Revolução da Informação - Impactos Sociais
Trabalho apresentado em Junho de 1999 para avaliação na disciplina MAC-333
por David Machado Santos Filho
 

Um estudo do tema de "Brave New World", de Aldous Huxley

VERSÃO FINAL







1. Preliminares

Será feito um estudo das possíveis mudanças sociais que podem ocorrer com a aparente revolução da informação que se processa atualmente. Sabe-se que tentar fazer uma extrapolação com a velocidade em que tudo muda hoje em dia é difícil, e tal previsão está sujeita a erros grosseiros. O melhor que pode ser feito é estudar várias possibilidades distintas, tentar avaliar as tendências atuais e verificar o quanto essas tendências apontam para cada uma daquelas possibilidades. Ainda neste caso cometemos um erro muito grave, que é supor que tais tendências vão se manter inalteráveis. A previsão estaria influenciada pelo que já se observa na época em que ela é feita.

Neste estudo, será feita uma avaliação das seguintes obras, todas elas prevendo mudanças sociais bem diferentes:
 

"Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley, livro com o enfoque principal nesta discussão, que prevê um tipo de controle totalitário não fisicamente violento;

"1984" de George Orwell, que prevê um Estado totalitário no qual o poder é mantido pela violência e vigilância constante dos cidadãos;

"Os Despossuídos" de Ursula K. Le Guin, que contrapõe uma sociedade muito semelhante à atual a uma outra em que o "controle" é baseado na total anarquia.

Ainda foi estudada uma quarta obra, que discute os elementos da obra de Huxley mas que cita o "1984" várias vezes: é o "Regresso ao Admirável Mundo Novo", um ensaio que o próprio Huxley escreveu cerca de 25 anos após o "Admirável Mundo Novo".

Nas três obras, a existência de computadores não é citada explicitamente. Porém a organização social que elas sugerem seria sem dúvida impraticável se não existissem tais equipamentos controlando-a. Mas em todas elas o controle da informação é evidente, sobretudo em "1984".


2. Resumo das Obras

Antes de iniciar qualquer discussão a respeito da possibilidade ou não de cada uma destas extrapolações se confirmar, é interessante conhecer um resumo de cada história.

 
2.1 "1984"

Em 1984, a sociedade é controlada por um Estado totalitário, com um partido único, que tem o controle total de qualquer tipo de informação que um indivíduo possa requisitar. George Orwell prevê tal sistema para o ano de 1984, mas algo fundamental tem de ser mencionado: na história, ninguém tem certeza de estar realmente no ano de 1984; o Partido havia decidido que a sociedade estava vivendo em 1984, e era o que bastava para todos acreditarem nisto.

Na obra, o mundo era governado por três grandes potências, todas elas com a mesma característica totalitária e com controle total das informações. Estas três potências eram conhecidas por Eurásia, Lestásia e Oceania, na qual se passa toda a trama. Em Oceania, que compreendia as Américas, Austrália, e a Inglaterra (o restante da Europa era parte da Eurásia), um único Partido governava, e estava constante e alternadamente em guerra com uma das outras duas potências. A guerra constante era um fator primordial para que a estrutura social fosse mantida, pois apenas uma guerra era capaz de absorver o excesso de recursos produzidos por um sistema industrializado ao extremo. Sem guerras, a enorme quantidade de recursos teria de ser distribuída igualmente para a "massa", e esta massa acabaria adquirindo poderes demais (algo obviamente indesejável para um Partido que queria se manter no poder). Com uma guerra constante contra qualquer das duas outras superpotências era possível garantir apenas o suficiente para a subsistência do povo, enquanto o excesso de produção poderia ser gasto em materiais bélicos e improdutivos. Além disso havia outra vantagem em se manter uma eterna guerra, que era deixar a população sempre em estado de alerta, aguardando que o Big Brother pudesse resolver o problema. Logicamente a guerra não era ameaça para nenhuma das grandes potências. Ao contrário, ela era mantida exatamente com as finalidades descritas. Pode-se imaginar até mesmo um acordo entre as potências para que alguma guerra sempre ocorresse, não importando o motivo.

O que mantinha o poder total do Estado era o controle de toda a informação disponível. A história da humanidade estava constantemente sendo reescrita, de acordo com as resoluções do Ministério da Verdade. Era inclusive o emprego do protagonista desta história: reescrever reportagens anteriores do Times para que o Partido parecesse sempre estar certo nas suas decisões. Por exemplo, se a uma semana atrás o Ministério da Fartura previsse um aumento de 30% de algum produto para a semana seguinte e o aumento registrado fosse na verdade de 20%, Winston (o protagonista) era encarregado de reescrever a reportagem anterior para que o Ministério declarasse ter previsto 15%: assim ter-se-ia uma impressão favorável de que o aumento foi maior que o previsto. O grande trabalho do Ministério da Verdade era alterar estas informações e todas as outras referências possíveis a ela que pudessem desmenti-la. Isto não era visto por ninguém como falsificação da verdade, e sim como simples "correção de enganos".

Para manter tal sistema de modificação de informações, os membros do Partido (cerca de 15% da população) eram vigiados praticamente 24 horas por dia. Pelo menos os membros do Partido Externo, pois uma minoria pertencente ao Partido Interno tinha alguns privilégios. Para grande parte deles, já perfeitamente adaptada ao sistema, isto era normal, necessário e benéfico. Segundo eles, isto evitava a prática da crime-idéia (pensamentos ilegais) que era eficientemente punida pela Polícia do Pensamento. Todos aqueles que cometiam uma crime-idéia desapareciam misteriosamente, e eram daí em diante consideradas impessoas: tais pessoas, para todos os efeitos, nunca haviam chegado a existir. Como todo tipo de informação era controlado pelo Estado, não haveria mais nenhum registro que pudesse indicar que esta pessoa existiu algum dia.

A característica que mais lembra um sistema global de troca de informações nesta história era a existência das inúmeras teletelas espalhadas por toda parte. Diante de tais equipamentos, a menor expressão facial deveria ser controlada, ou corria-se o risco de ser condenado por crime-idéia e assim se tornar uma impessoa. Desligar uma teletela já era considerado uma possibilidade de crime-idéia, e ainda assim eram poucos os que tinham o privilégio de desligar completamente tal equipamento (ao menos por poucos minutos). Onde não haviam teletelas, provavelmente deveriam existir microfones ocultos. Mesmo dormindo, as pessoas podiam cometer crime-idéias falando durante o sono. Por exemplo, dizer "abaixo o Grande Irmão" enquanto dormia era considerado uma crime-idéia gravíssima! Era muito comum que crianças, precocemente treinando para serem futuros espiões, denunciassem os pais à Polícia do Pensamento. Tal medo de ser denunciado pelos filhos era um dos fatores que tornava cada vez mais raros os casamentos nesta sociedade.

Seria a sociedade atual parecida com a de "1984"? "Obviamente não", é o que diriam muitas pessoas de imediato. Mas pode ser que as formas atuais de coerção não sejam tão explícitas como nesta história. Pode ser uma coerção não fisicamente violenta, como a que é sugerida no "Admirável Mundo Novo" de Huxley. Talvez Orwell estivesse impressionado demais com os absurdos do nazismo e o estalinismo que estava ganhando forças na Rússia. Aliás, seria coincidência que o Grande Irmão da história, figura mítica criada pelo Estado, seja descrito como tendo feição muito "semelhante" à de Stalin? Aldous Huxley sugere no "Retorno ao Admirável Mundo Novo" que o mundo atual (ou melhor, o de 1957) estaria caminhando mais em direção ao "Admirável Mundo Novo" do que em direção ao "1984". Apesar do primeiro ser menos violento que o segundo, não parece haver muitas vantagens de um em relação ao outro.

A trama de Winston, tentando se rebelar contra tal sistema, é bastante interessante. Mas presentemente o importante não é discutir a história em si, e sim a maneira em que estava organizada a sociedade nesta história.
 
 

2.2 "Admirável Mundo Novo"

O "Admirável Mundo Novo" também é um governo totalitário. Porém não existe a paranóia declarada de "1984". No lugar da paranóia, temos um verdadeiro terror científico, em que a sociedade está toda fundamentada na prática da eugenia, na hipnopedia, no condicionamento subliminal e na quota diária aos cidadãos de uma droga denominada Soma.

Neste Mundo Novo a reprodução humana está inteiramente baseada na reprodução artificial. A reprodução vivípara não mais existe. Não que fosse ilegal, mas a idéia já estava completamente implantada na mente de todos os indivíduos através de condicionamento mental. Qualquer alusão a tal tipo de reprodução era encarado com preconceito e, no mínimo, mencionada como uma piada de mal gosto. A produção de seres humanos ocorria em série, nos Centros de Incubação e Condicionamento. Inclusive era a maneira mais eficaz encontrada pelo Estado para controlar a superpopulação: não havendo mais a reprodução normal, havia um perfeito controle de quantas pessoas poderiam nascer em determinado período. Decidida a produção de uma certa "quota" de pessoas (trabalhadores futuros), óvulos eram fecundados artificialmente e mantidos sob controle durante o tempo de seu desenvolvimento, dentro de frascos forrados com peritônio de porco.

Dependendo da classe genética a que determinado grupo pertencia (Alfa+, Alfa, Beta+, Beta, Gama, Delta ou Épsilon), eram tratados com substâncias diferentes durante a gestação. Por exemplo, indivíduos Alfas e Betas recebiam um maior nível de oxigenação para que se desenvolvesse mais o seu sistema nervoso. Em contrapartida, Deltas e Épsilons tinham seus frascos preenchidos com certa concentração de álcool diluído no líquido amniótico, pois nestes casos não era desejável um sistema nervoso muito desenvolvido. Depois que estes seres nasciam, ou melhor, decantavam de seus frascos, permaneciam durante a infância nos Centros de Incubação e Condicionamento. Neste período eram condicionadas psiquicamente para as funções que deveriam exercer na vida. Desenvolvido o entendimento da linguagem, começavam a ser submetidas à hipnopedia (ensino durante o sono) para que absorvessem as principais regras morais da sociedade. Eram tais regras que elas acabariam seguindo durante todo o resto de suas vidas. Dentre as várias regras, uma das mais importantes era a que induzia ao consumo do Soma durante os períodos de maior agitação ou depressão mental.

A existência de computadores parece inquestionável nesta história, embora em parte alguma eles tenham sido citados. Ao ler a obra pode-se sem esforço imaginar computadores decidindo quantos indivíduos precisavam ser "produzidos" para um futuro campo de trabalho. Ou então se imagina computadores controlando os enormes Centros de Incubação e Condicionamento, controlando a dosagem de substâncias, temperaturas e nível de oxigenação de cada um dos milhares de fetos produzidos em série. Também podem ser imaginados computadores elaborando a composição química da próxima remessa de Soma: mais calmantes ou mais estimulantes, de acordo com as circunstâncias do momento. Quanto ao controle e difusão de informações, em geral eram subliminais. Durante a infância, as informações eram transmitidas às crianças por hipnopedia. Verificou-se que o método de ensinar durante o sono não era muito eficiente quando se precisava raciocinar sobre as informações, mas se as mensagens pudessem ser elaboradas de uma forma que atingissem o subconsciente sem nenhum tipo de raciocínio mais elevado o método seria infalível. Após este período de aprendizado, toda a informação subliminal transmitida na fase adulta freqüentemente evocava frases já incorporadas ao subconsciente durante a hipnopedia. Tais "chavões" também eram sempre repetidos entre os indivíduos em seus diálogos, e conhecê-los de cor era uma forma de se sentir integrado na sociedade. Não é muito diferente do que acontece hoje em dia com músicas e frases de propagandas publicitárias. A diferença está no conteúdo das mensagens: ao invés de usá-las para vender um produto, eram regras morais cujo objetivo era, por exemplo, constantemente reafirmar a perfeição do Estado vigente, ou uma receita em forma de versos sobre quantas doses de Soma eram necessárias em cada tipo possível de esgotamento mental.

Como se vê, tratava-se de uma sociedade de autômatos, na qual não era necessário recorrer à repressão violenta porque simplesmente não havia o mínimo risco de ocorrer qualquer tipo de revolta. Uma sociedade em que cada indivíduo se sentia feliz com a função exercida (pois desde o início haviam sido condicionados a exercerem tal função). Pode-se questionar que havia sido eliminada a criatividade humana, e que isto poderia gerar revolta. Não é verdade: a criatividade reprimida era perfeitamente compensada com a ingestão regular do Soma, droga totalmente inócua que era produzida e distribuída pelo Estado, e que poderia aliviar qualquer tipo de criatividade que o indivíduo sentisse estar reprimida sem que isto pudesse afetar de alguma maneira a ordem que já estava mantida a muito tempo.

É para tal sistema que Huxley vê a sociedade caminhando no "Retorno ao Admirável Mundo Novo". Porém ele próprio se surpreende ao perceber que se avançava muito mais rápido para esta direção do que ele supunha. Ele havia previsto os acontecimentos para o século VII dF (depois de Ford), mas no ritmo em que as coisas aconteciam em 1957, podiam se tornar realidade muito antes.
 
 

2.3 "Os Despossuídos"

A escolha desta história de Ursula Le Guin se baseia no fato de que ela lembra muito a questão do Caos e Emergência. Mostra uma sociedade em que o governo é inteiramente baseado na total falta de governo, e os problemas acabam sendo resolvidos espontaneamente (as soluções emergem do caos).

Urrás-Anarres é um sistema planetário duplo. Dois corpos enormes, de massas muito semelhantes, orbitando em torno de um centro comum, e este centro orbitando uma estrela amarela de terceira grandeza. Porém, para efeitos práticos, Anarres era considerado um satélite de Urrás. De fato era de massa um pouco menor que este, e de atmosfera conseqüentemente menos densa. Urrás era um planeta muito semelhante à Terra, com uma sociedade humana parecida com a atual em vários aspectos: produção e consumo em massa, grande parte do planeta com uma economia similar ao capitalismo, devastação desenfreada de recursos naturais... Anarres era quase um deserto. Possuía umas poucas espécies de plantas primitivas, nada mais. E uma quantidade de água muito inferior à de Urrás.

Cerca de dois séculos antes do período no qual se passa a história, uma população gigantesca de indivíduos contrários ao sistema foi exilada em Anarres, considerada a Lua de Urrás. Neste novo planeta, praticamente um deserto seco, tiveram que lutar muito pela sobrevivência. No decorrer destes dois séculos, foi desenvolvida uma sociedade completamente distinta daquela de Urrás, onde a lei maior era de que nenhum indivíduo da sociedade poderia possuir o que quer que fosse (daí vem o título da obra):
 

Como se vê, a idéia de todos os indivíduos serem "despossuídos" era levada ao extremo. Não existiam Leis nem algum Estado controlando isto, pois não era permitido que alguém pudesse possuir poderes sobre outra pessoa. Nem penalidades, pois prender alguém por um crime seria possuir a liberdade de alguém. Muito menos possuir a vida era permitido (pena de morte). O que regulava tal mecanismo era o consenso geral entre todos os indivíduos da sociedade. Uma pessoa que apenas sugerisse querer possuir alguma coisa era discriminada, acusada de estar egoizando. Haviam crimes mais graves, mas muito raros. Nestes casos as penas eram sempre decididas coletivamente, e nunca incluíam retirar a vida ou a liberdade de alguém. Variavam desde um desprezo social durante um certo período de tempo (algo insuportável a qualquer membro desta sociedade) até uma boa surra, em crimes mais graves. Casos raríssimos de assassinato costumavam ser punidos com a completa exclusão social, e ainda assim sujeitos às circunstâncias em que o crime teria ocorrido. Tentar se relacionar com uma pessoa excluída também era considerado uma forma de egoizar (era uma iniciativa da própria pessoa, que discordava da decisão coletiva), e poderia acarretar penas leves.

Aparentemente é um sistema perfeito: independente de alguém trabalhar ou não, estava assegurada sua alimentação, moradia e vestuário. Não havia a pressão de se precisar trabalhar para continuar sobrevivendo. O que então obrigava alguém a trabalhar? A possibilidade da exclusão social é que os obrigava, o medo de ser acusado de estar egoizando por não trabalhar.

Mas Anarres tinha o grande problema de ser praticamente um enorme deserto. Sem dúvida tudo era distribuído igualmente, só que neste caso era a pobreza que se distribuía igualmente entre os habitantes do planeta. Produzia-se o mínimo necessário para a sobrevivência, não haviam excedentes. Além disso, Anarres ainda dependia de certos minerais que só podiam ser importados de seu vizinho Urrás. Porém uma característica marcante de tal sociedade era seu isolamento em relação ao resto do universo. As naves cargueiras de Urrás eram sempre recebidas com sérias reservas, pois o povo de Anarres temia que se aproximando demais de um habitante de Urrás eles pudessem ser contaminados pelo seu egoísmo. A trama toda (que repetirei: é muito interessante, mas não é relevante no contexto deste estudo) ocorre quando um cientista de Anarres tenta quebrar este isolamento do planeta, visitando Urrás depois de dois séculos sem contatos diretos. É descrita a enorme confusão deste cientista na nova sociedade: não entendia porque precisava pagar por roupa e comida, porque precisava possuir uma residência fixa, casar-se por um tempo indeterminado, fazer parte de uma hierarquia...

Talvez o pior defeito desta sociedade aparentemente perfeita seja supor que o ser humano é um animal perfeitamente sociável. Isto não é verdadeiro, a sociedade humana nunca poderá ser um super-organismo da mesma forma que ocorre com uma sociedade de formigas ou de abelhas. O ser humano é muito mais um animal gregário que um animal sociável, ou seja, ele se sente bem vivendo em "bandos", mas não lhe agrada a idéia de fazer parte de um "super-organismo". O todo pode ser maior que as partes, mas no caso da sociedade humana o todo definitivamente não é mais importante que as partes...
 


3. Extrapolação para a Sociedade Futura com a RdI
 

3.1 "Admirável Mundo Novo"
  3.1.1 Breve Biografia de Aldous Huxley

Considerado um dos mais importantes escritores contemporâneos, Aldous Huxley era conhecido por possuir uma cultura enciclopédica. Um erudito com espírito rebelde e grande inquietação intelectual, que o levou a produzir uma vasta obra como romancista, ensaísta filosófico e literário, poeta, teatrólogo e pesquisador de extensões inexploradas da mente humana.

Nasceu em 26 de julho de 1894 na cidade de Goldaming, na Inglaterra, em meio a uma família tradicional que cultivava o gosto pelo intelecto. Era neto do cientista Thomas Huxley, de sólida reputação nos campos da zoologia e da medicina. Julian Huxley, irmão de Aldous Huxley, tornou-se um biólogo de renome internacional. Huxley abandonou o campo da pesquisa científica quando foi atingido por uma doença que o deixou praticamente cego durante cerca de oito meses. Recurerada a visão, descreveu a experiência em "A Arte de Ver", publicada em 1943.

Formou-se em literatura pela Universidade de Oxford em 1915. Em 1916 já estreava literalmente com um livro de poemas : "Wheels". Avesso ao ritmo das grandes cidades, Huxley retirou-se para a Suíça com a esposa, Maria Nys. Num pequeno chalé, ajudado por ela, venceu inibições e iniciou sua fecunda carreira como romancista. Desta época são os livros "Limbo"(1920), "Amarelo-cromo"(1921) e "Essas folhas murchas"(1921). Viajou para a Índia em 1927, de onde voltou profundamente impressionado pelas concepções budistas e pelo misticismo oriental.

Em 1928 publica "Contraponto", romance com técnica inovadora, onde exprime a sua descrença na possibilidade do amor autêntico e da comunicação numa sociedade dominada pelos valores materiais. Tal obra causou profundos impactos. Em 1932 apresenta a obra estudada aqui, "Admirável Mundo Novo", onde descreve uma sociedade dominada pela tecnologia e pelo precondicionamento.

No ano de 1936 conclui "Sem olhos em Gaza", onde traça o retrato de um intelectual atormentado pela situação política da Europa, assaltada pelo fantasma do nazismo e às vésperas de uma nova guerra. Transfere-se em 1937 para Los Angeles.

Pelas obras de Huxley, vê-se claramente que sua vida está dividida em duas fases distintas. A primeira fase, na qual está o "Admirável Mundo Novo", é uma fase extremamente "cínica", em que Huxley se mostra inteiramente desconfiado das boas-intenções do ser-humano. Na segunda fase se mostra mais preocupado com os mistérios da mente humana. São desta fase obras como "Eminência Parda"(1941), "O tempo precisa parar"(1944) e "A filosofia perene"(1946). Quando morreu em 22 de novembro de 1963 havia deixado trabalhos extraordinários, como "O macaco e a essência"(1948), "O gênio e a deusa"(1956), "A ilha"(1962)... Intelectual inquieto e curioso, descreve suas experiências com a mescalina nos livros "As portas da percepção" e "Céu e inferno". Infelizmente sua morte foi abafada por outro acontecimento que ocorreu neste mesmo dia: o assassinato de John Kennedy. Apenas em 1977 vieram à luz conferências apresentadas por ele em 1959, na Universidade da Califórnia, sob o título de "A situação humana".
 
 

3.1.2 "Regresso ao Admirável Mundo Novo"

Em 1957 Huxley publica um ensaio no qual discutia pontos abordados no romance "Admirável Mundo Novo", que ele havia escrito 25 anos antes. Escrita em 1932, a primeira obra se situa numa época em que ainda não existia o estalinismo e Hitler ainda não havia subido ao poder. Ao escrever "Regresso ao Admirável Mundo Novo", Huxley já havia presenciado o nazismo, o estalinismo e o desenvolvimento da bomba H. Apesar de conhecer estes fatos, ele ainda não acreditava que a repressão violenta seria o modelo para um sistema totalitário no futuro. Porém estava convencido que a humanidade estava caminhando muito mais rápido para o "Admirável Mundo Novo" do que ele havia previsto 25 anos atrás. Novamente a base usada para fazer esta extrapolação era a situação observada na época (final dos anos 50).

Huxley se mostra bastante preocupado com o futuro da humanidade, fato observado claramente pelo seguinte trecho do prefácio do ensaio:

"Os capítulos que se seguem devem ser como um pano de fundo de pensamentos acerca:

da revolta da Hungria e da sua opressão

das bombas H

da verba que cada nação reserva para sua 'defesa'

das intermináveis colunas de rapazes uniformizados, brancos, negros, morenos, amarelos, que caminham obedientes para a vala comum..."

3.1.3 RdI no "Admirável Mundo Novo"

Aldous Huxley acreditava, em 1932, que o sistema previsto por ele ainda levaria muito tempo para se concretizar. Isto porque o pesadelo da Europa em tal época era a excessiva falta de ordem, enquanto no romance era a ordem em excesso. Mais tarde, ao comentar esta obra, tudo indicava que o sistema estava em vias de se concretizar em muito menos tempo.

 O controle do Estado totalitário ocorria praticamente com a recompensa de comportamentos desejados. O controle do comportamento indesejável por castigo parecia a Huxley menos eficiente que o reforço de comportamentos desejáveis (por quem?). No "1984" o controle era exercido pelo castigo e pelo medo do castigo, enquanto na obra de Huxley os castigos eram raros e geralmente brandos. O fato é que as duas obras pareciam extremamente convincentes dentro do contexto das épocas em que foram publicadas.

De fato, tudo indica que estamos passando por uma transição do sistema de Orwell para o sistema de Huxley. O sistema soviético de 1958 se mostrava claramente uma combinação de ambos: uma elite de intelectuais e cientista eram recompensados com boa remuneração e uma certa liberdade de expressão, desde que não entrassem em campos políticos e ideológicos; já para o restante da população o controle era exercido de forma violenta.

Muitos podem questionar a possibilidade de um sistema ditatorial nos dias atuais, onde a democracia parece ser uma tendência ou alguma "evolução lógica" dos sistemas de governo. Porém, Huxley aponta alguns fatores quase incontroláveis que podem levar um país a um regime ditatorial apesar do mundo parecer caminhar para a democracia.
 
 

Superpopulação







No ano 1 d.C., estima-se que a população mundial era de cerca de 250 milhões de habitantes, aproximadamente metade da população chinesa no ano de 1954. Em 1600, a população era de pouco mais de 500 milhões. Na declaração da independência americana, passavam de 700 milhões. Eram 2 bilhões em 1931 e 2,8 bilhões em 1958. Atualmente estima-se uma população de 6 bilhões de pessoas espalhadas pelo planeta. Desde 1 d.C., a população mundial levou 16 séculos para se duplicar. Por volta de 1960, a previsão era de que a população duplicaria em menos de meio século! Problemas sérios são gerados com este superpovoamento: perdem-se áreas produtivas por estarem densamente povoadas, e solo das áreas para produção de alimentos são desgastados por maus agricultores para se satisfazer a demanda crescente por comida. Quais as conseqüências e os motivos desta explosão populacional, e como isto pode levar a um sistema totalitário?

No final do século XVIII o economista Thomas Malthus publica o livro "Ensaios sobre o princípio da população". A Teoria Malthusiana afirmava que a população humana não poderia crescer indefinidamente: como a população crescia em progressão geométrica e a produção de alimentos em progressão aritmética, fatalmente faltaria comida algum dia. Haveria então uma "luta pela vida" em que sobreviveriam os mais fortes e mais aptos. O que poderia baixar o número da população mundial seriam guerras, inanição e doenças. Posteriormente Darwin generalizaria esta teoria para todas as espécies vivas. Deve-se tomar muito cuidado com a má interpretação desta teoria de Malthus, pois ela potencialmente poderia "justificar" guerras e sistemas hediondos como o nazismo. Uma questão muito importante é como resolver este problema.

Inicialmente será analisada a causa desta explosão. Paradoxalmente, o motivo deste grande mal parece ser a tentativa aparentemente humanitária de se reduzir a mortalidade, através dos grandes avanços da medicina. O problema é se controlar a mortalidade e praticamente nada ser feito a respeito da natalidade. Isto causa um desequilíbrio numérico. Por exemplo, imaginemos uma ilha do pacífico vítima da malária. O índice de mortalidade é enorme, mas digamos que através do DDT (relativamente barato mesmo para um governo pobre) a doença é erradicada. Aparentemente foi um grande bem para a população local, e a curtíssimo prazo isto vai evitar centenas de mortes. A tragédia ocorre alguns anos depois: sem nenhum controle anticoncepcional (inacessíveis para uma população pobre), o índice de natalidade mantém a mesma taxa anterior, mas não é mais contrabalançado pela mortalidade. O resultado é que a população cresce explosivamente. Se centenas de vidas foram salvas com a erradicação da malária, dezenas de milhares de novas vidas podem morrer nos anos seguintes de inanição, ao mesmo tempo em que uma concentração maior de pessoas é um ambiente propício para o surgimento de novas doenças. Os bons fins não justificam os maus meios, mas o que dizer quando os bons meios resultam em fins catastróficos?

Ao que parece, isto poderia ser evitado com um controle eficiente da natalidade para que as taxas novamente atingissem algum equilíbrio. Mas por diversos motivos isto é extremamente complicado. O controle da taxa de mortalidade pode ser fornecidaparatodo um povo por um pequeno grupo de técnicos trabalhando para um governo. Já para se controlar a natalidade é necessária a colaboração de todo o povo. Métodos anticoncepcionais são inacessíveis para uma grande maioria, e ainda assim tem-se o problema cultural de se aplicar tal controle: a maior parte das tradições religiosas e sociais do planeta são contra a morte ilimitada, mas a favor da reprodução ilimitada.

No Admirável Mundo Novo imaginado por Huxley, o controle da natalidade foi solucionado abolindo-se completamente a reprodução natural. Os novos seres humanos eram reproduzidos artificialmente, onde também se fazia uma seleção genética dos novos indivíduos. A maioria dos indivíduos gerados eram estéreis, e uma porcentagem irrisória de homens e mulheres eram férteis apenas para possíveis reposições nos bancos de óvulos e esperma. A população mundial era assim mantida em torno de pouco menos de 2 bilhões, número considerado ideal pelos dez Controladores Mundiais da história.

Não funcionando os métodos anticoncepcionais, a solução de Huxley seria então a única possível? Isto é questionável. A hipótese Malthusiana pressupõe que a produção de alimentos cresce linearmente, não acompanhando a explosão exponencial da população. Mas isso pode não ser verdade! Já se tem claros indícios de que a tecnologia também pode apresentar um crescimento exponencial. A produção de alimentos deveria ser capaz de acompanhar o avanço tecnológico quando se aplicam novas técnicas para cultivo, bem como sistemas quase que inteiramente automáticos para cultivá-los e extraí-los. Um outro problema seria controlar a qualidade desses alimentos, mas no que diz respeito à sua quantidade parece não haver grandes complicações. O grande problema de hoje parece não ser produzir, e sim distribuir os alimentos produzidos. Outra questão interessante, que a tecnologia deveria resolver: como produzir cada vez mais sem com isso degradar o ambiente?

Vamos supor então que não há mais problemas com a produção de alimentos. Ou seja, a população mundial poderia continuar crescendo no mesmo ritmo por mais tempo que a produção seria suficiente para cobri-la. É exatamente nesta grande concentração de pessoas que Huxley vê o risco de surgir um sistema totalitário. Com o problema da população excessiva, o governo central é forçado a assumir responsabilidades adicionais para garantir a distribuição de produtos. Num país densamente povoado, as revoltas tendem a se tornar mais freqüentes, e o governo é obrigado a proteger a própria autoridade (para manter a distribuição). Caímos num beco sem saída, em que a população em excesso lentamente faz com que um governo democrático vá se tornando um governo ditatorial. Aliando-se a isso o que Huxley denomina de "tentação do poder" por parte dos governantes o totalitarismo parece inevitável.
 
 

Superorganização







Outro problema que pode levar ao totalitarismo é a aparente tendência humana à uniformidade e à superorganização da sociedade. A própria natureza mostra a ineficiência da uniformidade, ao longo de bilhões de anos de seleção natural. Por exemplo, o sucesso das espécies que desenvolveram a reprodução sexuada se deve ao fato de que isto aumenta a diversidade das células descendentes. Na reprodução unicelular, exceto por raras mutações no DNA, as células filhas são exatamente iguais à célula mãe. Ao longo da evolução esta uniformidade se mostrou ineficiente para a adaptação das espécies a novas condições, e estas espécies fora lentamente sumindo. Hoje existem poucas espécies com tais características (não em número de indivíduos, logicamente, mas em quantidade de espécies). Ao buscar um mundo uniforme, o ser humano segue um comportamento anti-natural que bilhões de anos de seleção natural nos mostraram  ser ineficiente.

A tecnologia é uma das responsáveis pela superorganização, pois conduz a concentração de poder econômico e político como conseqüência do aumento da capacidade de produção. A produção e consumo em massa é uma clara indicação de que buscamos a uniformidade. À medida em que a produção em massa se torna mais eficiente, tende a se tornar mais complexa e dispendiosa, portanto fora do alcance de pessoas que possuem recursos limitados. Além disso, a produção em grande escala não poderia funcionar sem uma distribuição em grande escala. Quando se tem produção e distribuição em grande escala, os "pequenos", com pouco capital operante, se encontram em grave desvantagem. Os "grandes" os engolem, e quando desaparecem um maior poder econômico passa a ser manejado por mãos cada vez menos numerosas. Daí vem a superorganização.

Numa ditadura, o Alto Negócio, possível pela tecnologia e pela ruína do Pequeno Negócio, é controlado pelo Estado. Numa democracia capitalista, como nos Estados Unidos, o Alto Negócio é controlado por uma Elite do Poder. Esta elite emprega milhões em suas fábricas, escritórios e armazéns. Controla outros milhões emprestando-lhes dinheiro para adquirirem seus produtos e, por ter a posse dos meios de comunicação de massa, influenciam pensamentos, sentimentos e ações de quase todos. Os meios pelos quais isto é feito será discutido adiante, quando tratarei a respeito dos mecanismos da propaganda. Em conclusão, a tecnologia leva a uma concentração de poder implacável em estados totalitários, e mais polida e imperceptível nas democracias. Nessas democracias, parecemos caminhar para uma superorganização em que os indivíduos têm a "ilusão da individualidade". Esta individualidade artificial seria fornecida às pessoas através do incentivo ao consumismo.

Segundo Huxley, enquanto a primeira metade do século XX foi dos Engenheiros Técnicos (desenvolvimento da tecnologia), a Segunda metade seria dos Engenheiros Sociais. Pessoas altamente instruídas em campos como sociologia, psicologia e até mesmo neurologia tratariam de manter estável esta superorganização, fornecendo habilmente aos indivíduos a mencionada "ilusão da individualidade". Willian White, em seu livro "The Organization Man", verifica que uma nova ética social estaria substituindo a ética tradicional. Neste sistema o indivíduo não estaria em primeiro lugar, e as palavras chaves desta nova ética social seriam ajustamento, adaptação, comportamento socialmente orientado, integração, aquisição de técnicas sociais, trabalho em equipe, vida em grupo, lealdade ao grupo, dinâmica de grupo, pensamento de grupo, criatividade de grupo...

Pode-se afirmar que, com técnicas tão eficazes, estes Engenheiros Sociais seriam todos pessoas bem intencionadas? Parece consenso comum pensar que pessoas que levaram 4 ou 5 anos para se formar em campos como sociologia e psicologia são todas altruístas, interessadas apenas no bem estar da sociedade. De onde vem esta certeza? Huxley se pergunta: "QVIS CVSTODIS CVSTODES ?" Quem guardará nossos guardas? Quem seriam os Engenheiros Sociais desses Engenheiros Sociais?
 
 

Propaganda







Basicamente existem hoje em dia dois tipos de propagandas, as racionais e as não racionais. Uma propaganda racional é aquela que apela para o raciocínio, descrevendo objetivamente as boas propriedades de um produto a ser vendido ou as possibilidades reais de um candidato político. Infelizmente este tipo de propaganda é raro. O gênero mais difundido na atualidade são as propagandas não racionais. Tais propagandas são ditadas por paixões, impulsos cegos e medos irracionais. Geralmente vendem produtos apresentando provas falsas, falsificadas ou incompletas. A argumentação lógica é evitada. As características principais deste tipo de propaganda são:

Nos campos científicos e técnicos é fácil criar uma propaganda racional. Por exemplo, uma propaganda típica de uma revista especializada em mecânica aponta as características de uma nova máquina, como potência dos motores, resistência à corrosão, peso... Mas nos campos da política, religião e ética é muito mais complicado criar uma propaganda deste tipo.

Numa propaganda cujo objetivo é o consumo em massa de um determinado produto a regra máxima é tentar confundir o símbolo com aquilo que está sendo simbolizado. Também são bastante explorados os medos irracionais presentes praticamente em todas pessoas: medo de não ser reconhecido socialmente, medos de natureza sexual,... A tabela abaixo ilustra este fato no caso de alguns produtos de consumo, apontando o que realmente está sendo vendido e o que a propaganda quer fazer o consumidor pensar que está comprando (confundir o símbolo com o objeto simbolizado):

Produto O que é O que a propaganda tenta vender
Automóvel Veículo de autopropulsão, baseado num motor de combustão interna, capaz de transportas indivíduos e objetos para outros locais com comodidade. 

Apresenta a desvantagem de ser poluente.

Liberdade e status social
Creme dental Anti-séptico bucal aromatizado, usado na escovação dos dentes, que se apresenta eficaz na prevenção da cárie quando se adiciona flúor  Um produto que vai diminuir o medo do indivíduo de ser sexualmente repulsivo para o sexo oposto, ao eliminar o mau hálito
Cosméticos Soluções a base de lanolina que têm efeitos benéficos na reidratação da pele Beleza feminina, um produto capaz de tornar as mulheres mais atraentes para os homens (novamente o medo irracional de não ser aceito sexualmente)
Best-selers Obra literária, nem sempre de qualidade superior, que já foi lida por uma quantidade considerável de pessoas e rendeu muitos lucros à editora A inveja por parte dos que ainda não leram a obra e o respeito dos intelectuais. 

 

Bilhete de Loteria Conjunto de números com uma probabilidade quase nula de ser sorteado, mas que uma vez o sendo promete razoável recompensa financeira ao apostador Um bilhete cuja probabilidade de ser sorteado depende unicamente da fé do apostador, e cuja recompensa em dinheiro vai resolver todos os problemas da sua vida
Coca-cola Líquido gaseificado composto de água, açúcar, caramelo, cafeína e mais uma dezena de substâncias não divulgadas Liberdade, individualidade e aceitação social por parte dos indivíduos jovens (medo de ser socialmente excluído e diferente)
Vitamina C Geralmente uma pastilha industrializada contendo uma substância orgânica benéfica ao organismo nas doses certas, mas totalmente dispensável quando se tem uma alimentação adequada por estar naturalmente presente em frutas, verduras e legumes. Vitalidade, juventude e saúde; explora o medo que o indivíduo tem de envelhecer ou adoecer.
Bebida Alcoólica Veneno protoplásmico que, em pequenas doses, é capaz de deprimir o sistema nervoso central de uma forma psicologicamente agradável A amizade e a boa camaradagem de uma roda de amigos consumindo a mesma substância. 

Em alguns casos também é explorado o medo do indivíduo de ser sexualmente tímido para o sexo oposto

Microcomputador Equipamento micro-eletrônico, cujo componente principal é a base de silício dopado com impurezas. 

É capaz de calcular e fazer tarefas interessantes desde que programado da maneira adequada 

Produto para eliminar o medo que a pessoa tem de ficar tecnologicamente atrasada em relação ao resto da sociedade
Tanto nas propagandas comerciais quanto nas políticas a música desempenha um papel importantíssimo. A humanidade sempre criou cantos como uma forma de agregação social, seja nas cerimônias religiosas, um exército em batalha, um grupo de lavradores trabalhando... Os cantos patrióticos, por exemplo, acabam se tornando os hinos nacionais dos países. As mensagens cantadas são absorvidas e gravadas muito mais facilmente pela mente humana, fato este já conhecido e utilizado a milênios. A propaganda usa mensagens cantadas com muita freqüência. Alguns absurdos que seriam vergonhosos de se dizer ou escrever tornam-se atraentes quando alguém os transmite em forma cantada. No caso da música, as crianças são as mais receptivas devido ao fato de não estar ainda desenvolvida sua faculdade crítica: elas acabam se tornando gravadores ambulantes, repetindo o tempo todo mensagens comerciais ou políticas ouvidas do rádio ou da TV.
 

Outra característica aproveitada pela publicidade em geral é o fato da fadiga favorecer a sugestibilidade das pessoas. No caso de governos totalitários, isto era usado ao extremo contra prisioneiros políticos, mais ainda que a tortura física: o prisioneiro era privado do sono normal e submetido a interrogatórios longos e repetitivos, estando em certo estágio do processo apto a aceitar sugestões e confessar qualquer coisa que os interrogadores desejassem. Outro exemplo: nas grandes manifestações nazistas, o objetivo de se fazer o povo marchar inutilmente de um lado para outro era deixaá-los cansados, e assim mais receptivos às sugestões do orador. Voltemos ao caso das propagandas atuais: não seria este o motivo da preferência de transmissões de TV no período noturno, o conhecido "horário nobre"? Em tal horário a fadiga mental e física das pessoas as tornam mais sugestionáveis, com a capacidade crítica enfraquecida.

Induzir emoções negativas fortes também aumenta em muito a sugestibilidade do ser-humano. Um claro exemplo disto é a técnica usada por John Wesler em suas pregações. Abria-se o sermão com uma descrição longa e minuciosa, cheia de detalhes, dos tormentos eternos a que os fiéis estariam submetidos caso não se convertessem. Tais descrições eram completadas com expressões faciais de medo, raiva e ameaça do pregador. Sabe-se que emoções fortes são contagiosas quando presenciadas noutra pessoa, e um bom ator pode ser extremamente convincente quando deseja. Todo este conjunto acabava influenciando grande parte dos ouvintes. A maioria ficava num estado de tensão semi-cataléptico. Pessoas mais sensíveis podiam até mesmo ficar histéricas diante da descrição dos tormentos eternos. Isto acontecia com certa freqüência, e estes casos contribuíam para aumentar ainda mais o estado de tensão dos participantes. Após perceber que a multidão já se encontrava em estado profundo de depressão mental, o pregador mudava de tom e prometia a salvação para aqueles que se convertessem. Variações sobre este método de persuasão são praticamente infalíveis, e de forma alguma isto se limita ao campo da propaganda religiosa!

As apresentações de Hitler eram cercadas de um cenário pomposo, quase similar a uma cerimônia religiosa. Uma combinação dos métodos descritos acima era usada com eficiência. Primeiro se induzia a fadiga através das marchas, como já foi mencionado. As manifestações ocorriam ao anoitecer, e os discursos eram iniciados com uma descrição dos tormentos aos quais a população alemã estava submetido, sempre completadas com emoções e expressões faciais fortes do orador. Com a sugestibilidade da massa profundamente acentuada, oferecia-se o nazismo e a eliminação de bodes expiatórios como a solução definitiva para a vida das pessoas. Muitos foram "convertidos" ao nazismo pela aplicação desta técnica. Isto não tem relação nenhuma com a verdade ou falsidade das idéias que se está tentando passar, ainda que sejam absurdas ou hediondas. Infelizmente a verdade é que, com o método de persuasão adequado, qualquer pessoa pode ser convertida a praticamente qualquer coisa.
 
 

Propagandas a serviço de uma ditadura







Num regime ditatorial, os meios tecnológicos de divulgação de informações(rádios, TV's, cinemas, alto-falantes...) são amplamente utilizados para se espalhar a ideologia do Estado. O pesadelo de uma nação dominada por meios técnicos foi quase concretizada no nazismo, só não ocorrendo de fato porque os "Engenheiros Sociais" não tinham uma noção muito clara de como controlar as idéias dos indivíduos: suas ações eram quase que totalmente decididas por observações empíricas do comportamento social. Atualmente nós temos, além da tecnologia mais avançada, conhecimentos suficientes na área da psicologia e da neurologia que podem ser aplicadas em propagandas. No "Regresso ao Admirável Mundo Novo", Huxley admite assustado que a "arte de se 'controlar mentes' está em vias de se tornar uma ciência". Ele prevê que, sob uma ditadura, o Estado não hesitaria em utilizar essas técnicas, já usadas nas propagandas comerciais, em propagandas de caráter ideológico. No livro "1984" este tipo de propaganda era evidente.

Um governo ditatorial utilizaria também num fato comprovado a muito temo: a perda da capacidade crítica individual quando se está em meio a uma grande multidão. Huxley denomina este fato de "veneno gregário". De fato, um pequeno grupo de pessoas é tão moral e inteligente quanto os indivíduos que o constitui. Já uma multidão é completamente caótica, capaz de realizar qualquer coisa exceto ações inteligentes e comportamento realista.

Os métodos de persuasão utilizados hoje em dia na propaganda consumista parecem ser perfeitamente descritos na seguinte frase: "Toda propaganda eficaz deve confinar-se ao estritamente indispensável, e deve portanto exprimir-se em meia dúzia de fórmulas estereotipadas". Hoje em dia esta frase poderia sair, sem grandes escândalos, da boca de qualquer publicitário. Mas não foi de um publicitário que ela saiu: esta é uma frase dita pelo próprio Adolf Hitler! Se já se considera desonesto a aplicação de tais métodos para induzir ao consumismo atual, que se poderia dizer desses métodos sendo utilizados para difundir ideologias absurdas?

A propaganda de massa é de fato perigosíssima, quando mal usada. Mas o que significa dizer que algo é mal usado? Do ponto de vista de um Estado totalitário, ela é extremamente preciosa para se manter o controle do comportamento da população. Tal tipo de propaganda aliada a meios não violentos de repressão nos leva a um cenário assustadoramente parecido com o descrito na obra de Huxley. Neste ponto pode-se ver a estreita relação entre isto e a superpopulação: com mais gente concentrada em espaços cada vez menores, temos um ambiente propício para a disseminação deste tipo de propaganda.
 
 

Hipnopedia e Mensagens Subliminais







Nas propagandas descritas anteriormente, havia-se a necessidade de que, de alguma forma, as pessoas se tornassem mais sugestionáveis. Seja pela fadiga, emoções fortes, exploração de medos irracionais ou formação de multidões. Existem outras técnicas em que não se precisa conscientemente diminuir sua capacidade crítica para absorver as mensagens. Isto porque ou as mensagens chegam de forma tão sutil que não é conscientemente percebida ou então elas atingem o indivíduo em períodos nos quais ele não está consciente, como no sono.

No Mundo Novo de Huxley as crianças eram submetidas, enquanto dormiam, a uma técnica denominada hipnopedia. Tratavam-se de regras morais e consumistas que eram transmitidas por pequenos alto-falantes próximos das camas em que dormiam. Essas mensagens eram curtas, geralmente em versos, e não exigiam grande raciocínio para serem absorvidas e memorizadas. Eram repetidas todas as noites, centenas ou milhares de vezes. Já adultos, tais frases acabavam sendo lembradas naturalmente em muitas ocasiões. Inclusive repetir e reconhecer tais frases era uma forma de reconhecimento social, reforçava a idéia de que "todos eram da mesma família". A pouco tempo atrás pareceu começar a se tornar moda ser conscientemente submetido a um método parecido com este. Muita gente se submetia sem receios a esta verdadeira lavagem cerebral, buscando desta forma aprender algum novo idioma pela repetição de frases de um aparelho enquanto dormiam. O fato do método não ser tão eficiente quanto Huxley previu se deve ao conteúdo das mensagens: aprender idiomas exige raciocínio, algo muito enfraquecido quando se está no estado de sono. Não acredito que a técnica tenha dado resultados significativos. Porém, se forem mensagens adequadamente elaboradas e que não exijam raciocínio, a repetição irá enraizá-las profundamente na mente da pessoa submetida a isto.

Além da hipnopedia, mensagens podem ser gravadas na mente mesmo que a pessoa esteja desperta e perfeitamente consciente. São as mensagens subliminais, transmitidas tão próximas dos limites da percepção humana que a maioria das pessoas não têm consciência de as estar recebendo. A idéia da mensagem pode aparecer muito clara na mente da pessoa, mas por não poder associá-la a um causador externos acredita-se que a idéia partiu dela própria. Muita confusão foi lançada intencionalmente a respeito da eficácia destas técnicas. Por razões óbvias, a principal razão destas contra-informações é fazer com que a técnica fique desacreditada, que se duvide da sua eficácia e que a técnica seja simplesmente considerada uma lenda. Uma boa história para a ficção científica, mas sem nenhum valor no mundo real. Isto não é verdade, a técnica é extremamente eficiente e, desde que Huxley escreveu sua obra, deve ter se desenvolvido consideravelmente. Provavelmente já deve ter abandonado o campo das observações empíricas para se tornar uma ciência solidamente fundamentada.

Existem vários métodos conhecidos para se transmitir mensagens subliminais. Um dos mais conhecidos, e provavelmente o mais desacreditado, é o de inserir quadros publicitários em meio aos quadros de um filme normal de cinema. Sua eficiência depende muito das características da retina de cada pessoa. Muitos têm consciência dos quadros adicionais, e conseguem associar a idéia que surge em sua mente aos quadros vistos. Em outras pessoas o tempo de persistência das imagens na retina é tão longo que ela realmente não percebe os quadros adicionais, e o método também não é eficiente neste caso. Mas numa pequena porcentagem das pessoas o método funciona bem, e isto tem gerado algum lucro adicional para as vendas feitas dentro dos cinemas...

Porém este não é o único método envolvendo imagens. Existem outros bem mais eficientes. Outro bastante conhecido é o de inserir mensagens em imagens aparentemente caóticas (folhas, água, gotículas condensadas de vapor...). Se baseiam em uma fraca mudança de tonalidade ou em uma disposição espacial particular dos objetos. O primeiro é menos eficiente no caso de transmissões de TV, pois só se perceberia a fraca mudança de tonalidade em aparelhos perfeitamente calibrados. No caso de fotos em revistas já se torna bem mais efetivo, caso a impressão seja de boa qualidade. Sabe-se também de experiência envolvendo cores cujas freqüências estariam nos limites da percepção de um ser-humano normal: pouco inferiores à freqüência do vermelho ou superiores à do violeta.

Mensagens em freqüências limites também podem ser utilizadas no caso de sons, bem como mensagens aparecendo em músicas como uma fraca modulação numa freqüência predominante. Note que isto nada tem a ver com as famosas "mensagens ao contrário" que afirmava-se estar presentes em gravações de bandas de rock das décadas de 60 e 70, e que muita gente associava ao satanismo. Não se sabe a origem desta lenda. De fato alguns discos saiam com tais gravações, com o único objetivo de despertar a curiosidade e aumentar o consumo. Comprava-se mais discos para procurar estas "mensagens ao contrário". Porém, a base da idéia das mensagens subliminais é de que as mensagens sejam compreendidas, apesar de não percebidas conscientemente. Acredito que raros sejam os indivíduos que tenham esta curiosíssima (e inútil) habilidade de compreender mensagens gravadas do lado contrário ao sentido de rotação dos discos.

Atualmente as mensagens subliminais são usadas, nem com tanta freqüência, apenas para incentivar o consumo de produtos. Mas poderiam perfeitamente ser usadas na difusão de ideologias, ou como uma forma de se reforçar o controle exercido pelo Estado. Poder-se-ia perfeitamente viver num regime totalitário e, através de mensagens deste tipo, acreditar que se vive num paraíso democrático. Foi exatamente isto que Huxley quis dizer com "repressão não fisicamente violenta". Tentando-se reduzir a possibilidade de revolta, a repressão se torna desnecessária.

A tecnologia dos computadores pode facilitar muito a difusão de tais mensagens. Tendo-se um preciso controle digital sobre os sons e as imagens, técnicas ainda impensadas poderiam ser elaboradas para se transmitir mensagens situadas nos limites na percepção humana. Assim como existem hoje software antivírus, seria também possível se instalar software anti-mensagens-subliminais nos computadores? Alguém que desenvolvesse algo assim faria um bem enorme para a humanidade (lógico, dependendo do ponto de vista) Porém algumas mensagens são tão sutis que um software talvez não tivesse "inteligência" suficiente para identificá-las...
 
 

O Soma







Uma superorganização pode sufocar um indivíduo, fazê-lo sentir-se perdendo a individualidade. Realmente não somos como formigas ou abelhas, e um super-organismo humano provavelmente não funcionaria. Seriam excluídas tanto a individualidade quanto a capacidade criativa, e tal sufocamento seria fatal para a queda deste tipo de sistema. Huxley prevê que tais problemas poderiam ser sanados se o Estado distribuísse regularmente aos cidadãos uma droga inócua, denominada Soma, capaz de satisfazer a criatividade reprimida dos mesmos. Quando ocorriam revoltas isoladas na história, a polícia costumava utilizar vapores de Soma ao invés dos cacetetes e bombas de gás lacrimogêneo atuais. O efeito tranquilizador restaurava a ordem.

O Soma verdadeiro, de onde Huxley retirou o nome, era uma droga usada pelos antigos arianos, invasores da Índia, em seus ritos religiosos. Provavelmente um sumo intoxicante retirado do caule da Asclepias Acida. Os bebedores do Soma sentiam seus corpos se fortalecerem, seus corações se encherem de coragem, suas mentes se encherem de lucidez e da certeza da sua imortalidade. Mas ao contrário do Soma da história, o Soma real de forma alguma era inócuo. Lendas hindus afirmam que o próprio deus Indra adoecia às vezes por tê-la bebido. Os simples mortais poderiam até mesmo morrer se bebessem uma dosagem forte. O Soma danificava profundamente o organismo, mas para os bebedores ele gerava uma felicidade tão transcendente que este preço no fundo não era considerado exorbitante.

O Soma do Admirável Mundo Novo não tinha estes efeitos inconvenientes. Em pequenas doses proporcionava uma sensação de felicidade. Doses mais altas geravam visões, e com três pílulas de Soma se caía, depois de alguns minutos, num sono relaxante. Isto sem qualquer desgaste sério para o organismo ou para a mente. Os habitantes deste mundo novo libertavam-se assim de seu mau humor, conflitos cotidianos ou criatividade reprimida pelo sistema. No "1984" a droga mais utilizada era o Gim Vitória, mas não era agradável como o soma: era descrita como tendo gosto horrível, da pior qualidade, e geralmente era usada para disfarçar a qualidade ainda pior das refeições oferecidas pelo Partido.

O Soma era visto como um direito dos cidadãos. Aprendia-se sobre as dosagens nas sessões de hipnopedia, e para o Estado era uma garantia contra a desadaptação pessoal e a divulgação de idéias subversivas. "A religião, declara Karl Marx, é o ópio do povo. No Admirável Mundo Novo, a situação invertera-se. O Ópio, ou antes o Soma, era a religião do povo."

O Estado hoje em dia tolera a presença de drogas em meio à sociedade? Antes de se responder um veemente "não", devemos lembrar que existem hoje dois tipos de drogas: as drogas ilegais e as drogas legalizadas. O tabaco e o álcool são os exemplos mais gritantes de drogas toleradas por quase todos os Estados do mundo. Na Ásia, algumas regiões ainda toleram o consumo do ópio. Outras substâncias já são de uso tão difundido que atualmente ninguém mais levaria a sério se alguém as classificasse como drogas, como acontece com a cafeína e com o açúcar refinado. Mas o fato é que, quanto a dependência causada, estas duas substâncias poderiam seguramente ser consideradas desta forma.

No segundo tipo estão as drogas ilegais. Evidentemente o que alimenta o tráfico de tais substâncias é a obtenção de lucro: com a proibição, o preço se torna excessivamente elevado devido aos riscos envolvidos no seu transporte. É sempre vista como uma atividade marginal, mas poucos atentam para o motivo destas atividades. O fato é que as propagandas incentivam o consumismo desenfreado em todas as classes sociais. Ou seja, não faz sentido imaginar uma transmissão de TV incentivando o consumismo apenas em pessoas que têm capacidade de consumir. A propaganda afeta todos, inclusive aqueles que não têm a mínima condição de satisfazer o impulso consumista induzido pela comunicação de massa. Sem capital para consumir produtos, acabam aderindo à marginalidade e percebem rápido que o tráfico de drogas ilegais é o melhor meio de se conseguir o capital tão desejado para ter poder de consumo. Temos um exemplo neste século que indica como a proibição de substâncias está profundamente ligada ao crime: com a Lei Seca, na década de 20, formou-se um crime organizado para traficar bebidas alcoólicas que era praticamente idêntico aos grupos organizados atuais que traficam drogas ilegais. Estes chefões do crime atraiam uma grade massa de pessoas sem poder aquisitivo, que viam no tráfico de bebidas uma fonte rentável de capitais. Um dado muito curioso: durante a Lei Seca, o alcoolismo aumentos nos Estados Unidos.

Tentemos avaliar o real motivo da proibição de drogas pelo Estado. Será que o Estado proíbe o consumo de drogas por estar preocupado com a saúde dos cidadão? Muito improvável, já que permite a utilização de drogas de efeitos tão devastadores como o tabaco e o álcool. Incoerentemente a grande indústria do tabaco parece muito empenhada em apoiar financeiramente o combate ao narcotráfico. Seria inocência demais acreditar que o motivo disto é a sua preocupação com a saúde da população... A verdade é muito mais dura que isso: ela quer simplesmente evitar um forte adversário para concorrer economicamente com ela.

A maioria das drogas ilegais não são de forma alguma inócuas ao organismo como o Soma imaginado por Huxley. Com a cocaína, por exemplo, os usuários são obrigados a pagar seu êxtase e sentido de poder ilimitado, físico ou mental, com dolorosas fases posteriores de depressão e alucinações paranóicas, que podem conduzir a crimes violentos. A anfetamina se parece muito com o Soma que Huxley imaginou, mas o abuso custa muito caro ao usuário em termos físicos e mentais. Em fins dos anos 50 calculava-se cerca de um milhão de viciados em anfetaminas no Japão.

Mas existem drogas que, embora não totalmente sem efeitos colaterais, produzem muito menos danos que o álcool. É o caso do peyote, cuja substância ativa é a mescalina. Trata-se de um alucinógeno usado a muito tempo por índios do México e do sudoeste dos Estados Unidos. Ao que tudo indica, o peyote sempre foi muito menos prejudicial aos indígenas do que o gim e o whisky trazidos pelo homem branco. Os piores efeitos colaterais desta variedade de cacto não passavam da provação de ter de mascar uma substância de gosto repugnante e experimentar náuseas durante uma ou duas horas.

A química orgânica atual abre um enorme campo para a produção de drogas sintéticas. Tenta-se desta forma chegar a uma droga o mais próxima possível do Soma. Não se pode afirmar se haverá sucesso nesta busca, provavelmente não. Porém o conhecimento pormenorizado da química cerebral permite que sejam sintetizadas substâncias de efeitos muito mais localizados. Com tais substâncias os efeitos se fariam sentir exclusivamente em células do sistema nervoso, sem maiores danos a outras partes do organismo. Algumas delas são tranqüilizantes, como a reserpina, a cloropromazina e o meprobamato. As duas primeiras são usadas no tratamento de doenças mentais como a esquizofrenia. Embora não conseguindo curá-la, diminui consideravelmente os piores sintomas da doença. O meprobamato é usado para controlar diversas formas de neuroses. Nenhuma das três é totalmente inofensiva, mas o custo em termos de saúde física e eficiência mental é bastante baixo. Com os tranqüilizantes temos apenas a diminuição da eficiência física e mental enquanto a droga atua. Este seria um dos aspectos conseguidos em direção ao Soma.

Outro aspecto do Soma é como intensificador das sensações e produtor de visões. O LSD-25 é uma droga sintetizável, inicialmente extraída e purificada de um fungo do centeio, que cobre este segundo aspecto do Soma. É eficaz em doses ínfimas, e fisiologicamente o custo ao organismo é muito baixo. O grande problema é a perda de controle do usuário, que pode levá-lo a comportamentos perigosos para si próprio e para os que estão à sua volta. Na maioria dos casos o efeito é de uma deformação agradável da realidade. Mas a forte sugestibilidade que induz também pode, dependendo de estímulos do ambiente, levar a crises paranóicas perigosíssimas.

Além de tranqüilizante e produtor de alucinações, o Soma do "Admirável Mundo Novo" também apresentava características estimulantes. Existem estimulantes clássicos, basicamente compostos de cafeína: o café, o mate... Todavia são estimulantes muito fracos, capazes até de causar dependência mas definitivamente sem o mesmo efeito de estimulantes ilegais mais fortes. Dentre estes estimulantes, a anfetamina está muito longe de se equiparar ao soma devido aos gravíssimos efeitos sobre o organismo. A Iproniazida estava sendo usada em 1957 para tratar doentes de depressão, e apesar de ainda muito perigosa apresentava efeitos menos devastadores que os das anfetaminas. Um candidato forte a se tornar o Soma é um amino-álcool chamado Deaner. A droga aumenta a produção da acetilcolina, aumentando a atividade do sistema nervoso quase sem prejuízo para o organismo, pelo menos a curto prazo. Estava em fase de testes quando Huxley escrevia o "Retorno ao Admirável Mundo Novo".

Como se vê, existem atualmente numerosos substitutos de vários aspectos do Soma. Já existem tranqüilizantes, alucinógenos e estimulantes relativamente baratos em termos de danos ao organismo. Um ditador no futuro poderia com toda certeza utilizá-las com fins políticos. Como o ditador faria para obrigar os cidadão a consumirem tais drogas? Para Huxley, ele não precisaria obrigá-los: bastaria colocá-las ao alcance de suas mãos. Hoje, apesar do tabaco e do álcool serem tão ineficientes quanto a seus efeitos respectivamente pseudo-estimulantes e sedativos, muitos estão dispostos a gastar grande parte do que possuem consumindo-os. Existem também barbitúricos e tranqüilizantes que só podem ser obtidas mediante receita médica. Mas tratam-se de drogas tão procuradas que os médicos as receitam aos milhões nos Estados Unidos. Atualmente são drogas muito caras, mas não há dúvida de que, se pudessem ser compradas a preços menores, seriam consumidas às dezenas de bilhões.

Os químicos numa ditadura seriam instruídos a sintetizarem drogas mais estimulantes ou mais tranqüilizantes, de acordo com as circunstâncias do momento. Durante crises nacionais, produziriam e distribuiriam drogas estimulantes. Entre as crises, um povo consumidor de estimulantes poderia causar embaraço à autoridade do tirano, e nesses períodos seria incentivado o consumo de drogas tranqüilizantes e alucinógenas. Com tal método, não sobraria muita possibilidade de se rebelarem contra uma ditadura.

Um quarto aspecto do Soma era sua capacidade de aumentar a sugestibilidade e reforçar os efeitos das propagandas do Estado. Novamente temos drogas similares no mundo real, como o pentonal e o amital-sódio. Conhecido como o "soro da verdade", o pentonal foi usado pelas polícias de diversos países para extrair (o seria sugerir ?) confissões de criminosos mais relutantes.

As descobertas da neuroquímica do sistema nervoso e a síntese de drogas pode, como acontece com quase tudo, ser mal ou bem utilizada. As novas drogas podem tanto serem usadas no tratamento de doenças mentais como usadas para um Estado totalitário controlar a população. "Dado que a ciência é divinamente imparcial, é mais provável que tais descobertas escravizem e libertem, curem e destruam, ao mesmo tempo."
 
 

O Soma Eletrônico







O aumento na qualidade das sensações oferecidas por equipamentos eletrônicos também pode levar a uma característica inusitada do soma. Em sua obra, Huxley já descrevia cinemas em que a platéia percebia as cenas em três dimensões e, com o auxílio de equipamentos eletrônicos nas poltronas, eram capazes de sentir cheiro e tato associados às cenas do filme. Vejamos quais desses aspectos estão se desenvolvendo com os computadores...

A qualidade de áudio cresce constantemente. Hoje em dia, um CD pode reproduzir quase que fielmente as ondas sonoras captadas no momento da gravação, sem adicionar ruídos. Também é possível fazer com que os sons envolvam completamente alguém, com a correta distribuição de vários canais de áudio pelo ambiente. Com isto os sons ganham também uma dimensão espacial. Já se conhece a muito tempo o poder de escalas musicais na alteração do estado de consciência de uma pessoa. Com a possibilidade de se processar todos os sons digitalmente antes de emiti-lo pelas caixas acústicas, temos um excelente meio de criar uma droga eletrônica.

Luzes e imagens também têm um papel muito importante na alteração dos padrões cerebrais. É inevitável que o sistema nervoso tente sincronizar o ritmo de seus pulsos a efeitos acústicos e luminosos ritmados do ambiente externo. A capacidade de processamento dos computadores aliada a possibilidade de monitorar eletronicamente os pulsos cerebrais pode levar a uma "droga eletrônica" com uma característica inexistente em todas as drogas conhecidas: a possibilidade de reagir aos estímulos causados no sistema nervoso. Informações recebidas por eletrodos ligados à cabeça poderiam ser processados pelo computador, que poderia assim decidir por alterar os padrões rítmicos dos sons e das luzes. Não existem atualmente equipamentos que tratam seriamente esta possibilidade, mas tentativas grosseiras e primitivas que hoje existem de fazer um computador alterar o estado de consciência do cérebro mostram que muita gente estaria disposta a experimentar o método caso ele surgisse.

Muito se tem pesquisado na tentativa de criar jogos de computadores mais realistas. Pesquisa-se formas eficientes de se criar efeitos 3D, e controladores de jogos já conseguem transmitir sensações táteis em resposta às ações do jogo. Lógico que de forma ainda muito primitiva... Já os odores ainda não sabemos reproduzir eletronicamente, mas ao que tudo indica também são digitalizáveis. Pesquisas em realidade virtual tentam cada vez mais fazer o mundo virtual mais parecido com a realidade. Mas poderiam perfeitamente ser usada para criar uma versão distorcida da realidade, ou algo ainda completamente diferente dela. As pessoas seriam capazes de mergulhar num mundo artificial como este da mesma forma que atualmente mergulham nas drogas? Não se tem bases para afirmar isto, mas acredito que pode acontecer caso este mundo virtual se torne suficientemente convincente para enganar os sentidos.
 
 

3.2 "1984"

As características marcantes do "1984"são a repressão violenta e o controle das informações. A repressão violenta indiscutivelmente existe no mundo atual, a não ser que se possa pagar para não sofrê-la. As arbitrariedades sofridas pela denominada massa por parte de policiais que abusam de sua autoridade nada deixam a desejar àquelas que Orwell previa em sua obra. Parece ter se consolidado o sistema soviético pós-estalinista: na base da pirâmide social temos a repressão violenta, e no topo a recompensa dos comportamentos desejáveis.

Outro fato evidente é o controle de informações. A História da humanidade, ensinada nas escolas, sempre foi contada do ponto de vista dos vencedores. Também as notícias jornalísticas são claramente manipuladas. No sistema democrático temos uma Elite do Poder controlando os meios de comunicação em massa. Teoricamente a censura estaria abolida, mas isto não corresponde a realidade. Na prática, no lugar da censura política temos a censura econômica: para se ter a posse de grandes meios de difusão de informação é necessário um grande capital, inacessível à maioria. A Internet, se difundida para camadas de poder aquisitivo cada vez menor, poderia ser muito bem empregada para evitar tal manipulação de informações.

A imagem dos atuais governantes também apresenta características muito similares às da obra "1984". Assim como o Big Brother, o governante pode não existir. Claro que não uma inexistência física: um candidato eleito é realmente uma pessoa de verdade! Mas a imagem que a propaganda política vende dele pode ser completamente artificial. Provas da história política de um candidato costumam ser apagadas da mesma forma que acontecia na obra de Orwell, isto em favor de uma nova imagem do candidato. Para efeito de propaganda política, todos os candidatos são honestos, democráticos, incorruptíveis e apresentam uma história política impecável. Todos os candidatos tentam vender a idéia de que serão capazes de consertar o país e melhorar a vida da população. Mas uma vez eleitos aparentemente não têm o poder para governar como prometiam. Existem simplesmente para efeitos diplomáticos, e como uma imagem e uma voz a serem recebidas pela população. No regime democrático o poder é exercido de fato pela Elite do Poder.

À semelhança das grandes potências do "1984", as nações atuais parecem viver em uma constante e interminável crise. Fato muito parecido com a idéia de guerras constantes da obra. Existem mesmo estas crises? Todos os meios de comunicação confirmam que sim. Mas no caso das informações serem controladas por uma Elite do Poder, esta confirmação perde validade. Aparentemente cria-se uma crise para manter-se o controle nas mãos do Estado: sempre estaríamos elegendo candidatos para nos tirar das crises, mas na verdade a crise nunca poderia acabar, pois se isto acontecesse a existência destes representantes do poder se tornaria desnecessária.

Felizmente parece ainda não haver uma espécie de Polícia do Pensamento no mundo atual. Mas a rede mundial de computadores, se mal utilizada, abre uma possibilidade excelente de se desenvolver algo deste tipo. Passando por vários roteadores antes de chegar ao seu destino final, teoricamente qualquer pessoa pode interceptar uma informação transmitida pela Internet. Logicamente existem métodos para se proteger as mensagens, como a criptografia. É nesse ponto que uma Polícia do Pensamento moderna parece estar começando a se esboçar. Nos Estados Unidos, existem leis limitando o comprimento das chaves de criptografia de softwares exportados para outros países. O interesse disto é claro: super-computadores de instituições importantes, como o pentágono, sã capazes de quebrar mensagens criptografadas que usem chaves de menor comprimento que o limite estabelecido. Com chaves maiores, eles teriam tanta dificuldade de quebrá-las quanto uma pessoa usando um micro comum. A razão é que, na maioria dos algoritmos de criptografia, a dificuldade em quebrar mensagem cresce até mais rápido que uma exponencial com o aumento do comprimento das chaves.

Recentemente ocorreu um caso importante de quebra de sigilo da rede envolvendo o próprio FBI. A questão envolvida era a disponibilização, em alguns sites, de arquivos no formato MIDI considerados protegidos pela lei de direitos autorais. Até aí nada haveria de anormal, se não fosse o fato do FBI ter, durante certo tempo, monitorado vários emails com o objetivo de identificar os responsáveis por estes sites. Isto é uma violação inquestionável no sigilo da troca de informações entre duas pessoas, injustificável em qualquer circunstância.

Para Huxley, estamos passando por uma fase de transição do "1984" para o "Brave New World", o que justificaria a presença de características das duas obras na sociedade atual.
 

3.3 "Os Despossuídos"

 Mas a ficção científica não prevê apenas futuros ruins para a humanidade. Esta obra de Ursula Le Guin é um bom exemplo de previsão com possibilidades mais otimistas. O sistema anárquico que a escritora prevê é em grande parte influenciado pelas idéias de Proudhon. O sistema político totalmente descentralizado parece mostrar que, assim como softwares e sistemas operacionais, o governo de um povo também pode ser exercido segundo a idéia de bazar.

Ursula extrapola a idéia de produção no estilo bazar também para os objetos do mundo dos átomos. Todo o trabalho é coletivamente produzido e distribuído. Tal tipo de bem não pode ter um dono, desaparecendo a idéia de posse dos produtos. Atualmente isto parece ocorrer apenas no mundo dos bits. Por exemplo, não seria vista com bons olhos uma pessoa que queira patentear um software livre, apesar de não existir formalmente nenhuma lei proibindo isto: na obra "Os Despossuídos", diriam que esta pessoa estaria egoizando.

Com a difusão da rede e produção cada vez maior de bens no estilo bazar, os indivíduos poderiam a médio prazo questionar a idéia de posse tão comum no mundo dos átomos. Até que ponto eles seriam capazes de conciliar dois mundos tão diferentes, ainda mais quando a importância da rede aumentar?

A idéia de Leis sendo elaboradas neste estilo também não é tão absurda quanto possa parecer à primeira vista. Muitos são os exemplos de leis atuais que precisam ser reformuladas por pressão dos usuários da rede, a maioria envolvendo o problema dos direitos autorais.

A pirataria de software é tão antiga quanto o computador. Já na década de 70 foi roubada e difundida cópias de uma fita perfurada com um interpretador BASIC, desenvolvido para um computador pessoal muito primitivo denominado Altair. Depois do roubo da fita, a única restrição feita para que um usuário recebesse uma cópia era de que se responsabilizasse de criar outras duas e passá-las a mais um usuário. É o primeiro caso conhecido de roubo e cópia de um software comercial. Desde esta época muito já se discutiu a respeito da legalidade ou não da cópia de software e a proteção dos direitos autorais. Isto se deve principalmente à facilidade de se copiar programas, algo que não ocorre com objetos materiais. A resposta a isto parece ser a aparente tendência atual em se implementar software livre e coletivamente.

Algo muito semelhante começa a ocorrer com as músicas comerciais. Muitos artistas amadores de qualidade, mas sem chances de serem contratados por gravadoras, começam a difundir a idéia de criação coletiva de músicas. Tais músicas seriam completamente livres dos direitos autorais. O que deu maior impulso a isto foi a resolução de outra questão, também causadora de muita polêmica, a respeito da legalidade ou não de se utilizar o algoritmo para compactar sons no formato MPEG. Tal algoritmo havia sido patenteado pela Fraunhofer. Mas apenas o algoritmo era proibido! Legalmente nenhum problema haveria em se escrever um compactador MPEG que usasse outro algoritmo. A discussão maior ocorreu quando a empresa tentou patentear o formato MPEG. Resolvido o impasse, a compressão do som permitiu uma maior comodidade na troca de trecos de músicas, e conseqüentemente a criação coletiva. O maior receio da indústria de discos na verdade não é a violação dos direitos autorais de suas gravações, como seria natural supor. O medo maior é que esta prática se torne comum e acabe criando com a música livre um forte concorrente à industria de discos. No campo de software, tudo indica que se está caminhando nesta direção.

A idéia de uma legislação baseada nesta mesma forma de criação parece bastante atraente, mas com sérias dificuldades para se concretizar. Os cidadãos conectados à Internet poderiam tranqüilamente sugerir e votar leis segundo este estilo, em câmaras e senados virtuais. Listas de discussão seriam usadas para criar e depurar estas leis, sendo depois analisadas, por exemplo, por advogados dispostos a voluntariamente analisar o teor e as implicações legais das novas leis. Isto acontece no desenvolvimento de software: programadores conectados à rede voluntariamente testam e depuram programas criados coletivamente. Estou neste caso considerando que um conjunto de leis, como uma constituição, é bem similar a um software complicado, como um sistema operacional.

Sendo a rede de alcance mundial, não parece impossível que a longo prazo o método se estendesse para todo o planeta, pela criação de uma legislação mundial. Esta seria a realização de um grande sonho de Albert Einstein, que não era brilhante apenas no campo da física.

"Que podemos nós fazer para incitar as nações a viverem em comum pacificamente e tão bem quanto for possível? A eliminação do medo e da defesa recíproca, eis o primeiro problema. A solene recusa de empregar a força uns contra os outros (e não somente a renúncia à utilização dos meios de destruição maciça), impõe-se absolutamente. Tal recusa somente será eficaz se se referir à criação de uma autoridade internacional judiciária e executiva, à qual se delegaria a resolução de qualquer problema concernente à segurança das nações. A declaração por parte das nações de participar lealmente da instalação de um governo mundial restrito já diminuiria singularmente o risco da guerra." Obviamente Einstein não estava pensando em nada parecido com a OTAN quando fez estas afirmações...

Se além de uma legislação, também o poder executivo e judiciário fossem mundiais, a idéia de nação também desapareceria. Isto seria bom ou ruim? De certa forma voltamos ao problema já discutido da uniformidade contra a diversidade? Acredito que não, pois o maior problema do sistema descrito era a superorganização. Um sistema com o próprio executivo distribuído pela rede tornaria desnecessária a eleição de representantes para criar, votar, julgar e executar nossas leis. Isto não seria uma superorganização no sentido do controle estar centralizado na mão de poucos. Ao contrário, parece que um sistema mais democrático que o descrito é impossível. Com a facilidade da troca de informações pela rede, pela primeira vez em toda a história da humanidade o povo teria a possibilidade de se autogovernar. Lógico que isto estaria condicionado a um maior acesso à rede, sobretudo pelas camadas sociais para as quais um computador, uma linha telefônica e uma conexão a um provedor são ainda objetos de consumo impensáveis, comparado às necessidades de sobrevivência ainda não completamente satisfeitas... Neste caso seria interessante a idéia de terminais públicos conectados à rede mundial, da mesma forma que existem telefones públicos para quem não pode pagar uma linha telefônica. Ou quem sabe a incorporação de um computador a eletrodomésticos como a TV, uma vez que até famílias muito pobres geralmente economizam para compram uma. Existem muitas possibilidades sim, basta que sejamos mais criativos.


4. Conclusões

Foi consenso geral que a obra de George Orwell estava profundamente influenciada pela situação mundial do final dos anos 40. O "1984" não é propriamente uma previsão, mas apenas uma constatação do que acontecia e continua acontecendo em maior ou menor grau. A violência política infelizmente parece fazer parte da maioria das formas de governo que conhecemos na história, desde o feudalismo, as monarquias, regimes totalitários como nazismo, facismo e estalinismo e, se bem que de uma forma mais amena e bastante dissimulada, também ocorre atualmente nas democracias... Mas o fato de não ser uma previsão não tira o brilhantismo de Orwell em tratar deste assunto de uma forma tão marcante.

Já o "Admirável Mundo Novo" é uma previsão legítima de Huxley, já que trata de fatos que nunca ocorreram na história. Bom, pelo menos não na parte da história que nós conhecemos, que atinge até mais ou menos uns dez mil anos. Sistemas de castas rigidamente estabelecida existiam na Índia, sem dúvida. Porém ainda não temos conhecimento de nenhuma sociedade totalmente controlada pela tecnologia, desde a reprodução dos indivíduos até o posterior condicionamento para suas atividades na sociedade. Excluindo-se a parte da tecnologia, tal sociedade se assemelha apenas ao sistema social de insetos como formigas e abelhas.

Gerou controvérsias a afirmação feita na apresentação de que estaríamos caminhando em direção a este "Mundo Novo". Alguns participantes concordaram, mas para outros as evidências pareceram alarmistas demais. Mas o pensamento comum foi que "felizmente não estaremos vivos quando tudo isto acontecer"... Bom, talvez ainda estejamos vivos sim, se deixarmos que estes processos acelerem.

Infelizmente não foi possível discutir a obra de Ursula Le Guin na apresentação, pois não haveria tempo disponível para isto. Tal obra poderia mostrar uma previsão muito menos sombria que as duas primeiras. Portanto, neste último caso só posso lançar uma opnião pessoal: gostaria muito que um sistema social do tipo descrito se concretizasse, mas temo que seja muito difícil. Isto porque ele exigiria cooperação de todos para funcionar, e não é o que se observa atualmente. Grande maioria da população hoje em dia está disposta a trocar sua liberdade por uma vida estável: não se importam em viver numa verdadeira cela de prisão, desde que continuem com seus empregos, seus salários, sua TV e seu acesso à Internet  :-D .


5. Bibliografia
 
 

Obras principais
TÍTULO AUTOR ANO DA 1ª PUBLICAÇÃO
Admirável Mundo Novo Aldous Huxley 1932
Regresso ao Admirável Mundo Novo Aldous Huxley 1957
1984 George Orwell 1949
Os Despossuídos Ursula K. Le Guin 1975

 
 
  Obras complementares
TÍTULO AUTOR ANO DA 1ª PUBLICAÇÃO
As Portas da Percepção/Céu e Inferno Aldous Huxley 1954/1956
A Filosofia Perene Aldous Huxley 1946
Europe Of The Dictators (1919-1945) Elizabeth Wiskemann 1966
O Socialismo Utópico Jacqueline Russ 1977
Como Vejo o Mundo Albert Einstein (coletânea de cartas e ensaios científicos) 1953
Música e Psique (As formas musicais e os estados alterados da consciência) R. J. Stewart 1987


6. Webgrafia

Comparação das obras 1984 e Brave New World http://www.spaceports.com/~esquina/trabalho/08index.html Comunidade virtual da disciplina MAC-333 http://panda.ime.usp.br/HyperNews/get/mac333.html Dark Matters (1984) http://home.sprintmail.com/~astronomer/documents/darkm.htm Proibição de MIDI's http://shouthouse.com/midi_conspiracy.cfm Lycaeum   Drug Archives http://www.lycaeum.org/drugs/ Biografia de Aldous Huxley http://www.primenet.com/~matthew/huxley/huxbio.html Texto completo de "As Portas da Percepção" de Huxley http://www.fortunecity.com/tinpan/morrissey/37/percep.htm Soma Web - Lista de Discussão http://www.deja.com/~huxley/ Contagem da População Mundial http://www.popin.org/pop1998/ Clonagem Humana http://www.globalchange.com/clone_index.htm Hipnopedia e Mensagens Subliminais  CIA testa mensagens subliminais http://www.parascope.com/ds/articles/ciasubliminal.htm Anotações da CIA http://www.parascope.com/ds/articles/subproject83.htm Mensagens Subliminais em JAVA http://www.santarosa.edu/~dmontgom/lopez.htm Software para criar Mensagens Subliminais http://www.infinn.com/subliminal.html Mensagens Subliminais no Windows http://www.tcp.ca/gsb/PC/Win95-subliminals.html Hall of Illusion - Ilusões de Ótica http://illusionworks.com/html/hall_of_illusions.html  Músicas com Mensagens Invertidas http://whiplash.simplenet.com/back.html Realidade Virtual http://os.sri.com/ A Catedral e o Bazar http://www.tuxedo.org/~esr/writings/cathedral-bazaar/ Proudhon http://www.hogeye.com/anarchism/FAQquotes/ Bits e Átomos http://www.media.mit.edu/~nicholas/Wired/WIRED3-01.html Microcomputador Altair e o 1º Caso de Pirataria de Software Emulador do Altair http://www.nwlink.com/~tigger/altair.html Primeiro Caso de Pirataria de um Software do Bill Gates    :-) http://ethics.cwru.edu/CONTEST/Altair/main.html