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Re: [ABE-L]: Re: Banalização da Pós!




Cara Doris,

Os seus comentários são muito pertinentes. Acho que devemos
primeiro tentar melhorar os conteúdos curriculares a partir
de iniciativas dos coordenadores dos bacharelados em estatística.

Estava para ser criado um Bacharelado em Estatística na
UFRPE sem uma discussão ampla - e com uma motivação minha
bem fundamentada -, o assunto deverá ser discutido amanhã
por alguns professores.

Saudações,

Gauss


Quoting Doris Fontes <dsfontes@gmail.com>:

O ENADE vai incluir, a partir deste ano, a área da ESTATÍSTICA (ciências
atuariais e estatística). Fico imaginando como será avaliar os diversos
bacharelados em estatísticas espalhados pelo Brasil, com conteúdos
curriculares dos mais diversos e com professores nem sempre bem preparados
em estatística. Quem vai elaborar as questões específicas? Pelo que entendi,
são 40 questões sendo 10 de conhecimento geral e 30 específicas (ambas as
partes com questões discursivas e de múltipla escolha). Por exemplo:
"processos estocásticos" não poderia ser uma das disciplinas "específicas"
já que nem todo bacharelado tem! Aliás, que disciplinas serão avaliadas em
"conhecimento geral"? Existe algum consenso sobre a grade curricular mínima
para um bom bacharelado em estatística?!?!?

Doris


2009/5/7 <gauss@deinfo.ufrpe.br>


Caros Elias, Danielle e demais redistas,

Como aconteceu ontem com o email da Danielle, o email do Elias
contém pontos muito importantes em relação a graduação de
estatística que, também, no geral está ruim.

Ontem recebi um email de um brilhante aluno que reclamava
exatamente da formação de sua graduação. Ele é brilhante
por conta de sua capacidade própria e não porque aprendeu
na graduação. Ele me disse ainda que os professores do seu
departamento se preocupam apenas com a pós-gradução, deixando
a graduação em segundo plano.

Um outro ponto importante o Carlinhos levantou: os alunos
fazem o bacharelado em estatística sem saaber probabilidade
e eu acrescentaria sem saber cálculo e álgebra linear.
A sua formação nestas disciplinas é em média muito inferior
a de um engenheiro quando deveria ser o contrário.

Sua assertiva "Há PhDs em grandes empresas, alguns publicam e
dão conferências nos congressos" é verdadeira nos países
do primeiro mundo mas ainda não atingimos esse patamar no
Brasil. A pesquisa de boa qualidade em estatística no Brasil
está concentrada em poucas pessoas (sem medo de errar,
eu diria em menos de 130 pessoas para a enorme importância da
probabilidade e da estatística) e, mais ainda, em alguns
centros fora os esforços isolados na maioria deles.

Nos grandes hospitais dos EUA - por exemplo o MD Anderson em
Houston-, há um grande número de doutores em bioestaística
publicando com intensidade em inúmeros periódicos aplicados
e, também, até teóricos. Os hospitais (públicos e  privados)
aqui têm interesse por doutores em estatística para solucionar
inúmeros problemas inerentes à sua gestão? Talvez uma minoria
infinitesimal no Sul Maravilha!

Minha dissertação de mestrado, defendida em 27 de maio de 1976
na COPPE, apresenta uma modelo bastante geral para determinar
através de processos de nascimento e morte, o número ótimo
de leitos que um hospital deve disponibilizar por especialidade
médica para satisfazer uma probabilidade de não faltar leitos.
Nunca consegui aplicar esse modelo (que desenvolvi sozinho em
3 meses de trabalho árduo) no SUS. Faria até a implementação
teórica de graça, pois fui financiado pelo governo brasileiro!

Em tempo: meus emails sobre o sistema anárquico da pós-graduação
no País até está produzindo algum efeito e ganhando alguns adeptos,
pelo menos as 46 pessoas que se pronunciaram neste sentido
para mim nas últimas semanas.

Boa noite,

Gauss






Quoting "Elias T. Krainski" <eliaskrainski@yahoo.com.br>:


Caro prof. Gauss, Danielle e demais,

Também ja observei alguns sair da academia (não conseguiram terminar
pós-graduação) e ir para o mercado e outros que sair do mercado e voltar
para a academia (fazer pós-graduação). Se todos atualmente estão felizes e
ganhando dinheiro ou produzindo artigos, então o que ocorreu foi um erro de
julgamento no que cada um achou inicialmente que seria a sua vocação. Talvez
esse tipo de erro não ocorresse se na graduação o aluno já fizesse estágios
e iniciação científica. Ambos! Portanto, não acho que os ruins vão para o
mercado ou para a academia. Acho que é, ou deveria ser, uma questão de
vocação.

Há também aquele que arranjou um bom emprego e mais tarde volta a fazer
pós, não porque desistem do mercado, mas para aperfeiçoamento. Por isso,
acho que pensar que a pós graduação é apenas para pesquisador é uma visão
simplificada, realidade de um país sub-desenvolvido. Nos países
desenvolvidos, o mercado emprega mestres e doutores, que com certeza tem
mais capacidade de modelar problemas mais complexos. Há PhDs em grandes
empresas, alguns publicam e dão conferências nos congressos. A estatística
de estudos clínicos, por exemplo, necessita de PhDs para atender às
exigências do FDA (http://www.fda.gov/cder/Offices/Biostatistics/).

Mesmo que haja uma "universalização" da pós graduação, com certeza sua
banalização deve ser evitada. Via seleção, qualificação, exigência de
artigos, etc. Aliás, pesquisa com qualidade é fundamental para o
desenvolvimento pessoal, da ciência, da sociedade, etc.

Talvez exista banalização no bacharelado também. Pois, é lamentável: 1)
ver estatísticos aplicados fazendo regressão linear simples em séries
temporais ou dados espaciais. 2) ver que demorou décadas a "popularização"
do GLM. 3) ser ensinado apenas uma filosofia de inferência, minando a
capacidade de entender novas técnicas.

Nas diretrizes curriculares de 1999, fez-se a classificação de três perfis
de estatísticos: pesquisador, educador, aplicado. A cada perfil foi sugerido
uma grade curricular que restringe o que é ensidado em função do perfil (
http://www.ime.usp.br/~asimonis/Dir.html<http://www.ime.usp.br/%7Easimonis/Dir.html>).
Não há licenciatura em estatística, portanto temos o pesquisador e o
aplicado. O pesquisador é aquele que desenvolve técnicas, por isso
justifica-se necessitar de probabilidade e inferência avançadas. Os
aplicados precisam entender como usar as técnicas e aprender as técnicas
novas (o mais rapidamente possível) para resolver melhor os problemas ou
enfrentar problemas novos.

Da forma como está a graduação e a pós-graduação, quanto tempo vai demorar
até ver o estatístico aplicado utilizar o modelo Generalized Weibull, PSGNM
ou outros modelos do prof. Gauss, ou graphical models, ou outras técnicas
recentes que são tão aplicáveis na prática? Não é possível aprender tudo num
bacharelado. Um ponto positivo é que muitas técnicas modernas são
rapidamente implementadas e disponibilizadas.

No e-mail do prof. Jorge foi colocada uma visão muito difícil de
implementar, dada a lei da inércia. Acho que seria mais fácil focar o ensino
da estatística nos problemas, ou seja todo estatístico deve:
1) saber o que é uma amostra aleatória, um experimento e um processo
estocástico, um estudo longitudinal, etc.; ser capaz de identificar esses
processos geradores de dados e saber identificar e estimar pelo menos os
modelos mais simples para cada um (desde distribuições de probabilidade e
seguindo por modelos de regressão, processos estocásticos, modelos de séries
temporais, etc.)
2) Pesquisador: Melhorar os métodos existentes e inventar novos métodos.
Aplicado: Perceber quando não consegue resolver um problema com as técnicas
que conhece e buscar outra técnica
3) Ter facilidade de entender uma nova técnica, seja para que serve (o
aplicado) e/ou detalhes teóricos (o pesquisador)

Com isso, o aplicado não será apenas operador de software e estará
preparado para resolver problemas novos e aprender coisas novas. E o
pesquisador estará em condições de tornar verdade que "Like mathematics,
history, and other fields, the intellectual domain of statistics is worthy
of resources and development because it helps us understand our world and
society in aggregate." Bertrand Clarke, IMS Bulletim, vol 36 issue 6, july
2007.

aT+,

Elias T. Krainski
http://geocities.yahoo.com.br/eliaskrainski


--- Em ter, 5/5/09, gauss@deinfo.ufrpe.br <gauss@deinfo.ufrpe.br>
escreveu:

 De: gauss@deinfo.ufrpe.br <gauss@deinfo.ufrpe.br>
Assunto: Re: [ABE-L]: Banalização da Pós!
Para: daniellesteffen@yahoo.com
Cc: abe-l@ime.usp.br
Data: Terça-feira, 5 de Maio de 2009, 21:40
Cara Danielle,

Concordo em gênero, número e grau com os pontos colocados
no seu e-mail. Pode-se perceber que você é uma pessoa
inteligente e muito antenada com a estatística.
O que você diz apenas complementa (e muito bem) meu email.

Muito alunos escolhem fazer o mestrado e o doutorado
por não serem absorvidos pelo mercado não-acadêmico que
está muito mais seletivo e exigente. Parece uma ironia
mas é uma verdade!

Fui professor de alguns graduados em estatística
na UFPE há uns 10 anos que, após a conclusão da
grduação,
foram logo trabalhar em bancos. Depois não conseguiram
dar conta do recado, ou seja, serem competitivos com outros
profissionais num ambiente de trabalho altamente exigente.
E, então, voltaram para fazer mestrado, por conta da
maior facilidade em entrar num curso de pós-graduação
que (muitas vezes) funciona como todo o serviço público:
de forma bastante ineficiente.

Sei que muitos alunos fazem mestrado ou doutorado por falta
de opção fora da academia e não têm nenhum entusiasmo
pela universidade. Muitos que têm mestrado e doutorado
podem
apresentar até grande competitividade nos concursos
públicos
das universidades federais, pois a relação candidato/vaga
pode ser muito baixa, sem terem até o mesmo conhecimento
dos bons alunos graduados que estão trabalhando no
mercado.

Em suma: nos anos 70 a maioria dos melhores alunos tinha
grande élan pelos cursos de pós-graduação que conseguia
atraí-los;  hoje, somente uma pequena parcela de bons
alunos
se entusiasma por esses cursos e alguns deles (menos
conceituados)
conseguem atrair muitos alunos ruins e desmotivados para a
academia.
Portanto, existe a banalização da pós-graduação bem
enfatizada
no meu texto. Que adianta ser um doutor que não publica
nada
de qualidade e ensina mal?

Conheço estatísticos que gastaram enre 10 e 13 anos para
concluir um doutorado, fora 3 ou 4 de mestardo, financiados
com
salários de universidades federais e contemplados com
bolsas
de diferentes agências de fomento. Exemplo clássico de
despedício
de dinheiro público! Pior ainda, ensinam mal, nunca
produziram
nada de qualidade e no momento formam o baixo clero das
federais.

A universidade deve ser viva e não uma mera repartição
pública.
Infelizmente, no Brasil, isso é o que realmente os
péssimos
alunos almejam!

Um abraço,

Gauss



Quoting Danielle Steffen <daniellesteffen@yahoo.com>:

>
> Prof. Gauss,
>
> Ha um porem na sua msg. A regra na academia NO BRASIL
eh mostrar o  mercado como sendo o refugo, com desprezo (em
contraste nos Estados  Unidos, em que eh enfocado a questao
das vantagens comparativas), o  lugar de quem nao tem
capacidade acaba caindo, como se a  pos-graduacao fosse o
lugar dos "escolhidos", os "eleitos", os
 "especiais". Esse preconceito permeia fortemente
diversas  universidades e faculdades brasileiras. Eh um
discurso completamente  descolado com a realidade, porque
boa parte do mercado e dos alunos  acham que a academia eh
na verdade a segunda opcao. O que acontece  por fim eh que
os alunos que desejavam ir para o mercado, mas que  nao tem
habilidades necessarias para tal, acabam usando a pos como
refugio para conseguir mais tempo para de novo tentar ir ao
mercado,  agora com um mestrado ou com um doutorado.
>
> Enquanto voces nao entenderem que a dualidade
pos/mercado eh uma  questao de vantagens comparativas que
cada aluno apresenta, e que os  alunos PRECISAM SER
APRESENTADOS para as vantagens e desvantagens  verdadeiras
de ambos, voces vao continuar tendo uma quantidade  grande
de alunos de pos que sao, na verdade, refugo do mercado,
porque nao conseguiram detectar a tempo que nao possuem
habilidade  para tanto. Pessoas desiludidas que foram
desprezadas pelo mercado,  que se sentem inferiores aos
demais.
>
> Eh isso que voces querem por alunos?
>
> Abracos,
> Danielle Steffen Sanchez
> Estatistica ENCE/IBGE - 2003
> Curso de Ciencias Moleculares/USP (inconcluso) - T2
>
>
> --- Em ter, 5/5/09, gauss@deinfo.ufrpe.br
<gauss@deinfo.ufrpe.br> escreveu:
>
>> De: gauss@deinfo.ufrpe.br
<gauss@deinfo.ufrpe.br>
>> Assunto: [ABE-L]: Banalização da Pós!
>> Para: abe-l@ime.usp.br
>> Data: Terça-feira, 5 de Maio de 2009, 22:27
>> Caros Redistas,
>>
>> O grande problema da pós-graduação no Brasil
nos dias de
>> hoje é sua banalização decorrente da
mediocridade e
>> corporativismo
>> existentes no cerne da universidade brasileira,
saldo
>> algumas
>> exceções. Além da mediocridade existe outro
fator
>> deletério:
>> a desonestidade.
>>
>> Os mais jovens não sabem, mas nos anos 70 havia
uma
>> propaganda
>> de cigarro em que o grande campeão Gérson (da
copa de
>> 1970)
>> dizia:
>>
>> "Eu gosto de levar vantagem em tudo,
certo?",
>>
>> referindo-se a um marca que custava mais barato.
Ficou
>> conhecida
>> como Lei de Gérson! Alguns alunos querem se
aproveitar da
>> falta
>> de qualidade de certos cursos de pós-graduação
em
>> benefício próprio,
>> como correr atrás do orientador mais
"camarada"
>> para poder fazer
>> sua dissertação sem qualidade, sem se importar
se
>> conhecem ou
>> não a área de estudo e, muito pior, de forma
imoral.
>> Muitos
>> professores aceitam essa prática que penaliza
fortemente o
>> curso e, mais ainda, o futuro profissisonal do
aluno.
>>
>> A proliferação dos cursos de graduação no
Governo FHC
>> empurrou
>> a universidade brasileira para o mais baixo nível
de
>> qualidade,
>> salvo as honrosas exceções de algumas
universidades
>> públicas que
>> conseguem manter um bom nível em seus cursos.
>>
>> O gigantismo da pós-gradução brasileira
patrocinado pela
>> CAPES
>> é perverso, porque contempla alunos sem
condições reais
>> de cursar
>> uma pós-graduação e, pior ainda, professores
sem
>> conheciemnto
>> algum para orientar um trabalho de qualidade
apenas
>> regular.
>> O máximo para esses alunos seria uma graduação
mas se
>> arvoram
>> a fazer uma pós sem maturidade, trabalho e afinco
nos
>> estudos.
>> Há até aqueles que querem fazer tudo isso à
distância.
>>
>> Como alguns sabem, por solicitação minha, foi
>> constituída
>> uma comissão de inquérito na UFRPE para apurar
uma
>> dissertação
>> que foi defendida de forma desonesta. Vergonha das
>> vergonhas!
>> Mas nem todos os personagenes são professores da
UFRPE
>> e há, também, um professsor uspeano. Meu
objetivo não é
>> penalizar ninguém mas quero o canônico: o aluno
de
>> mestrado
>> fazendo sua dissertação com esforço próprio,
estudando
>> no local do curso e sendo orientado realmente por
um
>> professor
>> que não seja "um orientador laranja", e
não com
>> a
>> malandragem bem enfatizada nos autos da minha
>> solicitação.
>>
>> Gostaria que ficasse registrado aqui, que se pelo
menos uma
>> das pessoas envolvidas no processo faltar com a
verdade dos
>> fatos, conforme esses me foram realmente relatados
por
>> eles próprios (no período entre 20/12 e 15/1),
eu irei
>> - sem titubear-, após o término do trabalho da
comissão
>> de
>> inquérito, tornar público todos os detalhes dos
autos aos
>> membros do comitê assesor da CAPES e ao Reitor da
USP.
>>
>> Por outro lado, se corroborarem com a verdade dos
fatos,
>> uma
>> prova de boa conduta e arrependimento, o processo
deverá
>> ser
>> encerrado no âmbito da própria UFRPE, com o
parecer
>> soberano
>> da comissão de inquérito.
>>
>> Muitos segmentos da universidade podem se
comportar até
>> como
>> a "Casa-da-Mãe-Joana", mas se depender
de mim,
>> nunca no local
>> em que eu trabalho com afinco e honestidade por
mais de
>> 12 horas/dia. E faço isso há 40 anos.
>>
>> Cordiais Saudações,
>>
>> Gauss Cordeiro
>
>
>       Veja quais são os assuntos do momento no Yahoo!
+Buscados
> http://br.maisbuscados.yahoo.com
>






     Veja quais são os assuntos do momento no Yahoo! +Buscados
http://br.maisbuscados.yahoo.com







--
Doris Satie M Fontes
Estatístico CONRE nº 7386-A


CONRE-3:
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www.conre3.org.br

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