considerações relativas às

diretrizes curriculares para cursos de estatística.

 

 

Analisando o texto da proposta feita pela Comissão de Especialistas de Ensino de Matemática e Estatística, notamos que existe uma tendência em diferenciar atividades típicas de um profissional em estatística. Especificamente, a Comissão propõem que as escolas possam optar por uma ou mais modalidades de cursos universitários com ênfase em estatística:

 

 

 

 

O Departamento de Estatística da USP é unânime em discordar da proposta de formação de estatísticos com diferentes perfis. Mais especificamente :

 

  1. Encaramos os Cursos de Estatística, de uma maneira geral, como cursos profissionalizantes cujo compromisso deve ser a formação de um profissional capacitado a atuar no mercado de trabalho de acordo com suas escolhas ou oportunidades que surgem, no mais das vezes, após a conclusão do curso.
  2.  

  3. Não temos exemplos de posições no mercado de trabalho para Estatístico Pesquisador ou Estatístico Educador. Posições docentes e de pesquisa em estatística estão, normalmente, vinculadas à carreira universitária ou à Institutos de Pesquisa e, em ambos os casos, é imprescindível que o indivíduo possua formação estatística em nível de pós-graduação. Além disso, nesses casos, nem sempre há necessidade de um diploma de Bacharel em Estatística.
  4.  

  5. A possibilidade das escolas formarem estatísticos com diferentes perfis criaria reservas de mercado fictícias. Não vemos sentido em um indivíduo intitular-se professor de estatística sem estar capacitado a formular e resolver problemas que envolvam a coleta e a análise de dados, atividades típicas do estatístico "aplicado" segundo a proposta do MEC. Não vemos sentido tampouco em um estatístico "aplicado" que não seja capaz de envolver-se em atividade de pesquisa, pois esta é essencialmente a atividade de um estatístico "aplicado".
  6.  

  7. Concordamos, entretanto, com o exposto na seção relativa às habilidades e competências profissionais de um estatístico. Achamos também que o texto ali apresentado expressa os princípios que devem nortear a escolha de um curriculum para um curso de Bacharelado em Estatística. Esses princípios estão em contradição com a proposta de diferentes perfis sugerida pela Comissão.
  8.  

  9. Sobre a formação de profissionais para lecionar estatística em cursos de 2o grau, nossa opinião, também unânime, é de que essa atividade deve ser exercida por licenciados em matemática que tenham cursado um conjunto mínimo de disciplinas de estatística básica.

 

Em resumo, nossa opinião e de que só deveria existir um único curso de estatística, tendo como objetivo a formação de profissionais para atuar no mercado ou, utilizando a denominação criada pela Comissão, estatísticos aplicados. Consideramos fundamental que, ao invés de ser apenas capaz de utilizar várias ferramentas, esse profissional seja capaz de escolher competentemente as ferramentas mais adequadas para serem utilizadas nos diferentes desafios profissionais. Para isso, é necessário que ele possua uma formação mínima irreprochável, complementada por conhecimentos em áreas de sua preferência ou que o permitam atuar num espectro mais amplo de setores sociais, de forma crítica e intelectualmente contributiva.

 

 

São Paulo, 26 de Maio de 1999.

 

Departamento de Estatística da USP