Uma versão alternativa das notas sobre este tema encontra-se
aqui (versão de 18mar99)
1- A "Explosão" da Internet
Em 1969 o Pentágono
promoveu a criação da primeira rede, a qual interligava quatro
computadores geograficamente distantes (localizados em quatro Universidades
Americanas: Universidade da Califórnia em Los Angeles, Stanford
Research Intitute, Universidade da Califórnia em Santa Bárbara
e Universidade de Utah), chamada Arpanet.
Desde então, o número
de computadores na Arpanet/Internet dobra a cada 15 meses, chegando em
1998 a aproximadamente 40 milhões de computadores interligados.
Para se ter uma idéia
do quanto é grande a velocidade de crescimento da Internet, podemos
fazer uma breve comparação com as taxas de crescimento da
população mundial. Esta também obedece uma função
exponencial, entretanto, a constante de tempo é muito maior, sendo
necessários, no caso do Brasil, de 30 a 40 anos para que a população
dobre.
Além das constantes
de tempo muito curtas a evolução da tecnologia da informação
está sujeita também a um número muito grande de etapas
de dobramento. De fato, calculando o número de etapas em que a Internet
dobrou de tamanho, temos:
(30 anos) / (15 meses) = 30 / 1,25 = 24 etapas.
Caso o crescimento da população
mundial estivesse sujeito a este número de etapas de dobramento,
considerando que a população atual é de aproximadamente
6 bilhões de habitantes teríamos, no início do processo
exponencial apenas 357 habitantes em nosso planeta. Deve ter sido bastante
tempo atrás! Isto é demonstrado no cálculo abaixo:
( 6 bilhões de habitantes) / (224 etapas) = 357 habitantes.
Um outo exemplo que ocorre
na Internet é crescimento do número de servidores WWW, o
qual dobra a cada 14 semanas desde seu surgimento em 1993.
Esses dados podem ser visualizados
nos gráficos abaixo:
Capacidade Computacional
Para mostar o crescimento
da capacidade computacional, podemos analisar o quanto pode ser comprado
em poder computacional por um preço fixo, corrigido para a inflação,
no decorrer do tempo. Esse valor dobra a cada 18 meses desde o advento
dos computadores em 1947.
Em um breve exemplo, podemos
realizar a comparação entre dois computadores:
Modelo | Ano | Tempo de adição | Cálculos por segundo | Preço na época (US$) | Preço corrigido (US$) | Coeficiente (Capacidade Computacional por US$ 1.000) |
IBM 1620 | 1960 | 6x10-4 | 1,67x103 | 200.000 | 1.101.600 | 1,514 |
PC Pentium II | 1998 | 5x10-9 | 8x108 | 1.500 | 1.500 | 1,33x108 |
Estes dados foram retirados do livro de R. Kurzweil, Tha Age of Spiritual
Machines, 1999, que contém uma análise muito cuidadosa do
parâmetro em questão. A íntegra do
primeiro capítulo deste livro encontra-se no site do New York Times,
na página http://www.nytimes.com/books/first/k/kurzweil-machines.html
2- Indícios visíveis da Revolução Digital
No momento já podemos observar indícios de vários processos em escala mundial que são muito inovativos por um lado e que criam fortes instabilidades por outro, devido, em parte, ao seu potencial de provocar mudanças muito profundas em aspectos muito básicos da organização social. A maioria destes processos tem conexões com a existência da Internet (ou outras redes privadas). O ponto de contacto principal são as mudanças paradigmáticas do tratamento, comunicação e uso da informação. Estes aspectos estão longe de estarem claros, não temos, em princípio, um entendimento satisfatório da natureza e mecanismos de ação da informação nestas escalas. As conexões referidas são mais fortes em alguns casos e mais fracos em outros. Torna-se necessário examinar se a totalidade destes processos justifica ou não o conceito de uma RdI. A seguir, listamos alguns exemplos deste raciocínio, procurando, em cada caso indicar a conexão do indício com a Internet. Esta parte das notas necessita de forte complementação e revisão. Se tiver contribuições a dar, use a nossa Comunidade Virtual.
A Internet talvez seja a única "coisa" verdadeiramente global, se tornando assim uma ferramenta indispensável para o processo de globalização da economia. Por exemplo, ela é um excelente meio para as empresas obterem e disseminarem informações em qualquer parte do mundo;
Este processo está em marcha muito lenta por enquanto devido às complexidades técnicas de que depende. Ele dificilmente pode existir sem a Internet. Se o processo decolar em larga escala e com fácil acesso à informação para grandes massas ele poderá ter consequências praticamente imprevisíveis. Não está claro qual será a demanda para uma educação deste tipo.
Muitos paises não tem condições de controlar sua própria economia sozinho. A economia de cada pais depende da economia mundial. Porém, há dificuldades enormes a vista. Não existem órgãos mundiais suficientemente fortes e universalmente respeitados que possam garantir o desenlace deste processo. É possível que venham a existir? A vista da enorme divergência de interesses e posicionamentos que envolve o tema, localmente e globalmente? Um exemplo nesta direção é a inexistência de um Banco Central Mundial que poderia possivelmente cuidar de uma moeda única, universalmente respeitada.Falta detalhar aqui as conexÕes desta crise com as redes de computadores.
Domenico de Masi, em recente entrevista na Roda Viva vislumbrou uma nova sociedade do lazer: o ser humano automatizará a maioria das atividades, faltando emprego e sobrando tempo para o lazer. O Estadão publicou um artigo recentemente sobre esta entrevista, cuja URL devemos localizar.Falta detalhar aqui as conexÕes desta crise com as redes de computadores.
A política mundial está numa rota de transição de um mundo bipolar para um mundo unipolar ou talvez para um mundo apolar. Esta crise talvez seja a que tem menos conexões (por enquanto?) com as redes de computadores. Notamos, porém, que a Internet desempenhou um papel de destaque na recente tentativa de impeachment do Presidente Clinton.
O que é crime eletrônico? Como conceituar e como impor uma Ética na Internet? Deve-se legislar? Agora ou mais tarde?
- Open Source (Fonte Aberta), Software livre, Linux são conceitos que estão desestabilizando o mundo da indústria de software nestes dias. Os resultados deste processo parecem ser imprevisíveis no momento.
- Microsoft X Tribunal de Justiça Americano: se o Tribunal de Justiça Americano ganhar a causa (considerado muito provável pela imprensa especializada), não está claro qual a forma que escolherá para quebrar o monopólio. Artigos muito interessantes estão aparecendo a este respeito no TIME, Business Week e The Economist esta semana. Procure as fontes, e forme a sua opinião.
Uma curiosidade: num dos artigos referidos uma destas revistas levanta a possibilidade de que a Microsoft seja obrigada a abrir o código fonte dos seus produtos de software básico. Uma hipótese que dificilmente poderia ser mencionada um ano atrás mas que hoje parece suficientemente plausível.
Há outros indícios da RdI que são visiveis, porém, de impactos menores do que os citados acima, como por exemplo:
Notas complementares:
O preço das ações
das empresas ligadas a Internet nos Estados Unidos estão supervalorizados.
Espera-se que haja uma forte queda destes preços. Há dúvidas sobre a extensão
da influência de uma crise destas sobre o mercado global de ações.
Leia matéria de capa recente do The Economist sobre este aspecto. Elabore as
muitas
conexões desta crise com a existência da Internet.
3- Extrapolando processos exponenciais.
Existe um fim para esse crescimento? É possível fazer previsões do seu desenlace? Este parágrafo precisa ser complementado, mas já oferece um bom prenúncio do tema.
O fim de todos os processos
exponenciais crescentes está relacionado à falta de recursos,
entretanto, alguns limites podem ser superados em função da constante
descoberta de novas tecnologias.
Embora as arquiteturas de
computadores usadas hoje ainda sejam baseadas no modelo de von Neumann
de 1946, atualmente, novos modelos são objetos de pesquisa.
Esses modelos, por exemplo, computação biológica e
computação quântica, podem estender esse crescimento
exponencial da computação.
Qual o impacto desse crescimento
em nossas vidas?
Existirá um limite
pra esse crescimento?
Qual será o verdadeiro
limite?
Crescimento exponencial por longos períodos de tempo pode ser um processo com resultados inesperados. Uma parábola muito instrutiva encontra-se no livro de Kurzweil. Leia, no fim da página indicada, a história:
The Inventor of Chess and the Emperor of Chinae tire as suas conclusões.
Uma das previsões mais impressionantes do futuro das redes computacionais, num esforço documentado de extrapolação exponencial foi feita pelo idealizador do primeiro protótipo da rede Internet, J. Licklider. Em 1965, numa obra chamada "The Future of Libraries" ele e sua equipe descreveram uma situação hipotética a ocorrer no ano de 2000 e que tem uma semelhança impressionante com o estágio atual da Internet. A íntegra da citação encontra-se neste artigo: Informação: Computação e Comunicação (na página 54).
4- Uma Linha do Tempo em Escala Logarítmica.
Foi mostrada uma linha de tempo das grandes descobertas e grandes revoluções da história do homem. Tentou-se relacionar os fatos apontados com mudanças significativas devidas a grandes descobertas relacionadas à informação e sua comunicação, como a invenção da fala, da escrita, e da imprensa.
As notas de aula alternativas que se encontram
aqui
trazem mais informações a respeito desta linha do tempo.
5- Quais os candidatos a paradigmas em mudança?
Nessa aula foi analisado um outro fator relevante para verificarmos se estamos ou não no meio de uma Revolução.
Uma pergunta foi proposta: Se estamos no meio de uma Revolução, quais os candidatos a paradigmas que iriam mudar?
Foram apontados três grandes paradigmas que possivelmente estão em curso de grandes mudanças:
Sendo que a Informação está acima das outras duas.
Em relação a Informação, será que ela é um paradigma suficientemente importante para caracterizar uma grande Revolução?
Na Enciclopédia Britânica a Informação não é reconhecida apropriadamente nem como material de estudo, nem como catalizador das várias revoluções ao longo da História. Não se encontra nenhuma referência à Informação como sendo uma das áreas do Conhecimento e conseqüentemente não se mostra apropriadamente como ela tem sido responsável pelo desenvolvimento da tecnologia do Homem.
A Propaedia da EB subdivide o Contorno do Conhecimento em 10 partes, a saber:
Como caracterizar a Informação? Ela está profundamente relacionada com o Conhecimento e portanto com a Sabedoria. A Informação nos traz Conhecimento e conseqüentemente Sabedoria.
Informação -> Conhecimento -> Sabedoria
Há estudos mais satisfatórios sobre Comunicação, um tema umbilicalmente ligado à Informação, já que a Informação se não for comunicada, compartilhada ela certamente perece. Assim, a Informação não existe sem a Comunicação. Na USP por exemplo existe um instituto parcialmente dedicado à Comunicação (a ECA) e que estuda também a Informação, mas de maneira bastante tímida e que não está a altura da importância que a Informação exercerá na futura Sociedade. A mesma situação ocorre em quase todas as outras Universidades do mundo. Duas exceções são as Universidades de Michigan e de Berkeley que nos últimos anos fundaram novos Institutos dedicados ao estudo da Informação e das novas profissões da informação, de acordo com a nova conceituação que está emergindo. Visite as páginas do School of Information Management and Systems e do School of Information.
Apesar de a Informação não ser apontada na Enciclopédia Britânica como um assunto de grande destaque a ser estudado, ela está intimamente ligada a vários outros ramos do conhecimeto que são amplamente abordados pela Enciclopédia: mencionamos a Arte, a Religião, a Vida na Terra, a Vida Humana, A Sociedade Humana, A História da Humanidade e os Ramos do Conhecimento.
A Informação é tratada de forma mais detalhada na parte da Tecnologia.
Um outro paradigma para explicar a RdI pode ser encontrada no pemsamento de Negroponte sobre Bits e Átomos. Ele aponta dois mundos: o mundo dos átomos e o mundo dos bits.
No mundo dos átomos temos o caso de um homem que faz uma cafeteira. Para tanto ele tem que obter matéria e energia, recursos necessários para fazer e montar a cafeteira. Depois ele decide vender a cafeteira a um amigo interessado em comprá-la e fica sem nenhuma. Daí ele tem que obter novamente os recursos necessários e fazer e montar uma nova cafeteira de novo. A replicação da cafeteira criou escassez.
No mundo dos bits temos um caso diferente. Esse mesmo homem decide agora fazer um programa de computador ou outra forma de informação, como um livro, por exemplo. E esse mesmo amigo dele deseja comprar o programa e o programa é vendido. Só que nesse caso ele não tem nenhum trabalho extra para conservar consigo uma cópia do produto original. Uma vez que primeira cópia do bem de informação foi produzida tecnologicamente é possível reproduzi-la infinitamente sem custos e sem criar escassez.
A mudança ocorrida devido à Internet ocorre por aí. A produção de livros em papel é feita inteiramente no mundo dos átomos. Já a produção de textos na Internet é feita no mundo dos bits. Desse modo fica mais fácil se divulgar a Informação. Os Contornos do Conhecimento da Enciclopédia Britânica, as leis e todas as coisas às quais estamos acostumados estão todas ligadas ao mundo dos átomos, já que até há pouco tempo atrás o Mundo das Idéias, das Abstrações não tinham autonomia. Assim sendo há uma necessidade de uma adaptação ao que está acontecendo. Estamos basicamente migrando do Mundo dos Átomos para a convivência intimamente interconectada do Mundo dos Bits com o Mundo dos Átomos.
Só para ressaltar o quanto teremos que nos adaptar a essas mudanças, nem na ficção científica o mundo dos átomos se acha presente. É uma realidade totalmente nova que emergiu, embora a matéria prima do Mundo dos Bits, a Informação, as Idéias, a Abstração estão conosco há milhares de anos.
Uma última reflexão nesta direção: Dinheiro é bit ou é átomo? Durante muito tempo a materialização do dinheiro esteve exclusivamente ligada a átomos (moedas de ouro, por exemplo). Hoje, grande parte do processamento do dinheiro é feito pelo mundo dos bits, como por exemplo transações no cartão de crédito, banco 24 horas, etc... Mas ainda não se sabe ao certo que rumos o dinheiro poderá tomar com essa nova tecnologia. Certamente não poderão valer para o dinheiro as condições de reprodução do Mundo dos Bits. Textos que tratam mais a fundo a questão do dinheiro diante das novas tecnologias podem ser encontrados na home page de Bernard Lietaer.
Sobre a cooperação, temos que ela é muito mais difícil no mundo dos átomos que no mundo dos bits. O Linux é um exemplo disso. Esse movimento permite que qualquer intuito de dominar os recursos no mundo dos bits seja derrubado. Se alguém ou alguma corporação tenta ganhar dinheiro por ser dono de um recurso no mundo dos bits, ela pode muito bem fracassar ou ter a sua posição seriamente comprometida diante a cooperação de pessoas na rede que podem fabricar esse mesmo recurso substituindo grandes investimentos em mão de obra pelo compartilhamento de trabalho doado. Que esta possibilidade poderia produzir bens economicamente valiosos, como é o caso do Sistema Operacional Linux, era inimaginável até uns dez anos atrás. Que um bem tecnologicamente tão sofisticado como um sistema operacional pudesse ser produzido de forma tão distribuída e tão pouco coordenada como foi o caso do Linux certamente tomou de surpresa todos os profissionais da área de software.
A automação se apresenta em três níveis:
A automação de processos nativos dos Mundos tanto dos Bits quanto dos Átomos é um processo em andamento, com consequências imprevisíveis. Este processo poderá alterar os contornos do mercado de trabalho dentro de poucos anos. Certamente ela já eliminou várias profissões, como o de tipógrafo ou datilógrafo, por exemplo, e está influindo cada vez mais em outras (caixa de banco, por exemplo). Por outro lado, a rede cria novas profissões e remodela outras, já existentes. Mas certamente trata-se de um paradigma em transformação.
6- Quais os fatores que determinam se esta Revolução rola ou não?
Alguns fatores que poderiam derrubar essa Revolução são:
1) Sobre a emergência de uma língua universal.
Um outro fator a ser considerado seria de que poderia haver uma
universalização
da língua falada pelas pessoas. A língua mais presente na Internet é o
inglês. Sendo assim, muitas pessoas se vêem forçadas a aprender essa língua
para que possam ter acesso à toda Informação contida na rede. Esse fato
poderia causar conseqüências boas e ruins tanto para as pessoas que têm o
inglês como sua língua nativa quanto para as pessoas que não falam o inglês na
sua terra natal.
Ler para próxima semana ( 15mar99 ): Primeiro capítulo do livro recente de Kurzweil, The Age of Spiritual Machines.
Estas notas foram preparadas por Henrique Pedreira de Freitas Ceribelli Bruno Fernandes Degani, e Jefferson Satoshi Kato. As notas alternativas foram preparadas por David Machado Santos Filho e Gustavo Tadao Okida.
MAC 333 A Revolução Digital e a Sociedade do Conhecimento
Imre Simon <is@ime.usp.br>