Em seu discurso de posse do título, o professor falou sobre sua trajetória na matemática

No dia 6 de setembro de 2024, foi realizada no Auditório Jacy Monteiro a Cerimônia Solene da Congregação do IME para a outorga do título de Professor Emérito ao professor Ivan Chestakov. O evento reuniu autoridades do Instituto, amigos, colegas de trabalho e a esposa do professor, Sra. Helena Chestakov.
Como o sétimo concedido na história do instituto, o título de Professor Emérito é outorgado a professores aposentados que se distinguem por atividades didáticas e de pesquisa que tenham contribuído de modo notável para o progresso da Universidade.
Compondo a mesa da Cerimônia Solene, estavam os professores Sergio Muniz Oliva Filho, diretor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP); Ronaldo Fumio Hashimoto, vice-diretor do IME-USP; David Pires Dias, chefe do departamento de Matemática do IME-USP; e Ivan Chestakov, docente do departamento de Matemática do IME-USP e homenageado da sessão solene.
A Cerimônia também contou com a presença ilustre dos professores Carlos Alberto Barbosa Dantas, pró-reitor de graduação da USP de 1986 a 1989 e diretor do IME-USP de 1982 a 1986; Pedro Alberto Morettin, diretor do IME-USP de 1990 a 1994 e Professor Emérito com o título conferido em abril de 2023; Francisco César Polcino Milles, diretor do IME de 2002 a 2006 e Professor Emérito com título conferido em setembro de 2023; Junior Barrera, diretor do IME-USP de 2018 a 2022; entre outros docentes que prestigiaram a outorga como amigos e colegas do homenageado.

O diretor do IME, Sergio Oliva, deu início a sessão solene com seu discurso, o qual abordou a importância do trabalho do professor Chestakov na internacionalização do Instituto:
O Instituto é feito de memórias. Tem paredes, prédios e livros, mas ele é feito de memórias. As pessoas passam e deixam a memória presente em grupos, na pesquisa, nos corredores e essa marca vai perpetuar. É um prazer estar aqui para consolidar esse título ao professor Ivan, que sem dúvida deixou sua marca no Instituto, por ser um exemplo no seu trabalho, em sua personalidade, e essa marca vai ficar. Essa contribuição que ele deu para o departamento e para o Instituto vai se perpetuar. Eu acho que esse título é um reconhecimento disso, da sua presença, do seu esforço, do seu trabalho e do legado que ele deixa para nós.
Em complemento, o vice-diretor do IME, Ronaldo Hashimoto, reforçou a presença de um legado deixado pelo homenageado ao instituto e destacou:
Hoje, enquanto celebramos o professor Chestakov, também reconhecemos o espírito de dedicação e excelência que ele representa. E queremos também renovar o nosso compromisso de continuar a buscar esse reconhecimento e a qualidade acadêmica.
O professor David Pires Dias, chefe do Departamento de Matemática, cujo homenageado foi docente, pontuou o currículo acadêmico de Chestakov e cedeu sua fala aos professores Henrique Guzzo Junior e Mikhailo Dokuchaev para complementarem as diversas contribuições do professor e compartilharem suas histórias com Ivan Chestakov, sobre como ele chegou ao Brasil como professor convidado e se tornou professor titular pelo IME-USP.
Ivan Chestakov proferiu seu discurso com as primeiras palavras voltadas a agradecer ao Instituto, amigos, colegas e aos membros da congregação pela outorga. Em seguida, detalhou sua trajetória desde o primeiro encontro com a matemática até os dias de hoje:
Eu nasci em uma aldeia pequena siberiana bem longe de qualquer cidade, não só de cidades grandes, mas de qualquer cidade. Então na época não tinha eletricidade, não tinha gás, nem água encanada – água tomávamos no rio –, não tinha transporte regular para outros lugares, se precisássemos sair, precisávamos pedir um cavalo e de carroça eram dois dias até chegar a cidade mais próxima. Ninguém tinha carro nem motos e quando passava algum carro, toda a aldeia corria para aquele lugar para ver.

Só tinha uma escola primária, então quando eu tinha 7 anos eu tive que ir para outra aldeia (…) Na escola secundária, tive sorte que uma professora muito boa de matemática viu algumas habilidades em mim e me levou para uma olimpíada regional na cidade de Irkutsk (…). Naquela olimpíada eu ganhei o primeiro lugar e fui convidado para a Escola de Física-Matemática de Novosibirsk, o que começou uma nova etapa da minha vida.
Chestakov relembra o período da União Soviética, principalmente suas experiências relacionadas ao meio acadêmico. Segundo o professor, foi uma época de “falsa primavera” em que floresciam muitas oportunidades de pesquisa, desenvolvimento artístico e outras atividades também eram impulsionadas. A partir desse movimento, foi construído um centro científico em Novosibirsk, que o professor o lembra como “praticamente uma nova cidade ao lado de Novosibirsk”, com Universidade e vários Institutos de Pesquisa. Sua Escola preparava os alunos para atuarem nesses Institutos, e assim ele entrou na Universidade e iniciou sua trajetória acadêmica.
Com o colapso da União Soviética, o professor relata que para os matemáticos restavam apenas três opções: a primeira, mais adotada pelos alunos, foi aproveitar para se dedicar aos negócios e virar empresário. A segunda, para os que não queriam deixar sua profissão, foi deixar de lado as pesquisas e dar aulas em várias escolas simultaneamente para sobreviver, “foi uma situação difícil, sobretudo para quem trabalhava para o governo, pois o salário era muito baixo com a inflação e por meses eles não receberam”, comentou. A terceira opção, para aquelas que já mantinham boas relações internacionais, foi emigrar para outros países, na maioria dos casos, para os quais os matemáticos receberam convites de universidades, que foi o caso do professor Chestakov.

Ele passou por alguns países, até chegar na Espanha, onde conheceu o professor Henrique Guzzo e foi convidado para o Brasil. “O que me impressionou aqui foi que naquela época tinha a FAPESP”, ressalta, “não via nada parecido em outros países”, destacando a importância da agência de fomento à pesquisa do Estado de São Paulo.
Em suas considerações finais, o professor homenageado faz uma relação sobre as satisfações de seu trabalho:
Nós temos dois tipos de satisfação: a primeira, como somos matemáticos, acho que quem escolheu matemática foi porque gostava de resolver problemas, então você obtém satisfação depois de resolvê-los. Quando você trabalha por meses e às vezes por anos sobre um problema e finalmente resolve, eu adoro essa satisfação. Se for comparar com um alpinista, é como se depois de um árduo caminho você chegasse ao topo da montanha.
Mas tem outro tipo de satisfação. Ora, você está na rua, na estação de metrô ou em um banco e de repente alguém se aproxima de você: “Boa tarde, professor! Você não lembra de mim, mas você me deu um curso de Cálculo, foi muito bom, obrigado!”. É também uma enorme satisfação, você sente que o seu trabalho é importante, compartilhar conhecimento e receber depois agradecimentos.



Ao final da Sessão Solene, a entrega da medalha e do certificado foi realizada logo após a assinatura do termo de concessão de posse do título de Professor Emérito por todos os componentes da mesa. Junto com sua esposa, Helena Chestakov, o professor revelou o quadro com sua fotografia que hoje já compõe a galeria de Professores Eméritos do IME na sala da Congregação.
Confira o álbum de fotos completo, por Sergio Oliveira.
Por Nathalie Rodrigues | Serviço de Apoio Institucional