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(Dica de Arnaldo Mandel)


O Estado de São Paulo - 24 de setembro de 2007 - Link

Vivemos a Era do Algoritmo
Navegar Impreciso

Pedro Doria, pedro.doria@grupoestado.com.br

Uma das características destes tempos digitais que vivemos é que se trata da Era do Algoritmo. Algoritmo é o conjunto de regras preestabelecidas para a resolução de qualquer problema dado.

Quando uma livraria eletrônica indica livros que interessam a seu cliente a partir de suas compras passadas, aplicou um conjunto de regras destas. Se a operadora de cartões de crédito, perante uma compra estranha, liga para confirmar com seus clientes suspeitando de fraude, lá está um algoritmo em ação. O Google estabelece a ordem dos seus resultados de busca porque regras preestabelecidas para avaliar relevância a partir das palavras chaves lançadas pelo usuário foram boladas por alguém.

Algoritmos estão por toda parte de forma muito mais profunda e discreta do que possamos imaginar. Nos principais aeroportos do mundo, algoritmos programados num computador decidem a ordem de decolagem dos aviões e os dividem em cada pista para aumentar ao máximo a capacidade de uso.

Eles nos trazem segurança: é o caso dos sistemas antifraude em cartões, mas também dos softwares que começam a ser aplicados para, filmando multidões, comparar o rosto de quem assiste a um jogo de futebol — por exemplo — com os retratos de criminosos procurados.

Não há como fugir deles: algoritmos estão entre nós. São os mais simples — como aqueles que põem duas pessoas em contato num site de solteiros em busca de amores a partir daquilo que disseram a seu respeito e suas expectativas sobre o outro. São os mais complexos — aquele que busca pessoas a partir de uma foto na filmagem ao vivo de uma multidão é complicado como os diabos.

A palavra 'algoritmo' tem uma origem curiosa. Durante alguns séculos, na Idade Média, a matemática do mundo foi desenvolvida não na Europa mas num triângulo entre Bagdá, Teerã e Délhi, na Índia. Um destes estudiosos era o astrônomo persa Al-Khwarizmi, que escreveu o tratado Sobre o Cálculo com Números Indianos. Na tradução para o latim que foi distribuída na Europa, ficou sendo Algoritmi de Numero Indorum. A palavra era uma tentativa de transliterar Al-Khwarizmi, mas muitos referiam-se ao título achando que era uma palavra para cálculo. Daí ficou em quase todas as línguas ocidentais: algoritmo.

Algoritmos deste nosso mundo digital são práticos. Livram-nos de spams nas caixas de correio eletrônico, indicam que outras músicas gente que ouve aquilo que gostamos está ouvindo, diminuem nossa espera no aeroporto. Mas algoritmos, por serem compostos por regras fixas e, portanto, imutáveis, inflexíveis, são perigosos.

O que acontece é o seguinte: se compramos muitos discos de rock dos anos 1970, a loja eletrônica nos indicará outros grupos da época ou novos com sonoridade semelhante. Mas quanto mais comprarmos este tipo de música, mais nos indicarão o mesmo tipo e, no fim, jamais conheceremos algo de novo.

Às vezes, os critérios não são os melhores. O Google escolhe a ordem dos links que apresenta como resposta por popularidade. As páginas mais clicadas virão primeiro. É um bom critério, mas outras tantas vezes a melhor resposta não é a mais popular.

Um computador está fazendo escolhas para nós a toda hora e cada vez mais. Isto poupa tempo. Mas é bom que tenhamos consciência de que, às vezes, cabeça de gente resolve certos problemas muito melhor.