Análise Preliminar dos Dados Sísmicos de Abril de 2012
Alair Pereira do Lago1
25 de maio de 2012
Resumo
O dia 11 de abril de 2012 foi
um dia único dentro da história da geofísica de nosso
planeta. Expomos nesta análise preliminar as evidências científicas
que nos apontam para o fato de que este dia foi tão
especial. Ademais, esperamos lançar pistas que possam ser úteis a um
eventual especialista, de posse de mais dados além do que dispomos,
interessado em aprofundar-se nas descobertas das causas desta
intrigante singularidade.
No dia 11 de abril de 2012, tivemos alerta de tsunami no
Oceano Índico, por conta de uma sequência de terremotos com dois de
magnitude acima de 8, ocorridos a oeste da ilha de Sumatra, na
Indonésia. Para se entender a particularidade deste fato, convém
observar que foram registrados 89 terremotos de magnitude2 pelo menos 8.0 durante os 41028 dias
transcorridos de 1/1/1900 a
30/4/2012 [16]. Somente os
dois últimos, os do dia 11/4/2012, ocorreram no mesmo dia. O primeiro
deles, ocorrido às 08:38 UTC, foi rapidamente avaliado com magnitude
8.9 graus, sendo reavaliado para magnitude 8.6 posteriormente. O
segundo, ocorrido duas horas depois às 10:43 UTC, foi avaliado com 8.2
graus. Além destes dois terremotos, outros 43 dentre os 89 tiveram
magnitude pelo menos 8.2, enquanto que 44 tiveram magnitude 8.0 ou
8.1. Apenas oito tiveram magnitude maior que 8.6, enquanto que quatro
deles tiveram magnitude 8.6, inclusive o primeiro terremoto do dia
11/4/2012.
Quase metade destes 89 tremores, 43, se deram na primeira metade do
século passado, o que mostra uma distribuição quase que equânime entre
os tremores de magnitude ao menos 8, ao se comparar os primeiros
cinquenta anos do período aos demais. Em contraste, dos doze
terremotos mais intensos, os de grau ao menos 8.6, apenas o terremoto
do Equador-Colômbia em 1906 com 8.8 graus ocorreu na primeira metade
do século passado, o que mostra uma clara
-
tendência de intensificação dos maiores tremores registrados.
Dos demais, três tremores com magnitude ao menos 8.6 foram registrados
na década de 50 e outros três na década de 60. Da mesma forma que as
décadas de 10, 20, 30 e 40, as décadas de 70, 80 e 90 experimentaram
uma relativa calmaria e não registraram terremotos assim intensos. Os
cinco tremores restantes dos doze mais intensos, quase metade
dos terremotos com magnitude ao menos 8.6 portanto, ocorreram nos
últimos oito anos, confirmando a mencionada tendência de
intensificação dos terremotos mais violentos.
Convém que se observe que estes 89 não são necessariamente os
terremotos que mais mataram. Mesmo terremotos mais fracos, mas com
epicentros pouco profundos sob regiões mais densamente povoadas podem
causar maiores estragos. É o caso do terremoto do Haiti de 2010, com
7.0 graus de magnitude e cerca de 316 mil
mortos [15]. No mesmo ano, o Chile,
mais preparado para conviver com terremotos, foi provado com um dos
maiores terremotos da história com 8.8 graus de magnitude e muita
destruição na região de Concepción. O número de mortes felizmente foi
bem menor, 507. O terremoto de 7.9 graus de 2008 na China também não
foi incluído e matou cerca de 87 mil pessoas, pouco mais que as cerca
de 80 mil vítimas fatais no Paquistão em 2005 por um tremor de 7.6
graus. Mesmo um tremor de magnitude 6.6 como o do Irã em 2003 levou a
mais de 31 mil mortos [15].
De fato, um terremoto de magnitude 6 libera uma quantidade de energia
comparável à de uma bomba atômica como a de Hiroshima, equivalente à
explosão de cerca de 15 kt (15 kilotoneladas de TNT). Convém também
notar que as escalas de magnitude dos tremores são
logarítmicas. Seguindo as convenções estabelecidas inicialmente por
Richter e Gutenberger, a quantidade de energia liberada e seu
potencial de destruição são multiplicados por 1000 a cada dois graus
de magnitude [8]. Assim sendo, um
terremoto de magnitude 8 equivale à explosão de cerca de mil bombas de
Hiroshima.
Figure 1: Evolução da quantidade de tremores com magnitude mínima 5, 6, 7 e 8 ao longo de quatro décadas
Assim convém-nos também examinar os tremores de magnitude menor que
8.0. Também aqui se observa uma tendência de um aumento constante no
número de tremores. Por exemplo, nas décadas de 1980, 1990, 2000 e
2010 podemos observar3
respectivamente 776, 1255, 1589 e 1929 tremores com magnitude ao menos
6, um aumento de 149% em 30 anos. Para tremores de magnitude ao
menos 8.0, temos respectivamente 3, 7, 13 e 17 tremores, com um
aumento de 467% em três décadas. O gráfico da
figura 1 exibe este crescimento, bem como
aquele verificado para tremores de magnitude ao menos 5 e ao menos 7.
É sabido que grandes tremores são seguidos de tremores menores, os
tremores de repique. Para que se possa compreender quão singular foi
o fenômeno que culminou com os tremores de magnitude 8 do dia 11 de
abril, e o quanto isto mexeu com a própria geologia terrestre, merece
que observemos os tremores de repique subsequentes. Para tanto,
examinaremos os grupos formados pelos tremores de magnitude ao
menos 6.0 no dia exato (UTC) e no dia seguinte dos maiores
terremotos já registrados. Além de contar os tremores de cada
grupo, também mediremos seu diâmetro, a maior distância entre
os epicentros de dois tremores do grupo. Como usual em navegação, a
partir das latitudes e longitudes, a distância é computada segundo
fórmula de Haversine [14]. Convém observar
que os tremores de um grupo podem ser circunscritos a uma
circunferência de raio não maior que 87% de seu diâmetro.
De acordo com os registros públicos sobre os quais nossa análise se
baseia [3], dos oito tremores
com grau ao menos 8.7, o tremor do Alaska de 1964 foi o primeiro a
registrar repiques conhecidos com magnitude ao menos 6. Assim, nesta
análise, não mais mencionaremos: o terremoto de grau 8.8, no Equador,
em 1906; o de 9.0, na Rússia, em 1952; o de 9.5 graus, no Chile, em
1960; o de 8.7 graus, em Rat Islands, Alaska, em 1965. Compararemos o
grupo dos tremores de 11 e 12 de abril, portanto, aos tremores
principais e seus repiques registrados de: Prince William Sound,
Alaska, em 1964; Indonésia, em 2004; Chile, em 2010; Japão, em 2011.
Nos dois dias do terremoto ocorrido a 28/03/1964 no Alaska, foram
registrados 12 tremores de magnitude ao menos 6, com um diâmetro de
632 kilômetros. Se a magnitude do abalo principal foi 9.2, a do maior
repique foi 6.6. Junto ao abalo ocorrido a 26/12/2004 na Indonésia,
foram registrados também 12 tremores nos dois dias, com um diâmetro de
1203 kilômetros. Se a magnitude do abalo principal foi 9.1, a do maior
repique foi 7.2. Nos dois dias do tremor do Chile de 2010, foram
observados 13 tremores, com um diâmetro de 1690 kilômetros. Se a
magnitude do abalo principal foi 8.8, a do maior repique foi 7.4. Uma
marca campeã de 45 abalos foi observada nos dois dias relativos ao
terremoto de 11/03/2011, no Japão, ainda que circunscritos a uma
pequena área (quadrado tracejado na figura 2),
com diâmetro de 610 kilômetros apenas. Se a magnitude do abalo
principal foi 9.0, a do maior repique foi 7.9.
Local | Data | Hora | Princ | Repiq | Gpo. | Diâm. |
Alaska | 28/03/1964 | 03:36 | 9.2 | 6.6 | 12 | 632 |
Indonésia | 26/12/2004 | 00:58 | 9.1 | 7.2 | 12 | 1203 |
Chile | 27/02/2010 | 06:34 | 8.8 | 7.4 | 13 | 1690 |
Japão | 11/03/2011 | 05:46 | 9.0 | 7.9 | 45 | 610 |
Indonésia | 11/04/2012 | 08:38 | 8.6 | 8.2 | 8 | 17334 |
Table 1: Comparação entre o tremor do dia 11/04/2012 com os maiores tremores com repiques de magnitude maior que 6 conhecidos. Maiores valores na coluna em negrito e menores valores em itálico.
Em contraste, os 8 abalos dos dias 11 e 12 de abril de 2012 tiveram um
diâmetro de 17 mil e 334 kilômetros! Ademais, se a magnitude do abalo
principal foi 8.6, a do maior repique foi 8.2, uma perda de apenas 0.4
em magnitude! Destes oito abalos, os quatro primeiros ficaram
circunscritos a oeste da ilha de Sumatra, na Indonésia, Ásia, com um
diâmetro de 403 kilômetros. Estes abalos ocorridos nas quatro
primeiras horas após o primeiro e mais forte tremor incluem os
terremotos de magnitudes 8.6 e 8.2. De forma inusitada porém, depois
de dez horas sem tremores registrados de magnitude ao menos 6, vieram
mais quatro abalos praticamente na extremidade oposta do globo, na
costa oeste na América do Norte. O primeiro destes abalos deu-se junto
ao estado de Oregon, ao norte da Califórnia. O segundo abalou poucos
minutos depois o estado de Michoacan, ao sul do México, numa distância
de 3662 kilômetros do abalo do Oregon. Observe ainda que isto é mais
que o dobro do diâmetro dos 13 tremores do Chile em 2010. Cerca de
oito horas depois, em questão de minutos, dois outros abalos com
epicentros bem próximos ocorreram na costa mais ao norte do México,
bem próximo à divisa entre os estados peninsulares da Baja
California. Este grupo intermediário dista 1583 kilômetros do
epicentro do tremor ao sul e 2107 kilômetros do epicentro do tremor do
Oregon. Vide a ilustração dos oito tremores sinalizados com um círculo
preto na figura 2 e um resumo comparativo na
tabela 1.
Figure 2: Terremotos de magnitude ao menos 6 nos dias 11-12 (8 círculos) e 13-17 (6 quadrados) de abril de 2012. O mês teve apenas outros 5 terremotos de magnitude ao menos 6 (tabela 3). Quadrado tracejado circunscreve 45 terremotos de 11-12/03/2011.
Além do fato único de ter havido um duplo tremor de magnitude 8 no
dia 11 de abril, é inusitada também a ação global das causas destes
tremores em todo o globo terrestre. Também isto parece ser inédito e
intrigante aos especialistas. De fato, no dia 13 de abril o jornal
Bucharest Herald, na Romênia, publicou artigo com os seguintes
comentários aparentemente perplexos do sismologista líder de seu país:
-
The Earth is shaking! Scientists find no explanation to the 39
earthquakes that rocked the planet in just two days. "Something is
wrong! There are too many strong earthquakes" believes Romania’s
top seismologist, Gheorghe Marmureanu, who finds the latest
Indonesian quake very unusual. [...] "Statistics show that, in this
region of Asia, there is one big earthquake every 500 years,
roughly. However, since 2004, there already were three quakes with
magnitudes above 8, which is out of seismological
statistics. Something is wrong! There are too many big quakes in the
Indonesian area," Marmureanu warns.4 [9]
Dois dias depois, o jornal Croatian Times publicou
artigo intitulado "Quake Expert: Earth Cracking Up"5 onde o jornal assim resumia as
declarações de Marmureanu:
-
"A leading earthquake scientist has warned that the planet could be
cracking up after a series of massive quakes in just 48
hours."6 [17]
Data | Hora | Mag |
2004/12/26 | 00:58 | 9.1 |
2005/03/28 | 16:09 | 8.6 |
2007/09/12 | 11:10 | 8.5 |
2012/04/11 | 08:38 | 8.6 |
2012/04/11 | 10:43 | 8.2 |
Table 2: Os cinco tremores de magnitude 8 na região da ilha de Sumatra
De fato, com estes duplos abalos do dia 11, são cinco os
tremores registrados com magnitude ao menos oito na costa oeste da
ilha de Sumatra, Indonésia, conforme podemos conferir na
tabela 2. O primeiro deles, o de 2004, provocou
tsunami e um total de 227 mil e 898 mortes pelo mundo, 170 mil dos
quais se verificaram na própria província de Aceh, na ilha de Sumatra,
o que explica o pânico que se viu na localidade quando o alerta de
tsunami foi levantado no dia 11 de abril. Ademais, com dados do dia
26 mais consolidados que os do dia 13, podemos observar que foram
registrados 54 terremotos de magnitude 5 ou mais nos dias 11 e 12 de
abril.
Se nos dias 11 e 12 houve 8 tremores de magnitude ao menos 6, mais 6
tremores da mesma classe de magnitude foram registrados pelo globo até
o dia 17. Não foram registrados novos tremores desta magnitude nos
dias 18, 19 e 20. Destes tremores, três foram observados junto ao
extremo sul da América do Sul, dois outros entre a Papua e a Nova
Zelândia e somente um deles foi verificado na região de Sumatra, o que
confirma que as causas naturais que provocaram os duplos tremores do
dia 11 e uma atividade sísmica intensa na região produziram também um
impacto global no planeta que perdurou por vários dias, ainda que de
forma menos intensa que a oeste da ilha de Sumatra. Pode-se ver a
localização destes novos tremores na figura 2,
onde eles se encontram sinalizados com um pequeno quadrado preto.
Como podemos verificar na tabela 3, apenas cinco
outros tremores de magnitude ao menos 6 foram verificados fora desta
semana em abril de 2012.
Dia | Hora | Mag | Latitude | Longitude | Local |
02 | 17:36 | 6.0 | 16.456 | -98.296 | Acapulco |
06 | 16:15 | 6.1 | -4.566 | 153.502 | I. Salomão |
11 | 08:38 | 8.6 | 2.294 | 93.078 | Sumatra |
11 | 09:27 | 6.0 | 1.281 | 91.730 | Sumatra |
11 | 10:43 | 8.2 | 0.796 | 92.462 | Sumatra |
11 | 11:53 | 6.4 | 2.929 | 89.534 | Sumatra |
11 | 22:41 | 6.0 | 43.584 | -127.638 | Oregon |
11 | 22:55 | 6.7 | 18.218 | -102.681 | Michoacan |
12 | 07:06 | 6.0 | 28.854 | -113.029 | Baja Calif. |
12 | 07:15 | 7.0 | 28.624 | -113.116 | Baja Calif. |
14 | 10:56 | 6.2 | -57.677 | -65.296 | T. do Fogo |
14 | 22:05 | 6.3 | -18.972 | 168.735 | Vanuatu |
15 | 05:57 | 6.2 | 2.583 | 90.268 | Sumatra |
17 | 03:50 | 6.7 | -32.701 | -71.484 | Chile |
17 | 07:13 | 6.8 | -5.462 | 147.120 | Papua |
17 | 19:03 | 6.2 | -59.005 | -16.655 | O. Antárt. |
21 | 01:16 | 6.7 | -1.604 | 134.276 | Papua |
23 | 17:36 | 6.0 | -28.487 | -177.352 | I. Fiji |
28 | 10:08 | 6.7 | -18.679 | -174.707 | I. Fiji |
Table 3: Terremotos de abril de 2012 com magnitude ao menos 6.0. Dos
19 tremores, 14 ocorreram na semana de 11 a 17, sendo que 8 deles
ocorreram nos dias 11 e 12.
Se o tremor principal do dia 11 não foi o maior da história, parece
ter sido o de maior magnitude entre aqueles abalos conhecidos que
tenham sido provocados em fendas verticais (também chamadas de
transcorrentes ou strike-slip), como observaram diversos
especialistas.
-
The biggest earthquakes tend to occur in subduction zones where one
plate of the Earth's crust dives under another. This grind produced
the 2004 magnitude-9.1 Indian Ocean disaster and the
magnitude-9 Japan quake last year.7
- Wednesday's magnitude-8.6 occurred along a strike-slip fault
line similar to California's San Andreas Fault. Scientists say it's
rare for strike-slip quakes, in which blocks of rocks slide
horizontally past each other, to be this large.8
"It's clearly a bit of an odd duck," said seismologist
Susan Hough of the U.S. Geological Survey in Pasadena,
Calif.9
[...]
Wednesday's quake was followed by a magnitude-8.2 aftershock. Both
were strike-slip quakes.10
"A week ago, we wouldn't have thought we could have a
strike-slip earthquake of this size. This is very, very large,"
said Kevin Furlong, a professor of geosciences at Penn State
University.11
So large, in fact, that the main shock went into the history
books. [...] It's probably the largest strike-slip event
though there's debate about whether a similar-sized Tibet quake in
1950 was the same kind.12
A preliminary analysis indicates one side of the fault lurched 70
feet [21 meters] past the other - a major reason for the quake's
size. By contrast, during the 1906 magnitude-7.8 San Francisco
earthquake along the San Andreas - perhaps the best known
strike-slip event - the ground shifted 15 feet [5m].13
The Sumatra coast has been rattled by three strong strike-slip
quakes since 2004, but Wednesday's was the largest.14 [4]
Figure 3: Gheorghe Marmureanu, sismologista líder na Romênia foi
responsável pela implantação de um sistema de monitoramento de
terremotos para
Bucareste [18]
De fato, no raio de 50Km do tremor de magnitude 8.6, foram
registrados três outros tremores do tipo strike-slip nas datas
de 19/04/2006, 04/10/2007 e 10/01/2012, respectivamente com magnitudes
6.2, 6.2 e
7.215. O
mais forte dos três possui magnitude 1.4 menor que o tremor mais forte
de 11/4/2012, o que implica que a energia liberada por este tremor foi
126=10001.4/2 vezes maior que o maior dos precedentes.
-
Seismologists say last week's powerful earthquake off western
Indonesia increased pressure on the source of the devastating 2004
tsunami: a fault that could unleash another monster wave sometime in
the next few decades.16
"The spring was pushed a little bit tighter," said Kerry
Sieh, director of the Earth Observatory of Singapore.17
The timing of another megathrust temblor, if it's on the way,
"could have been advanced by a few years," he said.18 [...]
Stresses loading up on the fault for centuries were relieved only
about halfway eight years ago, Sieh [said]. And last week's
tremor effectively squeezed the overlapping tectonic plates that
form the fault.19 [...]
Danny Hilman Natawidjaja, a geologist with the Indonesia's
Institute of Science, agreed that last week's quake piled a small
amount of new stress onto the megathrust, and that "both Aceh
and Padang need to be prepared."20 [5]
Este aumento da tensão das placas observado acima também é
surpreendente, pois o que seria de se esperar é que os tremores desde
2004 na região tivessem a tendência de aliviar paulatinamente estas
tensões ainda represadas no subsolo e não aumentar as pressões sobre
as falhas sobre as quais agiu o tremor de magnitude 9.1 ocorrido em
26/12/2004. De certa forma, isto é uma evidência de que as origens dos
tremores de 11/04/2012 possam ser dissociadas das causas do megatremor
de 2004, e talvez até mesmo mais potentes.
Uma possível explicação poderia ser encontrada fora até mesmo de
causas geológicas da Terra. Por exemplo, o impacto de um meteoróide
com a Terra, como o de Revelstoke na costa oeste do Canadá, a
31/3/1965, foi avaliado como de 20kt (20 kilotoneladas de
TNT) [12], enquanto que o da
Indonésia a 8/10/2009 foi avaliado com
50kt [13].
A 22/04/2012, dois dias após uma bola de fogo ser vista em três
estados do sudeste brasileiro, foi registrado o impacto de cerca de
5kt de um meteoróide do tamanho de uma minivan sobre a Califórnia,
depois de ser observado como uma bola de fogo cortando o céu do estado
de Nevada em plena luz do
dia [2]. Apesar de
se usar o termo impacto, de fato o que houve nestes casos foi uma
explosão na atmosfera, sendo que nos casos norte-americanos foram
encontrados meteoritos no solo das regiões em questão. Ainda assim,
não encontramos qualquer informação a respeito de eventuais crateras
nem tampouco terremotos que tenham sido causados pelo impacto dos
meteoritos com o solo. Embora menos estudado, quando houve a queda do
meteorito de Arequipa, Peru, a 2/2/2004, os sismógrafos locais
registraram tremores de magnitude 3.8 nos instantes próximos à queda,
sendo que um meteorito e uma cratera foram encontrados dois anos
depois nas imediações, em
Aplos [6] [7].
Figure 4: Sobreposição de 3 seg de imagens do meteoro visto em
Madison, Wisconsin a 11/04/2012 [1]
Esta bola de fogo do dia 22/4/2012, observada sobre os céus da
Califórnia e Nevada nos EUA, era brilhante a ponto de ser observada e
fotografada mesmo de dia. Mesmo assim não foi o meteoro mais relatado
em abril de 2012, conforme os relatos registrados no
site21
The Latest Worldwide Meteor / Fireball Reports22, um site
bastante conhecido por aqueles que se interessam por informações mais
ágeis sobre meteoros, principalmente em solo norte-americano. Segundo
os registros ali feitos, o mês de abril de 2012 apresentou uma média
de cerca de 21 relatos diários de meteoros avistados, entre os quais,
diversos relatos atribuídos ao meteoro do dia 22, que apesar da
raridade e da explosão ouvida, não foi o dia mais profícuo em
relatos. Somente cinco dias obtiveram uma quantidade de relatos igual
ou superior à média de 21 para um mês que apresentou uma mediana de
8.5 relatos por dia. Os cinco dias mais "meteóricos" foram
justamente os dias 11, 2, 22, 12 e 10, respectivamente com 238, 92,
54, 41 e 21 observações de meteoros relatadas.
Uma inspeção rápida dos relatos do dia 11, tão rico em tremores de
magnitude 6 ou superiores ao longo do planeta mas também
coincidentemente tão rico relatos de meteoros, nos permite observar
que embora a maioria dos 238 relatos tenha sido sobre o mesmo meteoro
observado sobre os céus de estados do centro-oeste norte americano, às
20:21hs locais [1],
diversos relatos foram feitos de outros meteoros observados sobre
regiões povoadas do planeta. Também os dias 10 e 12 foram ricos em
relatos.
Table 4: Sete asteróides com distância menor que 0.06 ua em relação à Terra
registrada entre os dias 10 e 13 de abril de 2012
De fato, conforme os registros de asteróides mais próximos da Terra
feitos pela NASA23, sete asteróides
com órbitas que cruzam com as da Terra estiveram próximos dela por uma
distância não superior a 0.06 au (6% da distância média da Terra ao
Sol) entre 08:35 hs do dia 10 e 12:08 do dia 13 de abril de 2012, como
pode ser conferido na tabela 4. Ademais, a
proximidade de asteróides com frequência traz junto de si outros
corpos celestes eventualmente menores e não catalogados, o que pode
possivelmente explicar a riqueza de relatos de meteoros entre os dias de
10 a 12 de abril. Convém observar que um asteróide cuja trajetória
cruze com a da Terra é considerado potencialmente perigoso pela
NASA24 (
Potentially Hazardous Asteroids no inglês) quando sua
trajetória o coloca numa distância não superior a 0.05 au e a
magnitude absoluta (do brilho observado do asteróide) não excede
22.0. Em particular, devido à restrição da magnitude, o asteróide 2004
FG11 é o único dos sete asteróides da tabela 4
que é classificado como potencialmente perigoso, já que a 20/05/2010
esteve a 0.0390 au da Terra. Os quatro dígitos iniciais dos códigos
dos asteróides referem-se ao ano em que foram descobertos, de forma
que dois destes sete asteróides já eram conhecidos desde 2004 enquanto
que a maioria deles, os outros cinco, foram descobertos somente neste
ano de 2012, muito possivelmente próximo aos dias de maior
aproximação25.
Dada a proximidade relativa destes sete asteróides em relação à Terra
entre os dias 10 e 13 de abril de 2012, dados os vários relatos de
meteoros observados no dia 11, dado o fato inédito de termos dois
terremotos com magnitude acima de oito no mesmo dia 11 de abril, dado
o fato único de termos tantos tremores de magnitude ao menos 6
espalhados pelo globo, tanto nas primeiras 24 horas após o tremor de
magnitude 8.6 (outros sete) quanto na primeira semana subsequente
(outros seis tremores), ao contrário do que acontece quando observamos
os tremores de repique de um grande tremor que são sempre localizados,
dado o estranho aumento observado das tensões sobre a falha que gerou
o megatremor de magnitude 9.1 em 2004 na região, é de se perguntar se
os tremores observados no dia 11 e na semana subsequente não terão
sido provocados por um evento também singular, de efeito mais global,
como por exemplo a queda de um pequeno asteróide sobre a Terra. Tendo
acontecido tal fato, eventualmente sobre o próprio Oceano Índico,
certamente poderíamos esperar por avisos de tsunami e, conforme o
tamanho do asteróide, terremotos de grande magnitude, como foram
observados.
Figure 5: Cratera do Meteoro, Arizona
Diversos cientistas acreditam que a famosa cratera do meteoro em
Winslow no Arizona, com 1.2km de diâmetro, foi formada pela colisão de
um asteróide originariamente de cerca de 40 metros de diâmetro e
300000 toneladas, com a cratera sendo formada pela explosão de pelo
menos 2500kt oriunda da parte do asteróide que teria resistido ao
atrito com a
atmosfera [11][10]. Que
os dados sísmicos nos apontam para uma singularidade excepcional no
dia 11 de abril de 2012, nós já observamos. Isto em si já faz deste
dia um dia único na história da geofísica terrestre. Quem sabe não
possa ser uma queda de um novo asteróide a explicação para tantas
singularidades observadas no dia 11 e nos dias subsequentes? A
análise dos dados sísmicos do dia seriam de grande utilidade para
confirmar ou descartar esta hipótese explicativa!
(PDF disponível: http://www.ime.usp.br/~alair/FilomenaAndTheKing/2012/11deAbril/11deAbril.pdf)
Referências
- [1]
-
AOSSRooftopCameras.
2012 april 11 - meteor (west view).
http://www.youtube.com/watch?v=mN1p0hOuIBU, April 11 2012.
Meteor spotted above Madison, Wisconsin on evening of April 11, 2012.
Meteor enters picture at about 20:21:24. AOSS West Rooftop Camera. Videos
provided courtesy of SSEC and the AOS Department, UW-Madison.
- [2]
-
Nancy Atkinson and Bill Cooke.
Fireball over california exploded with force of 5 kilotons.
Universe Today, April 24 2012.
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Footnotes:
1Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo.
2As
medidas de magnitude fornecidas são as magnitudes de momento
propostas por Kanamori [8] em 1977 e
que estendem a conhecida escala Richter sem os efeitos de saturação
para grandes tremores.
3Os valores para a década de 2010 são
projetados para a década a partir da multiplicação dos dados
observados de 1/1/20120 até 30/4/2012 por um fator de 30/7.
4A Terra está tremendo! Os
cientistas não encontram explicação para os 39 terremotos que
abalaram o planeta em apenas dois dias. "Algo está errado! Há
muitos terremotos fortes", acredita o sismólogo líder da Romênia,
Gheorghe Marmureanu, que considera o último o tremor da Indonésia
muito incomum. [...] "As estatísticas mostram que, nesta região
da Ásia, há um grande terremoto a cada 500 anos,
aproximadamente. No entanto, desde 2004, já houve três terremotos
com magnitudes acima de 8, o que está fora das estatísticas
sismológicas. Algo está errado! Há muitos grandes terremotos na
região da Indonésia," Marmureanu
adverte.
5"Especialista
em terremotos: a Terra está rachando"
6"Um cientista líder em terremotos alertou que o
planeta poderia estar sofrendo um colapso após uma série de
terremotos maciços em apenas 48
horas."
7Os maiores terremotos
tendem a ocorrer em zonas de subdução onde uma placa da crosta
terrestre afunda debaixo da outra. Esta moagem produziu o desastre
de magnitude 9.1 em 2004 no Oceano Índico e o terremoto de
magnitude 9 no Japão no ano passado.
8O tremor de
magnitude 8,6 desta quarta-feira ocorreu ao longo de uma linha de
falha transcorrente semelhante à falha de Santo André na
Califórnia. Os cientistas dizem que é raro para terremotos
transcorrentes em que blocos de rochas deslizam horizontalmente
umas sobre as outras serem assim grandes.
9"É claramente um pedaço de um patinho feio", disse a
sismologista Susan Hough do Serviço Geológico dos EUA, em
Pasadena, Califórnia.
10O tremor desta quarta-feira foi
seguido por um tremor de magnitude 8.2. Ambos foram terremotos
transcorrentes.
11"Há uma semana, não teria pensado que
poderíamos ter um terremoto transcorrente deste tamanho. Isto é
muito, muito grande", disse Kevin Furlong, um professor de
geociências na Penn State University.
12Tão grande, de fato, que o choque
principal entrou para os livros de história. [...] É
provavelmente o maior evento transcorrente embora haja debate
sobre se um o tremor de tamanho semelhante no Tibete em 1950 era
do mesmo tipo.
13Uma
análise preliminar indica que um lado da falha deslocou 70 pés [21
metros] além do outro - uma razão importante para o tamanho do
terremoto. Em contraste, durante o terremoto de São Francisco -
de magnitude 7.8 ao longo da falha de Santo André em 1906 -
talvez o evento transcorrente mais conhecido - o solo deslocou
apenas 15 pés [5 metros].
14A costa de
Sumatra foi atingida por três fortes terremotos transcorrentes
desde 2004, mas o da quarta-feira foi o
maior.
15Vide http://earthquake.usgs.gov/earthquakes/eventpage/usc000905e
16Os sismólogos dizem que o forte
terremoto da semana passada além do oeste da Indonésia aumentou a
pressão sobre a fonte do tsunami devastador de 2004: uma falha que
poderia desencadear uma nova onda monstro em algum momento nas
próximas décadas.
17"A mola foi apertada um pouco mais", disse Kerry
Sieh, diretor do Observatório Terrestre de Singapura.
18O
momento de um outro gigante tremor de impulso, se ele está a
caminho, "poderia ter sido adiantado de alguns anos," disse
ele. [...]
19As pressões acumuladas na falha durante
séculos foram aliviadas aproximadamente apenas pela metade oito
anos atrás, Sieh [disse]. E o tremor da semana passada
efetivamente comprimiu as placas tectônicas sobrepostas que
formam a falha.
20Danny Hilman
Natawidjaja, um geólogo do Instituto de Ciências da Indonésia,
concordou que o tremor da semana passada acumulou uma pequena
quantidade de nova tensão sobre a zona de subdução, e que
"tanto Aceh quanto Padang precisam estar
preparadas."
21Vide http://thelatestworldwidemeteorreports.blogspot.com
22Os
últimos relatos mundiais de meteoros e bolas de fogo
23Vide http://neo.jpl.nasa.gov/ca/
24Vide http://neo.jpl.nasa.gov/neo/groups.html
25Mais informações sobre cada um dos asteróides
pode ser obtida da própria NASA através da URL
http://ssd.jpl.nasa.gov/sbdb.cgi?sstr=CODIGO;cad=1, onde
CODIGO é o código do asteróide
(tabela 4), incluindo um espaço em branco. Os
diâmetros estimados foram obtidos pelo conversor disponível em
http://www.physics.sfasu.edu/astro/asteroids/sizemagnitude.html,
com albedo adotado 0.154, conforme adotado pela própria NASA.