O COMPUTADOR COMO INSTRUMENTO DO CIENTIFICISMO

Valdemar W. Setzer
Dept. de Ciência da Computação, Universidade de São Paulo
www.ime.usp.br/~vwsetzer
(Versão 1.2 de 28/8/05)

Render unto man the things which are man's
and unto the computer the things wich are the computer's
. Norbert Wiener [1, p. 73]

 

 

Este artigo foi publicado nos Anais do Simpósio Anual da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, São Paulo: ACIESP, 1976, p. 69-88. Para esta versão, foram feitas pequenas alterações no formato e na redação, sem mudar o conteúdo e nem atualizar os argumentos e exemplos. As notas de rodapé foram colocadas entre parênteses no local onde eram citadas. É interessante notar que muitos dos argumentos que usamos naquela época continuam válidos, dezenas de anos depois. A situação mudou para pior no sentido do uso indiscriminado de computadores. Os microcomputadores, que não existiam naquela época, tornaram-se populares e de uso intenso nos lares, nos escritórios e nas escolas, e apareceu a interface gráfica e a Internet. Em particular, note-se já naquela época a nossa preocupação com o uso de computadores na educação, merecendo um capítulo especial no artigo. É interessante comparar nossos argumentos de então com nossos escritos posteriores; para isso, ver artigos em nosso "site" e em nosso livro Meios Eletrônicos e Educação: uma visão alternativa, Vol. 10 da coleção Ensaios Transversais, São Paulo: Editora Escrituras, 2a. ed. 2002.

Introdução

Há alguns anos vem se generalizando certa preocupação com os possíveis impactos sociais dos computadores (usaremos a denominação "computador" para designar "computador eletrônico digital"). A citação introdutória que usamos está contida em um dos primeiros livros escritos a respeito. Pelo menos uma obra do gênero está traduzida para o vernáculo [2]. No entanto, há um aspecto que não pudemos encontrar em nenhuma das trinta obras sobre o assunto a que temos acesso: o computador como instrumento de propagação de imposição da mentalidade cientificista. (Em lugar de usarmos a palavra "cientismo", encontrada em dicionários nacionais [3, p. 352], usaremos a forma "cientificismo" pois isso nos possibilita associar a ela o adjetivo "cientificista".) Como caracterização dessa mentalidade, ou religião, como querem alguns, usaremos um trabalho de A.Grothendieck, famoso matemático francês, que tem certa ligação com nosso país, já que aqui esteve há pouco mais de vinte anos, lecionando na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP a convite do saudoso Jacy Monteiro. Evidentemente, o cientificismo não é uma novidade, podendo-se talvez colocar sua origem nos rumos dados à ciência por Descartes, quanto à idealização e, talvez mais do que qualquer outro, por Newton, quanto à realização prática e o estabelecimento definitivo do método usado hoje em dia. Podemos localizar no século XIX aquilo que chamaríamos de "romantismo científico", isto é, a ilusão de que a ciência viria a resolver todos os problemas humanos e proporcionar a felicidade geral.

Hoje em dia, a ciência serve em grande parte à tecnologia (no sentido inglês da palavra, isto é, referindo-se às máquinas e aos instrumentos); esta, em lugar de servir ao homem, seu criador, o está esmagando, ameaçando a humanidade com vários tipos de destruição, que vão desde a instantânea (guerra nuclear) e a lenta mas visível (poluição), até a sub-reptícia animalização (massificação, cultivo dos instintos, etc.) e, ligado ao nosso tema, a "robotização" do ser humano, como veremos no exemplo do ensino por meio de computadores. Urge conscientizarmo-nos dos perigos que estamos correndo, antes que seja tarde demais (se já não o for).

É importante deixar claro, de início, que não pretendemos atacar a ciência. Ela é inatacável quando bem feita. O que vamos criticar é o método unilateral empregado pelos cientistas, seus preconceitos e, pior, a popularização da ciência sob a forma da mentalidade cientificista que possibilita o engodo dos não-especialistas e o emprego de justificativas para ações sociais, políticas e econômicas, incompreensíveis para a quase totalidade da população.

O cientificismo

Para uma clara caracterização do cientificismo, reportemo-nos a um artigo de A. Grothendieck, publicado no No. 9 da revista Vivre et Survivre de 1971, e reproduzido em [4], juntamente com outros artigos interessantíssimos. Infelizmente temos que ser breves.

Grothendieck denomina de cientificismo à ideologia criada em torno da ciência, ideologia essa "que tem muitas das características de uma nova religião ... Esse poder, principalmente para o grande público, prende-se ao prestígio da ciência, devido ao seu grande sucesso." Além de ser incompreensível para o grande público, do ensino do ensino fundamental ao superior "a ciência é ensinada dogmaticamente, como uma verdade revelada. Dessa forma, no espírito do grande público, o significado da palavra 'ciência' tem essência quase mística e, certamente, irracional ... A ciência é, para o grande público e mesmo para muitos cientistas, como uma magia negra, e sua autoridade é indiscutível e incompreensível." Essa nova religião chegou mesmo, em sua intolerância, a suplantar qualquer religião tradicional. "Mais ainda, ela não se limita a pretender que somente seus próprios mitos sejam verdadeiros; é a única religião que possui a arrogância de chegar a pretender não ser baseada em nenhum mito, mas somente na Razão."

É provável que Grothendieck não se refira à ciência como religião em si, mas sim encarada dessa maneira pelo público e por muitos cientistas, para os quais uma citação de artigo publicado em revista "internacionalmente reconhecida" reveste-se da mesma aura que rodeava e rodeia as citações bíblicas em muitos sermões. É possível que as religiões tenham nascido de uma observação direta dos mundos divinos por parte de antigos iniciados; nesse sentido, o efeito análogo acontece em relação à experimentação e teorização científicas (tendo o divino sido substituído por uma aparelho medidor ou uma abstração teórica), do ponto de vista do povo, isto é, dos não-iniciados. No entanto, é provável que todas as religiões revelassem, por meio de seus símbolos, verdades intrínsecas do universo e do ser humano, e as pessoas podiam instintivamente reconhecer a validade dos conhecimentos transmitidos, indentificarem-se com eles. Por outro lado, a ciência não é transmitida por vagos símbolos humanos (cf., p.ex., Jung), mas sim por símbolos matemáticos precisos e por abstrações. O povo é convencido por meio de demonstrações tecnológicas. Newton, se não nos enganamos, já reconhecera que a ciência não pode buscar a verdade, o conhecimento. Faz apenas modelos que nada têm a ver com a realidade. Finalmente, as religiões tradicionais estavam imbuídas de moralidade; a ciência moderna orgulha-se de ser objetiva, amoral, e porque não, desumana.

Voltando a Grothendieck, este enuncia aquilo que denomina de "Credo" do cientificismo, conjunto de seus mitos principais. Vejamo-los, sucintamente.

"Mito 1. Somente o conhecimento científico é um conhecimento verdadeiro e real, isto é, somente aquilo que pode ser expresso quantitativamente ou ser formalizado, ou ser repetido à vontade sob condições de laboratório, pode ser o conteúdo de um verdadeiro conhecimento."

"Mito 2. (Recíproca) Tudo o que pode ser expresso de forma coerente em termos quantitativos, ou pode ser repetido sob condições de laboratório, é objeto do conhecimento científico e, por isso, válido e aceitável."

Aqui vale a pena citar um comentário do autor: já que existem pessoas que analisam cientificamente a guerra, esta passa a ser aceitável, como processo regulador demográfico, econômico, etc.

"Mito 3. Concepção mecanicista, formalista ou analista da natureza: o sonho da ciência. Átomos e moléculas e suas combinações podem ser inteiramente descritos segundo leis matemáticas da física das partículas elementares; a vida da célula em termos de moléculas ... o pensamento do espírito (compreendendo todos os tipos de experiências psíquicas) em termos de circuitos de neurônios ... No limite, o mundo não é senão uma estrutura particular no seio da matemática."

"Mito 4. O papel do especialista. Somente os especialistas são os donos da verdade."

"Mito 5. A ciência e a tecnologia provinda da ciência podem resolver os problemas do ser humano, e somente elas."

"Mito 6. Somente os especialistas têm qualificações para tomar parte nas decisões ... Se um especialista não basta para abarcar todos os campos envolvidos, recorra-se a um conjunto de especialistas."

É realmente notável que um grande matemático tome a iniciativa de assumir posição contrária à tendência de ser reduzir tudo o que é válido ao que é abordado quantitativa e cientificamente, excluindo-se assim do campo da "validez" uma enorme gama de vivências, sensações, sentimentos humanos, como o amor, emoções, beleza, prazer e sofrimento, etc., e mesmo até os pensamentos que não sejam abstratos e teóricos. Mas quem melhor do que os matemáticos para saberem o que é um modelo, e que os modelos são puramente platônicos, nada tendo em comum com a realidade? Em segundo lugar viriam tradicionalmente os físicos, que podem se dar ao luxo de fazerem mais e mais modelos sobre uma infinidade de partículas que parecem como que ser criadas nas condições extremas dos aceleradores cada vez mas possantes. Aliás, uma experiência "extrema" foi também a base de Newton para a dedução de sua teoria das cores cuja essência é posta em dúvida em [5] mostrando-se [p. 1235] que seus predecessores, Euclides, Kepler e Descartes não chegaram, como ele o fez, a associar uma realidade física ao modelo geométrico. Que os físicos acelerem suas partículas. No entanto, quando um médico aplica exatamente o mesmo método científico a um indivíduo humano, será que algo não passou da conta? Será que é válido quantificar-se atém mesmo uma planta? Bem dentro da mentalidade cientificista, lembramo-nos de um amigo que cursava uma universidade estrangeira e, por amar profundamente as plantas, resolveu seguir como optativa uma disciplina de introdução à botânica. Que desilusão! Não viu uma planta sequer, estudou apenas biologia molecular e fotografias tiradas com microscópio eletrônico…

Dissemos que em segundo lugar viriam tradicionalmente os físicos. Isso não se passa mais; agora temos uma nova classe de sacerdotes no meio do caminho entre matemáticos e físicos: tratam-se dos "computatas" (essa nomenclatura foi ouvida por nós pela primeira vez quando usada por Wilson de Paula Pádua Fo., da UFMG, que talvez seja seu autor), isto é, os cientistas da computação e profissionais nela envolvidos.

O computador e os "computatas"

O computador digital, como o nome já indica, é máquina que trabalha apenas com dígitos. Entenda-se: trabalha em um sistema discreto, ao qual se pode sempre associar um sistema de codificação numérica. Em outras palavras, o computador só trabalha quantitativamente. Tudo o que é computadorizado passou por um processo de quantificação. Podemos facilmente "colocar" no computador um dicionário: é só associar a cada letra um número, e gravar essa codificação das palavras nos arquivos da máquina. O próprio programa, isto é, o conjunto ordenado de instruções que comandam a máquina levando-a a executar uma certa seqüência de tarefas elementares, também é, em última análise, quantificado.

A associação do computador com o cientificismo é total. Os mitos 1 e 2 formulados por Grothendieck, chamando a atenção explicitamente para os "termos quantitativos" já nos mostra essa união. Mas também os mitos 3, 4 e 6 estão intimamente ligados com a computação. O ideal da concepção mecanicista é conseguir uma máquina que funciona com precisão praticamente absoluta e que possa vir a simular com perfeição o ser vivo. O primeiro ideal já foi obtido: o computador é o rei das máquinas precisas. A probabilidade de acontecer um erro é muitíssimo pequena; os grandes computadores são providos de redundância tal que podem deduzir que houve um de uma gama muito ampla de erros, e corrigi-lo. Em último caso, não dando para corrigir, é emitido aviso adequado e o processo atingido é bloqueado, devendo então ser repetido pelos operadores ou, se programado convenientemente, entra em um processo especial para contornar essa situação automaticamente. A probabilidade de um erro ocorrer sem ser detectado é ainda menor. Quanto à simulação de seres vivos, note-se a denominação de um campo de pesquisa criado por certa classe de computatas: "Inteligência Artificial". Para nós, essa denominação caracteriza muito bem a mentalidade cientificista que grassa entre eles. (Já que não sabemos o que é "inteligência", não deveríamos desrespeitá-la criando para ela o mito de que pode ser artificializada.). A esse respeito, seria interessante fazer menção de uma notícia divulgada pelo Consulado Britânico [6]. Cita-se a seguinte declaração do prof. B.Meltzer, da Escola de Inteligência Artificial e Lógica Computacional da Universidade de Edinburgh, um dos expoentes mundiais desse campo científico: "Sob a chefia do prof. Meltzer, um grupo de projetos está programando computadores para copiar mecanismos humanos – a fim de descobrir como os seres humanos são programados" (grifo nosso). Mais adiante: "O prof. Meltzer ressalta que essa pesquisa não tem por objetivo melhorar as técnicas de automação das máquinas, mas adquirir uma compreensão mais profunda de como os seres humanos funcionam" (idem). Note-se como a existência de computadores e o fato de serem programados levou alguns a, bem à moda da mentalidade cientificista, levantar a hipótese (ou ter fé?) de que o ser humano também é programado. Aliás, as associações entre o funcionamento dos computadores e o "funcionamento" humano vem dos primórdios da computação, tendo sido abordados por nomes da estatura de um von Neumann [12].

Examinemos a situação que se criou com a existência dos computadores. São centenas de milhares, no mundo todo. Uma quantidade imensa de pessoas trabalhando com eles. Ponhamo-nos no lugar de um desses profissionais: ele contratou o equipamento, é responsável por ele, programa-o, opera-o. Não importa qual seja sua função, ela está dependendo da máquina. Que é que ele fará para garantir sua colocação profissional? Fará com que a máquina trabalhe, e muito. Quanto mais saturada, melhor: poderá justificar a aquisição do presente equipamento e levar à aquisição de um modelo mais avançado, mais rápido e complexo, que lhe dará mais prestígio. Para isso, é necessário colocar mais e mais processos dentro do computador. Resultado: o computata sai quantificando tudo o que encontra pela frente - pois essa é a única maneira de fornecer ao equipamento os dados de algum problema e o algoritmo correspondente. (A esse respeito, gostaríamos de mencionar que, provavelmente graças a isso a comunidade universitária brasileira está sendo atacada presentemente pelos representantes, em geral papéis, do Festival de Formulários que Assola o País, todos com os quadradinhos adequados à codificação para posterior conversão em dados de computador.) E, por que não, vamos sair por aí inventando problemas; quanto mais, melhor. Nossas máquinas têm sede de programas e de dados. Os computatas são a personificação dos especialistas dos mitos 4 e 6 mencionados por Grothendieck. Usam uma linguagem especial, para que as coisas mais simples que formulam não sejam entendidas pelos não-iniciados.

Examine-se a penetração dos computadores. Não há campo da atividade humana em que eles não tenham sido colocados - a menos de algumas mais íntimas, por enquanto. Perguntamos: isso é correto, é justificado?

Em quase todos os livros sobre impacto social dos computadores podem-se encontrar capítulos sobre os perigos da instalação de bancos de dados onde as informações armazenadas sobre indivíduos podem vir a limitar sua liberdade. Veja-se, por exemplo, [6], no capitulo 15, "A natureza da ameaça à vida privada" (aproveite-se para folhear o livro e verificar o entusiasmo incontido - tipicamente cientificista - que os autores devotam aos computadores); ou, então, [7]. Todos recomendam que a maneira de se prevenir os problemas ligados a essa limitação de liberdade e privacidade é a de serem estabelecidas leis adequadas. Independentemente do fato de que essas propostas partem de membros de sociedades onde leis existem e são relativamente cumpridas, onde liberdade existe relativamente e é cultivada, e que aparentemente essas sociedades ocorrem hoje em dia como casos excepcionais em nosso mundo, gostaríamos de formular a seguinte questão: será que a mentalidade cientificista apoiada na existência e no uso de computadores, não levará os povos a encararem tudo o que é feito com essas máquinas como válido, como representando o máximo em perfeição e objetividade? Veja-se, por exemplo, a publicação do primeiro relatório do Clube de Roma: para corroborar explicitamente a validade de seus cálculos e extrapolações (bem à moda cientificista...), os autores mencionam claramente que o trabalho foi desenvolvido com computadores [8, p. 18]. É o mesmo caso atual de um fabricante de pneus que procura justificar a sua afirmação publicitária de produzir o melhor produto, anunciando radiofonicamente que eles foram projetados "por computador" (note-se o uso da preposição "por" em lugar de "com", dando a impressão de que o computador foi o autor do projeto). Em suma, os sacerdotes do cientificismo estão incluindo o computador como parte essencial - se não primordial - de seu ritual.

O computador no ensino fundamental

Para exemplificarmos um pouco mais o perigo do computador na instalação e propagação da mentalidade cientificista, vejamos algo sobre o uso de computadores no ensino. A esse respeito, é interessante comparar artigos recentes a respeito, de Curado [9] e Paciornik [10]. No primeiro (que principia com a frase "Os computadores chegaram para ficar!", lembrando-nos o próprio determinismo dessas máquinas, o qual talvez esteja influenciando as pessoas levando-as a uma forma de fatalismo), há uma posição francamente receptiva ao uso de computadores no ensino. Já o segundo assume uma posição de crítica quanto à conveniência desse uso, tanto do ponto de vista de atividade estudantil por parte do aluno, como do enfoque de preservação da cultura nacional e mesmo com um enfoque de que "todos os recursos disponíveis devem ser usados, apenas o computador não está disponível (no Brasil). Sem entrarmos ainda no mérito da questão, desagrada-nos a idéia, implícita no trabalho de Curado, de que já que os computadores existem, vamos experimentá-los em educação, pois algo de bom pode aparecer durante a experiência. Por outro lado, ficamos satisfeitos de ver em Paciornik uma reação não só a essa abordagem, como também uma tentativa de questionar o aparente "progresso" que é sempre associado a uma inovação tecnológica.

Nosso principal argumento contra o ensino por computadores não foi abordado por Paciornik, e aproveitamos a ocasião para formulá-lo. As perguntas básicas que se colocam no caso são as seguintes: independentemente das condições locais (que são, evidentemente, importantes), é válido colocar uma criança ou mesmo um jovem adolescente em contato com um computador? É válido, por meio desse contato, usar esse equipamento como instrumento de ensino? Infelizmente não podemos nos alongar aqui nesses temas, mas a nossa conclusão a essas duas perguntas é: não! A criança está formando uma imagem interior do mundo, uma imagem que lhe dará a possibilidade de assumir atitudes morais, como fazer um julgamento do que é bom ou mau, do que é belo e feio, etc. Ora, o computador não tem nada de intrinsecamente real da natureza, é uma criação humana absolutamente artificial, não tem valores, não tem essência e, o que é fundamental para a formação infanto-juvenil, não desenvolve a criatividade e a imaginação em um sentido humano amplo (a esse respeito ver [11], onde é abordado aspecto semelhante em relação ao rádio e a TV). Curado chama a atenção para criar "um ambiente no qual, além do educando adquirir informações definidas, é também possível que ele se desenvolva intelectualmente." Note-se que só foi citado o desenvolvimento intelectual, mas neste caso ainda devemos restringir sua frase: trata-se de desenvolvimento intelectual abstrato. Qual a vivência, quais os sentimentos, a estética que ultrapassa as figuras geométricas, que poderiam ser proporcionados pelo computador? Qual o desenvolvimento intelectual amplo que pode ser proporcionado por um equipamento que só pode estar tratando tudo, absolutamente tudo, de uma forma quantificada? O ensino tradicional é realmente insatisfatório, mas talvez algumas de suas características venham de sabedorias antiqüíssimas aperfeiçoadas no decorrer de gerações, e não provenientes das elucubrações de alguns computatas. Por exemplo: será que a decoração da tabuada não tem um sentido profundo, que transcende o aprendizado dos poucos dados nela contidos? Isto é, será que o fato de uma criança decorar, usando o ritmo intrínseco das operações aritméticas e dos números, não é um fator essencial no desenvolvimento humano amplo? O que poderá dar o computador além de dados e de formação abstrata (se é que dá)? Não se venha com a alegação de que não se planeja um ensino somente com computador, e que o aluno deverá também fazer parte de uma classe com professor-gente e colegas-gente (Martin e Norman restringem a aplicação do computador no ensino, afirmando que o mesmo é ideal "para o ensino de ortografia, das técnicas matemáticas simples, de mecânica das línguas estrangeiras, estatística, programação de computadores, eletrônica e assim por diante" [2, p. 120]). É possível que um pouco contato com os computadores seja prejudicial. Podemos imaginar o fascínio que um equipamento desse pode oferecer a uma criança (veja-se o olhar atarantado das crianças da foto à p. 132 de [2], numa "aula de ortografia", em que se vê crianças de no máximo 7-8 anos à frente de terminais tipo máquina de escrever). Pode ser extremamente prejudicial à criança defrontar-se com uma máquina que aparentemente "sabe" uma porção de coisas, "responde" a perguntas, etc. Será que essas crianças não estarão substituindo a velha imagem de Deus onisciente que quase todos nós adultos fizemos quando crianças pela imagem de computador-onisciente? Isso é bom? (Será que a crença infantil em Deus não está ligada a uma necessidade evolutiva do indivíduo, repassando, conforme uma extensão das idéias de Haeckel, a história da evolução da humanidade?)

Acima de tudo, voltando ao nosso tema central, parece-nos que o ensino com computadores leva necessariamente à mentalidade cientificista: tudo quantificado, tudo infalível, a maravilha da conquista científica e tecnológica. A criança transforma-se num laboratório - e só aí é que o aprendizado é realmente verdadeiro e válido (cf. mitos 1 e 2).

Antes de abandonarmos este tópico, vale a pena observar uma outra faceta do problema: se substituirmos uma criança sentada à frente de um terminal de um computador por um outro computador, o primeiro será capaz de detectar alguma diferença? (Este seria um Teste de Turing às avessas.) Segundo nosso entendimento, não. Isso significa que a criança é induzida a atuar como simples máquina enquanto estiver interagindo com o computador. Isto é, o primeiro computador não está ensinando a criança a ser mais criança, a ser o homem do futuro, ele a está ensinando a ser máquina! Veja-se a frase de Wiener citada como introdução; cabe então a seguinte pergunta: será que o ensino/aprendizado não é uma atividade essencialmente humana, e como tal deve ser planejada e executada apenas por seres humanos, em ambiente o mais humano possível?

Os mitos do computador

Assim como com o cientificismo, ou por causa dele, foram criados alguns mitos em relação ao computador. Berk cita os seguintes [13]:

1. Computadores são cérebros gigantescos, e muito mais.
2. Os computadores dominarão e escravizarão os homens.
3. Computadores podem fazer qualquer coisa.
4. Computadores são máquinas de responder perguntas.

A essa lista ajuntaríamos ainda os seguintes:

5. Os computadores são necessários para dar maior eficiência às empresas.
6. Os computadores nunca erram.
7. Programas livres de erros podem ser facilmente produzidos.
8. Os computadores não produzem desempregos, pelo contrário, criam mais oportunidades de trabalho.
9. Somente um estudo profundo, feito por pessoas com capacidades intelectuais especiais, pode levar à compreensão de como funciona e é programado um computador.
10. Todos os computatas são inteligentes.

Alguns rápidos comentários. O mito 1 data provavelmente dos primórdios do computador, quando ainda se usava a expressão "cérebro eletrônico". É curioso notar-se que em português emprega-se a denominação "memória" equivalente ao "storage", muito mais adequado, do inglês. A tendência cientificista já é notada até pela nomenclatura. Os cientistas da computação que se especializam em Inteligência Artificial pouco ou nada têm contribuído para desfazer esse mito. Aliás, a construção de robôs com formas antropomórficas, deve contribuir bastante para o mito 2.

Quanto aos mitos 6 e 7, gostaríamos de chamar a atenção para uma característica de qualquer programa complexo: nunca é possível dizer-se que um tal programa está correto, isto é, que executa exatamente a função para o qual foi desenvolvido. A maneira de se afirmar que um programa funciona bem é testá-lo com dados característicos. Ora, só é possível afirmar, a partir desses testes, que o programa está errado, e isso quando se detectou um erro a partir deles, isto é, obteve-se um resultado inesperado. De modo que um teste acertando em cheio em um erro do programa, pode servir de prova de que o programa não está correto. Mas, para programas complexos, um teste não pode nunca provar que o programa está certo. Além disso, testes com dados característicos são insuficientes para provar com rigor que mesmo programas simples estão livres de erros; é necessário que a prova seja formal, baseada em técnicas razoavelmente complexas, e que ainda são inviáveis para grandes programas. Os computadores modernos são comandados por programas denominados "Sistemas Operacionais", que têm em geral um grau enorme de complexidade. Assim sendo, mesmo que um programa esteja absolutamente correto, é possível que resultados errados sejam produzidos devido a erros do Sistema Operacional. Houve, nos EUA, um grande movimento entre certos cientistas da computação, no sentido de alertar para o perigo da existência de uma grande rede de computadores dedicados à "defesa" do continente norte-americano, controlando foguetes intercontinentais e outros dispositivos mortíferos. Um dos principais argumentos, além da complexidade dos programas envolvidos e a dúvida de que eles estariam corretos, é que não seria possível testar o sistema em condições reais de funcionamento, isto é, face a um verdadeiro ataque do inimigo. Somente uma mentalidade cientificista poderia ter imaginado tal sistema; o problema é que, às custas dos mitos do computador, facilmente pode-se convencer o público da sua necessidade e utilidade. Um caso análogo que não chegou a concretizar-se foi o da marinha americana, que projetou construir uma antena subterrânea (à prova de ataques aéreos) para comunicação com submarinos com ogivas nucleares; um simples cálculo mostrou que a antena - inicialmente projetada para ocupar 38,5% (!) da área terrena do estado de Wisconsin e consumir 500 megawatts, teria a capacidade ridícula de transmitir 1 bit de dados a cada 100 segundos... [14]. Esse exemplo é relevante ao nosso tema na medida em que mostra que é possível, em certos casos, usando os próprios meios científicos, combater o uso cientificista da ciência. Infelizmente, o caso complica-se sobremaneira quando complexos sistemas envolvem computadores. No caso da antena, foi possível calcular sua eficiência, potência de transmissão, etc. Como provar que um sistema baseado em uma rede de computadores está mal projetado, não cumpre suas finalidades, tem erros de programação, etc.? Temos a impressão de que provar esses fatos será impossível. Esses grandes sistemas envolvem tantas pessoas e custos tão grandes, que podem perpetuar-se e serem praticamente indestrutíveis. Estaremos face a face com o Golem mencionado nesse contexto por Wiener [1]?

Citamos o caso do uso de computadores em sistemas de "defesa". E que pensar de computadores controlando cidadãos por meio de enormes bancos de dados com informações sobre cada indivíduo? Imagine-se o que pode advir de um erro cometido pela máquina ou devido a uma falha na programação, taxando algum cidadão de, por exemplo, homicida. O prejuízo físico e moral que essa pessoa pode ter até provar que "não é um elefante" pode ser irreparável. Isso nos leva à próxima observação quanto aos mitos 6 e 7.

Um dos argumentos preferidos pelos entusiastas dos computadores é o de que essas máquinas erram muito menos do que os seres humanos. De fato, se compararmos as probabilidades de erro de um ser humano exercendo a mesma atividade do que um computador, como por exemplo fazendo cálculos, não há dúvida de que ele perderá de longe em velocidade e exatidão dos resultados. Mas a comparação deve ser feita em atividades que exigem a intervenção humana como tal (evidentemente, estamos partindo da hipótese não-cientificista de que o ser humano não é uma máquina, e seu comportamento fisiológico e psíquico não pode ser totalmente explicado mecanicamente, isto é, por processos físico-químicos). O computador não pode ser programado para ter "maior responsabilidade" em certos casos; o ser humano pode, dependendo das circunstâncias, imbuir-se desse senso. Pode também usar a sua capacidade (anti-científica) de intuição (pensamentos vindos do nada?), chegando a conclusões válidas baseadas em dados incompletos, meramente subjetivos, ou mesmo errados. A esse respeito, vale citar a frase "garbagge in, garbagge out", que se aplica aos computadores. No entanto, esse pode não ser o caso com seres humanos. Se não nos enganamos, Kepler chegou às suas famosas leis (leiam-se "fórmulas" - será que existem leis quantitativas na natureza?) a partir de observações astronômicas erradas de Tycho de Brahe. Alguns dados errados, mesmo em trabalhos tipicamente computacionais, podem despertar em um ser humano a intuição para um fato real.

Aplicações válidas de computadores

Essa questão é muito importante para ser tratada brevemente como aqui se faz necessário. Ela envolve primordialmente questões de filosofia, de ética e de moral. Vamos, no entanto, tocar de leve no assunto.

Partindo da natureza quantificada do computador, poderíamos dizer que ele é bem aplicado em tudo aquilo que é quantificado "por natureza". Por exemplo, o sistema monetário tem essa característica. Assim, empregar-se computador em contabilidade consistiria uma aplicação válida. Na verdade, uma pessoa que passa o dia fazendo contabilidade não age como ser humano; sua atividade reduz-se de certa maneira a uma "máquina de contabilidade". Nesse sentido, o uso do computador, desde que se dê uma atividade substitutiva mais digna ao referido cidadão, seria não só válido como positivo. Mas, tome-se cuidado: é possível que a perda de contato com os cálculos contábeis faça com que os funcionários de uma empresa possam deixar de sentir problemas sutis que poderiam ser revelados por meio deles. Já ouvimos queixas de engenheiros civis afirmando que os cálculos feitos com computador, principalmente quando este é programado para chegar ao dimensionamento de estruturas, tira a sensibilidade que eles tinham antigamente para uma avaliação intuitiva ("bom senso") da adequação dos resultados. A menos de problemas análogos, veríamos com bons olhos o uso do computador para cálculos de engenharia e científicos. Afinal, os métodos de cálculo estão aí, e são necessários para a consecução dos projetos tecnológicos.

Por outro lado, encararíamos como totalmente inadequada qualquer aplicação do computador em processos biológicos da natureza, bem como volitivos, sensoriais e sentimentais do ser humano. Essas aplicações seriam, no nosso entender, fruto da mentalidade cientificista. De fato, o problema não está no computador, e sim na maneira de se encarar a natureza. Dentro de uma visão mecanicista dos seres vivos, qualquer atitude é justificável, já que nessa visão não pode entrar nenhum senso ético ou moral, vale dizer, humano. Assim, o problema de uso do computador como instrumento do cientificismo não pode ser atacado a partir dele. A solução é combater o cientificismo.

Note-se, ainda, que a substituição do trabalho humano pelo computador se dá em uma esfera completamente diferente da que antes ocorria na mecanização industrial. Nessa denominada "1a. revolução industrial", substituiu-se o trabalho humano braçal pelo trabalho das máquinas. Estamos agora numa "2a. revolução industrial", em que o trabalho substituído pelo computador é o trabalho mental. Ora, não estaremos exagerando se afirmarmos que a grande conquista que nos trouxe a ciência e o mundo moderno foi a do desenvolvimento da capacidade humana de pensar abstratamente. O pensamento é atualmente a característica humana preponderante. Basta olharmos ao redor de nós mesmos para se ver como praticamente tudo o que nos rodeia é fruto do pensamento. É possível que a substituição do trabalho intelectual pelo computador degrade a posição que chegamos a atingir. Por outro lado, é preciso reconhecer que o desenvolvimento do pensamento não foi acompanhado na mesma proporção por outras características humanas, notadamente a volição e o sentimento; certamente não tem havido de há muito o progresso moral que deveria ser sempre o orientador das nossas atitudes, se é que não houve retrocesso nesse campo, como ficou demonstrado pelo hitlerismo, pelo stalinismo e pelo maoísmo. Mas será por meio do pensamento, não o frio, característico da atividade intelectual científica, mas um pensamento não-atomista, voltado para o todo e impregnado daquilo que denominamos de "vida" na natureza, que poderá, segundo nossa opinião, levar-nos a uma ciência mais humana, e ao desenvolvimento consciente das capacidades acima citadas. Mas, se o computador for substituindo as atividades intelectuais humanas, poderemos chegar a essa vivificação do pensamento? Certamente não a partir dele.

O que fazer?

Cremos que é preciso em primeiro lugar conscientizar o público em geral, e os cientistas em particular, para os perigos de cientificismo. A esse respeito, recomendamos a leitura de uma pequena obra do ecologista Barry Commoner, onde ele expõe as conseqüências advindas do progresso científico descontrolado e afastado da realidade intrínseca da natureza, sob o enfoque da ecologia [15]. Como Grothendieck, ele também faz um apelo para a conscientização dos cientistas. Mas esse último chama a atenção para a necessidade de uma abordagem humana ampla das questões que nos afligem, enquanto aquele prende-se a soluções científicas e tecnológicas para resolver os problemas criados pela ciência e pela tecnologia, se bem que apoiadas em decisões políticas. Ele chama a atenção para o fato de que a ciência vai somente até o levantamento dos dados. A decisão de se adotar essa ou aquela atitude frente a um problema escapa ao domínio da ciência.

Uma reviravolta decisiva seria dada se os cientistas se apercebessem que é possível fazer ciência qualitativa em lugar da puramente quantitativa de hoje. Goethe mostrou um caminho nesse sentido [5. 16]. É possível que não tivéssemos a tecnologia de hoje se a sua luta contra a mentalidade representada por Newton tivesse vencido. Em compensação, não estaríamos nessa situação calamitosa em que nós mesmos nos colocamos por meio dessa tecnologia. E, por outro lado, talvez tivéssemos mantido a sensibilidade para com a natureza e para conosco mesmos, tendo talvez a chance de termos feito um progresso moral, absolutamente necessário para acompanhar, ou melhor, para preceder o avanço científico e tecnológico, a fim de colocá-lo a nosso serviço e não o contrário, como se passa, isto é, nós a seu serviço. Não falemos, no entanto, do que já passou. É tempo de cuidarmos de uma reviravolta nesse processo.

O computador representa uma arma mortífera nas mãos do cientificismo. Só que essa morte é sub-reptícia, e portanto muito mais perigosa do que a de uma arma nuclear, pois pouquíssimos a percebem; trata-se do perigo de robotização do ser humano, da transformação dos seres humanos em máquinas. Mesmo nas aplicações que poderíamos considerar como "válidas", conforme o item anterior, existe um perigo muito grande: uma vez colocado um processo no computador, ele pode lá ficar por muito tempo, imutável. Se for um processo muito complexo, a tendência será de não se mudá-lo, devido aos altos custos e o tempo nisto envolvidos, ou pelo menos fazer nele mudanças muito pequenas. Assim, todas as pessoas afetadas por esse processo serão forçadas, com maior ou menor grau, a entrarem numa certa estagnação. Quem sabe essa estagnação, levada ao extremo, que implicaria também nas ausência de transformações sociais e culturais, não é o ideal de muitos cientistas e da maioria dos governos, pensando que assim resolvem, uns, os problemas da humanidade, outros, os problemas sócio-políticos? Será que esse será o fim da espécie humana, todos nós transformados em técnicos sem personalidade, sem sofrimentos e lutas, sem idéias, sem criatividade e sem liberdade? O computador está ajudando decisivamente aos que, consciente ou inconscientemente, estão nos levando para esse caminho. Talvez Wiener não tinha razão; pudemos dar a César o que é de César, mas poderemos dar realmente ao computador o que é do computador?

Será que, no fundo, tudo é nosso, e ao darmos algo ao computador estaremos retirando esse algo da esfera do ser humano, tornando-o menos humano?

Referências

[1] Wiener, N. God and Golem, Inc. Cambridge: The MIT Press, 1964.
[2] Martin, J & A.R.D. Norman. Computador, Sociedade e Desenvolvimento. Rio de janeiro: Ao Livro Técnico e Ed. Univ. de Brasília. 1973.
[3] Buarque de Holanda Ferreira, A. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1975.
[4] Grothendieck, A. La nouvelle Église Universelle. In R.Jaulin (ed.), Pourquoi la Mathematique? Paris: Union Génerale d'Editions, 1974.
[5] Holstmark, T. Newton's Experimentum Crucis Reconsidered. Am. J. of Physics, Vol. 38, No. 10, Oct. 1970.
[6] British News Service. Um novo robô com reações animais. São Paulo: Consulado Britânico, 15/8/75.
[7] Miller, A.R. The Assault on Privacy: Computers, Data Banks and Dossiers. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 1971.
[8] Meadows, D.H. et al. Limites do Crescimento. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1974.
[9] Curado, F. Aprendendo a aprender. Dados e Idéias, Vol, 1, No. 4, fev/mar 1976.
[10] Paciornik, S.D. A outra face do mestre computador. Dados e Idéias, Vol. 1, No. 5, abr/mai 1976.
[11] Wilmar, F.H.J.A. Wie wirken Rundfunk und Fernsehen auf Kinder? ("Como atuam o rádio e a TV sobre crianças?"). Zeist: Verlag Vrij Geestesleven, 1966.
[12] von Neumann, J. The Computer and the Brain. New Haven: Yale University Press, 1958.
[13] Berk, T.S. Myths about computers. ACM SIGCAS Computers and Society, Vol. 6, No. 4, winter 1975.
[14] McClintock, M. & A.Scott. Sanguine. Environment, Vol. 16, No. 5, Jul/Aug 1974.
[15] Commoner, B. Science & Survival. New York: Ballantine Books, 1966.
[16] Steiner, R. A Obra Científica de Goethe (trad. R. Lanz). São Paulo: Editora Antroposófica, 1984.