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A ARPANET

A idéia da construção de uma rede de computadores que pudessem trocar informações surgiu no ``Advanced Research Projects Agency'', ARPA, do Departamento de Defesa dos EUA quando, em 1962, a Agência contratou J.C.R. Licklider [31, 32, 33] para liderar as suas novas iniciativas através do ``Information Processing Techniques Office'', IPTO, da Agência. Um dos sonhos de Licklider era uma rede de computadores que permitisse o trabalho cooperativo em grupos, mesmo que fossem integrados por pessoas geograficamente distantes, além de permitir o compartilhamento de recursos escassos, como, por exemplo o super-computador ILLIAC IV, em construção na Universidade de Illinois, com o patrocínio da própria ARPA. O projeto foi amadurecendo e adquiriu momento quando a ARPA contratou Lawrence Roberts [43], do Lincoln Lab do MIT, em 1967, para tornar a idéia uma realidade. Nesta mesma época Licklider, tendo saído da ARPA em 1964, assumiu a direção do Projeto MAC no MIT.

Foi escolhido para a rede um modelo proposto por Paul Baran em 1962 [1] e que lançou a idéia de comunicação digital via comutação de pacotes numa série de estudos sigilosos feitos na RAND Corporation. Estes estudos foram realizados em função de um contrato com a ARPA cujo objetivo era a idealização de um sistema de comunicações que não pudesse ser interrompido por avarias locais. Nesta época a guerra fria estava no seu auge e a preocupação dos militares americanos era uma rede de telecomunicações que não possuísse uma central e que não pudesse ser destruída por nenhum ataque localizado. Uma conseqüência importante desta escolha e dos desenvolvimentos posteriores é que a rede Internet herdou esta propriedade. Na verdade, qualquer defeito de equipamentos na rede não apenas não interrompe o seu funcionamento como adicionalmente nem chega a interromper sequer as comunicações entre processos em curso na hora da avaria, desde que permaneça em funcionamento alguma conexão física entre os dois processos. Isto resulta na robustez extraordinária da rede Internet.

Para realizar o primeiro experimento com a rede foram escolhidas quatro Universidades que seriam conectadas em janeiro de 1970 na rede computacional ARPANET. Eram elas a Universidade da Califórnia em Los Angeles (centro do desenvolvimento do ``software''), o Stanford Research Institute, a Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e a Universidade de Utah, todos beneficiários de contratos com a ARPA. Além da comunidade acadêmica a rede original atendia também à comunidade militar americana. A rede se expandiu rapidamente, incluindo computadores de variadas plataformas de ``hardware'' e de ``software'', demonstrando que a comunicação e cooperação entre sistemas até mesmo de concepções muito diferentes era perfeitamente factível. Havia 13 computadores na rede em janeiro de 1971, 23 em abril de 1972 e 38 em janeiro de 1973. Foi organizada a primeira demonstação pública da rede em 1972 por ocasião da ``First International Conference of Computer Communications'', realizada no outono de 1972. Nesta oportunidade a rede já dava suporte a um amplo conjunto de serviços regulares, entre as quais estavam incluídos o login remoto e o correio eletrônico, cujo volume de uso surpreendeu os próprios responsáveis pela rede. Ou seja, a rede estava se revelando, desde os seus primórdios, como um instrumento muito efetivo de cooperação.

As ligações da ARPANET usavam linhas telefônicas dedicadas à velocidade de 56 Kbps. Seus elementos ativos, chamados de Interface Message Processors (IMP) eram constituídos de computadores comercialmente disponíveis, cuidadosamente escolhidos para esta finalidade. Outro aspecto relevante é que a execução do projeto foi confiada a empresas particulares entre as quais deve ser mencionada a BBN (Bolt, Beranek, and Newman Inc.), de Cambridge, Mass. que era a principal executora.

É curioso notar que as empresas de telecomunicações devotaram, por muito tempo, um amplo pessimismo à técnica de comutação de pacotes, conforme relatado num artigo do principal realizador da rede ARPANET, Lawrence G. Roberts [43, pg. 150,]. Faz pouco tempo apenas que este pessimismo foi trocado por uma participação ativa nas redes de computadores, mas mesmo hoje os serviços destas empresas, do ponto de vista das redes de computadores, deixam muito a desejar.


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Imre Simon
Wed Jul 16 16:46:01 EST 1997