o
impacto das tecnologias de informação e comunicação e, idealmente, formular
estratégias políticas e operacionais consistentes com uma ou mais dessas
alternativas.

Embora seja um roteiro bastante ambicioso, o fato é que dispomos já de uma
vasta literatura que trata da questão com grande seriedade, facilitando o
trabalho de sistematização. Pretendo, ao longo do percurso, manter sempre
uma atitude crítica e de identificação de polêmicas, como fizemos já na
primeira sessão.

Há por fim uma questão prática que diz respeito aos textos usados: preciso
saber quantas pessoas querem obter cópias para fazer a devida requisição.
Acho que podemos na próxima sessão elaborar uma lista e preferencialmente
distribuir as cópias com antecedência.

Saudações a todos,

Gilson Schwartz
Professor Visitante
IEA-USP