Miraglia
  Francisco Miraglia para Reitor da Universidade de São Paulo
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Manifesto da Candidatura

 

A Universidade de São Paulo (USP) encontra-se desvinculada das questões sociais do país, burocratizada e enrijecida em uma estrutura autoritária, que desrespeita o conjunto das pessoas que nela trabalham e estudam. Afastou-se de um ensino que possibilite aos profissionais por ela formados espírito crítico e preocupação com os objetivos e a destinação do seu trabalho.

A USP encontra-se alheia do debate e alijada da peleja para a construção de um projeto democrático e republicano de desenvolvimento social para o Brasil e, por meio da estrutura de poder centralizada e autoritária vigente, alinha-se cada vez mais com os interesses das elites dominantes do país. Seus principais executivos defendem idéias inteiramente tecnocráticas de reforma, administração e “eficiência”.

Apesar disso e embora distante da pujança e da vitalidade que poderia ter, a USP se constitui – fruto do trabalho e do esforço de professores, estudantes e funcionários – em um dos grandes centros de ensino e pesquisa da América Latina.

Adiciona-se à grave situação descrita anteriormente o culto à ordem e ao produtivismo.

O culto à  ordem tenta justificar intervenções de caráter persecutório e até policial na vida universitária, reminiscências da época da ditadura militar. Não esqueceremos o dia 9 de junho de 2009, quando a universidade foi violentamente agredida pela Policia Militar do Estado de São Paulo, convocada pela reitoria, com anuência do Co e, com raras exceções, de diretores de unidades.

O produtivismo torna a vida acadêmica um inferno. Além da montoeira de “papel”, muitas vezes eletrônico e impessoal, que oprime a maioria dos pesquisadores, promove a competição entre pares, no lugar de cooperação e interdisciplinaridade que devem prevalecer entre trabalhadores intelectuais. Desloca a decisão sobre os rumos do trabalho acadêmico das mãos do corpo da universidade para as mãos de agências financiadoras ou de comissões pouco ou nada representativas. Assim, ataca princípios fundamentais que devem caracterizar os trabalhos intelectual e acadêmico: a procura do rigor, a rejeição ao uso da autoridade – que é a imposição da obediência pela força –, e a busca de emancipação, com elaboração crítica de explicações que contribuam para elucidar o significado de nossas experiências sociais e históricas.

Além da absurda e injustificável violência policial no Campus do Butantã  no dia 9 de junho de 2009, há inúmeras outras ilustrações do avesso do que a USP deveria ser:

  • A tentativa de impor uma nova carreira docente, votada de forma irregular e sem que os critérios pertinentes fossem discutidos, é um exemplo claro da perspectiva de aprofundar a competição, ao invés da cooperação. Sem base acadêmica alguma, criaria uma “corrida de obstáculos”, possibilitando um controle ainda maior do trabalho docente. Fariam mais e melhor se os MS-2 voltassem a integrar a carreira e se garantissem sua abertura efetiva, de modo que todos com mérito acadêmico pudessem ascender ao cargo de titular.
  • A falta de políticas sólidas e efetivas de permanência estudantil, com destinação específica que atenda toda demanda qualificada, garantindo a participação ativa dos estudantes na vida acadêmica.
  • A falta de uma carreira adequada e justa para os funcionários, associada a uma política de tercerização que, sob a alegação de cortar custos, na realidade faz com que a universidade pública participe da superexploração do trabalho vigente na sociedade brasileira.
  • O aprofundamento da privatização do bem público, de claro viés anti-republicano, com a delegação de atividades-fim da universidade a entidades privadas, como as fundações ditas “de apoio”. Em particular, a realização de cursos pagos certificados pela USP é francamente inconstitucional.
  • A completa falta de iniciativa dos dirigentes da USP na defesa da Educação Básica de qualidade e da ampliação significativa, com financiamento adequado, do Ensino Superior Público e Gratuito.
  • A adesão da USP, inclusive sem debate amplo com o corpo da universidade, a programas de “ensino à distância” dirigidos a professores da Educação  Básica. Somos contrários à existência de cursos à distância que forneçam diplomas de graduação de Ensino Superior, que devem ser obtidos, exclusivamente, de forma presencial.
  • O silêncio ensurdecedor dos dirigentes da USP durante o ataque do governo Serra à autonomia das universidades estaduais, logo no início de 2007, registra sua subserviência às diretrizes antiuniversitárias.

Para transformar a USP, tornando-a democrática e de fato republicana, é central seu desatrelamento de governos ou partidos, assim como não nos servem supostas alianças seletivas com setores da oligarquia que a controlam. É fundamental termos uma reitoria que represente a universidade perante os poderes do Estado – ao invés de representar tais poderes dentro da universidade –, que cultive a permanente disposição ao diálogo e à negociação com as organizações de  professores, estudantes e funcionários.

É fundamental termos uma reitoria que crie, estimule e respeite canais amplos de manifestação e deliberação de todos que trabalham e estudam na USP, que catalise sua inserção no debate e na busca de solução para os graves problemas sociais brasileiros.

Para isso, é também fundamental que a USP tenha mecanismos democráticos de gestão, por meio da ampliação significativa da participação de todos os segmentos que dela fazem parte. Só assim o coletivo universitário terá a calma, a tranquilidade e a democracia necessárias à tarefa em tela: a construção de uma universidade aberta, crítica, de excelência acadêmica, inserida na luta pelo desenvolvimento social do país.

Uma candidatura para reitor da USP nesse momento, como em outras oportunidades, representa o nosso compromisso histórico com as diretrizes e os eixos indicados anteriormente.

Argumentamos que é possível e necessário mudar. Para isto é essencial que a voz e a vontade de transformar de professores, estudantes e funcionários se manifeste cristalinamente, tanto nesse momento de indicação de reitor, quanto no cotidiano do nosso trabalho. Afinal, são aqueles que efetivamente fazem o trabalho acadêmico e funcional que devem ser os sujeitos da história futura da USP.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
   
Contatos para apoio a esta candidatura:
  Américo Sansigolo Kerr (akerr@if.usp.br)
  Daciberg L. Gonçalves (dlgoncal@ime.usp.br)
  Marcos Magalhães (marcos@ime.usp.br)