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História das Redes no Brasil

À guisa de epílogo, adicionamos alguns dados sobre a história das redes no Brasil. A nosso ver o responsável pioneiro pelo rápido progresso inicial das redes no Brasil foi o Professor Oscar Sala da Universidade de São Paulo, único ex-presidente tanto da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência quanto da Academia Brasileira de Ciências. Ele fez chegar ao Brasil a rede BITNET em fins de 1988, conectando a FAPESP ao Fermilab nos EUA, através de uma linha dedicada de velocidade 4.800 bps, alugada da Embratel. Nesta linha coexistiram várias outras redes também, como a HEPNET, a DECNET, a USENET e finalmente a própria Internet.

Na época, o Professor Sala era o Presidente do Conselho Superior da FAPESP e nesta qualidade ele foi instrumental para interessar aquela Fundação em dar um apoio decisivo às redes e um incentivo a toda a comunidade acadêmica do País na adoção deste recurso. Isto foi feito através do financiamento da ligação das instituições acadêmicas paulistas à rede ANSP (Academic Network at São Paulo) e através da facilitação da ligação à rede de outras instituições acadêmicas no País, franqueando a todos o uso acadêmico da linha internacional mantida pela FAPESP. Esta postura da FAPESP levou a uma rápida e entusiástica adoção da nova cultura, em especial nas três universidades paulistas que, por sua vez, começaram a investir na disponibilização dos recursos às suas respectivas comunidades.

A ligação da FAPESP não foi a primeira conexão de rede a chegar ao Brasil. Ela foi precedida pelo Laboratório Nacional de Computação Científica do CNPq que alugou uma linha da Embratel três meses antes da FAPESP, ligando-se à BITNET. Mas esta linha, embora muito importante, não teve a sorte de ter o mesmo impacto da iniciativa da FAPESP. A ligação do LNCC não evoluiu com o tempo e ela foi desativada com a mesma velocidade inicial de 9.600 bps, em 1996, quando da desativação da rede BITNET no Brasil.

Outra ligação pioneira que deve ser mencionada é aquela realizada pela rede Alternex, ligada ao IBASE, uma Organização Não-Governamental que se ligou à rede USENET, via linha discada internacional, em julho de 1989.

Em retrospecto, o evento de maior relevância para o Brasil foi a nossa ligação à Internet. A primeira ligação nacional em TCP/IP foi realizada pela FAPESP em fevereiro de 1991. A FAPESP conseguiu disponibilizar o TCP/IP no seu VAX, e se encarregou da administração do domínio br e da distribuição dos números IP em todo o País, áreas em que colabora com o Comitê Gestor da Internet/BR até hoje.

Alguns meses depois, ainda em 1991, estabelece-se outra linha internacional, ligando o Rio de Janeiro à Internet, com origem no Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ. Estas ligações pioneiras foram instrumentais para a aceitação do padrão TCP/IP no Brasil. Na verdade, nesta época, era objeto de discussão ativa o protocolo que seria mais adequado para ligar o Brasil nas redes internacionais.

Deve ser mencionada também a dificuldade substancial que todos tiveram para interessar a Embratel nestas primeiras ligações internacionais. Uma outra dificuldade era causada pela política de reserva de mercado, vigente na época. Esta política dificultava o acesso brasileiro ao sistema operacional Unix e às estações de trabalho que se revelaram, a posteriori, como os meios mais ágeis de viabilizar e disseminar a cultura Internet no País. Vale a pena registrar que a quase totalidade da nossa comunidade teve o seu primeiro contato com o Unix a partir de 1990, quando iniciou-se o relaxamento da reserva de mercado, sendo bastante raros os casos de estações de trabalho, quase sempre solitárias e compartilhadas por comunidades numerosas, operando em 1988 ou 1989.

O CNPq se interessou pelas redes computacionais a partir de julho de 1989, quando foi lançada a Rede Nacional de Pesquisas, RNP, na feira da SUCESU, sem estrutura física própria na época. O ``backbone'' nacional da RNP começou a ser instalado em 1991, com linhas de 9.600 bps. Hoje, as linhas principais da RNP tem velocidade de 2 Mbps. Até agosto de 1996 a ligação da RNP ao exterior era feita através das linhas mantidas pela FAPESP; nesta data a RNP obteve uma linha própria que ligava o Distrito Federal aos EUA.

Com a posse do governo Fernando Henrique Cardoso, em 1995, estabeleceu-se o Comitê Gestor da rede Internet no Brasil, com a atribuição de coordenar e incentivar a implantação daquela rede no País. Paralelamente a RNP decidiu tornar-se uma rede mista que além do tráfego acadêmico carregava também tráfego comercial. Assim, ela passou a constituir a espinha dorsal da rede Internet no Brasil. Até hoje, o ``backbone'' da RNP é o único de alcance nacional no País. Ele foi e continua sendo instrumental para o acentuado progresso da Internet no Brasil. Maiores informações sobre a situação e evolução da Internet no Brasil podem ser encontradas no servidor do Comitê Gestor [63].

Deve ser destacada também a espiral de Campos [7], uma contribuição de Ivan Moura Campos à conceituação do desenvolvimento da Internet em espirais. Isto compreende ciclos que se iniciam em Pesquisa e Desenvolvimento, passam por Parcerias Governamentais e depois por Parcerias Privadas para chegar como um ``Commodity'' à Sociedade, antes de recomeçar o próximo ciclo.


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Imre Simon
Wed Jul 16 16:46:01 EST 1997